Controle da capacidade produtiva de uma fábrica de rações e concentrados: um estudo de caso



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Palavras-chave: hidráulicas; pneumáticas; aprimoramento; produtividade.

Transcrição:

221 Controle da capacidade produtiva de uma fábrica de rações e concentrados: um estudo de caso Recebimento dos originais: 06/05/2013 Aceitação para publicação: 26/02/2015 Resumo Daniel Gonzatto Fucillini Graduado em Administração pela UFSM Instituição: Puro Trato Pet Food Endereço: Av. Angelo Santi, 1615. Santo Augusto/RS. CEP: 98.590-000. E-mail: danielgfucilini@hotmail.com Cristiano Henrique Antonelli da Veiga Mestre em Engenharia da Produção pela UFSM Instituição: Universidade Federal de Santa Maria Endereço: Av. Independência, 3751 - Bairro Vista Alegre. Palmeira das Missões/RS. CEP: 98.300-000. E-mail: chadaveiga@gmail.com A fabricação de rações para nutrição animal contribui tanto para o crescimento econômico do agronegócio bem como para a melhoria da qualidade do rebanho brasileiro. Dessa forma o presente trabalho tem como objetivo desenvolver e estruturar uma planilha de controle da capacidade produtiva para uma fábrica de rações e concentrados para suínos, equinos e bovinos, de médio porte, situada na Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Com base nos resultados quantitativos do processo foi possível determinar a existência de um gargalo na máquina peletizadora. O trabalho é finalizado com a apresentação de algumas estratégias para se administrar essa restrição e alavancar a capacidade produtiva atual. Como resultado, esse estudo oportuniza uma planilha para o cálculo de capacidade produtiva a fábrica de rações e oportuniza novas pesquisas em outras empresas com outros processos de produção. Palavras-chave: Fábrica de Rações. Capacidade de Produção. Rações e concentrados. 1. Introdução A atividade pecuária é uma das atividades econômicas presentes em todas as regiões do Brasil e a indústria de nutrição animal tem foco voltado para melhoria do desempenho produtivo das criações animais. Entende-se como ração animal, ou concentrado proteico, como sendo os produtos balanceados que contêm fontes proteicas, energéticas e todos os minerais e vitaminas que o animal necessita. Esses nutrientes servem para manutenção de suas funções bioquímicas, e tais nutrientes necessitam estar contidos em ingredientes ou alimentos, que compõem sua dieta. Conforme a Embrapa (2011), entende-se por ração

222 balanceada aquela que contém nutrientes em quantidade e proporções adequadas para atender às exigências orgânicas dos animais. A grande maioria dos ingredientes que compõem uma ração animal tem em suas composições todos os nutrientes necessários para os animais se manterem (milho, soja, sorgo, etc.). Com uma concorrência significativa ocorrida no setor em análise, o estudo da capacidade produtiva da fábrica se apresenta como uma das formas para que a empresa possa obter subsídios que lhe propicie um eficiente gerenciamento e consequente melhoria na participação em seu ramo de atividade. Nessa perspectiva, o planejamento e controle da produção é a área responsável pelo gerenciamento da fabricação dos produtos necessários para se atender as demandas. Um planejamento de capacidade eficiente torna-se necessário para que os gestores tenham conhecimento das limitações e potencialidades do seu processo produtivo. Diante do exposto, o presente estudo foi desenvolvido em uma empresa produtora de rações e concentrados para suínos, equinos e bovinos, situada na Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Seu portfólio de produtos está centrado na fabricação de rações e concentrados destinados a alimentação de animais de médio e grande porte. No entanto devido à diversidade de produtos manufaturados dentro de sua planta industrial e com a crescente demanda verificada, tornam-se necessário o estudo da capacidade produtiva buscando a otimização da produção e melhor eficiência na entrega dos produtos aos clientes. 2. Capacidade Produtiva e Processo de Fabricação de Ração O termo capacidade produtiva representa a quantidade ou limite máximo que um determinado processo empresarial possui de transformar suas matérias primas em produtos acabados. Slack et. al. (2008) comentam que a capacidade de produção é o máximo nível de valor adicionado em um determinado período de tempo que o processo pode realizar sob suas condições normais de operação. De acordo com Moreira (1998), o estudo da capacidade de produção pode ser utilizado para toda a organização ou pode ser considerado para apenas uma unidade produtiva, em um mesmo intervalo de tempo. Essa unidade produtiva ou operacional, conforme Stevenson (2001) destaca, pode ser caracterizada por uma divisão de negócios, um departamento ou setor manufatureiro, uma máquina ou até mesmo a operação realizada por um funcionário.

223 Ao realizarem um estudo sobre capacidade de produção, Gaither e Frasier (2005) comentam que uma empresa deve levar em consideração a sua estrutura de programação e sequência dos processos de trabalho, bem como os tempos suficientes para que o material que entra na fábrica possa ser transformado, seja pela maquinaria, ação operacional da equipe ou de sistemas mistos, em produtos prontos para a comercialização. Diante do exposto, para o caso em questão, faz-se necessário um desdobramento do entendimento dos processos de fabricação de rações para que se possa realizar a medição quantitativa da capacidade de produção. Assim, a fabricação de rações e concentrados se inicia, conforme Fett (2005), com um bom projeto. Para que uma ração apresente uma formulação adequada ao tipo de animal, sua composição deve estar ajustada com as necessidades nutricionais. Ou seja, no projeto de uma fábrica de ração animal é fundamental considerar as espécies de animais a que será destinado o produto. Ao se construir uma fábrica de rações alguns requisitos necessitam ser observados. Como referem Oliveira Filho et. al. (2004) e Teixeira et. al. (2005), a compra das máquinas e equipamentos deve ser criteriosa e alguns fatores devem ser considerados antes da construção do projeto como o espaço, a capacidade de produção e qualidade, potencial de crescimento futuro, necessidade de energia elétrica, custos de operação, capital inicial, confiança e fidelidade, disponibilidade de manutenção e seus custos. A produção de rações e concentrados, conforme Biagi (2009), é realizada a partir da junção de macro e micro ingredientes. Conforme demonstra a Figura 1, o processo consiste em basicamente sete etapas, sendo elas: 1- recepção/ descarga, 2- armazenamento, 3- moagem/ beneficiamento, 4- pesagem/ dosagem/ mistura, 5- peletização, 6- ensaque e 7- expedição. A primeira etapa do processo de fabricação de ração consiste na recepção e descarga da matéria prima diretamente no setor de recebimento que possui todos os equipamentos necessários para manter ou melhorar a qualidade dos produtos utilizados na produção de ração. Conforme Fett (2005), na recepção de grãos ou fareladas ocorre a pesagem da matéria prima para que após essa ação ocorra descarga em moegas, onde os caminhões descarregam o material quando o mesmo vem a granel. Para os casos de sacarias, essas são descarregadas e empilhadas em armazéns fechados. Após a descarga ocorre o transporte das matérias-primas para dentro da unidade de fabricação de ração. A maioria das fábricas utiliza transportadores de arraste, helicoidais e

224 elevadores de canecas. Corretamente projetado, o sistema incorpora o arraste e rosca sem fim, evitando assim o uso de apenas um tipo de transportador nas mais variadas etapas de transporte, o que favorece a limpeza e um mínimo de contaminação cruzada dos ingredientes. Os coletores de pó são acoplados junto aos elevadores de caçamba para facilitar a limpeza. Figura 1: Fluxograma de uma fábrica de rações com pré-moagem Fonte: adaptado de Biagi (2009) Klein (1999) demonstra algumas exigências mínimas que o processo de recepção e armazenamento deve possuir: i) em relação à estocagem, os silos devem ser bem projetados e com uma capacidade para pequenos volumes (não maiores do que três mil toneladas); ii) as capacidades de recepção e de beneficiamento devem ser compatíveis com a capacidade da fábrica; iii) os silos devem ter termometria e aeração, preferencialmente monitorados automaticamente; iv) ter instalado uma mini-estação meteorológica próxima à estrutura de armazenamento a fim de permitir o uso da curva psicométrica; v) deve ser possível monitorar o ensilamento via sinóptico com sensores indicando as rotas para evitar erros de ensilamento (permitir visualizar o fluxo, posição de carrinhos, etc.). Da mesma forma, o mesmo autor demonstra alguns pontos críticos do processo de recepção e estocagem dos produtos necessários à fabricação de rações como a presença de impurezas, umidade, controle de roedores, pássaros, insetos e outros micro-organismos que podem prejudicar a qualidade do produto. Outros pontos a serem observados ainda são o

225 ensilamento, o controle da termometria e aeração, acúmulo de pó nos equipamentos, goteiras e infiltrações no ambiente da fábrica, tempo de estocagem do produto, além da organização e limpeza geral da fábrica. A terceira etapa do fluxo consiste no processo de moagem. Em consonância com Henderson e Perry (1982), a moagem consiste na redução do tamanho das partículas, ou seja, é o processo no qual os ingredientes são reduzidos em seu tamanho pela força do impacto, corte, esmagamento, trituração e moagem. A redução do tamanho da partícula é realizada por meios mecânicos, sem alteração das propriedades químicas do material. A maioria das matérias primas de origem agrícola utilizados na produção de rações está sujeita à redução de partículas e essa ação tem por finalidade: i) exposição de maior área para interação com o processo digestivo e as enzimas digestivas; ii) facilitar a manipulação de alguns ingredientes; iii) melhorar a mistura dos ingredientes; iv) melhorar a eficiência e qualidade da conformação do produto acabado, no caso de pellets. Como refere Goodband et. al. (1995), os motivos mais importantes pelos quais ocorrem à redução do tamanho das partículas das matérias primas é a melhoria da digestibilidade e homogeneidade da mistura dos ingredientes. A moagem é o primeiro processamento pelo qual passam as matérias primas na fábrica de ração e responde por grande parte do custo de processamento. Segundo Klein (1999), o processo de moagem frequentemente é considerado como um processo gargalo da fábrica. Algumas empresas buscam redução de custos nessa etapa reduzindo o tempo de moagem o que ocasiona alteração nos critérios de granulometria e, por consequência, comprometem as etapas subsequentes da produção de ração ou até mesmo da eficiência do produto final. Na produção de alimentos para animais, conforme comenta Koch (1996), o moinho de martelos é o equipamento mais utilizado, devido a sua versatilidade na moagem de diferentes materiais e facilidade de manutenção. O moinho de martelos consiste basicamente de um conjunto de facas rombas, denominadas martelos, com alguns milímetros de espessura, perfiladas paralelamente umas às outras, fixadas a um eixo em alta rotação. Logo abaixo desse sistema está fixada uma peneira cujos forames apresentam dimensões variadas, de acordo com o grau de moagem desejado. O sistema de martelos e peneira está contido na câmara de moagem, que restringe o produto a ser reduzido. O processo ocorre com a entrada da matéria dentro da câmera por ação de gravidade. Nessa câmera o produto entra em contato com os martelos em alta rotação, e pelo seu contato com o produto ocorre grande parte da sua redução. Após as partículas são forçadas contra os

226 orifícios da peneira, para fora da câmera do moinho. Aquelas partículas que ainda não atingiram a granulometria permanecem na câmara até que ocorra a sua redução aos tamanhos mínimos estabelecidos. Na etapa quatro, ocorre a dosagem, pesagem e a mistura de macro ingredientes (aveia, milho, soja e farelos) utilizados em maiores dosagens e os micro ingredientes ou Premix (vitaminas, minerais, aminoácidos, enzimas, antioxidante, antibióticos dentre outros) utilizados em menores dosagens e que são responsáveis pelo desenvolvimento dos animais. A dosagem é realizada por meio de uma formulação da ração elaborada pelo médico veterinário responsável, que posteriormente é inserida no sistema computacional da fábrica. A pesagem é o primeiro e mais crítico dos processos, pois toda matéria prima a ser transferida para o processamento é quantificada. Durante o processo, cada ingrediente é pesado individualmente e, por fim, a ração é novamente quantificada. Após a pesagem, o composto de macro e micro nutrientes é misturado. De acordo com Biagi (2009), o processo de mistura de ingredientes deve ocorrer de forma satisfatória para que a distribuição dos nutrientes na massa produzida seja uniforme em um tempo mínimo com menores custos, uso de potência e trabalho. A mistura ocorre mediante um misturador. Existem duas classes de misturadores mais comuns, os verticais e os horizontais. O misturador vertical, mais simples, tem uma rosca sem fim no centro de um silo ou tulha com fundo cônico. A mistura ocorre com a elevação contínua do conteúdo dos tanques do fundo para a parte superior. O tempo de mistura para a maioria das rações é de aproximadamente 15 minutos depois da adição do último ingrediente. Os misturadores horizontais são geralmente do tipo hélice ou de palhetas. Neste misturador, a hélice exterior move o conteúdo para um extremo, enquanto que a correia interior move os conteúdos para outra extremidade. Essa ação resulta em uma mistura muito mais rápida que no misturador vertical. Nos misturadores tipo palheta, as palhetas movem os conteúdos alternadamente para o centro e extremos. O tempo de mistura nesse tipo de misturador é de 4 a 5 minutos após a colocação do último ingrediente. Nos misturadores horizontais o carregamento e descarregamento são feitos mais rapidamente que nos verticais, deixam menos resíduos de ração quando as hélices ou pás estão bem ajustadas. Na etapa cinco ocorre a peletização, que é um processo mecânico onde ocorre a aglomeração de pequenas partículas pelo calor úmido e da pressão de uma prensa de pellet que transforma o produto em partículas grandes. Basicamente é uma combinação de condicionamento, compactação e resfriamento. Esse processo é realizado pela máquina peletizadora que é um equipamento composto de rosca alimentadora e um controle de

227 alimentação que faz o ajuste da carga da máquina respeitando a máxima corrente do motor principal. A rosca abastece o condicionador que recebe vapor saturado cuja função dessa mistura é transformar a massa em ração farelada. Posterior ao condicionador encontra-se o retentor que tem a função de aumentar o tempo de retenção da ração com finalidade de redução microbiológica e finalmente a peletizadora propriamente dita, onde os rolos forçam a ração farelada pelos orifícios da matriz, tendo-se assim a ração na forma de pellet. O processo de peletização, de acordo com Schmidt (2006), ocorre quando a ração farelada proveniente de um silo entra no condicionador onde o vapor a uma temperatura de 70 a 90 C é adicionado e misturado a ração para facilitar a compactação. Durante a condensação do vapor, um fino filme de água é criado ao redor das partículas, que juntamente ao aumento da temperatura, facilita a aglutinação das partículas do alimento. A exposição ao calor e a umidade também altera as cadeias de amido tornando-as mais acessíveis à ação das enzimas digestivas. Este processo é chamado de gelatinização dos amidos. Após a ração farelada é exposta ao calor e umidade no condicionador, a ração quente e úmida entra na matriz onde é compactada por rolos compressores que comprimem a ração através dos furos do anel. A ração que passa através dos furos do anel é cortada por facas ajustáveis de acordo com o comprimento desejado para os pellets. Após a ração ser peletizada, ela será resfriada, pois os pellets deixam os anéis com uma temperatura entre 75 a 93 C devido aos efeitos combinados da adição de vapor, durante o condicionamento, e a fricção do produto com o anel. Os pellets quentes e úmidos, portanto frágeis, passam pelo resfriador para a diminuição da sua temperatura, possibilitando a armazenagem e o manuseio sem alterar a qualidade. O processo de resfriamento e secagem tem como objetivo diminuir a temperatura para 2 a 8 C acima da temperatura ambiente e diminuir a umidade para 12 a 14%, evitando que os pellets fragmentem e problemas sanitários, como o aparecimento de fungos. As últimas etapas do processo de fabricação de rações, ou seja, as etapas seis e sete da Figura 1, respectivamente, são o ensaque e a expedição. A etapa de ensaque representa a finalização de todo o processo de produção. É o momento onde o produto é ensacado em embalagem apropriada e especificamente desenvolvida para essa finalidade e os produtos são acondicionados de acordo com sua a composição e especificações impressas nela. Uma boa embalagem é responsável por garantir a manutenção da qualidade final do produto, bem como a conservação de todas as características desejáveis do alimento. Finalizado o ensaque, o produto vai para o estoque de produtos prontos e fica no aguardo de sua expedição.

228 Quando o produto é entregue a granel, a etapa de ensaque é suprimida. Nesse caso, o produto é carregado diretamente nos caminhões denominados raçãozeiros que transportarão as rações até os clientes. De acordo com Peixoto et al. (1975) e Infatec (2002), a expedição é o local em que as rações já prontas aguardam o transporte para o seu destino. Dessa maneira é indispensável impedir que a água, o calor excessivo e animais, principalmente roedores, tenham acesso ao material armazenado. Mediante esses cuidados é garantida não somente a manutenção da qualidade do produto, mas também desperdícios de material em decorrência de perdas que possam ocorrer dessa natureza. 3. Metodologia Este trabalho, do ponto de vista de sua natureza, é caracterizado como estudo de caso e foi realizado na empresa Puro Trato, localizada na Região Noroeste do Rio Grande do Sul, Brasil. Os dados foram coletados no período entre os meses de agosto a novembro de 2011. Como refere Cervo et. al. (2007), o estudo de caso caracteriza-se como sendo um estudo em profundidade baseado numa análise empreendida em uma única organização. O estudo de caso é um tipo de pesquisa que apresenta como características fundamentais objetivar a descoberta, enfatizar a interpretação em contexto, buscando retratar uma realidade específica. Com relação aos instrumentos de coleta dos dados, foram realizadas observações diretas e participativas, diretamente no local de estudo, ou seja, foram acompanhados todos os processos de produção diretamente na fábrica de rações em analise, fato que caracterizou a pesquisa, quanto a sua coleta de dados, de acordo com Gil (2002), como de fonte primária, sendo os dados coletados do sistema de automação da fábrica e com os diversos colaboradores da organização envolvidos nos processos de operação e comercialização. Para a realização dessa coleta de dados foi desenvolvida uma planilha eletrônica, ilustrada pelos Quadros 1 e 2, contendo as informações referentes a características especificas de cada máquina que compõe o processo produtivo dos produtos rações para bovinos de leite e equinos. Os dados foram coletados por equipamento, levando-se em consideração sua capacidade, tempo de produção e tempo de preparação, de modo a possibilitar o cálculo da capacidade produtiva de cada processo de fabricação. Finalmente, foi determina a capacidade produtiva de cada setor ou máquina, e em seguida, os resultados coletados foram comparados e analisados, propondo-se melhoria no processo produtivo da empresa.

229 4. Analise de Capacidade Produtiva Slack, et. al. (2008), sugerem três etapas para realizá-lo um planejamento de capacidade mais preciso: i) medir os níveis agregados de demanda e capacidade para o período planejado; ii) identificar políticas alternativas de capacidade; iii) escolher a melhor alternativa de capacidade mais adequada. Baseado no modelo proposto foi realizado o processo de análise em duas partes: a primeira parte demonstra o comportamento da demanda por rações no período dos últimos doze meses. A segunda parte consiste na análise da capacidade disponível da planta industrial juntamente com a análise de alternativas para um aumento da capacidade de produção. 4.1. Análise da demanda Ao olhar inicialmente ao mercado nacional, segundo dados do SINDIRAÇÃO (2011), a demanda de ração animal apresentava uma estimativa de crescimento de 4,2% com um total de 64 milhões de toneladas produzidas em 2011. Ao realizar o estudo do comportamento da demanda da organização, verificou-se uma sazonalidade de consumo dos produtos focos deste trabalho. Dessa forma, observou-se que a sazonalidade exerce influência de duas maneiras na produção de rações e concentrados: pela disponibilidade, qualidade e preços das matérias primas; e pela influência da variação do volume de consumo de rações e concentrados ao longo dos períodos do ano. Conforme proposto por Martins e Laugeni (2006), com relação à previsão de demanda com ajuste sazonal (para fenômenos sem tendência), foi possível calcular o coeficiente sazonal anual e realizar uma previsão das flutuações de demanda da produção no período de um ano a partir dos dados disponibilizados pela empresa referentes a comercialização de rações e concentrados nos últimos três anos. O cálculo foi realizado com o auxílio de uma planilha eletrônica onde foram inseridos os resultados dos anos de 2009 até o período de setembro de 2011. Posterior foi realizado o calculado da média e dos coeficientes de sazonalidade. O cálculo do coeficiente de sazonalidade foi realizado por meio da divisão da demanda de cada mês pela média dos anos respectivos, para os três anos de análise. Após foi realizada a média de cada mês. Essa média é o coeficiente sazonal, ou seja, o padrão que a comercialização de rações exerce no decorrer do ano.

230 Ao finalizar os cálculos, constatou-se que as rações e os concentrados apresentam um padrão sazonal de consumo, sendo que nos meses outubro a maio apresenta uma baixa e nos meses junho a setembro ocorre alta, com um pico identificado nos meses de agosto e setembro. Como pode ser visualizado no Gráfico 1 o padrão de comportamentos é semelhante para os 3 períodos analisados. 1,3 1,2 1,1 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro 2009 2010 2011 Média Gráfico 1: Coeficiente de sazonalidade da produção (2009-2011) Fonte: Elaborado a partir de Relatórios de Fabricação e Comercialização da empresa. Ao buscar analisar o motivo desse comportamento, em entrevista com o diretor da fábrica e com os representantes comerciais da empresa, constatou-se que isto ocorre em decorrência da disponibilidade de alimentação dos animais. Para os meses de maior incidência de chuva, ocorre uma maior disponibilidade de pastagens de melhor qualidade e com maior teor energético, o que acarreta a diminuição da necessidade de complementação com concentrado proteico (ração). Nos meses em que ocorrem as estações de inverno e primavera, há redução da temperatura, na qual, restringe o desenvolvimento das pastagens perenes e outras pastagens disponíveis possuem um teor energético baixo. Havendo uma necessidade de suplantação com concentrado proteico (ração) o que ocasiona o aumento da demanda de produtos.

231 4.2. Análise de capacidade de produção da fábrica de rações Para realizar o cálculo da capacidade de cada processo de produção, foram identificadas as máquinas que o compõe a capacidade de processamento em quilos por hora trabalhada. De acordo com o Quadro 1, podem ser visualizadas duas colunas que ilustram capacidades diferentes, sendo que a primeira coluna disponibiliza a capacidade média por hora e a segunda coluna a capacidade em tempo otimizado. O cálculo da capacidade foi realizado com dados oriundos da cronometragem do tempo de operação de cada máquina. Foram realizadas 3 sequencias de coleta dos tempos, sendo que a primeira foi utilizada como pré-teste da tabela. Após serem realizadas algumas alterações, foi realizada uma nova coleta dos tempos e posteriormente uma terceira coleta para a confirmação dos tempos de cada operação. A coleta dos tempos foi realizada para as principais fórmulas de ração de cada uma das famílias de rações estudadas. A coleta foi realizada em 10 bateladas por fórmula, com exceção do setor de peletização, onde o processo é contínuo. Após a coleta dos tempos, os valores foram transferidos para a planilha eletrônica na qual foram excluídos os valores extremos das dez bateladas cronometradas e posterior, calculando a média das mesmas, fornecendo assim, a capacidade média da operação. Na coluna de tempo otimizado foi feita uma projeção por meio dos menores tempos coletados, sem que ocorresse influência de outros fatores. Fornecendo assim uma capacidade não máxima, mas sim, ponto ótimo de processamento de cada operação. Dessa forma, como pode ser visualizado no Quadro 1, no setor de produção, no qual é realizada a dosagem e mistura da ração, a capacidade das máquinas caçamba de pesagem BA 01, foi de 9.730 quilos em média. O misturador MH 01, ele processa a mesma capacidade que a caçamba pesa, porém a capacidade do mesmo é de 15 toneladas por hora, devido ao misturador necessitar um tempo de 3 minutos e 30 segundos para realizar uma mistura uniforme e 30 segundos para realizar uma descarga completa sem deixar resíduos, para não ocorrer perigo de contaminação cruzada na próxima batelada. O setor de peletização é composto por três equipamentos: a peletizadora, resfriador e máquina de pré-limpeza (classificador). Dessa forma todos os equipamentos pertencentes a este setor processam a mesma capacidade que a peletizadora produzir por hora, assim para a ração de equinos a peletizadora produziu em media em uma hora 6.250 quilos. Essa capacidade baixa é devido à empresa priorizar por uma melhor qualidade dos pellets, sendo

232 que devido à ração de equinos ser composta de muita fibra uma capacidade mais elevada, ocasionaria em pellets frágeis e muito farelo na ração. Setor Máquina Capacidade Máquina kg/h (Tempo Médio) Capacidade Máquina kg/h (Tempo Otimizado) Caçamba de Pesagem BA 01 9.730 13.284 Produção Misturador MH 01 9.730 15.000 Transporte Elevadores e Roscas de transporte 9.730 13.284 Peletização Peletizadora 6.250 6.250 Resfriador 6.250 6.250 Classificador 6.250 6.250 Caçamba de Pesagem BA 02 9.756 9.945 Mistura Misturador MH 02 (Melaço) 9.424 10.405 Transporte Elevadores e Roscas de transporte 9.756 9.945 Ensaque/ Expedição Moega Moagem Laminação/ Beneficiamento Ensaque 11.215 12.414 Transporte 11.215 12.414 Costura 11.215 12.414 Transporte/ Estoque 11.215 12.414 Processos Separados a Prdução Descarga* Elevador* Moinho 1-50 CV - Aveia Moinho 1-50 CV - Milho Moinho 2-100 CV - Aveia Moinho 2-100 CV - Milho Cozimento (Soja) Resfriamento (Soja) Laminacão (Soja) Cozimento (Milho) Resfriamento (Milho) Laminacão (Milho) 20.000 25.000 720 1.462 2.280 4.388 1.300 1.300 1.300 1.300 1.300 1.300 Benificiamento (Aveia) 4.000 * tempos aproximado, pois varriam de acordo com o produto a ser descarregado. Quadro 1: Capacidade Produtiva Rações para Equinos Fonte: elaborado pelos autores. Na segunda mistura, a qual ocorre especificamente para rações para equinos e torneirinhas, estão presentes dois equipamentos: a caçamba de pesagem BA02, e o misturador MH02. Nesse setor ocorre a mistura de outras matérias-primas processadas na fórmula da ração. A caçamba de pesagem número 2 possui capacidade de 500 quilos por batelada, assim possui uma capacidade de processamento de 9.756 por hora. No equipamento seguinte, ou seja, o misturador 2 no qual são misturados os pellets, são processados a aveia machacada e o milho laminado, além de ocorrer a distribuição do melaço pela batelada proporciona uma capacidade de 9.424 quilos por hora. Esse processo não pode ser acelerado, caso contrário à passagem do melaço na batelada não fica uniformemente distribuída.

233 A etapa seguinte é o ensaque e expedição dos produtos. Essa etapa possui uma capacidade de 11.215 quilos por hora. Após o ensaque o produto e transportados para o estoque, no qual capacidade é o que for ensacado, sendo necessário ajustar apenas o número de colaboradores para aumentar a capacidade de armazenamento dos produtos acabados. 16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 Produção Transporte Peletização Mistura Transporte Ensaque/ Expedição Capacidade Maquina/ hora (Tempo Medio) Capacidade Maquina kg/ hora (Tempo Otimizado) Gráfico 2: Capacidade produtiva de rações para equinos Fonte: Elaborado pelos autores Como pode ser observado no Gráfico 2, a operação que restringe a produção ocorre no setor de peletização. O equipamento gargalo é a peletizadora a qual produz apenas 6,2 toneladas por hora. Essa operação limita as operações que antecedem, pois devido à capacidade baixa de processamento da peletizadora, o silo de armazenamento da peletizadora enche rápido. Deste modo, o nível do silo é controlado pelo sistema de automação no momento em que o nível de ração farelada é atingido o sistema para os processos anteriores, ocasionando um tempo ocioso entre uma batelada e outra, podendo chegar a 15 minutos de espera. Todas as demais operações apresentam capacidade superior a 10 toneladas de processamento por hora. Como pode ser visualizado no Quadro 2, no setor de produção, no qual é realizada a dosagem e mistura da ração, a capacidade das máquinas caçamba de pesagem BA 01, foi de 13.225,57 quilos em média. O misturador MH 01, processa a mesma capacidade que a caçamba, porém a capacidade do mesmo e de 15 toneladas por hora, devido que o misturador necessita de um tempo de 3 minutos e 30 segundos para realizar uma mistura uniforme e 30 segundos para realizar uma descarga completa sem deixar resíduos, para não ocorrer perigo de contaminação cruzada com próxima batelada, quando essa for de outra família de ração.

234 O setor de peletização é composto por três equipamentos: a peletizadora, resfriador e máquina de pré-limpeza (classificador). Dessa forma, todos os equipamentos pertencentes a este setor processam a mesma capacidade que a peletizadora produzir por hora. Assim, para a ração de bovinos de leite, a peletizadora produziu em média em uma hora 7.200 quilos. O aumento de aproximadamente 1 tonelada em relação à ração de equinos se deve a redução de fibras na ração para bovinos de leite. Da mesma forma que na ração para equinos, prioriza se a qualidade dos pellets, pois se caso contrário poderia ser aumentada em aproximadamente duas toneladas a mais por hora. Setor Produção Máquina Capacidade Maquina kg/h (Tempo Médio) Capacidade Máquina kg/h (Tempo Otimizado) Caçamba de Pesagem BA 01 13225,57 14876,03 Misturador MH 01 13225,57 15000,00 Transporte Elevadores e Roscas de transporte 13225,57 14876,03 Peletizadora 7200,00 7200,00 Resfriador 7200,00 7200,00 Classificador 7200,00 7200,00 Transporte Elevadores e Roscas de transporte 7200,00 7200,00 Ensaque Balança de Pesos 11612,90 13432,84 Transporte 11612,90 13432,84 Ensaque/ Expedição Costura 11612,90 13432,84 Transporte/ Estoque 11612,90 13432,84 Descarga 20000* Moega Elevador 25000 Moagem Moinho 1-50 CV Moinho 1-50 CV Moinho 2-100 CV Moinho 2-100 CV 720 kg 1462 kg 2280 kg 4388 kg Quadro 2: Capacidade produtiva ração para bovinos de leite. Fonte: Elaborado pelos autores. A etapa seguinte é o ensaque e expedição dos. Essa etapa possui uma capacidade de 11.612 quilos por hora. Após o ensaque o produto e transportados para o estoque, no qual capacidade é o que for ensacado, sendo necessário apenas o ajuste do número de colaboradores. Como pode ser verificado no Gráfico 3, da mesma forma que ocorre na ração para equinos, a operação que restringe a produção ocorre no setor de peletização. O equipamento gargalo é a peletizadora a qual produz apenas 7,2 toneladas por hora. Essa operação limita as operações que antecedem, pois devido a capacidade baixa de processamento da peletizadora, o silo de armazenamento da peletizadora enche rápido. Deste modo, o nível do silo é

235 controlado pelo sistema de automação, no momento em que o nível de ração farelada é atingido o sistema desativa os processos anteriores, ocasionando um tempo ocioso entre uma batelada e outra, podendo chegar até 10 minutos de espera. 16000 14000 12000 10000 8000 6000 4000 2000 Produção Transporte Transporte Ensaque/ Expedição Capacidade Máquina kg/h (Tempo Médio) Capacidade Máquina kg/h (Tempo Otimizado) Gráfico 3: Capacidade Produtiva Rações para bovinos de Leite Fonte: Elaborado pelos autores. Todas as demais operações apresentam capacidade superior a 10 toneladas de processamento por hora. 4.3. Analise de aumento da capacidade com a aquisição de novas máquinas Aquisição de novas máquinas visa proporcionar um aumento direto e significativo da capacidade, em específico a aquisição de mais um conjunto de peletização (peletizadora, prélimpeza, resfriador), com a finalidade de possibilitar um aumento de capacidade. Com a implantação de um novo conjunto de peletização, a demanda por mistura no setor de produção passar a 12,5 toneladas, porém há possibilidade de aumentar alocando mais um colaborador nesse setor para aumentar o fluxo das matérias primas nos silos de dosagem. Assim ficando com capacidade de peletização de 12,5 toneladas por hora. Dessa forma, o setor de peletização, deixaria de ser o gargalo da fábrica passando a ser o setor de mistura 2 - melaço e posterior, o setor de ensaque e expedição. Porém esses gargalos podem ser contornados com pequenos ajustes de tempos de setup e antecipação de mistura.

236 Como o novo conjunto de peletização e ajustando a programação da mistura 2 melaço, a empresa conseguirá um aumento de capacidade de 98%, em relação à capacidade antiga. Esse valor está limitado à capacidade de ensaque. Na ração para bovinos de leite a capacidade produtiva por hora do setor de produção utilizará capacidade máxima, ou seja, as 15 toneladas por hora, não havendo possibilidade de aumento devido a restrições de tempo de mistura e de carregamento da caçamba de pesagem. Já no setor de peletização passará para uma capacidade de processamento de 14,4 toneladas por hora. Assim a capacidade final do processo de fabricação da ração de bovinos de leite, terá um aumento de capacidade de 86%, em relação a capacidade antiga. Podendo ser aumentada para 100%, se realizados alguns ajustes de comportando e tempos de preparação nos setor ensaque. 5. Considerações Finais Esse trabalho apresentou como objetivo central calcular a capacidade produtiva de uma fábrica de rações e concentrado para animais, localizada no interior do Estado do Rio Grande do Sul. Buscando atingir esse objetivo foram realizadas atividades de conhecimento de todo o processo produtivo das rações, atividades essas que em sua maioria foi realizada pela participação ativa do pesquisador nos processos, aprendendo e executando, inclusive, as tarefas e operações que os colaboradores da empresa realizavam. Assim possibilitou além dos estudos teóricos um conhecimento prático de cada equipamento e do processo que ocorre na produção de rações e concentrados, facilitando a coleta de dados para o cálculo da capacidade, foco deste estudo. Dessa maneira, foi possível calcular a capacidade produtiva da fábrica e verificar os fatores que exercem influência na capacidade de produção, demonstrando a importância do controle de fabricação e do conhecimento da demanda para a correta tomada de decisões no ambiente de produção da empresa. Por meio dessa observação e ação direta pode-se verificar que muitas vezes, alguns gargalos de produção podem ser resolvidos pela adoção de medidas administrativas e, em outros casos, pela adoção de estratégias mais onerosas como a aquisição e alteração das instalações fabris. Nesse tempo também foi possível visualizar alguns problemas na produção da empresa, principalmente estruturais, como por exemplo, os ocorrido pelas diversas ampliações da

237 planta da fábrica ao longo dos últimos tempos, a fim de atender a demanda crescente. Observou-se que alguns pontos não foram adaptados adequadamente, tais como a estrutura dos silos de matérias primas, os quais limitam um fluxo contínuo das matérias primas tanto para as dosagens como para a moagem, havendo a necessidade de um colaborador ficar organizando as matérias-primas, a fim de melhorar o fluxo. A fábrica possui uma política rigorosa em relação à limpeza e a organização, sendo que todos os equipamentos e setores possuem identificação. Apenas um ponto falho foi observado, a falta de identificação do tipo de matérias-primas existente em cada uma das tulhas. Para os colaboradores experientes do setor não há problemas, mas para os novos colaboradores ou os de setores diferentes ocorre uma dificuldade de identificação. Em relação aos estoques, como os produtos são perecíveis, é necessário ter maior acurácia e trabalhar com alguma técnica de gerenciamento de estoques para se ter efetivo controle de custos dos estoques e não perder produtos por exceder o prazo de fabricação mínimo para ser repassado aos clientes. Como o objetivo principal do estudo era verificar a capacidade produtiva da fábrica, esse foi alcançado. Visando uma melhora na capacidade da empresa foram propostas algumas estratégias que se implantada corretamente podem influenciar positivamente no aumento da capacidade produtiva da atual planta industrial. Como possibilidade proposta, a compra de um novo conjunto de peletização possibilitará um aumento de capacidade de em média 86% referente a atual capacidade, além de estratégias alternativas, como no caso de uma manutenção preventiva e um controle mais especifico da demanda. Com o estudo do planejamento e capacidade de produção pode-se identificar o conhecimento dos fatores limitantes de sua produção e, mediante a apresentação dos resultados à organização já foram observadas a implantação de algumas alternativas administrativas como forma de proporcionar aumento de sua capacidade produtiva. Devido ao fato da empresa encontrar-se em um período de constate evolução, ela necessita estar atenta ao comportamento do mercado para não sofrer modificações significativas de padrões de demanda no decorrer do tempo. Assim sugere-se que a organização realize uma previsão de cenários para a comercialização e produção de rações (previsões otimistas, cautelosas e possíveis períodos de demanda inferiores ao planejamento) de forma a possibilitar um melhor planejamento da sua capacidade produtiva.

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