Mestrado em Planeamento e Operações de Transportes. Disciplina: TTEA

Documentos relacionados
Custos e externalidades da mobilidade

15 e 16 de Dezembro de 2010

Planeamento e Gestão da Mobilidade Urbana

Principais linhas de orientação política nacional e local sobre transporte de passageiros

Impactes ambientais da mobilidade urbana, interacção transportes usos do solo e políticas dirigidas a estes problemas

Os Desafios da Mobilidade e a Resposta Intermodal

Áreas metropolitanas. Vivências, Mobilidades e Qualidade de Vida. Susana Valente Orientação científica de Luísa Schmidt 12 de Julho 2004

Delimitação e normativa para a urbanização rural difusa em Mafra

Lógica do sistema de informação da mobilidade

Povoamento disperso; económicas predominantes: agricultura, pecuária e silvicultura.

Alterações. Climáticas e. Mobilidade. 4º Encontro de Educação Ambiental LIPOR

Projecto Mobilidade Sustentável PLANO DE MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DE MIRANDELA. (3 de Outubro 2007)

DTEA - Transportes, Energia e Ambiente Grupo de Investigação em Energia e Desenvolvimento Sustentável Instituto Superior Técnico

Universidade Presbiteriana Mackenzie Escola de Engenharia Depto. de Engenharia Civil 1 0 semestre de Aula 22.

Indicadores de Saúde Pública e Sustentabilidade Urbana

Plano de Mobilidade Sustentável de Faro. Definição de Objectivos e. Conceito de Intervenção

Leitura Nacional dos Problemas

Mobilidade e Meio Ambiente. 3ª Reunião do Observatório da Mobilidade Urbana de Belo Horizonte

Mestrado em Engenharia do Ambiente 4º ano / 2º semestre

WORKSHOP REABILITAÇÃO URBANA SUSTENTÁVEL. O MERCADO DA CONSTRUÇÃO CIVIL - Desafios e Oportunidades

Mestrado Integrado em Engenharia Civil ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTE URBANISMO

Avaliação Ambiental de Planos Municipais de Ordenamento do Território a integração da agenda ambiental e da sustentabilidade no planeamento local

QUALIDADE DE VIDA NA MARGEM SUL

ÁREAS DE FIXAÇÃO HUMANA

MOBILIDADE E TRANSPORTES

O PAPEL DAS AUTORIDADES METROPOLITANAS

Sistema Urbano. Teresa Sá Marques

Universidade Presbiteriana Mackenzie Escola de Engenharia Depto. de Engenharia Civil 1 0 semestre de Aula 13.

Transportes & Negócios Seminário Transporte Rodoviário

Mobilidade, Qualidade de Vida, Crescimento e Sustentabilidade

Transportes Rodoviários Pesados de Passageiros

Modelo n.º 1. Revisão do Plano Diretor Municipal do Seixal. Lisboa Península de Setúbal Seixal

Conferência - Projecto Mobilidade Sustentável

NORTE ON BIKE: Mais Bicicletas: Melhores Cidades

Reflexões para uma mobilidade sustentável

II ENCUENTRO INTERNACIONAL INCLUSIÓN SOCIAL EN LOS METROS LA INCLUSIÓN SOCIAL EM SISTEMAS DE TRANSPORTE LA EXPERIENCIA BRASILEÑA

Da Cidade Compacta à Megalópolis Nebulosa

Mobilidade Sustentável em Meio Urbano Quais as medidas para uma mobilidade sustentável?

Planeamento Urbano Plano de Urbanização da Damaia/Venda Nova (Oficina de Arquitectura 1997) JOÃO CABRAL FA/UTL 2011

Maria Elisabete S. Soares - UDI - Instituto Politécnico da Guarda Rui A. R. Ramos - C-TAC - Universidade do Minho Ana Maria D. B.

(O que é um conceito?)

V Congresso da Geografia Portuguesa Universidade do Minho Guimarães, 14 a 16 de Outubro DISPERSÃO URBANA E MOBILIDADE NA ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA

Delimitação de áreas de densidade homogénea

Faculdade de Economia do Porto. Curso de Pós-Graduação em Gestão Imobiliária. Ano Lectivo: 2003/2004 PRINCÍPIOS DE ECONOMIA PARA O IMOBILIÁRIO

Direito do Ordenamento e do Urbanismo

DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO PRELIMINAR. Óbidos, 2 Agosto 2006

ÁREAS URBANAS. dinâmicas internas

11.3 O turismo no mundo 11.4 Impactos da atividade turística

Escola ES/3 Dos Carvalhos Março 2007 Geografia A - 10

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O FUTURO DA REDE CONVENCIONAL FACE À ALTA-VELOCIDADE

Vivências do rio na cidade Exploração de indicadores de qualidade ambiental percebida

MAIS E MELHOR TRANSPORTE PÚBLICO PARA UMA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL

O DESAFIO DA INTERMODALIDADE

ECOXXI 2014 Indicador Mobilidade Sustentável. Catarina Marcelino, GPIA/IMT David Vale, FA-UTL Mário Alves, Transitec

Rodrigues da Silva Professor Associado. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Engenharia de São Carlos Departamento de Transportes

SESSÃO DE ESCLARECIMENTO PLANOS DE MOBILIDADE DE EMPRESAS E POLOS GERADORES E ATRACTORES DE DESLOCAÇÕES

Workshop Internazionale Equinox 2016 Atelier de Criação Urbana- Wellbeing and Creative City Ascoli Piceno, Itália settembre 2016

1ª Revisão do Plano Diretor Municipal de Penamacor

Visita a Bragança da Comissão de Obras Públicas Transportes e Comunicações da Assembleia da República 24 e 25 de Março de 2003

Intermodalidade na Area Metropolitana do Porto. Abril de 2009

Disparidades regionais no sector da saúde nas regiões da Península Ibérica - reflexões em torno da coesão territorial

A Engenharia do Ambiente Portuguesa Que Futuro? Fernando Santana

MOBILIDADE SUSTENTÁVEL ESTRATÉGIAS E INSTRUMENTOS

Faculdade de Economia do Porto. Curso de Pós-Graduação em Gestão Imobiliária Ano Lectivo: 2004/2005

O SISTEMA DE PLANEAMENTO PORTUGUÊS Doutoramento em Arquitetura ULP

PERCURSO 18 México. Prof. Gabriel Rocha 8º ano - EBS

Mobilidade e território. Nuno Marques da Costa Lisboa, 27 de outubro

Plano de Mobilidade Sustentável Município de Leiria. Reunião de Centros Universitários Ponto de Situação 26_Setembro_2007

Projeto SMARTMOVE em Almada Definição do âmbito da campanha AMC

Nuno Soares Ribeiro VTM Consultores

Governação e Território: Conflitualidades e disfunções vistas através da imaginação do TGV

Faça uma pergunta em goo.gl/slides/jtrgc2. Ocupação do território, emprego e demografia

ANEXO. Proposta de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho. que cria o programa InvestEU

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia do Ambiente Perfil de Ordenamento do Território e Impactes Ambientais

Seminário de abertura do Projeto AdaPT AC: T. Método para integração às Alterações Climáticas no Setor do Turismo

Fatores Críticos de Mudança e das Tendências Territoriais

PROJETO U-BIKE PORTUGAL

SERVIÇO DOS ECOSSISTEMAS NAS CIDADES. biodiversidade e adaptação climática o serviço da qualidade de vida. Gestão da Estrutura Ecológica do Barreiro

Estratégia para a Aplicação de Planos de Intervenção em Espaço Rural em Espaço Periurbano. O caso de Setúbal.

PALESTRA PLANO DE MOBILIDADE URBANA

FICHA DE DADOS ESTATÍSTICOS DE PLANO DIRECTOR MUNICIPAL N.º 5 da Portaria n.º 138/2005, de 2 de Fevereiro

MATRIZ DE PROVA DE AVALIAÇÃO - ENSINO SECUNDÁRIO RECORRENTE (Portaria 242/2013) ÉPOCA DE JANEIRO/2019 REGIME NÃO PRESENCIAL

Mestrado em Engenharia do Ambiente 4º ano / 2º semestre (2009/10)

SMART MOBILITY / MOBILIDADE INTELIGENTE

Marque a opção do tipo de trabalho que está inscrevendo: ( x ) Resumo ( ) Relato de Caso

Transportes e Mobilidade Sustentável

Estratégia e Desenvolvimento Oficina. População e Cidade. 19 de Maio de 2016, Auditório da Biblioteca Municipal do Barreiro. População e Cidade


O Veículo Eléctrico na perspectiva da mobilidade


AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE A TEMÁTICA DO AMBIENTE NO CONTEXTO MUNDIAL. António Gonçalves Henriques

Alteração ao PDM da Maia

Desenvolvimento Local

Alterações climáticas: perspetiva e tendências

A exploração e distribuição dos recursos energéticos

Planeamento da Mobilidade Sustentável: rumo às cidades inovadoras e saudáveis

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA

AGRUPAMENTO de ESCOLAS de SANTIAGO do CACÉM Ano Letivo 2016/2017 PLANIFICAÇÃO ANUAL

Utilização dos dados do Inquérito à Mobilidade em estudos desenvolvidos pela AMP

MONTIJO, CIDADE SAUDÁVEL E SUSTENTÁVEL:

Transcrição:

Mestrado em Planeamento e Operações de Transportes Disciplina: TTEA (Transportes, Território, Energia e Ambiente ) O Urban Sprawl 1

Urban Sprawl Definição: Expansão para o exterior dos limites que separam as zonas urbanas das zonas rurais; Declínio geral das densidades e intensidades dos usos urbanos, medidas em termos de densidades de empregos e de habitantes; Existência de redes de transporte que proporcionam elevados níveis de conectividade entre diferentes pontos da área metropolitana, mesmo pontos periféricos; Segregação dos usos residenciais relativamente aos restantes usos. Grande parte das residências localiza-se nos subúrbios. 2

Motivos do Urban Sprawl (I) Políticas públicas destinadas a aliviar a pressão sobre o centro, nomeadamente através da promoção de centros exteriores; Políticas públicas destinadas a promover a aquisição de residência própria, subsidiação de hipotecas ou benefícios fiscais sobre as prestações das hipotecas. Maior facilidade de angariação de capital; Alteração da importância e da percepção do espaço (acessibilidade conveniente a várias actividades dentro da área metropolitana), do lugar (atributos da residência e da sua envolvente imediata) e da proximidade (a existência e influência de actividades próximas, compatível com a marcha a pé), dando mais importância aos dois últimos aspectos lugar e proximidade; 3

Motivos do Urban Sprawl (II) 4

Motivos do Urban Sprawl (III) Alteração dos padrões de consumo, de reprodução social e de preferências relacionadas com a qualidade de vida, a commoditization dos espaços habitacionais (moradia familiar como estilo de vida desejável). Tematização da cidade americana de baixa densidade enquanto ambiente urbano perfeito para estar em contacto com o campo e com a natureza ou o retorno ao ambiente da aldeia; Dimensões morais associadas à crítica americana às cidades e anglo-saxónica das cidades industriais; Existência de solo barato fora do perímetro urbano; O aparecimento da figura do promotor imobiliário e a produção em massa de habitação; 5

Motivos do Urban Sprawl (IV) Condicionantes físicas e morfológicas: a existência de aquíferos (facilita a dispersão ao reduzir a dependência da expansão das redes de distribuição de água; a existência de montanhas, que limita a expansão urbana e torna o crescimento urbano mais compacto; Colinas ou outras irregularidades de pequena escala, que induzem uma expansão urbana dispersa; Aspectos relacionados com a segurança militar. Nos EUA, durante os anos 50, a dispersão urbana era vista como modo de reduzir a vulnerabilidade a ataques nucleares; 6

Motivos do Urban Sprawl (IV) Aspectos climáticos. Um clima mais ameno aumenta o valor dos espaços livres e induz uma maior dispersão urbana; Aumento dos níveis de rendimento e o modo a riqueza é reinvestida, seja em novas infra-estruturas suburbanas, seja em desenvolvimento industrial; Assumpção da existência de energia barata. A cidade moderna é uma expressão física dessa assumpção; Os padrões de crescimento anteriores. As cidades com maiores crescimentos demográficos no passado apresentam menor intensidade de Urban Sprawl; 7

Urban Sprawl na Europa (I) Expansão territorial das cidades 5% numa década (1990-2000); O espaço consumido per capita mais que duplicou em 50 anos; Os impactes desta expansão fazem-se sentir em áreas onde a actividade económica é mais elevada, ou apresentaram um crescimento económico forte (caso de Portugal na década de 90); Novos padrões de crescimento ao longo de rodovias, crescimento de aglomerados periféricos, rururbano; Novos estilos de vida influencia cultural americana (anglosaxónica) moradias, gated communities, etc; Construção de infra-estruturas de transporte cofinanciadas pelos fundos europeus; 8

Urban Sprawl na Europa (II) 9

Urban Sprawl na Península Ibérica Em 2000 a zona costeira, cerca de 13% da área de Portugal continha 50% da área urbana 10

Urban Sprawl em Portugal 11

Impactes do Urban Sprawl (I) Polarização social; Problemas de equidade; Efeitos económicos; Aumento dos custos em transporte; Aumento dos custos de congestionamento e redução da competitividade do TC; Aumento dos custos de infraestruturação; 12

Impactes do urban sprawl (II) Consumo de solo e ecossistemas Aumento dos consumos de matérias primas e recursos naturais (ex. calcário para o betão); Impermeabilização, perda de biodiversidade e da capacidade do solo de capturar CO 2; Alteração de estilos de vida que conduzem a maiores consumos de recursos naturais (menor densidade -> maior consumo de energia); 13

Consumo de energia e emissões de CO 2 versus densidade 14

Impactes sobre a ocupação do solo Consumo de solo agrícola não tem a ver com só com a extensão mas essencialmente com a qualidade dos solos (os solos mais férteis localizam-se na proximidade das cidades) O impacte sobre a quantidade de solo consumido pode não ser só por si relevante; Por exemplo no Mediterrâneo o crescimento urbano na década de 90 ocupou 3% de área agrícola da qual 60% eram solos de boa qualidade 15

Efeitos sobre a saúde Estudos apontam para o facto de que: O Urban Sprawl afecta significativamente os níveis de saúde física, mas não as disfunções mentais. A forma urbana afecta a saúde física através das oportunidades e restrições que coloca à actividade física; A contribuição do Urban Sprawl para maiores níveis de poluição atmosférica, implica uma maior ocorrência de problemas respiratórios, efizemas e dores de cabeça; Os efeitos do Urban Sprawl sobre a saúde física dos idosos tendem a ser bastante mais intensos 16

Efeitos sobre a mobilidade e os transportes Aumento das taxas de motorização e dos níveis de utilização do TI; Maiores riscos de acidentes rodoviários; Redução da utilização do TC e dos modos suaves; Manutenção dos níveis de congestionamento (face a Areas Metropolitanas mais compactas); 17

Evolução da Mobilidade na AML (I) Viagens Internas à AML ETRL (1973) Inquérito à mobilidade (1997) 24 Anos % No Interior de Lisboa 1 130 000 750 000-35 No interior da AML - Norte sem Lisboa 460 000 1 124 000 + 145 No interior da AML - Sul 320 000 676 500 + 110 Entre a AML- Norte e Lisboa 600 000 832 000 + 40 Entre a AML - Sul e Lisboa 120 000 191 000 + 60 Entre a AML - Norte e a AML - Sul 20 000 56 000 + 180 Fonte: Estudo de Transportes da Região de Lisboa, DGTT, 1977. Inquérito à Mobilidade na Região de Lisboa, DGTT / INE, 1999. 18

Comparação AML Paris-Ile de France Paris - Região "Ile-de-France" Área Metropolitana de Lisboa Pop. (10 6 ) P. T. (10 6 ) TI (%) TC (%) TNM (%) Pop. (10 6 ) P. T. (10 6 ) TI (%) TC (%) TNM (%) Cidade-Centro 2,15 (20%) 1,80 (35%) 24 47 29 0,57 (22%) 0,59 (54%) 34 35 31 1ª Coroa Subúrbio (10 a 20 Km) Periferia (20 a 40 km) 4,00 (38%) 1,75 (34%) 41 30 29 1,75 0,37 39 40 21 (68%) (34%) 55 20 25 42 36 22 2ª Coroa - > 40 Km 4,50 (42%) 1,55 (31%) 62 15 23 0,25 (10%) 0,13 (12%) 40 33 27 Total / 10,65 5,10 48 26 26 2,57 1,09 47 29 24 OBS: Valores de população e emprego para o ano de 1990 (+ -) / Repartição Modal para o ano de 1997 (Lisboa) e 1991 (Paris) Fonte: Planificação intégrée Unibarnisme - Transports et développement durable des des mobilités, Ph. Bovy (1999), UITP, México, 2000. Plan de déplacements urbaínes de la région d Ile-de-France, METL, Paris, 2000. Inquérito à mobilidade na A. M. de Lisboa, DGTT / INE, Lisboa, 1999. 19

Evolução das taxas de motorização Fonte: Dasgupta, M (1993), Urban Problems and Urban Policies: OECD/ECMT. Study of 132 Cities, Conferência Internacional sobre Travel in the City Making it Sustainable, Junho 1993, Dusseldorf, OECD, Paris. 20

Interacção Rendimento, Urban Sprawl, Motorização 21

Referências European Environmental Agency (2006) Urban Sprawl in Europe. The ignored challenge, http://reports.eea.europa.eu/eea_report_2006_10/en Smart Growth America (sdata), Measuring Sprawl and its impacts, http://www.smartgrowthamerica.org/sprawlindex/measuringsprawl.pdf http://ocw.mit.edu/ocwweb/urban-studies-and-planning/11-380jurban- Transportation-PlanningFall2002/LectureNotes/index.htm 22