ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O PESO SUPORTADO PELOS TRABALHADORES NO TRANSPORTE MANUAL DE SACAS DE CIMENTO E O LIMITE RECOMENDADO PELO MÉTODO NIOSH



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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO ANDRÉ LUIZ BARP ROSSO SÉRGIO OKUMURA ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O PESO SUPORTADO PELOS TRABALHADORES NO TRANSPORTE MANUAL DE SACAS DE CIMENTO E O LIMITE RECOMENDADO PELO MÉTODO NIOSH CRICIÚMA, ABRIL 2007

1 ANDRÉ LUIZ BARP ROSSO SÉRGIO OKUMURA ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O PESO SUPORTADO PELOS TRABALHADORES NO TRANSPORTE MANUAL DE SACAS DE CIMENTO E O LIMITE RECOMENDADO PELO MÉTODO NIOSH Monografia apresentada à Diretoria de Pós- Graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Engenharia Segurança do Trabalho Orientador: Prof. Dr. Waldemar Pacheco Júnior. CRICIÚMA, ABRIL 2007

2 ANDRÉ LUIZ BARP ROSSO SÉRGIO OKUMURA ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O PESO SUPORTADO PELOS TRABALHADORES NO TRANSPORTE MANUAL DE SACAS DE CIMENTO E O LIMITE RECOMENDADO PELO MÉTODO NIOSH Criciúma, 27 de abril de 2007. BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Waldemar Pacheco Júnior - Orientador Profª. Dra. Vera Lúcia Duarte do Valle Pereira Profª. MSc. Simone Teresinha Falchetti Lopes da Costa

3 Aos amigos, as companheiras que entenderam nossas ausências durante a realização deste trabalho. Aos nossos pais, por todo carinho e atenção dispensado durante toda esta árdua caminhada.

4 AGRADECIMENTOS Inicialmente a Deus. A Universidade do Extremo Sul Catarinense. A Universidade Federal de Santa Catarina. Ao Professor Waldemar Pacheco Júnior pela orientação e compreensão, além da grande ajuda nos dada no desenvolvimento deste trabalho. A todos os professores do curso pelos conhecimentos passados. Aos colegas de curso, que caminharam conosco na busca deste objetivo. A empresa Construtora Corbetta, pelas informações repassadas, e pelo auxílio na elaboração deste trabalho. A todos que direta ou indiretamente nos ajudaram para que alcançássemos este objetivo.

5 RESUMO O Transporte manual de sacas de cimento é uma atividade corriqueira na construção civil. No Brasil, os modernos métodos construtivos são pouco difundidos, prevalecendo à utilização do concreto armado e da argamassa com cimento. O presente trabalho faz uma comparação do peso suportado pelos trabalhadores da construção civil no transporte manual de sacas de cimento com o peso recomendado pelo método NIOSH. Para alcançar este objetivo, se fez necessário tanto um estudo do método, quanto da atividade de transporte manual de sacas de cimento, para que fossem feitas as avaliações e medições requeridas pela NIOSH. A partir daí, foram analisados os resultados obtidos no intuito de verificar a compatibilidade do peso no transporte de sacas de cimento, além de comparar este resultado com as Normas Brasileiras e internacionais relacionadas ao assunto. Palavras-chave: Transporte Manual; Sacas de Cimento; Peso; NIOSH.

6 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 - Coeficientes a serem Considerados na equação de NIOSH...31 Figura 02 - Coeficiente de distância horizontal do indivíduo à carga...32 Figura 03 - Coeficiente de distância vertical do indivíduo à carga...33 Figura 04 - Fator rotação lateral do tronco (assimetria) da equação de NIOSH...34 Figura 05 - Coeficiente de assimetria...34 Figura 06 - Fator distância vertical percorrida...35 Figura 07 - Trabalhador transportando a saca próximo ao corpo...51 Figura 08 - Trabalhador Transportando a Saca no estilo Bandeja...53 Figura 09 - Trabalhador transportando a saca próximo ao corpo...56 Figura 10 - Trabalhador Transportando a Saca no ombro...58 Gráfico 01 - Faixa etária dos entrevistados...45 Gráfico 02 - Tempo de atividade como servente dos entrevistados...46 Gráfico 03 - Percentual dos entrevistados que receberam treinamento para o transporte manual de sacas de cimento...46 Gráfico 04 - Avaliação dos entrevistados quanto à qualidade do treinamento...47 Gráfico 05 - Quantidade de dias na semana que os entrevistados realizam a atividade de transporte manual de sacas de cimento...47 Gráfico 06 - Freqüência de dores lombares entre os entrevistados...48 Gráfico 07 - Avaliação dos entrevistados quanto a dores em outras partes do corpo...48 Gráfico 08 - Avaliação dos entrevistados quanto o peso da saca de cimento...49 Gráfico 09 - Avaliação dos entrevistados quanto o manuseio da saca de cimento.49 Gráfico 10 - Avaliação dos entrevistados quanto o peso ideal da saca de cimento 50 Quadro 1 - Participação da construção no PIB, comparativamente a outros setores...18 Quadro 2 - Número de indústrias por gênero industrial / Santa Catarina...19 Quadro 3 - Número de trabalhadores nas indústrias por gênero industrial em Santa Catarina...20 Quadro 4 - Número de trabalhadores em Santa Catarina, no setor da construção

7 Civil por Grau de Instrução...21 Quadro 5 - Distribuição do consumo de cimento por regiões do Brasil e formas de apresentação...24 Quadro 06 - Valores do fator qualidade da pega da carga...31 Quadro 07 - Coeficiente de freqüência de levantamento...36

8 LISTA DE TABELAS Tabela 01 - Cálculo do limite de peso pela equação de NIOSH...52 Tabela 02 - Cálculo do Limite de peso pela Equação de NIOSH...54 Tabela 03 - Cálculo do limite de peso pela equação de NIOSH...57 Tabela 04 - Cálculo do limite de peso pela equação de NIOSH...59 Tabela 05 - Média de Peso calculado pelo método NIOSH...60

9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS NIOSH National Institute for Ocupational Safety and Health PIB Produto Interno Bruto EPI Equipamento de Proteção Individual OIT Organização Internacional do Trabalho SNIC Sindicato Nacional da Indústria do Cimento INSS Instituto Nacional da Seguridade Social LPR Limite de Peso Recomendado IL Índice de Levantamento ABCP Associação Brasileira de Cimento Portland

10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...13 1.2 Tema...14 1.3 Contextualização do fenômeno...14 1.4 Problemática...15 1.5 Hipóteses...15 1.5 Objetivos...15 1.5.1 Objetivo geral...15 1.5.2 Objetivos específicos...16 1.6 Metodologia...16 1.7 Justificativa e relevância do trabalho a engenharia de segurança do trabalho...16 1.8 Limitação do trabalho...17 1.9 Estrutura da monografia...17 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...18 2.1 A construção civil na economia...18 2.2 O cimento e a construção civil...21 2.2.1 Breve histórico do cimento (ABCP)...22 2.2.2 O uso do cimento (ABCP)...23 2.2.3 Embalagens...23 2.3 O manuseio de cargas pesadas...24 2.4 Normas e legislações brasileiras e internacionais...26 2.4.1 Norma regulamentadora N 17 (NR 17)...26 2.4.2 Lei 6.514 de 22 de Dezembro de 1977 Seção XIV da CLT...27 2.5 O método NIOSH...28 2.5.1 Fórmula para o Cálculo do Limite de Carga Recomendado...31 2.6 A atividade de transporte de sacas de cimento na construção civil...39 2.6.1 Dificuldade no manuseio da carga...39 2.6.2 Freqüência do levantamento...39 2.6.3 Deslocamento vertical da carga...39 2.6.4 Distância vertical entre o corpo e a carga...40

11 2.6.5 Distância horizontal entre o corpo e a carga...40 2.6.6 Rotação do corpo...40 2.7 Análise cinemática tridimensional do manuseio de carga na construção civil...40 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...42 3.1 Descrição da empresa...42 3.2 Descrição da obra...42 3.3 Descrição da pesquisa...43 3.3.1 Método de obtenção dos dados...43 3.3.2 Método de análise dos dados...44 4 RESULTADOS OBTIDOS...45 4.1 Características da amostra...45 4.1.1 Dados obtidos na aplicação do questionário...45 4.2 Levantamento de dados necessários a aplicação do método NIOSH...50 4.2.1 Primeiro trabalhador...50 4.2.1.1 Modo de transporte das sacas...50 4.2.1.2 Medições e fatores...51 4.2.2 Segundo trabalhador...53 4.2.2.1 Modo de transporte das sacas...53 4.2.2.2 Medições e fatores...54 4.2.3 Terceiro trabalhador...55 4.2.3.1 - Modo de transporte das sacas...55 4.2.3.2 Medições e fatores...56 4.2.4 Quarto trabalhador...58 4.2.4.1 Modo de transporte das sacas...58 4.2.4.2 Medições e fatores...59 4.3 Média dos resultados dos LPR obtidos pelos trabalhadores...60 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS...61 5.1 Recomendações técnicas...62 5.1.1 Conservar a saca próximo ao corpo...62 5.1.2 Evitar a rotação do corpo...62 5.1.3 Realizar pausas curtas e freqüentes...62 5.1.4 Não deslocar a carga verticalmente...62 5.1.5 Outras recomendações...63

12 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...64 REFERÊNCIAS...66 ANEXOS...68

13 1 INTRODUÇÃO Dentro de um mercado cada vez mais competitivo, as empresas buscam diferentes estratégias para sobreviver. Quando um funcionário se afasta do emprego por motivo de doença ou acidente, outro tem que ser treinado para ocupar a sua função, despendendo recursos e tempo. Porém, o que se observa é que, muitas vezes, o homem tem que se adaptar a processos inadequados a ele. A Ergonomia desponta com uma proposta inversa a esta, ou seja, adequar os processos ao homem. A Ergonomia surgiu praticamente durante a II Guerra Mundial, como uma necessidade de conhecer o homem para melhor adaptar as novas invenções às suas características físicas e perceptivas. Passa, após este período, a ser utilizada nos diversos setores da economia, auxiliando na concepção dos instrumentos, máquinas e dispositivos de produção. (DUL; WEERDMEESTER, 1995). E numa abordagem mais atual, a Ergonomia se preocupa também com a questão da qualidade de vida no trabalho, bem como contribuindo para a saúde mental. (COUTO, 1995). Entretanto, a Ergonomia é ainda uma ciência pouco utilizada na construção civil, e os trabalhos desenvolvidos nesta área, em geral, procuram identificar as condutas assumidas pelo operário para desenvolver sua tarefa, dentro de uma visão antropométrica, ou auxiliam na concepção de ferramentas, equipamentos e modificações dos locais de trabalho, sem levar em consideração os aspectos cognitivos. Além disso, observa-se que os estudos sobre condições de trabalho, enfocando os aspectos organizacionais, são desenvolvidos dissociados da Ergonomia. (FRANCO, 1995). Na realidade dos canteiros de algumas empresas de construção civil já é possível se encontrar uma série de modificações no processo produtivo e na sua organização. Segundo Heineck (1991), estas medidas têm sido complementadas por modificações mais radicais, como a racionalização e integração dos projetos, o uso de tecnologias diferentes e também uma total modificação nas relações de trabalho nos canteiros, com a valorização do trabalhador, seu envolvimento nas decisões sobre a conduta da obra e o aumento do nível de comunicação e interrelacionamento entre pessoas. Isto vem demonstrar o interesse de algumas

14 empresas em melhorar as condições de trabalho. Este estudo pretende mostrar a importância da introdução dos conceitos ergonômicos à melhoria das condições de trabalho no setor da construção civil, setor que se destaca até hoje pelo alto índice de afastamento de trabalhadores por doenças e acidentes. 1.2 Tema Ergonomia na Construção Civil. 1.3 Contextualização do fenômeno Estudo comparativo entre o peso suportado pelos trabalhadores da Construção Civil no transporte manual de sacas de cimento e o limite recomendado pelo Método NIOSH. A Construção Civil é responsável por grande parte dos acidentes relacionados ao trabalho em nosso país. Números da Previdência Social apontam para um total de 28.987 acidentes ocorridos no ano de 2005 relacionados ao setor de um total de 1,35 milhões de trabalhadores. Diversos são os motivos que contribuem para este elevado índice, dentre os quais podemos destacar que os empregados da Construção Civil apresentam instabilidade empregatícia; em épocas de crescimento do setor, são recrutados empregados sem nenhum treinamento específico e, portanto, sem qualificação profissional. A baixa qualificação, a elevada rotatividade e o reduzido investimento por parte das empresas em treinamento e desenvolvimento costumam ser algo característico dessa indústria. (ANDRADE; BASTOS, 1999). Ainda encontra-se grande parte dos canteiros de obra com ordem e limpeza deficientes, diante do acúmulo de materiais pontiagudos, escombros e outros, além da falta de dispositivos de proteção ao acesso da obra, rampas e passarelas. O transporte do pessoal, muitas vezes, ainda não atende as normas de segurança e também é utilizado para o transporte de materiais. Os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) mais usados são os capacetes e luvas, ficando esquecidos os protetores auriculares e faciais, os cintos de segurança e os sapatos especiais. Nos canteiros de obras é comum se observar funcionários transportando

15 manualmente vários materiais, dentre eles destacam-se as sacas de cimento, material muito utilizado pela indústria da construção civil. O Brasil é um grande produtor de cimento, no ano de 2005 foram produzidos 36,7 milhões de toneladas do produto (Revista Proteção Junho 2006), sendo que grande parte deste material segue em sacas para os canteiros de obras. Assim, por desconhecimento ou negligência dos procedimentos corretos a serem adotados, os trabalhadores são surpreendidos por dores lombares, entorses, deslocamento de disco e hérnias. 1.4 Problemática O peso suportado pelos trabalhadores da Construção Civil no transporte manual de sacas de cimento é compatível ao recomendado pelos padrões da NIOSH? 1.5 Hipóteses O peso suportado pelos trabalhadores da Construção Civil no transporte manual de sacas de cimento não é compatível ao recomendado pelos padrões da NIOSH. O método de NIOSH para determinar os limites de cargas a serem manuseados, pode ser uma resposta favorável à melhoria das condições de trabalho. A legislação brasileira é incorreta e ineficaz, não protegendo a saúde e bem-estar do trabalhador, e não condiz com as normas de países mais desenvolvidos. 1.5 Objetivos 1.5.1 Objetivo geral Verificar se o peso suportado pelos trabalhadores da Construção Civil no transporte manual de sacas de cimento é compatível ao recomendado pelos padrões da NIOSH.

16 1.5.2 Objetivos específicos Descrever os critérios do método NIOSH. Descrever a atividade de levantamento de sacas de cimento na Construção Civil. Verificar a Legislação Brasileira. 1.6 Metodologia A pesquisa tem como base filosófica o Estruturalismo, em que se estuda o processo e as variáveis envolvidas que, no caso da presente monografia, está relacionada ao transporte de sacas de cimento na construção civil. Em sua caracterização, a pesquisa é qualitativa e descritiva, na qual irá priorizar os dados que se constituam em base verificar a compatibilidade do peso suportado pelos trabalhadores da Construção Civil quando do transporte manual de sacas de cimento em relação ao padrão NIOSH, em um levantamento bibliográfico e em um estudo de caso. Os métodos de pesquisa são o dedutivo e o descritivo, uma vez que o estudo será baseado na literatura técnica e, a partir desta, descrever os riscos na atividade de transporte manual de sacas de cimento num canteiro de obras, inclusive com observações por parte dos pesquisadores. As técnicas utilizadas em nossa pesquisa serão: Observações Práticas no canteiro de obras. Pesquisa das Normas e Leis Nacionais e Internacionais. Coleta de Dados no R.H. da empresa Construtora Corbetta. Relação Teoria x Prática. 1.7 Justificativa e relevância do trabalho a engenharia de segurança do trabalho O estudo do homem no trabalho visando à manutenção de sua saúde física e mental, e o aumento de sua produtividade é uma área de investigação científica com um componente prático-experimental de grande importância. Para que se possa conhecer a realidade do trabalho é fundamental a realização de

17 experimentos, medições e análises em condições reais. A construção civil foi responsável por 6,22% do total de acidentes de trabalho no ano de 2005, destes, grande parte, 6,63% está relacionada ao deslocamento manual de peso (erguer, puxar, empurrar), que são serviços muito freqüentes neste setor. (DATAPREV, 2006). Numa primeira análise, pode-se verificar que as normas brasileiras não são compatíveis com as recomendações da OIT nem com as normas de países mais desenvolvidos, levantando portanto dúvidas quanto a sua validade, uma vez que o número de lesões relacionadas ao transporte manual de cargas é elevado, em especial na Construção Civil. 1.8 Limitação do trabalho Esta monografia tem como finalidade evidenciar os problemas causados pelo transporte de sacas de cimento num canteiro de obras, baseando seu estudo de caso na população de trabalhadores de uma empresa do setor da construção civil, na cidade de Criciúma, sendo analisados 4 (quatro) trabalhadores que realizam o transporte manual de sacas de cimento (serventes). A compatibilidade do peso suportado pelos trabalhadores na realização da tarefa, será feita levando-se em consideração apenas o método NIOSH. 1.9 Estrutura da monografia A monografia está dividida em cinco capítulos. No capítulo 1 é apresentada, de forma resumida, a proposta de trabalho, com seus objetivos e limitações. No capítulo 2 será feita a caracterização a revisão bibliográfica do assunto, apresentando o método NIOSH para o transporte manual de cargas e uma descrição da atividade de transporte manual de sacas de cimento na Construção Civil. O capítulo 3 apresenta os procedimentos utilizados neste trabalho. No capítulo 4, serão apresentados os resultados obtidos com este trabalho. Por fim, o Capítulo 5 apresenta uma análise dos resultados obtidos.

18 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A construção civil é um importante setor industrial, por servir de equilíbrio social e de desenvolvimento para uma nação. A grande capacidade de geração de empregos, principalmente de baixa qualificação formal, leva este setor a ser de grande importância para econômica para um país. 2.1 A construção civil na economia Uma simples análise do Produto Interno Bruto demonstra a importância econômica do setor da construção civil. No ano 2000, a indústria alcançou 37,5% do total, sendo que somente o setor da construção civil contribuiu neste mesmo ano com 9,1% do PIB, que correspondeu a aproximadamente 24,26% do total das indústrias, como pode ser observado no Quadro 1. Quadro 1 - Participação da construção no PIB, comparativamente a outros setores Discriminação 1995 2000 2005 AGROPECUÁRIA 9,0 8,0 8,4 INDÚSTRIA 36,7 37,5 40,0 Extrativa Mineral 0,9 2,5 4,9 Transformação 23,9 22,4 24,2 Construção Civil 9,2 9,1 7,3 Serv. Ind. Útil. Pública 2,7 3,5 3,6 SERVIÇOS 54,3 54,5 51,6 Fonte: IBGE Departamento de Contas Nacionais, 2006, p. 10. Já em 2005, a indústria aumentou sua participação para 40,0%, sendo 7,3% a participação do setor da construção civil. Desta forma, sua participação no total das indústrias chega a 18,25%. Por estes dados, apresentados na Tabela 1, dá para observar que a indústria da construção civil teve um decréscimo no período,

19 reflexo da desaceleração de investimentos no país. No estado de Santa Catarina, o setor da construção civil é representado por 9.371 empresas, que correspondem a, aproximadamente, 3,01% do total dos estabelecimentos do Estado, de acordo com os dados do Quadro 2. Quadro 2 - Número de indústrias por gênero industrial / Santa Catarina Atividade Quantidade de Estabelecimentos Agricultura e Pecuária 8.231 Pesca 502 Indústrias Extrativas 758 Indústrias de Transformação 41.750 Produção / distribuição de eletricidade, gás e água 391 Construção Civil 9.371 Comércio Varejista - Comércio Atacadista 17.846 Serviços - Outros 25 TOTAL 310.980 Fonte: MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO RAIS, 2003, p. 66. Porém, tais dados não refletem a realidade do estado já que existe um grande número de micros e pequenas empresas, que não estão incluídas na pesquisa, por serem empresas informais.

20 Quadro 3 - Número de trabalhadores nas indústrias por gênero industrial em Santa Catarina Atividade Quantidade de Trabalhadores Agricultura e Pecuária 40.760 Pesca 3.120 Indústrias Extrativas 5.432 Indústrias de Transformação 426.834 Produção / distribuição de eletricidade, gás e água 9.997 Construção Civil 40.874 Comércio Varejista 195.325 Comércio Atacadista 36.535 Serviços 532.578 Outros 972 TOTAL 1.292.407 Fonte: MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO RAIS 2003, p. 66. O número de funcionários na construção civil que está representado no Quadro 3, também não reflete a realidade, uma vez que existe neste setor um elevado grau de informalidade. O que mais leva a informalidade das empresas e do vínculo entre estas e seus funcionários, de acordo com o Quadro 4, são os índices de escolaridade baixos característicos deste setor. Com a falta de informação dos colaboradores, as empresas deixam de registrá-los, fugindo assim da carga tributária, mas deixando-os a mercê de direitos que lhe são devidos.

21 Quadro 4 - Número de trabalhadores em Santa Catarina, no setor da construção Civil por Grau de Instrução Escolaridade Número de Funcionários Analfabeto 388 4ª Série incompleta 2.584 4ª Série completa 7.006 8ª Série incompleta 9.273 8ª Série completa 10.287 2º Grau incompleto 3.457 2º Grau completo 5.896 Superior incompleto 732 Superior completo 1.251 TOTAL 40.874 Fonte: MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO RAIS 2003, p. 72. O setor da construção é considerado por muitos autores como o grande termômetro da economia, devido ao fato de ser um dos setores mais sensíveis às mudanças. Segundo Picchi (1993), sua participação decresce nos períodos recessivos, enquanto que seu crescimento é maior que a média do país, em épocas de expansão. 2.2 O cimento e a construção civil A indústria Cimenteira apresenta um importante papel no desenvolvimento mundial. É possível afirmar até que estamos vivendo a Era do Cimento e, quem sabe, no futuro, a história, descreverá esse tempo como a Idade do Cimento. Em todas as grandes obras no mundo, desde a construção do Túnel de 360 metros, em 1825 em Londres, sob o Rio Tamisa, que o cimento portland ganhou fama e conquistou o mundo. Pela sua resistência, durabilidade, trabalhabilidade e infinitas possibilidades arquitetônicas, o cimento estará presente em obras grandiosas pelo mundo afora, fazendo do concreto o segundo produto mais consumido no mundo, perdendo, apenas, para a água.

22 2.2.1 Breve histórico do cimento (ABCP) Segundo Arnaldo Forti Battagin (ABCP, 2007), a palavra cimento é originada do latim caementu, que designava na velha Roma espécie de pedra natural de rochedos e não esquadrejada. A origem do cimento remonta há cerca de 4.500 anos. Os imponentes monumentos do Egito antigo já utilizavam uma liga constituída por uma mistura de gesso calcinado. As grandes obras gregas e romanas, como o Panteão e o Coliseu, foram construídas com o uso de solos de origem vulcânica da ilha grega de Santorino ou das proximidades da cidade italiana de Pozzuoli, que possuíam propriedades de endurecimento sob a ação da água. O grande passo no desenvolvimento do cimento foi dado em 1756 pelo inglês John Smeaton, que conseguiu obter um produto de alta resistência por meio de calcinação de calcários moles e argilosos. Em 1818, o francês Vicat obteve resultados semelhantes aos de Smeaton, pela mistura de componentes argilosos e calcários. Ele é considerado o inventor do cimento artificial. Em 1824, o construtor inglês Joseph Aspdin queimou conjuntamente pedras calcárias e argila, transformando-as num pó fino. Percebeu que obtinha uma mistura que, após secar, tornava-se tão dura quanto as pedras empregadas nas construções. A mistura não se dissolvia em água e foi patenteada pelo construtor no mesmo ano, com o nome de cimento Portland, que recebeu esse nome por apresentar cor e propriedades de durabilidade e solidez semelhantes às rochas da ilha britânica de Portland. No Brasil, a primeira tentativa de aplicar os conhecimentos relativos à fabricação do cimento Portland ocorreu aparentemente em 1888, quando o comendador Antônio Proost Rodovalho empenhou-se em instalar uma fábrica em sua fazenda em Santo Antônio, Estado de São Paulo. Posteriormente, várias iniciativas esporádicas de fabricação de cimento foram desenvolvidas Assim, chegou a funcionar durante três meses em 1892 uma pequena instalação produtora na ilha de Tiriri, na Paraíba. A usina de Rodovalho operou de 1897 a 1904, voltando em 1907 e extinguindo-se definitivamente em 1918. Em Cachoeiro do Itapemirim, o governo do Espírito Santo fundou, em 1912, uma fábrica que funcionou até 1924, sendo então paralisada, voltando a funcionar em 1936, após modernização. Todas essas etapas não passaram de meras tentativas que culminaram, em 1924, com a implantação pela Companhia Brasileira de Cimento Portland de uma fábrica em Perus, Estado de São Paulo, cuja construção pode ser considerada

23 como o marco da implantação da indústria brasileira de cimento. As primeiras toneladas foram produzidas e colocadas no mercado em 1926. Até então, o consumo de cimento no país dependia exclusivamente do produto importado. A produção nacional foi gradativamente elevada com a implantação de novas fábricas e a participação de produtos importados oscilou durante as décadas seguintes, até praticamente desaparecer nos dias de hoje. 2.2.2 O uso do cimento (ABCP) O cimento portland é uma das substâncias mais consumidas pelo homem e isso se deve as características que lhe são peculiares, como trabalhabilidade e moldabilidade (estado fresco), e alta durabilidade e resistência a cargas e ao fogo (estado duro). Insubstituível em obras civis, o cimento pode ser empregado tanto em peças de mobiliário urbano como em grandes barragens, em estradas ou edificações, em pontes, tubos de concreto ou telhados. Pode até ser matéria-prima para esculturas de arte. 2.2.3 Embalagens A grande maioria do cimento produzido no país é comercializado em embalagens/sacarias de papel, de 50kg, 25kg e até 42,5 kg (mais raro). O Quadro 5 demonstra que apenas 21% do cimento comercializado é distribuído à granel. Essa pouca participação do granel é influenciada, diretamente, pelo perfil da distribuição do cimento, que deixa claro o direcionamento da produção de cimento para o mercado de revenda e consumo formiga, que, pela praticidade, prefere consumir o cimento ensacado, em sua maioria, em sacos 50Kg.

24 Quadro 5 - Distribuição do consumo de cimento por regiões do Brasil e formas de apresentação Despacho de Cimento em 2005 (em mil ton) Por Forma de Apresentação Regiões Ensacado Granel Total Norte 1.166 181 1.347 Nordeste 6.840 631 7.471 Centro-Oeste 3.565 815 4.380 Sudeste 13.397 4.184 17.581 Sul 3.623 1.942 5.565 Brasil 28.591 7.753 36.344 % Brasil 79% 21% 100% Fonte: SNIC SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO, ANO 2006, p. 04. 2.3 O manuseio de cargas pesadas Manusear cargas pesadas, deixando de considerar as limitações do corpo humano pode trazer inúmeros malefícios à saúde. Segundo Moura (1978), o trabalho freqüente com cargas excessivas, principalmente quando é iniciado com pouca idade, a tensão e esforço constante em músculos, ligamentos, articulações, e ossos podem causar deformações, tais como, escolioses e cifosis vertebrais, deformação do arco do pé e um estado inflamatório e doloroso dos músculos e bolsas articulares, tais como miositis e bursites. A realização de trabalhos físicos pesados, com freqüência causa nos trabalhadores diversos problemas nas articulações das vértebras. O levantamento e manuseio de cargas pesadas é um sério problema em todos os países do mundo, provocando lesões relativamente sérias, e com uma grande perda econômica para os países. Diversos estudos em vários países têm mostrado a relação entre as atividades de manuseio e movimentação manual de cargas e a incidência de grande número de acidentes e lesões osteomusculares, sobretudo na região lombar. O ato de manusear cargas pesadas sem respeitar as limitações do ser humano, pode acarretar sérios riscos à saúde do trabalhador. A Organização

25 Internacional do Trabalho (OIT) realizou um estudo que demonstra o papel da postura corporal no incremento da pressão intradiscal lombar. Mediu-se a pressão intradiscal de L4 L5 (região lombar mais freqüentemente comprometida), em situação de levantamento de carga pesando 25 kg, com o indivíduo adotando duas posturas diferentes. O resultado da pressão para cada postura conforme relatado por BARREIRA (1989) foi a seguinte: Quando o indivíduo levanta a carga com o tronco ligeiramente inclinado, a carga sobre o disco L4-L5 era de 300 kg. Quando o indivíduo levanta a carga com o tronco completamente inclinado, a carga sobre o disco L4-L5 era de 500 kg. Segundo dados fornecidos pela Construtora Corbetta representados no Anexo 1, em 2007 dos 97 serventes sobre o total de 290 funcionários de obras, 12 serventes apresentaram lesões osteomusculares. Isto deve-se ao fato da ocorrência de um esforço físico indevido ou esforço físico em flexão (posição errada para o esforço físico), nas atividades que exigem mais esforço, comprometendo desta forma a região lombar. Assim, o manuseio e movimentação de cargas tem como principal risco os problemas da coluna, que são dolorosos e reduzem a mobilidade e a vitalidade dos trabalhadores. A incidência destes problemas é responsável pelas altas taxas de absenteísmo, pela incapacidade precoce e desgaste excessivo dos trabalhadores. (GRANDJEAN, 1982). É importante deixar claro que, problemas na coluna não são exclusivos das pessoas que manuseiam cargas pesadas. No Brasil, onde as estatísticas de acidentes são alarmantes, no ano de 2005, 491.711 trabalhadores sofreram acidentes de trabalho, segundo o Ministério da Previdência Social causando um enorme custo social e econômico ao país. No mesmo ano, 22.964 acidentes (4,67% do total) atingiram a região lombar, perdendo apenas para os dedos, mãos, e pé, segundo o Instituto Nacional da Seguridade Social. (INSS, 2006). Assim, fica claro que as leis são necessárias, e neste caso, devem ser consideradas muitas variáveis para definir as cargas limites, a serem manuseadas e movimentadas manualmente. As variáveis a serem consideradas são: sexo dos trabalhadores, características da carga, freqüência da atividade e posturas além do

26 treinamento adequado. No caso do Brasil, na atual legislação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), a Lei 6.514 de 22 de Dezembro de1977 Art. 198, define um valor limite de carga máxima para o homem (60 kg) e 20 (kg) em trabalho ocasional, para o caso das mulheres, não existindo detalhes precisos das variáveis que influenciam este tipo de atividade, e se realmente estas cargas são adequadas para atividades deste tipo. 2.4 Normas e legislações brasileiras e internacionais A presente pesquisa aborda em sua metodologia, uma analogia das Normas e Legislações Brasileiras e Internacionais vigentes com os resultados que serão obtidos através dos cálculos da equação de NIOSH, demonstrada em capítulo posterior. 2.4.1 Norma regulamentadora N 17 (NR 17) A Norma Regulamentadora 17 Ergonomia (Anexo 6), apresenta no ítem 17.2 uma abordagem superficial e subjetiva sobre o levantamento, transporte e descarga individual de materiais. O sub-ítem 17.2.1.1, define transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a deposição da carga, que para efeito desta pesquisa supõem-se que a carga de uma saca de cimento de 50 kg será levantada, transportada de um ponto de origem, sendo este o caminhão, a um ponto destino, depósito de cimento, onde é depositada, individualmente. O sub-ítem 17.2.1.2, caracteriza o transporte manual regular de cargas como toda atividade contínua ou descontínua que inclua o transporte manual de cargas, ou seja, para esta pesquisa o ato de descarregar um caminhão contendo 100 sacas ou mais de forma esporádica em uma determinada obra, inclui-se neste sub-ítem. O sub-ítem 17.2.2, que diz respeito à carga que um trabalhador deveria transportar manualmente é apenas subjetiva e não apresenta valores específicos como segue-se não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um trabalhador, cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou

27 sua segurança. O sub-ítem 17.2.4, sugere a adoção de meios técnicos apropriados para limitar ou facilitar o transporte manual de cargas, portanto seria adequado e de grande valia calcular cientificamente valores de cargas máximas a serem transportadas manualmente e individualmente. Desta forma, observa-se que a norma vigente NR-17 Ergonomia é ineficaz e pouco específica neste campo, não protegendo integralmente a saúde do trabalhador da indústria da construção civil. 2.4.2 Lei 6.514 de 22 de Dezembro de 1977 Seção XIV da CLT Embora a evolução tecnológica tenha trazido consigo uma infinidade de possibilidades de equipamentos e dispositivos mecânicos para facilitar a vida do ser humano, o transporte manual de cargas ainda é uma atividade freqüentemente realizada durante as atividades da vida diária, inclusive durante o trabalho, que compreende atividades que ainda dependem meramente do esforço físico do homem. Dentre as atividades laborais, a carga e a descarga de caminhões são situações clássicas e que não poupam o trabalhador do esforço físico intenso. Segundo Chaffin et al. (2001), a automação é de difícil implantação em trabalhos não estruturados, especialmente na indústria de serviços, como é o caso da construção civil. Para cada metro quadrado de construção, é transportada em média 1,8 tonelada de materiais e, posteriormente, deve ser transportada em média mais 0,6 tonelada de entulhos para o mesmo metro quadrado de referência, totalizando cerca de 2,4 toneladas de materiais para cada metro quadrado de construção. (PICCHI,1993). Apesar dos diversos meios de transporte mecanizados (gruas, guinchos, elevadores etc.) existentes em algumas obras, um grande número de insumos ainda necessitam de algum tipo de transporte manual para chegar ao seu local de aplicação, o que ainda é mais acentuado em obras verticais sem os devidos equipamentos de transporte mecanizados. A maior parte dos materiais de construção, embalados ou não, apresentam pesos acima do que seria recomendado para o transporte manual. Segundo a CLT, art. 198: é de 60 (sessenta) quilogramas o peso máximo que um empregado pode remover individualmente, ressalvadas as

28 disposições especiais relativas ao trabalho do menor e da mulher. Diversos autores afirmam que o transporte manual de cargas traz conseqüências para a saúde dos trabalhadores. Segundo Chaffin et al. (2001), pesquisas indicam que ocorre um aumento significativo de lesões musculoesqueléticas e aparecimento de fadiga com a variação dos seguintes fatores: carga, volume, posição, freqüência e duração da atividade. Iida (2002) relata que o manuseio manual de cargas pesadas tem sido uma das causas freqüentes de traumas dos trabalhadores. Grandjean (1998) assinala que 20% dos afastamentos do trabalho e 50% das solicitações de aposentadorias precoces têm como origem lesões nos discos intervertebrais. Entretanto, a adoção de métodos científicos existentes para determinar os limites de cargas a serem manuseados, como o Método NIOSH, pode ser uma resposta favorável à melhoria das condições de trabalho. 2.5 O método NIOSH Em 1980, nos Estados Unidos, sob iniciativa do National Institute for Ocupational Safety and Health - NIOSH, patrocinou-se o desenvolvimento de um método para determinar a carga máxima a ser manuseada e movimentada manualmente numa atividade de trabalho - NIOSH Tecnical Report - Work Practices Guide for Manual Lifting (1981). O método NIOSH foi revisto em 1992, a equação foi revista e novos fatores foram introduzidos: a manipulação assimétrica de cargas, a duração da tarefa, a freqüência dos levantamentos e a qualidade da pega. Além disso, discutiram-se as limitações da equação e o uso de um índice para a identificação dos riscos (Tradução da Norma Espanhola NTP 477 Centro Nacional de Condiciones de Trabajo (Espanha), S/D), sendo proposto o Limite de Peso Recomendado (L.P.R) e o Índice de Levantamento (I.L). (WATTERS, 1993). Tanto a equação de 1981, quanto a versão modificada de 1991 foram elaboradas levando-se em conta três critérios: o biomecânico, que limita o estresse na região lombo-sacra, que é o mais importante em levantamentos pouco freqüentes que, porém, requerem um sobreesforço; o critério fisiológico, que limita o estresse metabólico e a fadiga associada a tarefa de caráter repetitivo; e o critério psicofísico, que limita a carga baseando-se na percepção que o trabalhador tem de sua própria

29 capacidade, aplicável a todo o tipo de tarefa, exceto àquelas em que a freqüência de levantamento é elevada (mais de seis levantamentos por minuto). A revisão da equação, realizada pelo comitê do NIOSH, (WATERS, 1993) completa e descrição do método e as limitações de sua aplicação. De acordo com esta última revisão, a equação NIOSH para o levantamento de cargas determina o limite de peso recomendado (LPR), a partir do quociente de sete fatores, que serão explicadas mais adiante, sendo o índice de risco associado ao levantamento, o quociente entre o peso da carga levantada e o limite de peso recomendado para estas condições concretas de levantamento. Os critérios para estabelecer os limites de carga são de caráter biomecânico, fisiológico e psicofísico. Critério biomecânico: ao manejar uma carga pesada ou ao fazê-lo incorretamente, aparecem momentos mecânicos na zona da coluna vertebral concretamente na união dos segmentos vertebrais L5/S1 que causam um considerável estresse na região lombar. Das forças de compressão, torção e cisalhamento que aparecem, considera-se a compressão do disco L5/S1 como a principal causa de risco de lombalgia. Através de modelos biomecânicos, e usando dados recolhidos em estudos sobre a resistência de tais vértebras, chegou-se a considerar uma força de 3,4 kn como força-limite de compressão para o aparecimento do risco de lombalgia. Critério fisiológico: ainda que se disponha de poucos dados empíricos que demonstram que a fadiga aumenta o risco de danos músculoesqueléticos, é reconhecido que as tarefas com levantamentos repetitivos podem facilmente exceder as capacidades normais de energia do trabalhador, provocando a diminuição prematura de sua resistência e um aumento da probabilidade de lesão. O comitê NIOSH em 1991 compilou alguns limites de capacidade aeróbica máxima para o cálculo do gasto energético, que são as seguintes: Em levantamentos repetitivos, 9,5Kcal/min será a capacidade máxima de levantamento. Em levantamentos que requeiram levantar os braços acima de 75cm não se superarão os 70% da capacidade aeróbica máxima. Não se superarão os 50%, 40% e 30% da capacidade aeróbica máxima ao calcular o gasto energético das tarefas de duração de 1 hora, de 1 a 2 horas, de 2 a 8 horas, respectivamente.

30 Critério psicofísico: o critério psicofísico se baseia em dados sobre a resistência e a capacidade dos trabalhadores que manipulam cargas com diferentes freqüências e durações. Baseia-se no limite de peso aceitável para uma pessoa trabalhando em condições determinadas, e integra os critérios biomecânico e o fisiológico, porém tende a sobreestimar a capacidade dos trabalhadores para tarefas repetitivas de duração prolongadas. Antes de começar a definir os fatores da equação, deve-se definir o que se entende por localização-padrão de levantamento. Trata-se de uma referência no espaço tridimensional, para avaliar a postura de levantamento. A distância vertical da pega da carga ao solo é de 75cm e a distância horizontal da pega ao ponto médio entre os tornozelos é de 25cm. Qualquer desvio em relação a esta referência implica um afastamento das condições ideais de levantamento (ver Figura 1). A constante de carga (LC, load constant) é o peso máximo recomendado para um levantamento desde que a localização-padrão e em condições ótimas, quer dizer, em posição sagital (sem torções do dorso e posturas assimétricas), fazendo um levantamento ocasional, com uma boa pega da carga a menos de 25cm. O valor da constante foi fixado em 23kg. O estabelecimento do valor desta constante levou em conta critérios biomecânicos e fisiológicos. O levantamento de uma carga igual ao valor da constante de carga em condições ideais seria realizado por 75% da população feminina e por 90% da população masculina, de maneira tal que a força de compressão no disco L5/S1, produzida pelo levantamento, não supere os 3,4kN. A equação emprega seis coeficientes que podem variar entre 0 e 1, segundo as condições em que se dá o levantamento. O caráter multiplicativo da equação faz com que o valor limite de peso recomendado vá diminuindo à medida que nos afastamos das condições ótimas do levantamento. O método NIOSH, foi desenvolvido para levantamento manual de peso, porém, Dul e Weerdmeester, (1995) recomendam também o método para o cálculo do limite de peso no Transporte Manual de Cargas.

31 2.5.1 Fórmula para o Cálculo do Limite de Carga Recomendado recomendada. A equação de NIOSH pode ser utilizada para determinar a carga máxima V: posição vertical, H: posição horizontal, D: deslocamento vertical, F: freqüência de levantamento. Figura 01 - Coeficientes a serem Considerados na equação de NIOSH Fonte: DUL; WEERDMEESTER, 1995, p. 31. A equação considera seis variáveis que são: Fator Qualidade de Pega da Carga - FQPC (Coupling Multiplier - CM) é obtido segundo a facilidade da pega e a altura vertical de manipulação da carga (ver Quadro 06). Estudos psicofísicos demonstraram que a capacidade de levantamento seria diminuída por uma má pega da carga e que isso implicava uma redução do peso entre 7% a 11% É o mais empírico dos coeficientes da equação. Quadro 06 - Valores do fator qualidade da pega da carga Tipo de Manuseamento FAV < 75 cm FAV 75 cm Fácil 1,00 1,00 Normal 0,95 1,00 Com dificuldade 0,90 0,90 Fonte: COUTO, 1995, p. 148.

32 Fator Distância Horizontal do Indivíduo à Carga FDH (Horizontal Multiplier - HM) estudos biomecânicos e psicofísicos indicam que a força de compressão no disco aumenta proporcionalmente à distância entre a carga e a coluna. O estresse por compressão (axial) que aparece na zona lombar está, portanto, diretamente relacionado a esta distância horizontal (H em cm) que se define como a distância horizontal entre a projeção sobre o solo do ponto médio entre as pegas da carga e a projeção do ponto médio entre os tornozelos. Caso H não possa ser medido, pode-se obter um valor aproximado mediante a equação: H = 20 + w/2 se V > 25cm H = 25 + w/2 se V < 25cm onde W é a extensão da carga do plano sagital e V é a altura das mãos em relação ao solo. O fator de distância horizontal (FDH) determina-se como se segue: FDH = 25/H Caso H possa ser medido, pode-se obter um valor aproximado do fator mediante aplicação do valor medido no gráfico representado na Figura 02. São mais penalizados os levantamentos nos quais o centro de gravidade da carga está separado do corpo. Se a carga é levantada junto ao corpo ou a menos de 25cm do mesmo, o fator toma o valor 1. Considera-se que H > 63cm dará lugar a um levantamento com perda de equilíbrio, pelo que se fixará FHD = 0 (o limite de peso recomendado será igual a zero) Figura 02 - Coeficiente de distância horizontal do indivíduo à carga Fonte: COUTO, 1995, p. 147. Fator Altura Vertical da Carga FAV (Vertical Multiplier - VM) são

33 penalizados os levantamentos nos quais as cargas devem ser apanhadas em posição muito baixa ou demasiadamente elevada. O comitê do NIOSH estabeleceu em 22,5% a diminuição do peso em relação à constante de carga para o levantamento até o nível dos ombros e para o levantamento a partir do nível do solo. Este fator valerá 1 quando a carga estiver situada a 75cm do solo e diminuirá à medida que nos distanciemos deste valor. Determina-se: FAV = 1 0,003(V 75) onde V é a distância vertical entre o ponto de pega e o solo. Se V > 175cm, tomaremos FAV = 0. Pode-se ainda determinar este fator aplicando-se o valor medido da distância vertical da carga no gráfico demonstrado na Figura 03, de acordo com Dul e Weermeester, 1995. Figura 03 - Coeficiente de distância vertical do indivíduo à carga Fonte: DUL; WEERDMEESTER,1995, p. 31. Fator Rotação Lateral do Tronco - FLRT (Asymetric Multiplier - AM) considera-se assimétrico um movimento que começa ou termina fora do plano médio-sagital, como mostra a Figura 4. Este movimento deverá ser evitado sempre que possível. O ângulo de giro (A) deverá ser medido na origem do movimento e se a tarefa requerer um controle significativo da carga, isto é, se o trabalhador tiver de colocar a carga de uma forma determinada em seu ponto de destino, também deverá ser medido o ângulo de giro ao final do movimento.

34 A: Ângulo de simetria Figura 04 - Fator rotação lateral do tronco (assimetria) da equação de NIOSH Fonte: DUL; WEERDMEESTER, 1995, p.31. Foi estabelecido que: FRLT = 1 0,0032A O comitê estabeleceu em 30% a diminuição para levantamentos que impliquem torções no tronco de 90º. Se o ângulo de torção for superior a 135º tomaremos FRLT = 0. Pode-se obter um valor aproximado de FRLT mediante a aplicação do gráfico da Figura 5, entrando com o valor do ângulo de torção e determinando deste forma o fator de assimetria. Figura 05 - Coeficiente de assimetria Fonte: DUL; WEERDMEESTER,1995, p. 31. trabalho: Podemos encontrar levantamentos assimétricos em várias situações de quando existe um ângulo entre a origem e o destino do levantamento;

35 quando se utiliza o corpo como trajeto do levantamento, como ocorre ao se levantarem sacos ou caixas; em espaços reduzidos ou solos instáveis; quando, por motivos de produtividade, se força a redução do tempo de levantamento. Fator Distância Vertical Percorrida Desde à Origem até o Destino da Carga FDVP (Distance Multiplier - DM) refere-se à diferença entre a altura inicial e final da carga. O comitê estabeleceu em 15% a diminuição da carga quando o deslocamento se der desde o solo até além da altura dos ombros. Determina-se: FDVP = 0,82 + 4,5/D D = V1 V2 onde V1 é a altura da carga em relação ao solo na origem do movimento e V2 a altura final do mesmo. Pode-se obter um valor aproximado de FDVP mediante a aplicação do gráfico da Figura 6, entrando com o valor do deslocamento vertical da carga (D) e determinando-se o valor do fator em estudo. Figura 06 - Fator distância vertical percorrida Fonte: DUL; WEERDMEESTER, 1995, p. 31. Quando D < 25cm, manteremos FDVP = 1, valor que irá diminuindo à medida que aumenta a distância de deslocamento cujo valor máximo aceitável se considera de 175cm. Fator Freqüência do Levantamento FFL (Frequency Multiplier - FM) este fator é definido pelo número de levantamentos por minuto, pela duração

36 da tarefa de levantamento e pela altura dos mesmos. A tabela de freqüência foi elaborada baseando-se em dois grupos de dados. Os levantamentos com freqüência superiores a quatro levantamentos por minuto foram estudados segundo um critério psicofísico; os casos de freqüências inferiores foram determinados por meio das equações de gasto energético (ver Quadro 7). O número médio de levantamentos por minuto deve ser calculado em um período de 15 minutos e naqueles trabalhos em que a freqüência de levantamento varis de uma tarefa a outra, ou de uma sessão a outra, deve ser estudado cada caso independentemente. Quadro 07 - Coeficiente de freqüência de levantamento FREQÜÊNCIA DE LEVANTAMENTO - FFL FREQÜÊNCIA DURAÇÃO DA MANUTENÇÃO CONTINUA >2 <= 8 horas >1 <= 2 horas <= 1 hora Levantamento(s) V < 75 V >= 75 V < 75 V >= 75 V < 75 V >= 75 por minuto (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) 0,2 0,85 0,85 0,95 0,95 1,00 1,00 0,5 0,81 0,81 0,92 0,92 0,97 0,97 1 0,75 0,75 0,88 0,88 0,94 0,94 2 0,65 0,65 0,84 0,84 0,91 0,91 3 0,55 0,55 0,79 0,79 0,88 0,88 4 0,45 0,45 0,72 0,72 0,84 0,84 5 0,35 0,35 0,60 0,60 0,80 0,80 6 0,27 0,27 0,50 0,50 0,75 0,75 7 0,22 0,22 0,42 0,42 0,70 0,70 8 0,18 0,18 0,35 0,35 0,60 0,60 9 0,00 0,15 0,30 0,30 0,52 0,52 10 0,00 0,13 0,26 0,26 0,45 0,45 11 0,00 0,00 0,00 0,23 0,41 0,41 12 0,00 0,00 0,00 0,21 0,37 0,37 13 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,34 14 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,31 15 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,28 > 15 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Fonte: WATERS, 1993, p. 72. Quanto à duração da tarefa, considera-se de curta duração quando se

37 tratar de uma hora ou menos de trabalho (seguida de um tempo de recuperação de 1,2 vezes o tempo de trabalho), de duração moderada quando é de uma ou duas horas (seguida de um tempo de recuperação de 0,3 vezes o tempo de trabalho), e de grande duração quando é de mais de duas horas. A seguir, é apresentada a equação NIOSH para o levantamento de cargas, determinando-se assim o limite de peso recomendado (LPR), a partir do quociente de sete fatores, sendo que a mesma supõe que o trabalhador pode escolher a própria postura e a carga é segura com as duas mãos. LPR = LC x FDH x FAV x FDVP x FFL x FRLT x FQPC LPR: limite de peso recomendado LC: constante de carga = 23kg FDH: fator distância horizontal do indivíduo à carga FAV: fator altura vertical da carga FDVP: fator distância vertical percorrida da carga FFL: fator freqüência de levantamento FRLT: fator rotação lateral do tronco FQPC: fator qualidade de pega da carga O valor de LPR = LC = 23 kg, corresponde ao peso limite ideal, ou seja, aquele que pode ser manuseado sem risco particular, quando a carga está idealmente colocada. Quanto mais desfavoráveis forem as condições, os valores destes coeficientes se afastarão de 1,0 tendendo a zero. A equação NIOSH é baseada no conceito de que o risco de lombalgia aumenta com a demanda de levantamentos da tarefa. O índice de levantamento (IL) que se propõe para a identificação do risco é o quociente entre o peso da carga levantada e o peso da carga recomendada (LPR), segundo a equação NIOSH, conforme a equação: IL = Peso do Objeto / LPR [kg/kg] Para: IL = 1, risco limitado; 1< IL < 3, risco moderado; IL > 3, risco elevado. A função risco não está definida, razão pela qual não é possível quantificar

38 de maneira precisa o grau de risco associado aos incrementos do índice de levantamento. No entanto, podem ser consideradas três zonas de risco segundo os valores do índice de levantamento (IL) obtidos para a tarefa: 1. Risco limitado (índice de levantamento < 1). A maioria dos trabalhadores que realizam este tipo de tarefa não deveria ter problemas. 2. Aumento moderado do risco (1 < índice de levantamento < 3). Alguns trabalhadores podem adoecer ou sofrer lesões se realizam estas tarefas. As tarefas deste tipo devem ser redesenhadas ou atribuídas apenas a trabalhadores selecionados que serão submetidos a controle. 3. Aumento elevado do risco (índice de levantamento > 3). Este tipo de tarefa é inaceitável do ponto de vista ergonômico e deve ser modificada. A equação NIOSH foi concebida para avaliar o risco associado ao levantamento de cargas em determinadas condições, por isso torna-se importante mencionar suas limitações para que não se faça mau uso da mesma: não leva em conta o risco potencial associado aos efeitos cumulativos dos levantamentos repetitivos; não considera eventos imprevistos como deslizamentos, quedas nem sobrecargas inesperadas; também não foi concebida para avaliar tarefas nas quais se levanta a carga com apenas uma mão, sentado ou agachado ou quando se trate de carregar pessoas, objetos frios, quentes ou sujos, nem nas tarefas nas quais o levantamento se faça de forma rápida e brusca; pressupõe um atrito razoável entre o calçado e o solo (> 0,4); se a temperatura ou a umidade estiverem fora da faixa (19º a 26º) e (35% a 50%) respectivamente, seria necessário acrescentar ao estudo avaliações do metabolismo para que fosse acrescentado o efeito de tais variáveis ao consumo energético e na freqüência cardíaca; torna-se impossível aplicar a equação quando a carga levantada seja instável, situação em que a localização do centro de massas varia significativamente durante o levantamento. Este é o caso dos recipientes que contém líquidos ou dos sacos semivazios.