MASTITE PUERPERAL: MEDIDAS FARMACOLÓGICAS E NÃO FARMACOLÓGICAS NO SEU MANEJO



Documentos relacionados
INGURGITAMENTO MAMÁRIO E HIPOGALACTIA. DROGAS GALACTAGOGAS.

MORBIDADE FEBRIL PUERPERAL. Professora Marília da Glória Martins

PROTOCOLO MÉDICO. Assunto: Infecção do sítio cirúrgico. Especialidade: Infectologia. Autor: Cláudio de Cerqueira Cotrim Neto e Equipe GIPEA

Uso de antibióticos no tratamento das feridas. Dra Tâmea Pôssa

CONSULTA PUPERPERAL DE ENFERMAGEM: REDUZINDO A INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS MAMÁRIOS

46º CONGRESSO BRASILEIRO DE GINECOLOGIA E OBSTETRICIA DO DISTRITO FEDERAL. Brasília 2013, Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília-DF

ALEITAMENTO MATERNO. I Introdução

Fissuras e problemas na amamentação

AMAMENTAÇÃO e ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR

PLANO DE AÇÃO Prevenção da Disseminação de Enterobactérias Resistentes a Carbapenens (ERC) no HIAE. Serviço de Controle de Infecção Hospitalar

Diretrizes Assistenciais

PROTOCOLO MÉDICO. Assunto: Infecção do Trato Urinário. Especialidade: Infectologia. Autor: Cláudio C Cotrim Neto-Médico Residente e Equipe Gipea

INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS EPIDEMIOLOGIA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

Diretrizes Assistenciais

Doenças que necessitam de Precaução Aérea. TB pulmonar ou laríngea bacilífera Varicela / Herpes Zoster Sarampo

INFECÇÃO POR Staphylococcus aureus

RECOMENDAÇÕES E CUIDADOS NO PRÉ-NATAL PARA PREVENIR TRANSTORNOS MAMÁRIOS NO PUERPÉRIO

ACOMPANHAMENTO DA PUÉRPERA HIV* Recomendações do Ministério da Saúde Transcrito por Marília da Glória Martins

PROFILAXIA CIRÚRGICA. Valquíria Alves

COMO AMAMENTAR SEU FILHO

A DESNUTRIÇÃO DO PACIENTE ONCOLÓGICO

Caso 14. 1ª Parte. Refletindo e Discutindo

Pneumonia e Derrame Pleural Protocolo Clínico de Pediatria

NORMAS DE INCENTIVO AO ALEITAMENTO MATERNO BANCO DE LEITE HUMANO

CONDUTA NAS INFECÇÕES DE SÍTIO CIRURGICO. Quadro 1. Fatores de Risco para Infecções do Sitio Cirúrgico.CIRÚR Cirurgias Ginecológicas

Diretrizes Assistenciais PREVENÇÃO DA DOENÇA ESTREPTOCÓCICA NEONATAL

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS DDA. Patrícia A.F. De Almeida Outubro

Influenza. João Pedro Marins Brum Brito da Costa (Instituto ABEL) Orientador: André Assis (UFRJ Medicina)

PROTOCOLO MÉDICO. Assunto: Osteomielite. Especialidade: Infectologia. Autor: Cláudio de Cerqueira Cotrim Neto e Equipe GIPEA

Amamentação: sobrevivência infantil e. qualidade de. vida. 2 Nutricionista Materno Infantil Rejane Radunz


DEPARTAMENTO MATERNO-INFANTIL

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

TERAPÊUTICA ANTIBIÓTICA EMPÍRICA DA FEBRE NEUTROPÉNICA

Bactérias Multirresistentes: Como eu controlo?

Nota Técnica: Prevenção da infecção neonatal pelo Streptococcus agalactiae (Estreptococo Grupo B ou GBS)

EXAMES MICROBIOLÓGICOS. Profa Dra Sandra Zeitoun

CÓLERA CID 10: A 00.9

TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA em ODONTOPEDIATRIA SANDRA ECHEVERRIA

Diagnóstico do câncer de mama Resumo de diretriz NHG M07 (segunda revisão, novembro 2008)

Precauções Padrão. Precaução Padrão

XXXIII Congresso Médico da Paraíba. Dr. Marcus Sodré

VACINE-SE A PARTIR DE 1 DE OUTUBRO CONSULTE O SEU MÉDICO

Gastroenterocolite Aguda

MANUAL MASTITE BOVINA INFORMATIVO BPA REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

O sistema esquelético ou sistema ósseo é formado por vários ossos, cujo estudo é chamado de osteologia.

Reabilitação Pós câncer de mama Assistência às mulheres mastectomizadas

A IMPORTÂNCIA DA ODONTOLOGIA NO ALEITAMENTO MATERNO

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO

UNILAB no Outubro Rosa Essa luta também é nossa. CUIDAR DA SAÚDE É UM GESTO DE AMOR À VIDA. cosbem COORDENAÇÃO DE SAÚDE E BEM-ESTAR

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO DIRETORIA DE ENFERMAGEM SERVIÇO DE EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM

21/6/2011.

Faringoamigdalites na Criança. Thaís Fontes de Magalhães Monitoria de Pediatria 17/03/2014

P N E U M O N I A UNESC ENFERMAGEM ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO ADULTO PROFª: FLÁVIA NUNES 10/09/2015 CONCEITO


Doente do sexo feminino, obesa, com 60 anos apresenta insuficiência venosa crónica, febre, sinais inflamatórios numa perna e não é diabética.

PARECER COREN-SP 021/2013 CT. PRCI n Ticket nº

Apesar de ser um tumor maligno, é uma doença curável se descoberta a tempo, o que nem sempre é possível, pois o medo do diagnóstico é muito grande,

PRECAUÇÕES E ISOLAMENTOS. (Falhas na adesão ás práticas de prevenção)

Fique atento ao abuso de antibióticos na pediatria

Drenagem do abscesso mamário. Incisão ou punção?

Indicadores de Segurança do Paciente Prevenção e Controle de Infecção

Antibioticoterapia NA UTI. Sammylle Gomes de Castro PERC

Auxiliar de Enfermagem

Centro de Referência em Aleitamento Materno Banco de Leite Humano SESAB 2 a DIRES- HGCA

O leite materno é o melhor alimento para o bebé. É importante para o seu desenvolvimento psíquico e físico.

Estado de São Paulo. Histórias de sucesso no controle de infecção hospitalar: experiência de hospitais públicos, universitários e privados

PNEUMONIAS COMUNITÁRIAS

URO-VAXOM. Lisado bacteriano de Escherichia coli APSEN

CAPÍTULO 7 : CUIDADOS COM O RECÉM-NASCIDO COM INFECÇÃO

Passos para a prática de MBE Elaboração de uma pergunta clínica Passos para a prática de MBE

Clostridium difficile: quando valorizar?

Circulação sanguínea Intrapulmonar. V. Pulmonar leva sangue oxigenado do pulmão para o coração.

Febre Reumática Sociedade Brasileira de Reumatologia

Perfil das infecções do trato urinário nos Campos Gerais: Uma revisão da literatura.

Entenda o que é o câncer de mama e os métodos de prevenção. Fonte: Instituto Nacional de Câncer (Inca)

Infecção Urinária e Gestação

Protocolos Não Gerenciados

ANTIBIOTICOTERAPIA EM OBSTETRÍCIA

PLANO ESTRATÉGICO PARA ENFRENTAMENTO DA DENGUE NO CEARÁ 2011

Otite externa Resumo de diretriz NHG M49 (primeira revisão, dezembro 2005)

Amamentação. Factos e Mitos. Juntos pela sua saúde! Elaborado em Julho de USF Terras de Santa Maria

1.5.2 Avaliar a Amamentação

Secretaria Municipal de Saúde. Atualização - Dengue. Situação epidemiológica e manejo clínico

NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE RESUMOS PARA A VI JORNADA CIENTÍFICA DO HOSPITAL DE DOENÇAS TROPICAIS HDT/HAA

PROF.DR.JOÃO ROBERTO ANTONIO

A pneumonia é uma doença inflamatória do pulmão que afecta os alvéolos pulmonares (sacos de ar) que são preenchidos por líquido resultante da

Boletim Epidemiológico Julho/2015

ANTIBIÓTICOS EM SITUAÇÕES ESPECIAIS INFECÇÕES NO RN

Indicadores de Segurança do Paciente Prevenção e Controle de Infecção

Hemoglobinopatias. Dra. Débora Silva Carmo

Frio ou gripe? Nao, aos antibióticos!

Úlcera venosa da perna Resumo de diretriz NHG M16 (agosto 2010)

Anatomia da mama Função biológica

Transcrição:

MASTITE PUERPERAL: MEDIDAS FARMACOLÓGICAS E NÃO FARMACOLÓGICAS NO SEU MANEJO Fernanda Cristina Afonso Salum Mastologista

INTRODUÇÃO A mastite é um processo inflamatório da mama, que pode ser acompanhado ou não de infecção. Incidência : 2,6 a 33% Brasil: 2 a 6 % World Health Organization. Mastitis causes and management. 2000. Manual de orientação - Febrasgo

INTRODUÇÃO: Não há critérios diagnósticos bem definidos (diferenciar processos infecciosos dos não infecciosos); Incidência muito alta quando se leva em consideração a prescrição de antibióticos overprescribed ; Existem poucos estudos prospectivos e muitas limitações metodológicas;

EPIDEMIOLOGIA: Epidêmica: excepcional. - Secundária a surtos de infecção hospitalar. - Geralmente concomitante a piodermites de RN - Bactéria hospitalar Endêmica: Incidência inalterada como passar dos anos. (2ª a 5ªsemana de lactação, pode ter um segundo pico de incidência no período do desmame.) - Secundária a problemas da amamentação - Bactérias provenientes da flora mãe/ RN

FISIOPATOGENIA Bebê com boca bem aberta, língua para baixo e para frente. O mamilo está centrado(ros Escott,1989). Pega Ideal- bebê puxa o mamilo e tecido mamário gaté o pálato mole.a língua sobre a gengiva inferior, lábios curvados para fora e queixo contra a mama.mandíbulas bem posicionadas sobre seios lactíferos e comprimindoos efetivamente.

FISIOPATOGENIA Pega ruim - o bebê abocanhou pouco tecido mamário, praticamente o mamilo. Lábios apertados e não largamente abertos contra o peito, a língua atrás da gengiva inferior. A compressão da mandíbula drena pouco leite, língua não trabalha efetivamente.

FISIOPATOGENIA: Má pega - ferida mamilar dor; Esvaziamento inadequado da mama; Estase látea - INGURGITAMENTO Abertura das junções intra-celulares das células epitelias ductais com extravasamento de leite para o tecido conectivo reação inflamatória asséptica MASTITE ASSÉPTICA Colonização bacteriana secundária MASTITE SÉPTICA ABSCESSO. Hindawi Publishing CorporationVolume 2008, Article ID 298760, 7 pages doi:10.1155/2008/298760

AGENTE ETIOLÓGICO: Proveniente da flora nasal e cutânea da mãe ou da flora oral do lactente. Staphilococus aureus o principal agente etiológico, presente em mais de 60% dos casos Staphilococus epidermides, Estreptococos, Enterobacter, Klebsiella sp, E. coli, Manual de orientação da FEBASGO

AGENTE ETIOLÓGICO: Staphylococcus aureus - MRSA / CA-MRSA - MSSA www.cdc.gov/eid Vol. 13, No. 2, February 2007

www.cdc.gov/eid Vol. 13, No. 2, February 2007

FATORES DE RISCO:

FATORES DE RISCO: Am J Epidemiol Vol. 155, No. 2, 2002

QUADRO CLÍNICO História clínica: intensa dor e vermelhidão da mama, febre, calafrios, mal estar, prostração. Exame físico: temperatura corporal acima de 38,5ºC. Mama hiperemiada, endurecida e quente.

Mastite Asséptica Engurgitamento Mamário Mastite Asséptica Mastite séptica Mastite séptica Abcesso Abcesso Como diferenciar a mastite infecciosa da não infecciosa?

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Protocolos Assistenciais - FMUSP

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Ingurgitamento Mastite não infecciosa Mastite infecciosa Abscesso 12 a 24 horas 24 72 horas > 72 horas

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:

MÉTODOS COMPLEMENTARES: US SIM NÃO

TRATAMENTO: Am Fam Physician. 2008;78(6):727-731, 732.

TRATAMENTO - SUPORTE - Esvaziamento da mama: Checar elasticidade da região areolar e a pega; Manter a amamentação; Sustentação da mama bom sutiã; Estimular a manutenção do aleitamento Ordenha manual (produção > consumo); - Analgésicos e Anti-inflamatórios

TRATAMENTO - DIVERGÊNCIAS Ambulatorial Internação Compressas? Antibiótico terapia (indícios de que algumas / várias mastites possam ser tratadas sem antibiótico terapia) - Quando indicar? - Esquema, vias de administração?

COMPLICAÇÕES RELATIVAS A AMAMENTAÇÃO - DIFERENTES ABORDAGENS NOS DIFERENTES SERVIÇOS MOV-BH HOSPTAIS - DF Porta de entrada Banco de leite Emergência Suporte pega, /ordenha Ambulatório de Mastite ++++/++++ +/++++ diário - Antibiótico terapia +/++++ (oral) ++++/++++ (venosa) Tolerância a coleções purulentas Regime de tratamento dos abscessos - Antibiótico terapia vários dias aguardando flutuar ambulatorial hospitalar

TRATAMENTO - COMPRESSAS

TRATAMENTO COMPRESSAS

TRATAMENTO - ANTIBIÓTICO TERAPIA

TRATAMENTO ANTIBIÓTICO TERAPIA

TRATAMENTO ANTIBIÓTICO TERAPIA

TRATAMENTO Suporte: avaliação da pega, ordenha, massagens, antiinflamatórios. Antibióticoterapia

TRATAMENTO- ANTIBIOTICOTERAPIA Quando indicar? Após 24 horas de ordenha e anti-inflamatórios. Esquema: - Cefalexina : 500mg EV 6/6horas - Amoxacilina com clavulanato : 875mg de 12/12 horas. - MRSA Sulfametoxazol + trimetropim ou Clindamicina. Pacientes alérgicas a penicilina: -Clindamicina Duração do tratamento: 10 dias. OBS: Ciprofloxacina não deve ser usado isoladamente para tratamento de S. aureus.induz a resistência bacteriana.

ABSCESSO MAMÁRIO PUERPERAL - PROPOSTA DE UM TRABALHO AMBULATORIAL Antônio Fernandes Lages - 11/03/94 Antônio Carlos Vieira Cabral Cézar Alencar Lima Rezende Soraya Zhouri Costa e Silva Regina Amélia L.P. de Aguiar

HOSPITALIZAÇÃO Cultura - Considerar nos casos severos com eritema progressivo; Antibióticoterapia empírica com Vancomicina (30 mg /kgdia/ev/duas tomadas); Se cultua positiva para gran-negativos considerar cefalosporinas de 3ª geração ou agentes beta -lactâmicos. OBSTETRICS & GYNECOLOGY 533 VOL. 112, NO. 3, SEPTEMBER 2008

CONCLUSÕES: Mastites geralmente são causadas por problemas relacionados a amamentação; Amamentação deve ser mantida durante o tratamento e se não for possível deve-se proceder a ordenha manual; Utilizar analgésicos e ou anti-inflamatórios; Geralmente é causada por Staphylococcus aureus observando-se aumento CA-MRSA; Inicialmente deve ser tratada com esvaziamento das mamas, anti-inflamatórios e analgésicos.

CONCLUSÕES: Antibiótico terapia para Staphilococcus deve ser considerada se não houver regressão dos sintomas após 24 horas de intensificação das medidas de suporte. Suspeitar de coleções (abscesso) se houver áreas nodulares, espessadas na mama após 72 horas de tratamento conduta ativa. Evitar a hospitalização.

46º CONGRESSO DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA DO DISTRITO FEDERAL Mastite Puerperal: Algoritmo de conduta Tratamento Ambulatorial Tempo de evolução Até 24 horas 24 a 72 horas Mais que 72 horas Diagnóstico Ingurgitamento Mastite asséptica Mastite séptica Abscesso? Conduta Suporte + Antiinflamatórios Suporte + Antiinflamatórios + antibiótico terapia Suporte+ Antiinflamatórios + antibiótico terapia + coleções purulentas??? Fernanda Cristina Afonso Salum

Obrigada!