O Comportamento das Finanças Municipais 2017

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Transcrição:

O Comportamento das Finanças Municipais 2017 Estudos Técnicos/Maio de 2018 1- Introdução A Confederação Nacional de Municípios (CNM) realizou um levantamento das Finanças Públicas Municipais com base nos dados dos Relatórios Resumidos da Execução orçamentária (RREO) do 6º bimestre de 2017 enviados pelos Municípios para a Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Foram feitas estimativas a fim de comparar a evolução das receitas e despesas municipais com base nessas informações. Desde a promulgação da Constituição Federal em 1988, quando os municípios foram considerados entes autônomos da Federação, a descentralização das políticas públicas se tornou mais intensa, com isso os municípios foram assumindo responsabilidades que eram das esferas estadual e federal. Os Municípios tiveram que se aparelhar melhor, investindo em capacitação técnica e sobretudo em pessoal para suprir essas novas demandas. Os estados, pura e simplesmente, foram transferindo parte das suas responsabilidades para os Municípios sem a correspondente transferências de recursos, enquanto a União, além de adotar esse mesmo procedimento, criou mecanismos financeiros que diminuíam os recursos dos entes subnacionais como, por exemplo, com a criação de novas contribuições e com o aumento de alíquotas daquelas existentes, já que não são compartilhadas. Uma das principais das bandeiras da CNM é o Pacto Federativo ou Federalismo Fiscal. São conceitos que envolvem a suficiência da receita nas três esferas orçamentárias, de maneira que garanta a execução satisfatória de suas competências. Em outras palavras, significa dizer que deve-se melhorar e reestruturar a partilha dos tributos entre os entes federados. A CNM divulga anualmente um estudo sobre a Receita disponível entre os três entes da federação após as transferências. Esse estudo mostra que a União fica com 50% da arrecadação, os Estados com 31% e os Municípios com 19% de todo o bolo tributário nacional. 2- Receita Disponível Com a imposição dos programas federais aos entes municipais, houve aumento de parte das transferências dos serviços públicos para administração direta dos Municípios e, consequentemente, a necessidade de ampliarem sua estrutura de atendimento à população. Como será visto a seguir, a parcela da receita que está disponível (após transferências) para as prefeituras aumentou nos últimos sete anos. Mesmo com essa melhora, a desigualdade fiscal

continua, e a concentração continua com a União. A tabela abaixo mostra as participações dos entes federados em termos de arrecadação própria e disponível. Tabela 1 - Receita disponível em reais Ente 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 União 659.057 769.458 804.939 907.882 943.253 978.795 1.004.471 1.060.130 Estados 344.709 385.956 425.563 463.543 499.072 517.471 575.478 600.330 Municípios 256.490 301.111 356.920 389.376 426.649 450.310 459.569 479.922 Fonte: Elaboração própria Como pode-se observar, o total de transferências cresceu nos últimos anos, mas não o suficiente para aumentar a participação dos entes subnacionais. Em outras palavras, cresceu apenas no mesmo ritmo de crescimento da carga tributária. Em 2010 o total dos recursos para Municípios representavam 20,35% do arrecadado, enquanto em 2017 esse percentual foi de 22,42%, um aumento pouco expressivo mesmo após sete anos. Gráfico 1 - Proporção da receita em % Fonte: Elaboração própria 3- Metodologia A metodologia adotada consistiu em comparar as informações dos Municípios da amostra nos últimos dois anos - 2016 e 2017, discriminando-os em 8 portes populacionais de forma a captar melhor as condições de arrecadação de Municípios de diferentes portes. Posteriormente,

foi realizada a extrapolação dos dados dos Municípios da amostra para o total de Municípios, de forma a permitir a estimação das receitas próprias em 2017 para o conjunto de todos os Municípios brasileiros. Todos os resultados foram deflacionados para março de 2018. Foram extraídos do Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (SICONFI) dados de 4.073 Municípios (73% do total), que entregaram seus Relatórios Resumidos da Execução Orçamentária (RREO) do 6º bimestre de 2017. Na amostra estão contempladas informações de todas as Unidades da Federação. Algumas delas foram validadas e corrigidas nos próprios sites das prefeituras. Vários são os fatores que dificultam a situação dos Municípios: existem no Brasil atualmente 5.568 e mais 2 distritos (Brasília e Fernando de Noronha). Desses, 4.931 (88%) têm até 49.999 habitantes, ou seja, são considerados de porte pequeno, o que leva muitos a não ter fonte de receita própria. Isso se deve ao fato de os Municípios terem competência de tributar a área urbana e a maioria deles tem características rural, ficando dependentes de transferências da União e a mercê dos impactos das crises. 4- O Resultado Fiscal dos Municípios O resultado fiscal está voltado para a administração das receitas e despesas públicas, de modo a alcançar equilíbrio nas finanças, evitando a ocorrência de excessivo endividamento ou déficits orçamentários, conforme preconiza a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A LRF fixa limites para o endividamento da União, estados e municípios e obriga os governantes a definirem metas fiscais anuais e a indicarem a fonte de receita para cada despesa permanente que propuserem. A partir da LRF, os gestores foram impedidos de criar uma despesa por prazo superior a dois anos sem indicar a fonte do recurso. Como pode ser observado na tabela a seguir, os grupos que apresentaram maior percentual de déficit fiscal estão integrando os Municípios com menor população. Em 2016 quase 80% dos municípios deficitários tinham até 50.000 habitantes. Já em 2017 esse percentual aumentou para quase 88%, o que demostra que os Municípios pequenos estão mais vulneráveis às crises, pois são altamente dependentes das receitas de transferências da União.

Tabela 2 - Municípios que apresentaram déficit fiscal Porte 2016 % do total 2017 % do total Até 5.000 173 15,54% 389 22,25% 5.001 a 10.000 198 17,79% 356 20,37% 10.001 a 20.000 282 25,34% 445 25,46% 20.001 a 50.000 233 20,93% 347 19,85% 50.001 a 100.000 109 9,79% 115 6,58% 100.001 a 300.000 66 5,93% 61 3,49% 300.001 a 1.000.000 42 3,77% 28 1,60% Mais de 1.000.000 10 0,90% 7 0,40% Total 1.113 1.748 Fonte: Siconfi. Elaboração própria Os Municípios com população acima de 100 mil habitantes apresentaram situações relativamente mais equilibradas, fato que pode ser evidenciado pelos níveis menos elevados de déficit fiscal. 5- As receitas e despesas municipais O desequilíbrio fiscal tem uma conotação negativa, no entanto, o sistema federativo brasileiro tem característica de ser centralizador na União desde a sua criação. As próximas análises mostrarão que as despesas municipais estão crescendo mais do que a receita, o que gera um desiquilíbrio fiscal significativo. Tudo isso porque foram repassadas aos municípios várias competências sem fonte de financiamento, como também pelo fato de haver defasagem dos programas federais, que acaba onerando bastante os municípios. Portanto, as próximas análises serão a respeito das receitas e despesas dos Municípios brasileiros. 6- As receitas municipais As receitas públicas municipais são os ingressos de recursos financeiros provenientes de impostos, taxas, contribuições, serviços, receita de transferências dentre outras. Na tabela 3 tem-se o total das receitas municipais para o ano de 2017, comparado com o ano de 2016. Assim, observa-se que a receita total de 2017 cresceu 0,9% em comparação a 2016, já levando em consideração os efeitos da inflação. A receita tributária teve um resultado melhor pois cresceu 1,9%. Esse bom resultado da receita tributária é basicamente pelo bom desempenho do IRRF e o IPTU que apresentaram crescimentos reais de 6,5% e 4,8% respectivamente.

Tabela 3 As principais Receitas municipais Conta 2016 2017 Cresc Receita Total 613.023 618.781 0,9% Receita Tributária 136.875 139.452 1,9% IPTU 36.788 38.547 4,8% ISS 61.755 61.282-0,8% IRRF 17.036 18.143 6,5% ITBI 11.151 11.011-1,3% Receita de Contribuições 42.664 43.689 2,4% Receita de Transferências 374.164 379.184 1,3% Demais Receitas 40.737 42.946 5,4% Fonte: Siconfi. Cálculos próprios. Um fato preocupante que pode-se inferir na tabela acima que é a queda real de -0,8% na arrecadação do ISS. Essa queda é preocupante pois esse imposto é o maior da esfera municipal, correspondendo a quase 44% do total da receita tributária. Outro fato preocupante é a questão da queda do ITBI, que demonstra um declínio da atividade econômica do mercado imobiliário devido à crise na economia brasileira, podendo impactar diretamente a cadeia produtiva e, consequentemente, reduzir as transferências constitucionais. As receitas das transferências constitucionais, após desconsiderar o efeito da inflação, apresentou um bom desempenho, com crescimento de 1,3%. Mas esse bom desempenho tem correlação com um ingresso significativo de recursos oriundos da repatriação em 2016. Como observa-se na tabela abaixo, todas as receitas municipais tiveram crescimento da sua participação da Receita Corrente Líquida. As receitas de transferências foram as que mais tiveram ganho, passado dos 61,6% da RCL de 2016 para 66,9 de 2017, um aumento de mais de 5 pontos percentual. Tabela 4 Participação das receitas municipais na RCL Receita 2016 2017 Tributária 22,54% 24,61% Contribuições 7,03% 7,71% Transferências 61,61% 66,92% Fonte: Siconfi. Cálculos próprios.

7- As despesas municipais As despesas públicas são um conjunto de gastos de recursos financeiros por entes públicos. Tais gastos devem ser voltados para a execução e resolução das atividades e serviços voltados à sociedade com o intuito de melhorar a qualidade de vida do cidadão. Desde a criação da LRF existem normas e obrigações para os gestores públicos dos três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, determinando disciplina fiscal quanto à elaboração e execução dos orçamentos e balanços da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios. Apesar das receitas municipais terem crescido acima da inflação cerca de 0,9% em 2017, as despesas aumentaram cerca de 4,8 % no mesmo período. Entre as despesas, as de pessoal (7%) e as de Outras Despesas Correntes (ODC) (1,9%) foram as que mais cresceram. Tabela 3 As principais Receitas municipais Conta 2016 2017 Cresc Despesa Primária 554.304 580.906 4,8% Pessoal e encargos 312.509 334.537 7,0% ODC 241.795 246.369 1,9% Investimentos 45.017 28.937-35,7% Fonte: Siconfi. Cálculos próprios. O crescimento das despesas com pessoal acima do ritmo das receitas é outro indicativo do ajuste que os Municípios vem realizando para poder oferecer os serviços que passam para sua responsabilidade. Além disso, pode-se acrescentar os reajustes concedidos ao funcionalismo, como também ao crescimento vegetativo da folha de pagamentos. O maior sinal de que os Municípios enfrentam dificuldades é o fato que tiveram de diminuir bastante o gasto com investimento. A CNM vem pesquisando sobre o tema e disponibiliza textos sobre os investimentos municipais.

8- Conclusão O presente estudo teve como objetivo analisar os dados das receitas e despesas dos Municípios no ano de 2017. Para isso, foram analisados dados dos RREOs que são disponibilizados pelo Siconfi. Mesmo com as mudanças na parcela da receita que está disponível (após transferências) para as prefeituras, não houve um crescimento expressivo após os últimos sete anos: em 2010 o total dos recursos para Municípios representavam 20,35% do arrecadado, já em 2017 esse percentual foi de 22,42%. Foi mostrado que os municípios que mais apresentaram déficit fiscal em 2017 são os de pequeno porte, e são mais vulneráveis às crises. Mais de 88% dos municípios da amostra apresentaram o quadro deficitário. Apesar das receitas municipais terem crescido acima da inflação cerca de 0,9% em 2017, as despesas aumentaram cerca de 4,8 % no mesmo período. O maior imposto municipal, que se aproxima de 44% do total da receita tributária, apresentou queda real de 0,8% em 2017. Da mesma forma, o ITBI apresentou queda de 1,3%, podendo demostrar um declínio no mercado imobiliário. Por outro lado, a arrecadação do IRRF e do IPTU apresentaram cenários de crescimentos acima da inflação, 6,5% e 4,8% respectivamente. Pelo lado da despesa, o gasto com pessoal foi o maior responsável pelo aumento, apresentando um crescimento de 7% de 2016 para 2017. Já os investimentos públicos municipais apresentaram um quadro problemático em 2017 com uma queda de -35,7%. Em resposta ao bom trabalho da CNM, a receita disponível para os municípios passou dos 20,35% em 2010 para 22,42% em 2017. Isso se deve às diversas conquistas da Confederação, como por exemplo, o 1% do mês de julho. A CNM continua no árduo trabalho de representar os municípios brasileiros e na luta por um pacto federativo mais justo.