As crianças no planejamento do espaço urbano, Santiago, Chile

Documentos relacionados
OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Rompendo os muros escolares: ética, cidadania e comunidade 1

INSTITUCIÓN: Programa Primeira Infância Melhor. Departamento de Ações em Saúde Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul

DEMOCRÁTICA NO ENSINO PÚBLICO

Serviço Social e o Trabalho Social em Habitação de Interesse Social. Tânia Maria Ramos de Godoi Diniz Novembro de 2015

Atuação do psicólogo na Assistência Social. Iolete Ribeiro da Silva Conselho Federal de Psicologia

PROCESSO SELETIVO PARA PROFESSORES SUBSTITUTOS EDITAL

Prêmio Itaú-Unicef Fundamentos da edição Ações Socioeducativas

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

Educação para a Cidadania linhas orientadoras

Política de Responsabilidade Corporativa. Março 2013

Coleta de Dados: a) Questionário

PLANO DIRETOR MUNICIPAL

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

Carreira: definição de papéis e comparação de modelos

PROJETO MEIO AMBIENTE NA SALA DE AULA

PROJETO MEIO AMBIENTE NA SALA DE AULA

Politica Nacional de Humanizacao , ~ PNH. 1ª edição 1ª reimpressão. Brasília DF 2013

ANEXO I ROTEIRO PARA APRESENTAÇÃO DE PROJETOS FIA Cada projeto deve conter no máximo 20 páginas

(Publicada no D.O.U em 30/07/2009)

II SEMINÁRIO CATARINENSE PRÓ- CONVIVENCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA ABORDAGEM SÓCIO PEDAGÓGICA NA RUA

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

ESTUDAR E BRINCAR OU BRINCAR E ESTUDAR? ESTUDAR E BRINCAR OU BRINCAR E ESTUDAR?

ANEXO AO MODELO DO PLANO DE AULA DO PROCESSO SELETIVO DOCENTE GERAL (PSD-G)

CONSELHO DE CLASSE DICIONÁRIO

Dra. Margareth Diniz Coordenadora PPGE/UFOP

SAÚDE COMO UM DIREITO DE CIDADANIA

O trabalho voluntário é uma atitude, e esta, numa visão transdisciplinar é:

Plan International e IIDAC com recursos do Fundo União Europeia

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Orientações para a elaboração do projeto escolar

CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

introdução Trecho final da Carta da Terra 1. O projeto contou com a colaboração da Rede Nossa São Paulo e Instituto de Fomento à Tecnologia do

ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM RECORTE HORIZONTAL NO ATENDIMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Este Fórum Local da Agenda 21 se propõe a escutar, mobilizar e representar a sociedade local, para construirmos em conjunto uma visão compartilhada

Por uma pedagogia da juventude

O que é Administração

Elvira Cristina de Azevedo Souza Lima' A Utilização do Jogo na Pré-Escola

Projeto Político-Pedagógico Estudo técnico de seus pressupostos, paradigma e propostas

Martina Rillo Otero A importância do processo de avaliação. Existem muitas definições para avaliação, não existe uma única.

II TEXTO ORIENTADOR 1. APRESENTAÇÃO

PROJETO Educação de Qualidade: direito de todo maranhense

Como aconteceu essa escuta?

TÍTULO: ALUNOS DE MEDICINA CAPACITAM AGENTES COMUNITÁRIOS NO OBAS CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE

RELATÓRIO DAS ATIVIDADES 2004

V Seminário de Metodologia de Ensino de Educação Física da FEUSP Relato de Experiência INSERINDO A EDUCAÇÃO INFANTIL NO CONTEXTO COPA DO MUNDO.

PLANO DE EDUCAÇÃO DA CIDADE DE SÃO PAULO: processo, participação e desafios. Seminário dos/as Trabalhadores/as da Educação Sindsep 24/09/2015

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

Plano Integrado de Capacitação de Recursos Humanos para a Área da Assistência Social TEMA A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO EM EQUIPE E A ARTICULAÇÃO DA REDE

Curso: Diagnóstico Comunitário Participativo.

INSTITUTO SINGULARIDADES CURSO PEDAGOGIA MATRIZ CURRICULAR POR ANO E SEMESTRE DE CURSO

Puerta Joven. Juventud, Cultura y Desarrollo A.C.

Identificação do projeto

A AÇÃO COMUNITÁRIA NO PROJOVEM. Síntese da proposta de Ação Comunitária de seus desafios 2007

Curso de Graduação. Dados do Curso. Administração. Contato. Modalidade a Distância. Ver QSL e Ementas. Universidade Federal do Rio Grande / FURG

RELATÓRIOS DAS OFICINAS: CUIDANDO DO CUIDADOR: CPPT CUNIÃ. Facilitadoras: Liliane Lott Pires e Maria Inês Castanha de Queiroz

O Planejamento Estratégico pode ser considerado como uma Bússola e Guia de Apoio à decisão das organizações. É uma metodologia para construir o

em partilhar sentido. [Gutierrez e Prieto, 1994] A EAD pode envolver estudos presenciais, mas para atingir seus objetivos necessita

Información sobre Herramientas Metodológicas de Diagnóstico Participativo

Avaliando o Cenário Político para Advocacia

11 de maio de Análise do uso dos Resultados _ Proposta Técnica

Dreamshaper, Jovens empreendedores construindo o futuro.

SELEÇÃO INTERNA PARA GRATIFICAÇÃO DE DEDICAÇÃO EXCLUSIVA AO MAGISTÉRIO GDEM - PARA ATUAÇÃO NOS PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO INTEGRAL.

Rastreabilidade da Matriz de Indicadores Comitê Gestor Indígena do PBA-CI

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

AVALIAÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO-CURRICULAR, ORGANIZAÇÃO ESCOLAR E DOS PLANOS DE ENSINO 1

Desenvolvimento de Pessoas na Administração Pública. Assembléia Legislativa do Estado de Säo Paulo 14 de outubro de 2008

OFICINAS CORPORAIS, JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS - UMA INTERVENÇÃO COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO

Estruturando o modelo de RH: da criação da estratégia de RH ao diagnóstico de sua efetividade

OFICINA DA PESQUISA DISCIPLINA: COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL

SHORT PAPER. Um trabalho pequeno, conciso, que aborda um único problema ou questão,

CHAMADA DE ARTIGOS do SUPLEMENTO TEMÁTICO A EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

PÚBLICO-ALVO Assistentes sociais que trabalham na área da educação e estudantes do curso de Serviço Social.

Indicadores de Rendimento do Voluntariado Corporativo

POLÍTICAS DE GESTÃO PROCESSO DE SUSTENTABILIDADE

Educação Integral, Escola de Tempo Integral e Aluno em Tempo Integral na Escola.

Estratégias em Propaganda e Comunicação

Pedagogia Estácio FAMAP

Resumo das Interpretações Oficiais do TC 176 / ISO

Rádio escolar, vídeo popular e cineclube popular: um panorama sobre a atuação do Grupo de Estudos e Extensão em Comunicação e Educação Popular

Tópicos Abordados. Pesquisa de Mercado. Aula 1. Contextualização

FUNDAMENTOS DE UMA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

Educação a distância: desafios e descobertas

Mapa da Educação Financeira no Brasil

GUIA PARA LEVANTAMENTO DE DADOS PELAS SEDUCS VISANDO A ELABORAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO DE EDUCAÇÃO EM E PARA OS DIREITOS HUMANOS

VAMOS CUIDAR DO BRASIL COM AS ESCOLAS FORMANDO COM-VIDA CONSTRUINDO AGENDA 21AMBIENTAL NA ESCOLA

Escola de Políticas Públicas

Princípios, valores e iniciativas de mobilização comunitária. Território do Bem - Vitória/ES

GUIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO CURRICULO ANO 2 - APROFUNDAMENTO

PLANTANDO NOVAS SEMENTES NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

2.5 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Relatório das Ações de Sensibilização do Projeto De Igual para Igual Numa Intervenção em Rede do Concelho de Cuba

Desenvolve Minas. Modelo de Excelência da Gestão

É projeto porque reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado período de tempo. É político por considerar a escola como um espaço

PROJETO DE LEITURA E ESCRITA LEITURA NA PONTA DA LÍNGUA E ESCRITA NA PONTA DO LÁPIS

TRABALHO PEDAGÓGICO NA PERSPECTIVA DE UMA ESCOLA INCLUSIVA. Profa. Maria Antonia Ramos de Azevedo UNESP/Rio Claro.

A Tecnologia e Seus Benefícios Para a Educação Infantil

JUSTIFICATIVA DA INICIATIVA

RELATO DE EXPERIÊNCIA: A PERCEPÇÃO DE LUZ E SOMBRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Palavras-chave: Conhecimentos físicos. Luz e sombra. Educação Infantil.

Transcrição:

As crianças no planejamento do espaço urbano, Santiago, Chile Alejandra Elgueta Felipe Morales Um problema transversal a todos os conflitos vivenciados na cidade de Santiago é a falta de participação popular, tanto na tomada de decisões como na utilização da cidade. Considerando que a apropriação do entorno e a comunicação entre habitantes de um mesmo local é uma ferramenta fundamental na construção de espaços públicos, apresentou-se a ideia de levar a cabo uma oficina sobre educação ambiental urbana para as crianças da zona de San Judas Tadeo, na comuna 1 de Peñalolén, de modo a explorar o bairro e sua história, utilizar o espaço público e impulsionar o reconhecimento entre as crianças do referida zona. Na sequência, expõe-se uma síntese das ideias sobre as quais a oficina foi planificada e uma avaliação dessa experiência, o resultado no que se refere à participação popular efetiva. O caráter social da cidade O conceito de construção social do espaço considera que a cidade também é uma construção social. Segundo Henry Lefebvre, esta construção está baseada na produção do espaço. A cidade iria se adaptando ao processo de produção de capital, destruindo as estruturas antigas para construir novas formas urbanas, conceito que David Harvey define como destruição criativa (HARVEY, 1980). Em outras palavras, a configuração que a cidade adquire surge da tensão entre as relações de poder de grupos sociais pelo controle e articulação do espaço em função de seus próprios interesses. Estas formas podem não 1 Divisão administrativa e territorial que é gerenciada por um administrador (prefeito) eleito pelo voto popular

222 Ciudades para tod@s ser originalmente geográficas, mas terminam por adquirir uma expressão territorial (Santos, 1986). O planejamento urbano no Chile Na carta mundial sobre direito à cidade, este se define como o usufruto equitativo das cidades dentro dos princípios de sustentabilidade, democracia, equidade e justiça social. É um direito coletivo dos habitantes das cidades, em especial dos grupos vulneráveis e desfavorecidos, que lhes confere legitimidade de ação e de organização, com base em seus usos e costumes, com o objetivo de alcançar o pleno exercício do direito a livre autodeterminação e a um nível de vida adequado. Esta visão guia os discursos políticos sobre os eixos de desenvolvimento urbano nas cidades chilenas, como é o caso do Ministerio de Habitação e Urbanismo 2, que se traduzem em cidades com integração, sustentabilidade e competitividade. No entanto, se no discurso político estes três eixos se colocam num mesmo nível, as ações priorizam a competitividade, ao ponto de sobrepor a sustentabilidade e a integração para consegui-la. Na prática, o planejamento da cidade responde aos interesses de poucos cuja posição privilegiada nas redes de poder político e econômico faz com que sua voz seja mais ouvida. Definitivamente, a opinião dos cidadãos na organização da cidade não é considerada. Reflexo disso são as constantes situações de descontentamento e conflito dos habitantes e o pouco peso que tem nas decisões que tomam os governantes e profissionais de planejamento. Assim, torna-se válida a seguinte afirmação: hoje os mesmos que governaram por décadas continuam confundindo desenvolvimento urbano com crescimento imobiliário. Sua fórmula é que nós, os moradores, adaptemo-nos às cidades e não as cidades se adaptem a nós. 3 Peñalolén. A melhor comuna do Chile Na cidade de Santiago, especificamente na comuna de Peñalolén, os moradores conheceram em junho de 2009 a proposta do Plano Diretor da Comuna elaborado pela URBE consultores a pedido do município. Ao que parece se busca atrair investimento imobiliário orientado a setores com mais recursos em relação aos habitantes que estão vivendo tradicionalmente no lugar. Isso pode trazer como conseqüência a expulsão silenciosa dos mais pobres para outras comunas. O processo de participação dos cidadãos levado a cabo em Peñalolén se caracterizou pelo temor dos que planejam em escutar a voz dos planificados. 2 Ministério de Habitação e Urbanismo 3 Editorial periódico El Nuevo Poblador. Peñalolén. Año 1, Nº 4, Agosto de 2009

Experiencias - Iniciativas populares 223 Também pela incompetência da maioria das autoridades municipais que, definitivamente, tem o poder de decisão. A proposta de planejamento já veio elaborada, planejada, desenhada da prancheta da consultora, pronta para ser aplicada. Pode-se dizer então, que as instâncias governamentais de participação popular são simbólicas, porém irreais. Como construir uma cidade mais justa? A figura da criança como referência para o planejamento urbano Quando se pensa em como fazer da cidade um lugar acolhedor para todos os seus habitantes, onde todos possam acessar livremente o espaço e satisfazer seus desejos de se locomover de maneira cômoda ou recreação sem impedimentos nem limitações, então se encontra um primeiro problema: a partir de que perspectiva pensar a cidade. Tomando como base as ideias e experiências do pedagogo italiano Francesco Tonucci, propõe-se pensar a cidade a partir da perspectiva infantil como uma estratégia de integração dos cidadãos na sua cidade, por meio da recuperação dos espaços públicos. Tonucci, preocupado com o problema da solidão das crianças em cidades ricas começa pesquisar e experimentar formas de planejar a cidade considerando a perspectiva das crianças. Porém, por que optar por esse grupo da população e não outro? Sem importar sua condição socioeconômica, étnica ou outra, a criança se vê excluída da cidade devido a sua idade. Não é parte da massa votante, vive sob a supervisão de adultos que decidem o que é bom ou não para ela, sendo que ninguém lhe pergunta como gostaria que fosse sua cidade. Isso fortalece a figura da criança como referência, já que sua exclusão é um problema que atravessa a totalidade de camadas da sociedade. Existem crianças em todas as classes sociais, religiões, etnias e crianças imigrantes de todas as nacionalidades. Por outro lado, a criança é uma figura forte, capaz de sensibilizar toda a sociedade, devido ao fato de que representa o passado, o presente e o futuro. A criança é nosso passado, um passado amiúde rapidamente esquecido, mas que nos ajudará a viver melhor com nossos filhos e a cometer menos erros se conseguirmos mantê-lo vivo e presente. A criança é nosso presente porque a ela está dedicada a maior parte de nossos esforços e sacrifícios. A criança é nosso futuro, a sociedade do amanhã, quem poderá continuar ou frustrar nossas decisões e nossas expectativas. (Tonucci, 1996). A educação ambiental como ferramenta para a participação dos cidadãos: A experiência da oficina A experiência da oficina permitiu avaliar a educação ambiental como ferramenta para a participação popular. A ideia é levar a cabo uma oficina (e não aplicar

224 Ciudades para tod@s questionários ou entrevistas) radicalizada em sua qualidade do ponto de reunião e organização. A oficina permite conhecer e interpretar a opinião de um grupo e não como a soma de opiniões de seus indivíduos. As pessoas, neste caso as crianças, emitem suas opiniões conhecendo a dos demais, o que estimula a discussão e compreensão. A educação ambiental permite desenvolver o pensamento espacial. Neste caso, pensou-se no ser humano como parte de seu entorno e, portanto, protagonista do espaço em que vive. Enfatizou-se que os atos (elementos e ações) no meio ambiente não são isolados, e sim atuam sob certa lógica e se afetam uns aos outros. Por se tratarem de crianças, deve-se assumir que sua principal motivação é a brincadeira. Para as crianças brincar não é uma simples recreação, mas sim também exploração e aprendizagem. As crianças apreendem o mundo brincando. Contudo, devido aos seus objetivos, a oficina deve estimular o pensamento urbano crítico, tanto como o conhecimento e a apropriação do bairro. Um dos principais desafios foi como fazer uma oficina que através de atividades similares a brincadeiras estimulasse as crianças a conhecer, entender e avaliar seu entorno. É necessário planejar atividades que contemplem a diversidade de crianças que assistirão a oficina. Em Peñalolén, foi de grande importância a faixa etária. Nas primeiras sessões trabalhamos com roteiros escritos e muitas crianças, que não sabiam escrever bem, ficaram excluídas, distraíram-se e começaram a fazer outras atividades, desviando a atenção daqueles que estavam trabalhando. À medida que a oficina foi avançando, decidimos trabalhar com secretárias. Entre as crianças existem interesses e personalidades diferentes. Existem crianças que não ficam quietas e outras que não se atrevem a falar, sendo que uma atividade exitosa deve permitir que todas participem à vontade. A ideia anterior se conseguiu com a realização de um vídeo que reconstruiu a história do bairro, no qual as crianças deviam se organizar e cumprir todas as tarefas (incluindo a de cameraman). As crianças deveriam se sentir à vontade para opinar. O monitor não pode representar uma autoridade ou muito menos o dono da verdade, já que a oficina deve ser uma busca do grupo, na que se inclui o monitor. Os desejos expressados devem ser materializados de maneira que as crianças vejam os resultados da oficina e se motivem a continuar participando. Existem atividades que requerem algum tipo de preparação para serem executadas 4 sendo que é importante dedicar o tempo adequado, além de possuir a capacidade e os recursos para que se realizem em toda sua extensão. 4 Na oficina uma atividade contemplava a criação de um mural; mas devido a não considerarmos ensinar mais profundamente técnicas como stencil ou dedicar mais tempo e preocupação sobre como seria o desenho do mural, a atividade não alcançou concretizar-se da maneira esperada. O resultado foi um mural no qual as crianças apenas puderam participar e que hoje está desaparecido.

Experiencias - Iniciativas populares 225 Recomendações A oficina debe ser orientada a: Ser o menos parecida possível com a escola. Apropriar-se do bairro por meio da observação direta e atividades no local. Realizar atividades que contemplem a diversidade do grupo (idade, personalidade) Materializar os desejos e necessidades acordados na oficina. Conclusão As oficinas de educação ambiental se perfilam como uma ferramenta útil para serem incorporadas nos processos de participação popular. Tal processo é muito mais que instâncias de governo nas quais se permite à população dar sua opinião a respeito do desenvolvimento urbano. A participação guarda relação também com fomentar o uso do espaço público e com o sentir-se cidadão. Neste sentido, a oficina de educação ambiental urbana estimula a ocupação e compreensão da cidade (neste caso o bairro), utilizando a cidade como recurso educativo, entendendo que os problemas da cidade podem ser resolvidos a partir da rua. A oficina permite às crianças pensar e entender seu entorno como algo próprio, avaliando em grupo de maneira crítica e consciente. Esta forma de entender o bairro pode ser utilizada na compreensão dos desejos e necessidades dos habitantes para o planejamento da cidade. No entanto, a realidade indica que não existe vontade política por parte das autoridades governamentais em criar verdadeiras instâncias de participação popular no planejamento. Enquanto isso, o que se deveria fazer é inserir a oficina dentro de algum tipo de organização popular, por exemplo, através da criação de uma assembléia de crianças, cuja opinião construída em conjunto através das brincadeiras, explorações e discussões, seja considerada e apoiada pela organização dentro da qual está inserida. Este tipo de iniciativas e outras que a precedem fazem refletir sobre o rol que cumprem os habitantes da cidade na construção da mesma. Por que não se permite às crianças participarem da construção de seu bairro? Os habitantes continuarão esperando que as autoridades resolvam as problemáticas relacionadas com seus espaços públicos? Se acaso se espera uma resposta, o mais provável é que a qualidade de vida da cidade já seja uma vaga lembrança. Talvez seja o momento em que as pessoas organizadas começam a se apropriar dos lugares, exercendo seu direito

226 Ciudades para tod@s à cidade para construir uma realidade urbana que represente verdadeiramente a identidade dos territórios, para fazer frente a planos e intervenções que escapam à lógica local do bairro. Referências Elgueta, Alejandra. Morales, Felipe. Ugarte, Akza. Los Niños en la creación de la Ciudad. Revista CECU Centro de Estudios Críticos Urbanos. Año 1. Nº 1. Santiago. Harvey, David. 1998. La condición de la Posmodernidad. Editorial Amorrortu. Lefebvre, Henry. 1972. La Revolución Urbana. Alianza Editorial. Madrid. Santos, Milton. 1986. Espacio y Método. Revista Geocrítica Año XII. Número: 65. Universidad de Barcelona. Santos, Milton. 1995. Metamorfosis del Espacio Habitado. OIKOS TAU. Barcelona. Tonucci, Francesco. 1996. La Ciudad de los Niños. Barcelona. Valdeverde, Jesús. 1995. La Ciudad como Recurso Educativo. Los Recursos Educativos en la Ciudad. Revista La Ciudad Didáctica del Medio Urbano. Barcelona.