A CULTURA DOS ALUNOS NA VISÃO DOS PROFESSORES

Documentos relacionados
O PAPEL DO TUTOR NO CURSO DE LICENCIATURA EM COMPUTAÇÃO NA UFPB VIRTUAL

DIDÁTICA MULTICULTURAL SABERES CONSTRUÍDOS NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM RESUMO

DESAFIOS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA NO ENSINO FUNDAMENTAL II: A LEITURA EM QUESTÃO

XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

José Ivelton Siqueira Lustosa; Fabiana Dantas da Costa; Orminda Heloana Martins da Silva

ESCOLHA DE ESCOLA E QUALIDADE DE ENSINO PARA AS FAMÍLIAS DE CAMADAS POPULARES E NOVA CLASSE MÉDIA

NOVAS METODOLOGIAS DE ENSINO: UMA PESQUISA SOBRE O USO DO SOFTWARE GEOGEBRA NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO

COMUNIDADE DE FALA DO IFSUL: RELAÇÕES LINGUÍSTICAS NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

IDENTIDADES E SABERES DOCENTES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE HISTÓRIA E NA CONSTRUÇÃO DO FATO HISTÓRICO

Licenciatura em Ciências Exatas PIBID- Subprojeto Física DIÁRIO DO PIBID. Bolsista: Tamiris Dias da Rosa. Reunião dia 28/07/2016

FORMAÇÃO DE PROFESSORES: AMBIENTES E PRÁTICAS MOTIVADORAS NO ENSINO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. Apresentação: Pôster

O USO DE NOVAS FERRAMENTAS NO ENSINO DE MATEMÁTICA NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL FELIPE RODRIGUES DE LIMA BARAÚNA/PB.

A CONTEXTUALIZAÇÃO COMO AGENTE FACILITADOR NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

OS JOVENS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM BUSCA DA SUPERAÇÃO NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TRABALHO DAS PEDAGOGAS NA ESCOLA: UM ESTUDO DE CASO 1

Construtivismo no Ensino de Física: um estudo de caso com os professores do município de Bambuí MG

1.1 Os temas e as questões de pesquisa. Introdução

Eixo Temático ET Educação Ambiental A PRÁTICA DOCENTE E A CONSTRUÇÃO DE NOVAS FORMAS DE SE PERCEBER E INTERVIR NO MEIO AMBIENTE

LIBRAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: CURRÍCULO, APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO DE SURDOS

Elementos Pré-textuais. Elementos Textuais. O Relatório de Pesquisa (adaptado para artigo) Elementos Pós-textuais. Elementos Pré-textuais

ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DOCENTE EM MÚSICA

IDENTIDADE E SABERES DOCENTES: O USO DAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA

USOS E APROPRIAÇÕES DO CELULAR NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM NO ENSINO MÉDIO E SUPERIOR

CONCEPÇÕES DE EDUCADORES SOBRE O PARQUE ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE BAURU COMO ESPAÇO NÃO FORMAL DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Palavras-chave: Formação continuada. Ensino fundamental. Avaliação de rendimento escolar.

BRINCAR E DESENVOLVIMENTO: UM ESTUDO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL.

ISSN do Livro de Resumos:

O PENSAMENTO TEÓRICO NO ENSINO TÉCNICO

O FÓRUM ON-LINE E A INTERAÇÃO EM UM CURSO A DISTÂNCIA

MODELO DIDÁTICO PARA CIÊNCIAS FÍSICAS NOS ENSINOS FUNDAMENTAL E MÉDIO. Model for teaching physical science in elementary and secondary

O perfil do professor de Matemática de Minas Gerais

REFLEXÕES SOBRE DISCURSOS E CONCEPÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES ALFABETIZADORES EM POLÍTICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS

FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DOCENTE NO ENSINO MÉDIO: A BUSCA PELA QUALIFICAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE M.R.F.L.

Professores de Ensino Religioso. O MAL-ESTAR NO ENSINO RELIGIOSO: localização, contextualização e nterpretação. Profª Dra. Teresinha Maria Mocellin

resultados concretos e justos, tanto individualmente como socialmente, ou seja, o desejo de uma ordem jurídica justa. Sob esta ótica está sendo

O Valor da Educação. Ana Carolina Rocha Eliézer dos Santos Josiane Feitosa

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de História, Currículo, Currículo do Estado de São Paulo.

Palavras-chave: Formação e Profissionalização docente; Estado da arte; ANPEd

AVALIAÇÃO: CONCEPÇÕES

ENSINANDO UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA ALUNOS SURDOS: SABERES E PRÁTICAS

ESFERAS DO COTIDIANO E NÃO-COTIDIANO: REPRESENTAÇÕES DOS EDUCADORES SOBRE A INCLUSÃO

Universidade dos Açores Campus de angra do Heroísmo Ano Letivo: 2013/2014 Disciplina: Aplicações da Matemática Docente: Ricardo Teixeira 3º Ano de

TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL E APRENDIZAGEM DA ESCRITA. Disciplina: Linguagem e aquisição da escrita Angélica Merli Março/2018

AVALIAÇÃO EM MATEMÁTICA: ANÁLISE COMPARATIVA DESSE PROCESSO EM ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA DO MUNICÍPIO DE JÚLIO DE CASTILHOS

OS RUMOS DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO NO BRASIL: UM ESTUDO SOBRE O EHPS. David Budeus Franco Doutorando PUC-SP

A ATUAÇÃO E O PERFIL DO PEDAGOGO NO ESPAÇO NÃO ESCOLAR: FORMAÇÃO DE PROFESSORES

TIPOS DE PESQUISA. 1 Quanto à abordagem 1.1 Pesquisa qualitativa 1..2 Pesquisa quantitativa

OFICINAS PEDAGÓGICAS DE MATEMÁTICA: QUAL A MOTIVAÇÃO PARA ESTUDANTES E PROFESSORES?

EDUCAÇÃO INTERCULTURAL: LIMITES E POSSIBILIDADES NO TRABALHO DOCENTE

XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

CONVIVENCIALIDADE, INSTITUCIONALIZAÇÃO E DESIGN: lugares e relações mediados por ambientes online no ensino e aprendizagem de projeto 1

A DISCIPLINA DE DIDÁTICA NO CURSO DE PEDAGOGIA: SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL

ENSINO MÉDIO: INOVAÇÃO E MATERIALIDADE PEDAGÓGICA EM SALA DE AULA 1. Palavras-Chave: Ensino Médio. Inovação Pedagógica. Pensamento docente.

Ingrid Janaína dos Santos Ferreira 1 ; Paulo Cézar Pereira Ramos 2 ; Maria Aparecida dos Santos Ferreira 3 INTRODUÇÃO

ATITUDES ÉTICAS: a escola e as influências sobre o comportamento do adolescente 1

PERSPECTIVAS DO PLANEJAMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Marcilene França da Silva (1); Eva Lídia Maniçoba de Lima (2)

A PESQUISA CIENTÍFICA NO ENSINO MÉDIO: LEVANTAMENTOS PRELIMINARES ENTRE OS ALUNOS DO IFTM/PATOS DE MINAS

O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO E A FORMAÇÃO DOCENTE. CARDOZO, Luciana Pereira 1. PINTO, Dra. Maria das Graças C. S. M. G. 2

A PESQUISA, A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E OS FINS DA EDUCAÇÃO Telma Romilda Duarte Vaz Universidade Estadual Paulista Campus de Presidente Prudente

XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

TREINAMENTO FÍSICO: LESÕES E PREVENÇÃO. UM ESTUDO COMPARATIVO DA ROTINA DE JUDOCAS E BAILARINOS

ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS APLICADAS NO ENSINO DA CONTABILIDADE GERENCIAL: UM ESTUDO COM DISCENTES E DOCENTES DO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

O OLHAR DOS ALUNOS - DETENTOS DA PENITENCIÁRIA PROFESSOR BARRETO CAMPELO SOBRE A ESCOLA

Palavras chaves: profissionalização, transformação docente, reconhecimento social docente.

O ENSINO DA MATEMÁTICA EM SALA DE AULA: UM ESTUDO DIDÁTICO-REFLEXIVO COM UMA TURMA DO 8º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

FACULDADES INTEGRADAS SÃO JUDAS TADEU PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

O PAPEL DAS INTERAÇÕES PROFESSOR-ALUNO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

PIBID SUBPROJETO DE FÍSICA

ANÁLISE QUALITATIVA: CONCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE PEDAGOGIA, EDUCAÇÃO E DOCÊNCIA

PROINFÂNCIA E ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO INFANTIL: POSSIBILIDADES DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

OS RECURSOS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA COMO ARTEFATOS DIDÁTICOS FAVORECEDORES DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS

O ENSINO DE BOTÂNICA COM O RECURSO DO JOGO: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS.

ANÁLISE E VIVÊNCIA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA NA E.I. MARCELINO ALVES DE MATOS

A IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE DE PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE UMA INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE DOURADOS

A ESCOLHA PELO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS EM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO

A PRÁTICA PEDAGÓGICA E O PROCESSO DE INCLUSÃO DOS ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NOS ANOS INICIAIS

A EFETIVA CONTRIBUIÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DO CONSELHO ESCOLAR PARA UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA

DAS PRÁTICAS DE ENSINO NA PERCEPÇÃO DE ESTUDANTES DE LICENCIATURAS DA UFSJ

PIBID GEOGRAFIA NA MEDIAÇÃO ENTRE A ESCOLA E A UNIVERSIDADE COMO ESPAÇOS DE FORMAÇÃO DOCENTE

ENSINAR CIÊNCIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: REPENSAR O CURRÍCULO. Andreia Cristina Santos Freitas 1 Roziane Aguiar dos Santos 2 Thalita Pacini 3 INTRODUÇÃO

ESTUDO SOBRE A FORMAÇÃO ACADÊMICA DOS ANIMADORES SÓCIOCULTURAIS EM NAVIOS DE CRUZEIRO NO BRASIL

FAMÍLIA, ESCOLA E ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS.

QUALIDADE DA/NA EDUCAÇÃO NA VISÃO DAS FAMÍLIAS USUÁRIAS DE ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS

APRENDER A LER E A ESCREVER: UMA PRÁTICA CURRICULAR PAUTADA EM PAULO FREIRE

Palavras-chaves: Avaliação Educacional; SPAECE; Gestão Pedagógica.

Luciana Cressoni, Rita Prates e Sueli Araujo

Palavras-Chave: Pesquisa; Prática docente; Professor da Educação Básica.

FATORES QUE INTERFEREM NA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DOS ALUNOS DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO DO IFCE - CAMPUS IGUATU NA DISCIPLINA DE QUÍMICA

DIAGNÓSTICO DO ENSINO E APRENDIZADO DA CARTOGRAFIA NOS DIFERENTES NÍVEIS DE FORMAÇÃO

A ORGANIZAÇÃO DOS DESCRITORES NA PROVINHA BRASIL

DANÇA E CULTURA VISUAL: DIÁLOGOS POSSÍVEIS NO CONTEXTO ESCOLAR Lana Costa Faria 1. Palavras chave: diálogo, dança, educação e cultura visual.

FRACASSO ESCOLAR: A VISAO DE DOCENTE DE BIOLOGIA NO MUNICÍPIO DE BARRA DE SANTA ROSA-PB

A MONITORIA COMO INSTRUMENTO FACILITADOR DE APRENDIZAGEM

A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES: CONCEPÇÕES SOBRE A ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL

EDUCAÇÃO INFANTIL E A SEXUALIDADE: O OLHAR DO PROFESSOR

Aula 2 Pesquisa. Conceitos. Prof. Marcelo Musci

Indisciplina na Escola: Desafio para a Escola e para a Família

O PROFESSOR DE FÍSICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NAS ESCOLAS ESTADUAIS DO MUNICÍPIO DE BRAGANÇA PA

Transcrição:

1. INTRODUÇÃO A CULTURA DOS ALUNOS NA VISÃO DOS PROFESSORES Bruno Gonçalves Lippi Fernando Cesar Vaghetti Grupo de Pesquisa em Educação Física Escolar FEUSP/CNPq Diante das relações sociais, culturais, históricas, religiosas e econômicas enfrentadas diariamente no ambiente escolar, o grupo de Pesquisa em Educação Física Escolar FEUSP/CNPq procurou realizar uma pesquisa sobre como os professores interpretam a cultura dos alunos neste contexto. Nosso trabalho buscou analisar, a partir de referenciais críticos e multiculturais, as representações dos professores, sem a preocupação de estereotipar e julgar a visão destes, mas com a finalidade de identificar como estas relações são mediadas no cotidiano. Devemos destacar que este trabalho, ainda, está em andamento, sendo assim, apresentamos em seguida a organização do trabalho e as primeiras impressões. 2. OBJETIVO O objetivo deste trabalho foi investigar as representações dos professores sobre como se constitui a cultura dos alunos. 3. METODOLOGIA A metodologia utilizada foi de caráter qualitativo. Foram entrevistados XX professores da rede pública e privada de ensino com formação acadêmico-profissional diversificada. Estes foram entrevistados pelo conjunto de professores participantes do Grupo de Pesquisa em Educação Física Escolar da FEUSP/CNPq. Os dados da pesquisa foram obtidos mediante questionários e entrevistas semi-estruturadas que versaram sobre o significado de cultura e sobre o olhar do professor sobre a cultura de seus alunos. A análise e interpretação dos dados foram feitas à luz das teorias críticas e multiculturais de educação. 4. DISCUSSÃO E RESULTADOS A partir da coleta de dados coletados foram criadas, para análise e interpretação, em três grandes categorias: 1) Família; 2) Cultura Intrínseca; 3) Meio Social. Essas categorias foram criadas a partir do discurso dos professores como sendo fatores que os professores apontaram como interferentes no processo de construção da cultura do aluno. Para uma interpretação minuciosa, foram criadas subcategorias para que pudéssemos possuir dados mais concretos acerca do grau e modo de interferência de categoria.

Abaixo, apresentamos a porcentagem dos dados coletados junto com a discussão e interpretação de cada categoria. 4.1. Família A categoria Família reúne as falas dos professores acerca da família como interventora do processo de apropriação cultural. Esta categoria foi dividida em três subcategorias: 4.1.1. A família como interferência negativa (17.7%) Nesta subcategoria, os professores relatam que os alunos apresentam dificuldades de aprendizagem. E alegam como fatores preponderantes à ausência de alguns comportamentos e atitudes como atenção, concentração, motivação, disciplina, falta de limites, entre outros. Sendo que tais comportamentos e atitudes, segundo os professores entrevistados, devem ser desenvolvidos no interior do seio familiar, isto é, a família deve ser a instituição responsável pelo ensino de comportamentos considerados aceitáveis no interior da escola. Tal visão ingênua dos professores tem origem na concepção de família impregnada entre os professores, na qual todas as famílias são estruturadas e tem a possibilidade de acompanhar o seu filho no processo educacional. Dessa forma, os professores ignoram o contexto histórico, social e cultural de cada família e acaba trazendo para o universo da escola a negação em questões referentes à família contribuindo com uma visão etnocêntrica de sociedade. Em outras palavras, os professores desconsideram a possibilidade de existência de outras culturas familiares, assumindo o seu modelo familiar como único e correto. 4.1.2. Família (neutra) (11.8%) Nesta subcategoria analisada, assumimos como critério de análise a presença nas falas dos professores de discursos que percebem a família como participante do processo educacional, no entanto, ao mesmo tempo, estes compreendem que tal não tem uma interferência direta na formação, no ambiente escolar e nas construções pessoais dos alunos. E neste sentido, os familiares fazem parte da escola, mas não atuam, são informados de tarefas e excursões, mas não são interrogados a ter voz. Logo, a família é concebida simplesmente como um representante legal da criança, parece-nos que nestes casos os pais eximem-se da responsabilidade educacional da família, deixando a cargo das outras instituições sociais.

4.1.3. A família como facilitadora (8.1%) Ao analisar esta subcategoria, percebemos, dentre as poucas citações, que há uma preocupação significativa do professor em construir os elos de ligação entre a família e o ambiente escolar, reconhecendo que a família está relacionada ao universo cultural do aluno e, logo, deve estar conectada com a organização da pratica pedagógica. Nesta concepção de educação, o professor não nega tão pouco ignora a participação da família, compreende-a como constituinte de uma rede complexa de relações sociais, nas quais grupos socioculturais diferentes estão em contato permanente. Dessa forma, o professor possui clareza da natureza conflitiva dessas relações e busca estratégias para aprendizagens relevantes dentro do contexto cultural das famílias. Enfim, verificamos, entre os professores que citaram que a família interfere de modo positivo no contexto escolar, uma visão de conscientização cultural, ou seja, estes consideram a existência de diversas culturas sem menosprezar uma em função da outra. 4.2. Cultura intrínseca (36.3%) Entre as categorias elaboradas para análise das entrevistas, esta merece atenção pelo número de grifos e pela concepção reacionária e preocupante que os professores traduzem em seus discursos. Tal categoria abarcou as respostas dos professores que apresentavam, explicita ou implicitamente, uma concepção de educação e sociedade inatista que crê que os hábitos, costumes e valores de um indivíduo são determinados pela questão genética, desconsiderando a influência dos espaços sociais e culturais para a formação do indivíduo. Ao mesmo tempo, também, foi considerado o discurso que caracterizavam uma visão de mundo etnocêntrica, de homogeneização, de valores da cultura dominante e elitista acentuado. Com supervalorização da sua cultura de origem em detrimento e desrespeito a cultura do aluno. Neste olhar sobre a sociedade, o aluno e a sua cultura são encarados com a não valorização das diferenças, e baseada nas teorias assimilacionistas e de carência cultural. Ignora o contexto do aluno, rejeita-se a sua voz e o poder é centralizado nas mãos do professor, estabelecendo uma relação assimétrica de poderes. Dessa forma, estereotipando e julgando a cultura do aluno, tomando como referência a cultura do professor, corroborando a desigualdade no contexto escolar. 4.3. Meio social

Esta categoria caracteriza-se pela influência do meio social na formação da identidade cultural dos alunos, sob a ótica dos professores. As subcategorias são: amigos, religião, escola e habitação. 4.3.1. Amigos(2.7%), religião (1.8%) e habitação (0.9%) Nestas três subcategorias, procuramos observar a influência dos amigos, das preferências religiosas e da localização habitacional na formação da cultura dos alunos. Notase que as três subcategorias de análise não apresentaram um número expressivo de grifos, o que, de imediato, nos faz pensar que, segundo os professores, tais elementos sociais não contribuem ou não interferem significativamente no processo educacional das crianças. Devido, ao reduzido número de citações, ficou difícil para analisarmos em quais situações tais elementos interferem diretamente. Mesmo assim, observamos que os professores, quando se referem a questão religiosa e habitacional, sugerem uma influência negativa, pois consideram que estes dificultam o processo de ensino-aprendizagem. O mesmo não parece ocorrer com a referência dos amigos, pois estes quando citados pelos professores apresentam-se como auxiliares positivos do contexto escolar. 4.3.2. Escola (20.9%) Contrariamente as subcategorias anteriores, as citações acerca da escola foram freqüentes nas falas dos professores. Entre as falas dos professores, encontramos tanto citações positivas quanto negativas acerca do contexto escolar. No entanto, parece-nos que as citações negativas prevalecem. Neste sentido, falas que desaprovam a organização da escola, que desqualificam o corpo docente e que criticam as condições objetivas de trabalho do professor apareceram insistentemente. Podemos constatar que, os professores enxergam a escola como instituição social que interfere diretamente na formação dos alunos, independente das condições do contexto escolar. E, ainda mais, o professor acredita que a escola deve ser um local específico de intervenção na formação das crianças, lembrando que a sociedade moderna a elegeu para tal função. Mas, ao mesmo tempo, os professores sentem-se culpados e/ou impotentes frente à situação atual da escola, por constatarem a infinidade de obstáculos que estes têm enfrentado para dar conta das suas finalidades primordiais. 5. PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Como este trabalho ainda não foi concluído, destacamos nossas considerações iniciais acerca dessa interpretação inicial. Verificamos a predominância de três fatores interferentes no processo apropriação cultural: a família concebida negativamente, uma concepção de cultura intrínseca e o ambiente escolar. Também constatamos, entre os discursos dos professores, a valorização de culturas dominantes em detrimento a outras culturas periféricas. Pretendemos na continuação do trabalho um aprofundamento nas discussões e no quadro teórico.