Programa Gestão de Sala de Aula
Impactos e possibilidades do programa Traduzido e adaptado por Silvana Tamassia (silvanatamassia@eloseducacional.com)
No mês de abril, Barbara Bruns, Leandro Costa e Nina Cunha publicaram um artigo na revista americana Economics of Education Review intitulado: Through the looking glass: Can classroom observation and coaching improve teacher performance in Brazil? numa tradução livre: Através do espelho: a observação em sala de aula e a formação continuada por meio de coaching educacional podem melhorar o desempenho dos professores no Brasil? O texto fala sobre o curso Gestão de Sala de Aula desenvolvido em 2015 com 174 escolas públicas de Ensino Médio da Secretaria Estadual de Educação do Ceará, conduzido pela Elos Educacional e financiado pela Fundação Lemann, com o apoio do Instituto Unibanco e Itaú BBA, cujo foco da pesquisa era identificar a melhoria da prática dos professores e eficácia da formação continuada em serviço. O curso existe desde 2012 e já foi implementado em diversas redes de ensino, impactando diretamente cerca de 1000 escolas e 9000 educadores de diversos lugares do Brasil, nas etapas de Ensino Fundamental e Ensino Médio. 1 Artigo original em inglês disponível aqui
No caso do Ceará, o foco esteve nas escolas de Ensino Médio. O estado conta com 573 escolas de Ensino Médio, das quais 348 participaram do projeto com o Banco Mundial o qual, por meio do método Stallings, mediu o uso do tempo em 348 escolas, propondo uma intervenção direta em 174 delas. 174 escolas tiveram intervenção O instrumento Stalling gera dados quantitativos sobre a interação de professores e alunos em sala de aula com um alto grau de confiabilidade. A força do método Stallings é que ele converte as atividades e interações qualitativas entre um professor e os alunos que ocorrem durante uma aula em dados quantitativos robustos sobre a prática instrucional dos professores e o engajamento dos alunos. As observações são codificadas em dez momentos diferentes em cada classe, em intervalos exatos, cujo espaçamento depende da duração da aula; a cada três (03) minutos em uma aula de 30 minutos, a cada cinco (05) minutos em uma aula de 50 minutos, etc.
O observador deve estar presente na sala de aula para o horário oficial da aula e fazer observações. Cada observação consiste em uma varredura de 15 segundos da sala de aula, começando com o professor e continuando no sentido horário ao redor da sala. Os observadores codificam o que o professor está fazendo, quais são os materiais que ele está usando e o que os alunos estão fazendo. Para gerar estimativas quantitativas de tempo na tarefa, as atividades codificadas são agrupadas em quatro categorias: Leitura em voz alta; Demonstração/Ensinando Discussão/Debate/ Pergunta e Resposta; Prática/Memorização Trabalho em sala de aula Copiando. Interação Social não acadêmica Professor Não-Envolvido ou em Interação social Professor Fora de Sala Atividades de aprendizagem Atividade não acadêmica do professor Gestão/arrumação da sala de aula Atividade não acadêmica do aluno Instrução verbal com orientações; Disciplinar aluno (s); Gestão de sala de aula com alunos; Organização da sala. Interação Social Estudante(s) não envolvido(s) Disciplinando
Stallings (1977) estabeleceu três referências de boas práticas fundamentais para o uso do tempo de instrução com base em sua pesquisa com o instrumento nos Estados Unidos: i) 85% do tempo de aula deve ser dedicado à instrução; ii) um máximo de 15% do tempo de aula deve ser gasto em gerenciamento de sala de aula; e iii) 0% do tempo de aula deve ser gasto com o professor fora de tarefa (ou seja, envolvido em nenhuma das atividades instrucionais ou no gerenciamento da sala de aula).² ² Tecnicamente chamado Stanford Research Institute Classroom Observation System, desenvolvido na década de 1970 pela professora Jane Stallings para pesquisa em professores de educação básica nos Estados Unidos. (Stallings, 1977; Stallings e Mohlman, 1990)
Os resultados iniciais indicaram que, no Ceará, o tempo médio que o professor gasta com as atividades de aprendizagem é de 67%. Dado que esta pesquisa é realizada em uma amostra representativa de escolas, a diferença de 18% entre o tempo médio que o professor está ensinando no Ceará e o valor de referência de boas práticas (85%), indica que o sistema de ensino do estado estava perdendo quase um dia de aula por semana.
Para que esta análise fosse feita no início e ao final do projeto, avaliando assim o impacto das intervenções, a Secretaria de Educação do Ceará concordou em randomizar a implementação do programa em aproximadamente metade de suas escolas secundárias durante o ano letivo de 2015 para avaliar rigorosamente as seguintes questões de pesquisa: 1 2 O fornecimento de feedback às escolas com base nas observações em sala de aula, além de materiais de apoio e treinamento, estimula mudanças mensuráveis na prática do professor em um período relativamente curto (um único ano escolar)? O fornecimento de feedback e coaching para observação em sala de aula pode reduzir a variação na prática de professores dentro de uma escola? 3 4 As mudanças positivas na prática em sala de aula dos professores, como maior tempo gasto em instrução e níveis mais elevados de envolvimento dos alunos, correlacionaram-se positivamente com os resultados de aprendizagem dos alunos? O programa combinado desenvolvido no Ceará (feedback de observação em sala de aula e formação em nível de escola) produz ganhos relativos de aprendizado em comparação com programas alternativos de formação de professores?
Para analisar estes impactos as escolas do grupo de tratamento receberam: Boletim com o resultado da avaliação da prática dos professores observadas na sala de aula Material de estudos (livro Aula Nota 10) Formação dos coordenadores pedagógicos Das 348 escolas observadas inicialmente, 174 fizeram parte do grupo de tratamento, recebendo 4680 livros distribuídos a professores e gestores escolares de todas estas escolas. Para a formação o trabalho aconteceu de maneira muito próxima, o que foi definido pela pesquisa como um coaching que ocorreu da seguinte maneira: 3 encontros presenciais 6h cada um 3 conversas individuais por Skype Atividades para serem implementadas na escola o Pautas de reuniões pedagógicas o Observação de aulas e feedback aos professores
Os encontros presenciais foram realizados em três (03) polos no estado do Ceará: Juazeiro do Norte, Sobral e Fortaleza, num total de seis (06) turmas, numa média de 29 cursistas por formador. Todas as atividades realizadas pelos coordenadores foram enviadas aos formadores pela plataforma virtual de aprendizagem. Após análise das atividades os formadores desenvolviam um feedback personalizado para cada um deles, contribuindo de maneira muito específica com a melhoria das práticas pedagógicas de cada participante. No caso das devolutivas feitas aos professores observados pelos coordenadores ao longo do ano, eles enviavam as filmagens destes momentos e os formadores faziam comentários minuto a minuto diretamente no vídeo por meio de ferramenta disponível na própria plataforma virtual de aprendizagem. Ao final do ano - após nove (09) meses de intervenção formativa - foi realizada uma nova rodada de observação usando o método Stallings. Nesta rodada fizeram parte 292 escolas, pois as demais não puderam participar nesse momento. As observações procuram manter as mesmas turmas da observação inicial (75% se repetiram), porém, nem sempre com os mesmos professores, já que isso depende do dia em que a observação foi realizada. Foram priorizadas as aulas de Língua Portuguesa e Matemática.
O resultado deste processo identificou uma melhora na qualidade do uso do tempo pedagógico nas escolas participantes do programa. Veja uma comparação entre os indicadores de melhores práticas citado no início do texto, o índice do Brasil e o estado do Ceará, com destaque para as escolas participantes do programa: 100 % 15 % 10 % 27 % 10 % 24 % 7 % 21 % Atividades Acadêmicas Arrumação da Sala Atividades não acadêmicas 50 % 85 % 64 % 67 % 73 % 0 % Melhores práticas (OCDE) Brasil Ceará Efeito do Programa
E um ponto muito relevante neste processo foi que as escolas que iniciaram a primeira rodada de observação com os piores resultados com relação ao uso do tempo pedagógico foram as que mais evoluíram no resultado final, demonstrando um impacto claro da formação dos coordenadores e na maneira como isto chegou aos professores em pouco tempo, qualificando o planejamento de aula e o engajamento dos alunos, refletindo no melhor aproveitamento do tempo gasto com as atividades acadêmicas. São 59 horas a mais no ano com atividades acadêmicas e 32 horas a menos gastas com a gestão e organização da sala.
Além dos resultados de melhoria no uso do tempo pedagógico, os alunos das escolas do grupo de tratamento tiveram também uma melhoria nos resultados de Língua Portuguesa e Matemática no Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SPAECE) - Avaliação Oficial do Estado do Ceará - e no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Matemática 4 pts a mais Matemática 4,2 pts a mais Língua Portuguesa 2 pts a mais Língua Portuguesa 5,3 pts a mais Com os resultados obtidos, podemos concluir que a formação continuada em serviço realizada por meio de coaching educacional fazendo uso de diferentes estratégias como encontros presenciais, videoconferências individualizadas (Skype), material de estudo orientado e feedbacks individualizados das práticas desenvolvidas impactaram positivamente na ação formativa do coordenador pedagógico e na prática pedagógica do professores em sala de aula, contribuindo para o melhor uso do tempo pedagógico e a melhoria dos resultados de aprendizagem dos alunos.
Este trabalho desenvolvido pela Elos Educacional em parceria com a Fundação Lemann, Instituto Unibanco, Itaú BBA, Banco Mundial e Secretaria Estadual de Educação do Ceará, demonstra como é possível aprimorar este papel formativo no coordenador pedagógico, qualificando a sua intervenção nos momentos coletivos de formação na escola, como também na sala de aula, entendendo as necessidades formativas de cada professor e contribuindo de maneira personalizada para sua formação continuada em serviço. Deste modo, todos se desenvolvem e os alunos aprendem mais!