Registro: 2010.0000005723 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 990.10.162825-2, da Comarca de Paraibuna, em que são apelantes DAVID WILLIAM HUNRICHS e NINA WARNOWSKI HUNRICHS sendo apelados FUNDAÇÃO CAIXA BENEFICENTE DOS SERVIDORES DA UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ FUNCABES, CIA ENERGÉTICA DE SÃO PAULO CESP e TELECOMUNICAÇÕES DE SÃO PAULO S/A TELESP TELEFONICA. ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores TEIXEIRA LEITE (Presidente) e FÁBIO QUADROS., 9 de dezembro de 2010. ENIO ZULIANI RELATOR Assinatura Eletrônica
VOTO Nº: 20050. APELAÇÃO Nº 990.10.162825-2. COMARCA: PARAIBUNA. APELANTE [S]: DAVID WILLIAM HUNRICHS e OUTRA APELADO [A/S]: FUNCABES FUNDAÇÃO CAIXA BENEFICENTE DOS SERVIDORES DA UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ MM. JUIZ PROLATOR: DRA. ANA PAULA DE QUEIROZ ARANHA Retificação de registro Conflito instaurado por vizinho contestador e que acusa invasão de área a ser concretizada em sendo acolhida a pretensão Perícia não elucidativa de que a oposição seja infundada Inadmissibilidade de a decisão, na retificação de registro, decidir questão complexa e que possa alterar domínio ou atribuir propriedade Confirmação da sentença que remete os interessados aos meios legais Não provimento. Vistos. Os recorrentes, David Willian Hunrichs e Nina Warnowski Hunrichs, não se conformam com a rejeição do pedido que fizeram para retificação de registro imobiliário (matrícula n. 5, do CRI de Paraibuna) para constar a exata dimensão (menor) e divisas corretas de acordo com a realidade fática e interpuseram o presente recurso. Os confrontantes não se opuseram, com exceção da FUNCABES Fundação Caixa Beneficente dos Servidores da Universidade de Taubaté que aponta sobreposição de áreas, denunciando invasão de áreas que seriam contíguas. O Juízo determinou a perícia e o expert nomeado apresentou laudo pela retificação, o que motivou a crítica de assistente. A ilustre Juíza da Comarca proferiu r. sentença declarando a impossibilidade de retificar algo que é controvertido, sendo que a douta Procuradoria Geral de Justiça emitiu parecer para que o processo fosse APELAÇÃO Nº 990.10.162825-2 PARAIBUNA 2/5
convertido em ordinário para que os atos fossem aproveitados. É o relatório. Não há como atender a postulação dos autores e o fato de se desejar inserir, nos registros, a dimensão física que seria de menor extensão ao que consta, não prova que a pretensão traduza objeto real do domínio estampado na matrícula n. 5, do Cartório de Paraibuna. O art. 212, da Lei 6015/73, complementa o serviço do cartório imobiliário ao permitir que se façam alterações para que o registro espelhe a verdade fática geográfica e garanta a todos, com a publicidade inerente, a segurança de que o registro corresponde exatamente ao que consta do mundo terreno. Portanto e para se admitir a retificação, há de se confirmar, de forma cabal, que a alteração do registro (formal) não modifica o conteúdo (essência ou substância física da coisa). Daí a razão de sempre se afirmar que a retificação que se admite é que a ocorre intra muros, ou seja, sem alterar divisas ou prejudicar terceiros. A contrario sensu, não se descarta que invasões ou projetos de regularizar áreas invadidas ou subtraídas pelas alterações de cercas ocorram mesmo quando o titular do domínio pretenda alterar, para menor, a área do imóvel, porque as novas divisas e demarcações podem camuflar um conflito de vizinhos. O laudo do Perito não confere a certeza necessária para que se faça a retificação. Não cabe ignorar que o que se faz, pelo procedimento instaurado pelos autores, nada mais representa do que uma decisão de natureza não contenciosa, mas, sim, de cunho administrativo. O APELAÇÃO Nº 990.10.162825-2 PARAIBUNA 3/5
Judiciário, na sentença que emite por força do art. 212, da Lei 6015/73, não confere a propriedade de áreas controvertidas e não tem o condão de submeter o vizinho que não concorda com a modificação ao império da coisa julgada quando a oposição possui uma razão relevante ou um motivo plausível para impedir que o registro se altere tal como se pretende. O imóvel dos autores está com uma parte divisória comprometida pela denúncia de invasão e essa arguição não foi lançada de forma leviana, mas, sim, com fundamentos respaldados em laudos subscritos por profissionais habilitados. Há sobreposição e os limites dos títulos (o da confrontante é objeto da matrícula 6) não permitem, pelos dados originais, solução imediata da disputa. A definição somente se resolverá pelos meios apropriados (ação demarcatória, ou reivindicatória e ou possessória). O registro não se altera com confrontante demonstrando que a alteração poderá legalizar domínio de área subtraída da vizinhança e a dúvida desse ponto, quando não resolvida por um esclarecimento definitivo sobre ser infundada a denúncia de invasão, justifica indeferimento. O Perito respondeu as críticas sem convencer de que as divisas antes mencionadas como disciplinadoras do espaço físico da matrícula 5, com as alterações pretendidas, continua abrigando a área que sempre esteve incluída no domínio dos autores, porque o título do confrontante, está em desacordo com a projeção contemporânea e acusa a obrigatoriedade de solução contenciosa. O remeter o interessado para as vias ordinárias não representa negativa de acesso à ordem jurídica (art. 5º, XXXV, da CF) e constitui decisão modelar para uma postulação que não atende o objetivo de retificar quando não há contrariedade. Se os atos praticados fossem aproveitados, como sugeriu o eminente Procurador de Justiça, Dr. Luiz Felippe Ferreira de Castilho Filho, seria ótimo financeiramente para as APELAÇÃO Nº 990.10.162825-2 PARAIBUNA 4/5
partes e excelente para a celeridade; porém e lastimavelmente, não será possível transformar o expediente em processo contencioso, porque depende da escolha dos interessados sobre a medida a ser postulada para resolução do conflito de vizinhança e não há perspectiva, diante da possibilidade de utilização de procedimentos especiais, de impor o rito ordinário. O próprio art. 213, 6º, da Lei 6015/73 (com a redação pela Lei 10391/2004) manda que o oficial remeta os interessados para os meios ordinários quando houver embutido no pedido disputa de propriedade e isso se aplica também para o procedimento judicial (art. 212). Nega-se provimento. ÊNIO SANTARELLI ZULIANI Relator APELAÇÃO Nº 990.10.162825-2 PARAIBUNA 5/5