Fernando Henrique Soller BATISTA 1 Fernando Martinez HUNGARO 2 Douglas FERNANDES 3

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Transcrição:

AVALIAÇÃO COMPARATIVA DA INFLUÊNCIA DA TAXA DE JUROS DA ECONOMIA NO NÍVEL DE INVESTIMENTO PRODUTIVO: UMA ABORDAGEM DA RECENTE HISTÓRIA ECONÔMICA BRASILEIRA Fernando Henrique Soller BATISTA 1 Fernando Martinez HUNGARO 2 Douglas FERNANDES 3 RESUMO: A inflação se destacou como uma das maiores preocupações econômicas na história recente do Brasil. Ela se contrapôs com a evolução do PIB e necessitou de uma série de medidas para ser revertida. Dentre as medidas adotadas destacam-se as relacionadas com instrumentos de política monetária, com predominância da taxa de juros. O presente trabalho realiza uma avaliação comparativa da taxa de juros com o nível de investimento econômico. Palavras-chave: Inflação, taxa de juros, PIB, investimento. 1 INTRODUÇÃO A economia brasileira nas últimas quatro décadas passou por ciclos de crescimento não sustentáveis, que em um primeiro momento contribuíram para o aumento do PIB por meio de crescimento do consumo das famílias, dos investimentos públicos e privados, bem como das exportações, e posteriormente culminaram em períodos de inflação e retração econômica. O presente trabalho possui como objetivo uma avaliação comparativa da influência da taxa de juros enquanto instrumento de política monetária, voltado para o alcance da estabilidade monetária, que se enquadra como um dos objetivos de políticas macroeconômica. Para os autores, a compreensão desta relação é essencial para a atuação dos gestores financeiros quando da análise de projetos de investimento. 1 Discente do 4º termo do curso de Gestão Financeira do Centro Universitário Antônio Eufrásio de Toledo de Presidente Prudente. E-mail: ferrrbatista@gmail.com 2 Docente dos cursos de Negócios do Centro Universitário Antônio Eufrásio de Toledo de Presidente Prudente. Mestrando em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional pela Universidade do Oeste Paulista. E-mail: fernandohungaro@toledoprudente.edu.br. Orientador do trabalho. 3 Docente dos cursos de Negócios do Centro Universitário Antônio Eufrásio de Toledo de Presidente Prudente. Doutorando em Geografia Econômica pela UNESP de Presidente Prudente. E-mail: douglasfernandes@toledoprudente.edu.br

Não visa esgotar a análise do tema, visto sua amplitude e vertentes metodológicas que podem ser seguidas. Para tanto, inicialmente realiza uma breve retrospectiva do desempenho da economia brasileira, chamando a atenção para o aumento da taxa de inflação ao final de ciclos de crescimento econômico. Na sequência realiza uma conceituação sobre inflação e taxa de juros, para por fim apresentar a relação entre estes pares. 2 BREVE RETROSPECTO DA ECONOMIA BRASILEIRA NAS ÚLTIMAS DÉCADAS É possível identificar estes ciclos, sendo o primeiro na década de 70, quando do I e II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), conhecido como Milagre Econômico, que não se sustentou na década de 80, a ponto de ser considerada por vários economistas como a década perdida, marcada pela substancial elevação da taxa de inflação e diversos planos econômicos infrutíferos com o objetivo de frear a escalada inflacionária na qual o país estava mergulhado. Tal realidade se manteve até a primeira metade da década seguinte, quando da implementação do Plano Real, que por meio da adoção de uma política monetária restritiva, caracterizada principalmente pela redução da quantidade de moeda em circulação, elevação da taxa básica de juros da economia, bem como da restrição ao crédito, permitiu alcançar o tão sonhado controle inflacionário, ainda que ao custo da deterioração de indicadores sociais, que ficou conhecido como o custo social do Plano Real, como o nível de emprego dentre outros. O alcance e manutenção do controle de preços no mercado interno na segunda metade da década de 90, associado a alterações no cenário econômico internacional nos primeiros anos da década de 2000, caracterizado pela retomada do crescimento do PIB mundial, puxado principalmente pelas economias americana e chinesa, contribuíram para elevação do preço das commodities no mercado internacional, permitindo ao Brasil alavancar suas exportações, revertendo o saldo deficitário da balança comercial, principalmente a do agronegócio, reduzindo a dependência do capital volátil que ameaça o saldo de reservas internacionais da economia brasileira.

Assim, baseado em um cenário interno caracterizado por controle inflacionário associado ao cenário externo, nos moldes já explanados, um novo ciclo de crescimento da economia brasileira se inicia, agora com adoção de uma política monetária marcada pela redução da taxa de juros e aumento do crédito, que refletiu no consumo e investimento público e privado, tornando o mercado brasileiro por seu potencial, o destino de investimentos estrangeiros diretos. No entanto, reformas estruturais necessárias à manutenção do crescimento de longo prazo foram novamente negligenciadas, sendo a ênfase das ações governamentais aquelas de curto prazo. A crise do subprime, conhecida como crise do mercado imobiliário americano, que eclodiu em meados de 2008, e por meio do sistema financeiro internacional alastrou-se em escala global, veio a coroar o início do fim de mais um ciclo de crescimento da economia brasileira, que foi acompanhado da deterioração das contas públicas e do nível de emprego, cuja taxa de desocupação salta de 7,9% em março de 2012 para 13,7% em março de 2013, conforme dados do IPEA, acompanhado ainda de aceleração da inflação. 3 INFLAÇÃO: ALGUNS APONTAMENTOS Podemos compreender a inflação como um processo de aumento contínuo e generalizado nos níveis de preço, que acaba por corroer o poder de compra da moeda. Vasconcellos e Garcia (1999) explicam que a forma mais tradicional de se estudar a questão inflacionária é distinguir a inflação provocada pelo excesso de demanda agregada (inflação de demanda) da inflação por elevação de custos (inflação de custos). A inflação de demanda, no discurso do autor (LANZANA, 2008, p. 105) é causada por uma procura de produtos maior do que a oferta dos mesmos, podendo ser fruto de determinados acontecimentos, tais como o aumento de renda da população, a expansão do crédito disponibilizado à população, ou ainda a redução da taxa de juros (este ponto ainda a ser explorado durante o desenvolvimento deste trabalho).

Já a inflação de custos, ainda segundo o mesmo autor é proveniente do aumento dos custos de produção que são repassados para o consumidor. Alguns custos elevados com frequência são o custo de mão-de-obra, os impostos e o aumento na procura de insumos. Além desses fatores, a taxa de juros também pode contribuir para a elevação deste índice. Quando a população adota medidas preventivas de aumento de consumo e/ou preços, independentemente de pressões de demanda ou custos, acaba por se instalar um processo conhecido como inflação inercial, que contribui para a manutenção do ambiente inflacionário, tendo como consequência efeitos negativos sobre a distribuição de renda, no balanço de pagamentos, nas finanças públicas e na formação de expectativas, que acabam por postergar ou até mesmo suspender decisões de consumo e investimento. 3.1 A Inflação no Brasil LACERDA et al (2001, p. 164), afirma que a inflação no Brasil, de caráter essencialmente inercial, se acentuou a partir do início dos anos 1980, ameaçando tornar-se explosiva em determinados momentos. No raciocínio de Lopes & Rossetti (2002, p.353), no período compreendido entre 1980 e 1994 é possível identificar três fases do processo inflacionário no Brasil: (1980-1982), onde a adoção de uma política coercitiva represou forças inflacionárias, que se manifestaram no período subsequente, por meio de que, o que os autores chamaram de inflação corretiva caracterizada por ajuste de tarifas de serviços públicos e salários, sendo estes últimos por meio de pressões sindicais para recuperação de perdas acumuladas. O período seguinte (1983-1985), o temor por um descontrole de preços, típico de um processo de hiperinflação, abriu espaços para tratamentos de choque e para tentativas heterodoxas de contenção, como foi o caso dos planos econômicos no período seguinte que adotaram a congelamento de preços como medida de contenção da alta recorrente e crescente dos preços. O período de 1986-1994, marcado por várias tentativas heterodoxas de controle da inflação, como foi o caso dos planos Cruzado, Bresser, Verão e Collor, que fracassaram quanto ao objetivo de conter a inflação. Por último, 1994-2000 por meio

de uma ampla reforma monetária e criação de uma nova moeda, o real, foi alcançada a estabilidade monetária. Sob controle desde a segunda metade da década de 90, a inflação começa a dar sinais de aceleração a partir de 2010, onde no ano anterior (2009) foi apurado a taxa anual do IPCA em 4,31% chegando em 2015 a 10,67%, passando o governo a adotar medidas de política monetária, mais precisamente elevação da taxa básica de juros. TABELA 1 Taxa de Inflação Anual (1980-2017) ANO IPCA % ANO IPCA % ANO IPCA % ANO IPCA % 1980 99,25 1991 472,7 2002 12,53 2013 5,91 1981 95,62 1992 1.119,10 2003 9,3 2014 6,41 1982 104,79 1993 2.477,15 2004 7,6 2015 10,67 1983 164,01 1994 916,46 2005 5,69 2016 6,29 1984 215,26 1995 22,41 2006 3,14 2017 2,95 1985 242,23 1996 9,56 2007 4,46 1986 79,66 1997 5,22 2008 5,9 1987 363,41 1998 1,65 2009 4,31 1988 980,21 1999 8,94 2010 5,91 1989 1.972,91 2000 5,97 2011 6,5 1990 1.620,97 2001 7,67 2012 5,84 Fonte: Ipeadata. Acesso em: 08 set. 2018. Adaptado pelo autor. 4 AS TAXAS DE JUROS: CONSIDERAÇÕES Ao se tomar uma quantidade de capital provinda de uma origem terciária (capital que não é considerado próprio), exige-se um reajuste na devolução do mesmo. A base de mercado para este reajuste é pré determinada pelo governo e é nomeada como taxa Selic, cujo nome advém do Sistema Especial de Liquidação e Custódia, ainda que a taxa seja deste órgão desvinculada. Como dito por Lagioia (2011, p. 41), a taxa Selic é a taxa média ponderada e ajustada para operadores de financiamento, lastreadas em títulos públicos federais. Sendo assim, entende-se que, ao investir comprando títulos do governo, a remuneração do capital incialmente alocado será no valor da taxa Selic. Trata-se de uma taxa relevante pois o governo é, em teoria, livre de riscos para realizar seus pagamentos, fato que torna essa taxa um referencial para todo o mercado de empréstimos de capital.

A taxa de juros é um importante instrumento de política monetária (LANZANA, 2008, p. 22), pois, através dela, o governo consegue controlar a quantidade de moeda circulante no mercado: atraindo investidores para a compra de títulos públicos quando o referencial se encontra elevado; ou proporcionando condições favoráveis para a injeção de moeda no mercado pela iniciativa privada quando ela está baixa. 4.1 A taxa de Juros no Brasil A abordagem da taxa de juros passa necessariamente pela compreensão do que é política macroeconômica, aqui considerada como um conjunto de medidas utilizadas pelo governo visando o alcance de objetivos macroeconômicos, com destaque para o alto nível de emprego, estabilidade de preços, crescimento econômico e distribuição equitativa da renda. Para tanto, se faz necessário a utilização de instrumentos de política macroeconômica, a saber: política fiscal, política cambial e comercial, política de rendas, bem como a política monetária. Assim, devemos compreender a taxa de juros como um dos instrumentos de política monetária, como também o são: as emissões de moeda, as reservas compulsórias, o redesconto bancário e o open Market, que envolve a compra e venda de títulos públicos. O portal de investimentos ADVFN (2017, p. 1) assim explicita a adoção da taxa de juros como instrumento de combate à inflação. Para manter o nível de inflação esperado, o governo faz uso da política monetária, por meio da taxa básica de juros, a Selic. Assim, caso o BC observe que a inflação corre o risco de superar a meta, a tendência é elevar os juros. A taxa de juros foi o instrumento escolhido pelo governo, pois ela determina o nível de consumo do país, já que a taxa Selic é utilizada nas transações bancárias e, portanto, influencia os juros de todas as operações na economia. A Selic é utilizada pelos bancos como um parâmetro. A partir dela, as instituições financeiras definem quanto vão cobrar por empréstimos às pessoas e às empresas. Caso os juros do país estejam altos, o consumidor tende a comprar menos, porque a prestação de seu financiamento vai ser mais alta. Isso reflete na queda da inflação. Segundo a lei da oferta e da procura, quanto maior a demanda por um determinado produto, mais elevado é o seu preço. Do contrário, se uma mercadoria ou serviço não forem tão procurados, o preço tende a cair para atrair mais compradores.

Nesse contexto, conforme nos explica Lanzana (2008, p.117), a taxa de juros foi uma ferramenta da qual o governo brasileiro se utilizou para tentar controlar a inflação. Entende-se que, ao elevar a taxa de juros, o governo retira uma grande quantidade de capital circulando no mercado, pois esse aumento encarece o custo das compras parceladas e atrai o capital para investimentos financeiros, retirando assim a liquidez do mercado. Pode-se concluir que ao se retirar dinheiro do mercado, diminui-se o poder de compra da população, logo, com menor demanda, controla-se a inflação de demanda. A inflação brasileira, conforme dados históricos comprovam (LACERDA et al, 2003, p. 164) não era de demanda, mas sim se tratava de uma inflação inercial. O início do contorno do problema veio a partir do Plano Real (1994). Em tal período, a taxa de juros manteve-se elevada na implantação da nova moeda, implicando em um cenário desfavorável ao crescimento econômico, um dos objetivos das políticas econômicas. Uma vez em que se diminui a quantidade de moeda circulante para ganhos financeiros, não há investimentos em produção, logo o consumo diminui e novos empregos não são gerados, sendo esses considerados sinais de uma política contracionista. A Tabela 2 apresenta a comparação quantitativa existente na quantidade total de moeda no mercado entre os anos de 1980 e 2004 no Brasil, dividida em duas partes: uma relativa aos investimentos em capital remunerado a juros e outra em moeda circulante, sendo distinguidas por LANZANA (2008, p. 62) em: a) ativos monetários: são aqueles que não rendem juros, e que correspondem ao papel-moeda e aos depósitos a vista; b) ativos não monetários: são aqueles que rendem juros, como os títulos públicos, as cadernetas de poupança, os certificados de depósitos bancários, entre outros.

TABELA 2 Composição dos ativos financeiros Ativos Financeiros Ativos Financeiros Ano Não Ano Monetários Monetários Monetários Não Monetários 1980 32,7 67,3 1993 7,1 92,9 1981 23,9 76,1 1994 13 87 1982 18,5 81,5 1995 11,3 88,6 1983 13 87 1996 9,3 90,7 1984 11,6 88,4 1997 12 88 1985 11,6 88,4 1998 11,2 88,8 1986 35,8 64,2 1999 11,3 88,7 1987 16,1 83,9 2000 13,3 86,7 1988 11,2 88,8 2001 12,8 87,2 1989 10,5 89,5 2002 13,8 86,2 1990 23,1 86,9 2003 13,1 86,9 1991 10,7 89,3 2004 13,7 86,3 1992 7,5 92,5 Fonte: Banco Central do Brasil. Maio/2000 apud LANZANA (2008, p. 62) 5. POLÍTICAS MONETÁRIAS: CONTRACIONISTA E EXPANSIONISTA Como apresentado pelo portal Dicionário Financeiro (2018, p. 1), as políticas monetárias buscam controlar a quantidade de dinheiro em circulação no país. A autoridade responsável por esse controle é o Banco Central, que busca o equilíbrio alterando a oferta de moeda e determinando as taxas de juros, estimulando ou reduzindo a economia. Em épocas de crescimento do PIB, uma economia possui maior liquidez e nos momentos de recessão ela é menor, portanto o governo faz o controle da oferta de moeda e da remuneração de investimentos em ativos não-monetários, buscando o equilíbrio entre esses diferentes cenários. Por isso ela é diferenciada por políticas contracionistas e expansionistas. 5.1 Políticas Monetárias Contracionistas O Banco Central aumenta a taxa de juros, reduzindo a moeda dentro do fluxo econômico e, com isso, a redução da inflação devido a diminuição da demanda.

Com essas medidas, o governo busca a diminuição do PIB e do consumo dentro de uma economia, para que possa controlar os índices de inflação. Segundo DANA (2015, p.58) a política monetária contracionista (ou restritiva) engloba um conjunto de medidas que tendem a reduzir o crescimento da quantidade de moeda e a encarecer os empréstimos (por meio do aumento das taxas de juros). De acordo com os cenários apresentados nesta obra, entre as décadas de 80 e 90, o governo se utilizou de políticas monetárias contracionistas a fim de controlar a inflação. Tal processo acabou se mostrando um fracasso, pois, como já apresentado anteriormente, as causas da inflação brasileiras foram diferentes das quais foram diagnosticadas: enquanto havia uma inflação inercial, medidas de combate às inflações de demanda e de custos (políticas monetárias contracionistas) foram tomadas. 5.2 Políticas Monetárias Expansionistas Na política monetária expansionista, o Banco Central aumenta a oferta de moeda ao país e diminui a taxa de juros com o objetivo de crescer a economia e expandir o consumo. Conforme DANA (2015, p. 56), políticas monetárias expansionistas possuem medidas que tendem a acelerar o crescimento da quantidade de moeda e baratear os empréstimos (baixar as taxas de juros), incidindo positivamente sobre o dinheiro que as pessoas têm em mãos. Ou seja, em uma política monetária expansionista (ou expansiva), a quantidade de dinheiro em circulação aumenta, com o objetivo de também aumentar a liquidez, aquecer a demanda e incentivar o crescimento econômico. Quando isso é feito, a demanda por bens e serviços aumentam e com as taxas de juros mais baixas, as empresas contraem mais empréstimos para atender a procura. A política expansionista tem como vantagem a expansão da economia, porém a desvantagem de manter o país sujeito à inflação (DICIONÁRIO FINANCEIRO, 2018, p. 1).

Logo, observa-se uma relação direta entre taxa de juros e decisão de investimento produtivo, ou seja, aquele que contribui para o alcance do objetivo de crescimento econômico. 6 DISCUSSÃO: TAXA DE JUROS E SUA INFLUÊNCIA NA ANÁLISE DE PROJETOS DE INVESTIMENTO Sem a pretensão de esgotar a análise da evolução do cenário econômico brasileiro nas últimas décadas, mas com o real objetivo de compreender como os juros foram adotados como principal instrumento de política econômica voltado ao combate do processo inflacionário, buscaremos agora estabelecer uma relação entre a taxa de juros básica da economia e sua influência na análise de investimentos, o que nos permitirá uma melhor compreensão do desempenho de um importante indicador de desempenho da economia nacional, que é a formação bruta de capital fixo - FBKF, ainda que a taxa de juros não seja a única variável a influenciar este índice. O custo do capital, tanto próprio quanto de terceiros sofrem influência da taxa de juros da economia, onde a ponderação destas compõe a taxa mínima de atratividade - TMA de um projeto. A comparação da taxa de retorno do investimento projetado, também conhecida como TIR, naturalmente deverá ser maior que a TMA. Nesse sentido, Wolier & Mathias (1986, p.144) assim se manifestaram: Outro aspecto importante na decisão de financiar o projeto diz respeito ao custo do capital para a empresa. Este custo está associado ao custo dos recursos próprios (ações ordinárias e recurso próprios gerados internamente, como lucros retidos, depreciações acumuladas etc.) e ao custo dos recursos de terceiros (ações preferenciais, debêntures e empréstimos). Só será interessante executar o projeto cuja rentabilidade seja superior à média ponderada destes custos, isto é, ao custo do capital para a empresa. Isto significa que o custo do capital é um importante elemento para a seleção do projeto que será escolhido para a implantação. Ainda que outras variáveis de ordem econômica e política influenciem a FBKF, a taxa de juros apresenta peso significativo, pois como instrumento de política econômica voltado para a busca da estabilidade monetária, compromete o custo do capital e do crédito, afetando a decisão de investir do setor privado.

01/07/1996 06/09/1996 12/09/1996 18/09/1996 24/09/1996 30/09/1996 01/03/1997 05/03/1998 17/12/1998 10/05/1999 23/09/1999 18/01/2001 21/02/2002 21/02/2003 20/11/2003 16/12/2004 20/05/2005 20/04/2006 25/01/2007 17/04/2008 29/04/2009 03/03/2011 01/12/2011 30/08/2012 10/10/2013 04/12/2014 1991 T1 1992 T1 1993 T1 1994 T1 1995 T1 1996 T1 1997 T1 1998 T1 1999 T1 2000 T1 2001 T1 2002 T1 2003 T1 2004 T1 2005 T1 2006 T1 2007 T1 2008 T1 2009 T1 2010 T1 2011 T1 2012 T1 2013 T1 2014 T1 O gráfico 1 - Taxa de Investimento (% PIB) e o gráfico 2 - Taxa de Juros - Selic (% a.a.) nos permite visualizar a relação entre estas, onde observa-se que períodos que apresentam maiores taxas de investimento coincidem com aqueles de menor ou até mesmo estabilidade da taxa de juros, representada pela Selic. GRÁFICO 1 Taxa de Investimento (% PIB) 25,0000 Taxa de investimento (% PIB) 20,0000 15,0000 10,0000 5,0000 0,0000 Fonte: Ipeadata. Adaptado pelos autores GRÁFICO 2 Taxa de Juros - Selic (% a.a.) 50,00 45,00 40,00 35,00 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 Taxa de Juros - Selic (% a.a) Fonte: Ipeadata. Adaptado pelos autores.

7 CONCLUSÃO A taxa de juros como instrumento de política monetária foi ao longo das últimas décadas um dos principais instrumentos de política macroeconômica utilizado pelo governo brasileiro para controlar a taxa de inflação, refletindo diretamente no ritmo de crescimento da economia. Ao final de cada ciclo de crescimento, como demonstrado, observa-se o aumento da taxa de inflação, que contribuiu para a perda de poder de compra da moeda, influenciando a relação renda, consumo, produção e emprego, comprometendo o desempenho do crescimento da economia. A cada investida do governo no combate à inflação, o PIB era comprometido, visto que a taxa juros como instrumento de combate a inflação é antagônico ao objetivo de crescimento econômico, uma vez que juros mais altos aumentam o custo do capital e do crédito. Tal realidade contribuiu para o aumento da taxa de desemprego, aqui caracterizado como o custo social da política anti-inflacionária, que a partir do momento que se alcança o seu controle, permite a redução da taxa de juros, que torna o crédito mais atrativo, seja no que tange à linhas voltadas para o consumo, bem como para o investimento. Conclui-se assim, a importância para os gestores sobre a compreensão dos instrumentos de política macroeconômica, bem como a identificação de qual o direcionamento deste por parte do governo no que diz respeito ao objetivo de politica macroeconômica que se busca alcançar, em especial os instrumentos de política monetária, visto a sua influência na taxa de retorno esperado dos investimentos.

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WOILER, Samsão, MATHIAS, Washington Franco. Projetos: planejamento, elaboração e análise. São Paulo: Editora Atlas, 1996.