MARCAS DA AVALIAÇÃO DA MATEMÁTICA MODERNA: O SIGNIFICADO DAS PROVAS FRANÇA, Iara da Silva. PUCPR isfranca@gmail.com



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Transcrição:

MARCAS DA AVALIAÇÃO DA MATEMÁTICA MODERNA: O SIGNIFICADO DAS PROVAS FRANÇA, Iara da Silva. PUCPR isfranca@gmail.com Resumo Historicamente o ensino da Matemática passou por diversas transformações e entre elas, podemos citar o Movimento da Matemática Moderna que foi um importante Movimento de reforma curricular ocorrida no Brasil e em diversos países do mundo e que, apesar de suas influências trazerem resquícios que permanecem até hoje nas práticas pedagógicas dos professores de Matemática, a escassez de publicações sobre este Movimento produzidas durante o período de seu desenvolvimento, como também em sua fase de esgotamento e até hoje, formam importante lacuna, que se preenchida possibilitaria aos educadores e à sociedade em geral, conhecer e entender como se deu a trajetória da Matemática Moderna nas práticas pedagógicas dos professores em sala de aula, destacando-se entre estas práticas, a avaliação Consideramos que investigar as práticas avaliativas, desenvolvidas durante o Movimento da Matemática Moderna no Estado do Paraná, possibilitará o conhecimento de aspectos históricos relevantes, não só, para a reconstituição do movimento no cotidiano escolar, como para a compreensão de sua influência nas práticas pedagógicas atuais. O presente trabalho faz parte de uma pesquisa que investiga as práticas avaliativas de Matemática desenvolvidas no Estado do Paraná, no período de disseminação do Movimento da Matemática Moderna e tem como objetivo refletir sobre a trajetória da avaliação da aprendizagem no referido Estado, fazendo uma análise das provas de Matemática do período de 1960 a 1980, encontradas nas escolas pesquisadas, sendo que para essa finalidade foi necessário: Localizar e inventariar fontes históricas relativas à legislação paranaense acerca da avaliação da aprendizagem. Analisar as provas encontradas nas escolas pesquisadas. Palavras-chave: provas, práticas avaliativas, Matemática Moderna.

896 Introdução Historicamente, o ensino da Matemática passou por diversas transformações e, ao longo do tempo, apresentou muitas alterações não só no que se refere à legislação de cada período, como também em relação às concepções das pessoas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem. Para compreender tais transformações, consideramos importante recorrer à história da Educação Matemática inserindo-a no contexto de cada época. Entre as mudanças ocorridas com a matemática escolar, encontramos o Movimento da Matemática Moderna que foi um importante movimento de reforma curricular ocorrido na segunda metade do século passado, no Brasil e em diversos países do mundo. Tal movimento aconteceu a partir da necessidade que os Estados Unidos, país disseminador do Movimento, sentiu em ampliar e modificar o Currículo da Matemática, em função de melhorar o nível científico dos alunos para uma corrida tecnológica e que parece ter produzido influências ainda nos dias atuais. O Movimento da Matemática Moderna ocorreu simultaneamente em diversos países do mundo e a escassez de publicações sobre este Movimento produzidas durante o período de seu desenvolvimento, como também em sua fase de esgotamento e até hoje, indica importante lacuna, que se preenchida possibilitaria aos educadores e à sociedade em geral, conhecer e entender como se deu a trajetória da Matemática Moderna nas práticas pedagógicas dos professores em sala de aula, destacando-se entre estas práticas, a avaliação. A necessidade de se reconstruir a trajetória histórica das práticas de avaliação dos professores de Matemática torna-se, assim, um desafio à medida que são grandes os obstáculos a serem transpostos, devido à quase total ausência de fontes de pesquisas e trabalhos publicados sobre o assunto em nosso país. Entretanto, o conhecimento dessas práticas ao longo da história da Educação Matemática no Brasil, particularmente no Paraná, nos possibilitará compreender as conseqüências das possíveis mudanças ocorridas, os pontos positivos e/ou negativos destas mudanças ou mesmo a conservação das práticas avaliativas e sua implicação no processo de aprendizagem. As práticas de avaliação da aprendizagem começaram a serem mais intensamente discutidas no cenário educacional brasileiro a partir das últimas duas décadas do final do século XX. Ainda é escassa a produção científica sobre os processos avaliativos do cotidiano escolar, principalmente, em relação às marcas deixadas pelas práticas avaliativas do ensino da Matemática Moderna. A análise das provas de Exames de Admissão do período de 1931 a 1943 mostrou que as práticas avaliativas daquele período histórico cumpriam finalidades da política educacional vigente (Pinto,

897 2003). Segundo a análise da autora, (p.02), O debate, em torno do ensino secundário, desencadeado na década de 20, no Brasil, sinalizou para uma avaliação escolar rigorosa e predominantemente classificatória. As poucas evidências que se têm da forma como era praticada a avaliação no período mais vigoroso da Matemática Moderna, apontam para o uso da prova como único instrumento de aferição da aprendizagem do aluno, em geral orientada para a verificação do produto final, visando medir aquilo que supunha-se que o aluno tivesse aprendido e que era expresso através de um conceito ou nota. Em documentos oficiais como o Currículo do Estado do Paraná (1973, p. 144-145) a avaliação aparece tratada apenas em dois parágrafos. Nos Congressos Brasileiros de Ensino de Matemática, realizados a partir da década de50, ela é muito pouco abordada, apresentando um destaque mínimo em relação à outros temas relacionados com as práticas pedagógicas. Fazendo uso de fontes históricas do período da Matemática Moderna produzidas no cotidiano escolar, tais como as provas, foram enfocados, em particular, os últimos anos da obrigatoriedade da seriação do antigo Ginásio (hoje 5ª. A 8ª. séries do Ensino Fundamental), assim como os debates relativos à avaliação do ensino de Matemática para os alunos recém saídos do ensino primário de então, ou seja, da 1ª à 4ª séries atualmente. A pesquisa, ao analisar o problema da avaliação da aprendizagem escolar, sob a dimensão da história cultural, utiliza o conceito de cultura proposto por Julia (2001, p.10) quando define cultura escolar como: Um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar,e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação esses comportamentos. Dessa forma, apresentamos no presente estudo os resultados parciais de um trabalho de investigação das práticas avaliativas desenvolvidas durante o Movimento da Matemática Moderna, o qual consideramos, possibilitará o conhecimento de aspectos históricos relevantes, não só, para a reconstituição do movimento no cotidiano escolar, como para a compreensão de sua influência nas práticas pedagógicas atuais. Nas provas, as marcas da Avaliação da Matemática Moderna Para se encontrar os vestígios deixados pela Matemática Moderna na avaliação foi necessário buscar documentos que tivessem registrado como a avaliação era praticada no cotidiano escolar. Entre estes documentos, destacamos as provas e os cadernos dos alunos daquele período.

898 Os estudos de Pinto (2003) têm mostrado que a avaliação escolar é um processo historicamente produzido pela cultura escolar, processo este que pode ser compreendido a partir da análise de documentos escolares, especialmente, da análise de provas de alunos. Para esta autora Se o exame tem sido apontado como um mecanismo de exclusão e controle da escolarização da população, silenciando as pessoas e suas culturas, omitindo processos de construção de conhecimento e, conseqüentemente desvalorizando saberes, a análise dos documentos históricos pode revelar a lógica presente nas finalidades da avaliação vigente em determinado período histórico (PINTO, 2003). A cada novo olhar, os documentos foram se constituindo fontes de inesgotáveis informações que vão aos poucos nos conduzindo ao conhecimento de como a Matemática Moderna foi sendo apropriada pelos professores em suas práticas avaliativas. Por este motivo e pelo fato de termos ainda muitos documentos é que estamos ainda aprofundando a parte que se refere às práticas do cotidiano escolar, a partir da análise dos materiais selecionados. As provas escolares Todos os instrumentos utilizados pelos professores no processo avaliativo devem ser diversificados e significativos, pois todos os instrumentos de avaliar dão ao professor, meios para que ele possa conhecer melhor seu aluno. Entretanto, de todos os instrumentos de avaliação a prova ainda hoje é considerada o principal e no período pesquisado, ficou evidenciado pelos depoimentos dos professores sujeitos deste estudo, que a prova era praticamente o único instrumento utilizado pelo professor para aferir a aprendizagem do aluno. Normalmente as escolas não preservam documentos como provas e exames escolares, principalmente porque normalmente estes documentos ficam em poder do professor ou são entregues para os alunos, que por questões óbvias não as preservam. Entretanto, nossa insistência ao buscar tais documentos foi devido à relevância destas fontes que se fazem, como salienta Pinto (2003): (...) documentos valiosos para estudo da apropriação realizada pelo cotidiano escolar das reformas educacionais, de como o pensamento pedagógico de um determinado momento histórico sedimentou-se nas práticas pedagógicas cotidianas, tais documentos analisados expressam, mais que as marcas dos velhos

899 tempos, os significados dados pelos sujeitos envolvidos - alunos e professores - às avaliações escolares, desvelando concepções de ensino e de aprendizagem de matemática que vão sendo influenciadas, ao longo da história, por novos ideais e transformações econômicas (PINTO, 2003). As provas para este estudo foram conseguidas a duras penas, nas escolas pesquisadas e com amigos que colaboraram com a nossa pesquisa. A princípio não tínhamos nenhuma perspectiva em conseguir estas provas. O tempo passava e as dificuldades pareciam aumentar. Ninguém guarda por tanto tempo provas de Matemática. Não esmorecemos e utilizamos os mais diferentes recursos para consegui-las. Isto só se fez possível porque tais provas foram encontradas em arquivos e faziam parte da documentação comprobatória de cada aluno, o que parecia ser parte das práticas das Secretarias das escolas em determinado período. No entanto, não encontramos documentos que comprovassem a obrigatoriedade desta prática, apesar de as provas arquivadas nas fichas individuais do aluno, estarem todas acompanhadas de solicitação de revisão, Exame Especial ou Segunda época e de um Parecer de um(a) Coordenador(a) ou Diretor(a) do estabelecimento referente à solicitação (Doc. 02). Foram analisadas: do ano de 1958 uma prova bimestral da 2ª série do ano de 1961 - uma prova bimestral e uma prova de Exame de Admissão; do ano de 1962 - uma prova bimestral e uma prova de Exame de Admissão; do ano de 1963 duas provas de exame final da 4ª série, uma prova de Exame de Admissão e uma prova de Exame de Segunda Época da 4ª série; do ano de 1964 duas provas finais de 2ª série e uma de 1ª série; do ano de 1965 - duas provas finais de 4ª série e duas de Segunda época, quatro provas finais de 2ª série e duas de 3ª série; do ano de 1966 uma prova de Exame Final de 2ª série, uma prova de exame final de 3ª série, duas provas de exame final de 3ª série de Álgebra, uma prova de exame final de 2ª série de Geometria, uma prova de exame final de 2ª série de Álgebra, uma prova de exame final de 3ª série de Geometria, uma prova de Segunda Época da 3ª série, uma prova de exame final de 4ª série de Álgebra; do ano de 1967 - uma prova de exame final e uma prova de Segunda Época da 3ª série; do ano de 1968 - uma prova de exame final e uma prova de Segunda Época de 2ª série, uma prova de Segunda Época de 4ª série; do ano de 1969 - uma prova de exame final da 4ª série; do ano de 1970 prova final de 3ª série; do ano de 1971 - uma prova da 4ª série e uma prova de Segunda Época ; do ano de 1972 três provas de Exame final da 5ª série do ano de 1974 duas provas de Segunda Época (Especial) da 7ª série e uma prova final de 7ª série; do ano de 1979 cinco provas mensais e bimestrais da 7ª série; do ano de 1980 4 provas bimestrais da 4ª série do 1º Grau.

900 O total de provas garimpadas foi de 59 (cinqüenta e nove) provas do Ginásio e 4 (quatro) provas de 4ª série do Ensino Fundamental. Além de 3 (três) atividades avaliadas da 8ª série. A análise das provas foi feita por ano, natureza e série, considerando-se as seguintes categorias: o conteúdo matemático das questões das provas (havia conteúdos da Matemática Moderna?), os critérios de avaliação, os tipos de problemas, as formas de correção e os tipos de erros, as formas de apresentação das questões. Esta análise nos permitiu verificar a concepção de avaliação que predominava no ensino da Matemática Moderna. Como o presente estudo pretende encontrar as marcas deixadas pela avaliação no período do Movimento da Matemática Moderna no Estado do Paraná, optamos por não separar as provas por escolas e apresentá-las cronologicamente neste estudo. As provas encontradas que apresentaram vestígios da Matemática Moderna foram selecionadas para uma análise mais aprofundada. Em nossas pesquisas encontramos provas de Exame de Admissão, provas bimestrais, provas de Exame Final e provas de Segunda Época ou Especiais como foram denominadas em determinado período. Cada uma destas provas possui características diferentes por sua natureza e também por modificações que foram ocorrendo com o passar dos anos. A prova encontrada do ano de 1958 era uma prova bimestral da 2ª série ginasial, feita com papel próprio para prova onde estava grafado com fonte pequena, embaixo das linhas e para que o aluno preenchesse: o nome do estabelecimento, cidade, estado, nome do aluno, prova parcial (se a primeira ou a segunda), curso, série, turma, ponto sorteado, disciplina, data, grau obtido e professor. Encontramos apenas um modelo de prova para o ano de 1960 e trata-se de uma prova de Exame de Admissão. A prova é de Aritmética e composta por cinco questões datilografadas e divididas em duas colunas. Na primeira coluna encontramos o enunciado da questão e na segunda coluna um espaço para os cálculos. A prova encontrada para o ano de 1961 também é de Exame de Admissão e possui características idênticas à prova de 1960. As questões destas provas são compostas por números, frações, operações com decimais e divisibilidade. No ano de 1961 encontramos um modelo de prova bimestral, também com características bem específicas: papel apropriado para prova, onde consta o ano, a palavra Aritmética, nota, nome do professor, nome do Grupo Escolar, nome do aluno e a data, o que parece mostrar que nesta hierarquia o nome do aluno é o menos importante. Esta prova também é dividida em duas colunas: uma para o enunciado das questões e um espaço para cálculos. A prova de Exame de Admissão do ano de 1962 possui questões idênticas às anteriores, entretanto, com um número maior de problemas.

901 Uma prova bimestral do ano de 1962 e intitulada Prova de Matemática Questões Práticas possui a característica singular de ser composta unicamente por problemas. A partir de 1963 a prova de Exame de Admissão passa a ser copiada pelo aluno em folha de papel almaço. O Exame de Admissão da 1963 possui três partes. A primeira parte possui quatro problemas, a segunda parte apenas operações e a terceira, exercícios com medidas de comprimento. As três provas bimestrais encontradas do ano de 1963 têm características comuns, como o cabeçalho e são copiadas em folhas de papel almaço. A primeira prova de Segunda Época encontrada por nós é do ano de 1963. Esta prova foi copiada a mão em papel de prova específico. Preliminarmente é possível afirmar que os documentos analisados trazem evidências do Ensino da Matemática Moderna, das formas de avaliação, dos tipos de questões e que tipos de avaliação permeavam as práticas dos professores de Matemática. Entretanto, há ainda muitos documentos a serem analisados na continuidade deste estudo. Na primeira prova bimestral analisada as questões eram avaliadas individualmente a partir da resposta apresentada. Somente foram consideradas certas as questões que foram inteiramente respondidas. Não havia problemas nesta prova de 1958. Nas provas de Exame de Admissão de 1960 e 1961 não havia vestígios de problemas. No que se refere à prova bimestral de 1961 as questões são de Aritmética, entre elas, operações com números naturais, frações e decimais, expressões numéricas, medidas e apresenta três problemas de algoritmo e reconhecimento. As questões da prova bimestral de 1962 são compostas de doze problemas diversificados que parecem unificar a Matemática em álgebra, geometria e aritmética. Os conteúdos propostos nas questões são medidas, frações, decimais, geometria plana e porcentagem, em uma mistura de álgebra, aritmética e geometria. Os problemas da prova de Exame de Admissão de 1963 são todos relacionados a situaçõesproblema. Em relação às questões da prova bimestral do ano de 1963, as provas possuem questões de álgebra e geometria na mesma proporção. É possível que este fato seja devido a todas serem da 4ª série, cujo programa inclui bastante geometria. As questões destas provas são totalmente algorítmicas, não havendo problemas nesta prova.

902 Os critérios de correção não são claros nas provas até o ano de 1963. Alguns professores corrigiam as provas dando um peso diferente para cada questão, embora muitas vezes as questões fossem idênticas e não tenhamos conseguido estabelecer um critério definido. Em alguns casos o erro é considerado. Alguns professores consideraram partes das questões. Entretanto, a maioria considera apenas as questões inteiramente corretas. Não há evidências de que o erro tenha sido considerado nas provas até o ano de 1963. Sendo a Segunda Época uma segunda oportunidade de exame para o aluno que não alcançou a media final, supomos que deveria ser composta pelos conteúdos do ano todo, tal qual se propõe para a prova de Exame Final. Apesar de termos identificado somente três conteúdos diferentes, é possível que o professor tenha elencado apenas os conteúdos mais significativos para compor a prova de Exame de Segunda Época do ano de 1963. Os critérios de correção também não são explicitados nesta prova. O professor apenas coloca um X(xis) nas questões erradas, e certo nas corretas. Parece portanto, que o erro não é considerado. Considerações Finais A pesquisa evidenciou a permanência de práticas avaliativas conservadoras, restritas à verificação dos erros ou acertos produzidos pelos alunos, Ao analisar as provas foi possível perceber algumas marcas deixadas pela Matemática Moderna, entre elas, os conteúdos trabalhados pelos professores, assim como, características marcantes de uma avaliação que parecia selecionar e classificar. Entretanto, o presente trabalho denota a necessidade de estudos mais aprofundados para que se possam fazer reflexões mais amplas, em uma pesquisa mais profunda e abrangente, especialmente no que se refere à outros aspectos da avaliação, como a relação entre as leis a as práticas avaliativas dos professores no período do Movimento da Matemática Moderna.

903 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KLINE, M. O fracasso da matemática moderna. São Paulo: Ibrasa, 1976. JULIA. D. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da Educação. Campinas, SP: SBHE Editora Autores Associados. Jan/Jun. Nº I, 2001. PARANÁ. Currículo. Curitiba; SEED, p.143, 1973. PINTO, N. B. O significado das provas de admissão ao Ginásio da Escola Estadual de São Paulo no contexto Político Educacional do Período de 1931 a 1943. PUCPR., 2003. PINTO, N. B. O Avaliação da Aprendizagem como Prática Investigativa.In: XII ENDIPE. PUCPR. Vol. 3, 2003.

904 APÊNDICE DOCUMENTOS ENCONTRADOS Doc. 1 Provas de 1958 a 1980. Doc. 2 - Parecer de um(a) Coordenador(a) ou Diretor(a) do estabelecimento referente à solicitação de Exame de Segunda Época..Diversas datas.