EVASÃO ESCOLAR NA BAIXADA SANTISTA: BREVE ANÁLISE JURÍDICA E SOCIAL DAS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

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Transcrição:

EVASÃO ESCOLAR NA BAIXADA SANTISTA: BREVE ANÁLISE JURÍDICA E SOCIAL DAS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS Carolina Cristina Ferreira Peixoto Graduanda do Curso de Direito Universidade de Ribeirão Preto UNAERP, Campus Guarujá carolina.fpeixoto@gmail.com Isabella Araújo Fonseca Silva Graduanda Curso de Direito Universidade de Ribeirão Preto UNAERP, Campus Guarujá isa.araujofonseca@gmail.com Mery Ellen Palmeira Lima Freitas Graduanda Curso de Direito Universidade de Ribeirão Preto UNAERP, Campus Guarujá pmeryellen@gmail.com Mardônio da Silva Girão Professor do Curso de Direito Universidade de Ribeirão Preto UNAERP, Campus Guarujá mgirao@unaerp.br Resumo: o presente estudo aborda aspectos gerais acerca da evasão escolar na Baixada Santista, cujo objetivo central do texto é mostrar a problemática existente nos municípios da região. Nesse sentido, ainda que de uma forma propedêutica, visa contribuir para o entendimento das causas, suas particularidades, e assim identificar possíveis ações para a diminuição dos índices, observados os dados apresentados e estudados. Destacam-se vários fatores que contribuem para evasão escolar, seja ela no ensino fundamental ou no ensino médio. Identifica-se a existência de problemas, com destaque às políticas públicas, considerando o dever do Estado em assegurar acesso das crianças e dos adolescentes a uma educação plena, bem como à escola competente segundo as Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabelecidas. Palavras-chaves: Evasão Escolar. Baixada Santista. Criminalidade Infantil. ECA. Área de conhecimento: Humanas. 1. Introdução. Este artigo aborda uma das principais questões presentes na educação brasileira, apontado como problema crônico em todo o Brasil: a evasão escolar. 1

Assim como ocorre em todo o território brasileiro, está presente, também, nos municípios da Baixada Santista, igualmente acompanhada de causas e consequências, com destaque à relevância dos fatores psicológicos e ao índice elevado de evasão tanto no ensino fundamental como no ensino médio. Importa destacar inicialmente que o presente artigo não esgota o assunto e suas questões principais, prestando-se a uma abordagem inicial do tema central e que tem despertado interesse dos autores, permitindo-lhes escrever esse ensaio sobre a evasão escolar na Baixada Santista, delineando uma breve análise jurídica e social das suas causas e consequências. Observando os dados, torna-se quase inacreditável, em especial diante da modernização pela qual vem passando o Brasil, que não se tenha a universalização da educação fundamental de forma competente prestada pelo Estado brasileiro. Considerando as teorias que procuram explicar a reprovação e a ausência dentro das unidades de ensino, o presente texto trás uma questão que ajudará na abordagem do tema: a progressão continuada ou pedagogia da repetência seria um fato da ineficiência do sistema ou são problemas socioeconômicos de um país subdesenvolvido? Tal indagação relaciona-se a outra: como compreender o atual grau de analfabetismo da população brasileira? No entorno da discussão do tema da evasão escolar, há, também, questões relacionadas à aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), cuja relação ajudará entender a má eficiência da ressocialização na Casa de Detenção do Menor Infrator (Fundação Casa - antiga FEBEM) e os fatores que motivam o abandono dentro das instituições de ensino. Observa-se que pessoas, intelectualmente ignorantes, votam sem consciência, bem como aceitam salários fora do piso proposto ao ano vigente por necessidade de sobrevivência, e, também, por não entenderem seus direitos trabalhistas, considera-se que a falta de oportunidade é a válvula que gira a ignorância do saber. Porém, o desinteresse, também, gera comodidade na maioria dos jovens, não deixando de fora razões psicológicas que são fatores motivadores para o abandono dos estudos. Esse texto resulta de uma pesquisa qualitativa, que objetiva, também, informar e gerar opinião para conscientizar a questão temática que não é particular e sim ampla e de cunho social e acadêmico. Teve como metodologia de pesquisa a bibliográfica, com consulta em artigos científicos já publicados sobre o tema, fontes de dados oficiais, tais como: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O texto está estruturado em quatro tópicos: 1) O que é evasão escolar; 2) As causas da evasão escolar na sociedade; 3) O índice da evasão escolar na Baixada Santista; 4) A psicologia como ferramenta para entender o desinteresse de crianças e adolescentes dentro do núcleo escolar; 5) o enfrentamento das crianças e adolescentes que ingressam na vida do crime por falta de instrução - Fundação Casa; 6) As novas propostas de alteração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 2

2. Desenvolvimento. 2.1 O que é evasão escolar? Conceituar evasão escolar exige, inicialmente, relacionar esta com o chamado abandono escolar. Diferentemente do abandono escolar, que se caracteriza pelo aluno que deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano letivo, a evasão escolar é um fenômeno que acentua ou até mesmo consolida a condição de exclusão do sistema de ensino, uma vez que é possível constatar que o abandono escolar traz indícios do que pode se tornar uma futura evasão. Importante ressaltar que isto ocorre não em razão da falta de previsão legal para sua existência, na medida em que tanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), quanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), como decorrência do enunciado dos arts. 206, inciso I e 208, 3º, da Constituição Federal, contêm disposições expressas no sentido de sua obrigatória criação. Situação curiosa resultou do advento da Lei nº 10.287, de 20 de setembro de 2001, que acrescentou ao art.12 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, onde se encontram relacionadas diversas obrigações aos estabelecimentos de ensino, o seguinte dispositivo (DIGIÁCOMO, 2012): VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei. 2.2 As causas da evasão escolar na sociedade. Percorrendo o caminho dos dispositivos legais, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê, em seu artigo 4º, das disposições preliminares, que: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Segundo a pedagoga Thais Pacievitch (2010), atividades tais como ajudar os pais em casa ou no trabalho, necessidade de trabalhar, falta de interesse e proibição dos pais de ir à escola são motivos mais frequentes alegados pelos pais a partir dos anos finais do ensino fundamental (5ª a 8ª séries) e pelos próprios alunos no Ensino Médio. Cabe lembrar que, segundo a legislação brasileira, o ensino fundamental é obrigatório para as crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, sendo responsabilidade das famílias e do Estado garantir a eles uma educação integral. 3

Estudo realizado pela UNICEF aponta como motivos encontrar cada uma das crianças e dos adolescentes que faltam, retirá-los de um contexto de exclusão e trazê-los para a escola só é possível por meio de uma ação intersetorial, envolvendo diferentes áreas Educação, Saúde e Assistência Social, entre outras. Diversos fatores podem fazer com que um aluno deixe de estudar, a necessidade de trabalhar, falta de interesse pela escola, dificuldades de aprendizado, doenças crônicas, problemas com transporte escolar, falta de incentivo dos pais são alguns deles. Esse problema social que, infelizmente, é comum no Brasil, afeta principalmente os alunos do Ensino Médio. Em estudo realizado pelo MEC, o maior contingente de brasileiros que não frequentam a escola, aproximadamente 1,6 milhão de pessoas, está na faixa etária dos 15 aos 17 anos. O segundo maior grupo que ainda não tem assegurado o acesso à educação está na faixa dos quatro a cinco anos. São 821 mil crianças fora da pré-escola. 2.3 o índice de evasão escolar na Baixada Santista. Criada em 1996, a Região Metropolitana da Baixada Santista é integrada por nove municípios: Guarujá, Santos, São Vicente, Praia Grande, Cubatão, Bertioga, Mongaguá, Peruíbe e Itanhaém. A região foi responsável por, aproximadamente, 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB) paulista em 2015 e concentra 4% da população estadual, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017. A Baixada Santista tem uma intensa atividade turística, os portos, as indústrias e o desenvolvimento urbano; insere-se no Bioma Mata Atlântica e compreende estuários, enseadas, brejos, dunas, praias, costões rochosos e formas insulares, bem como áreas de restinga ainda preservadas, além de concentrar as maiores áreas de manguezal do litoral paulista, localizadas no Complexo Estuarino de Santos e São Vicente. Na Baixada Santista, a taxa de abandono escolar na rede pública (municipal e estadual) é de 1,63%. Isso representa pouco mais de 4 mil estudantes longe dos bancos escolares em 2016, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), compilados pela organização QEdu. A seguir, dados estatísticos com resultados de reprovação, aprovações e abandono escolar, no ano de 2016, nos municípios que integram a Região Metropolitana da Baixada Santista: 4

TABELA 1 Guarujá Anos Iniciais 2,4% 575 reprovações 0,3% 77 abandonos 97,3% 23.196 aprovações Anos Finais 7,6% 1.302 1,7% 294 abandonos 90,7% 15.611 aprovações Ensino Médio 11,5% 1.646 reprovações 4,3% 621 abandonos 84,2% 12.086 aprovações Fonte: QEdu.org.br. Dados do Ideb/Inep (2016). População total de 315.563 habitantes. GUARUJÁ: Cidade que possui 60 escolas municipais, e 38 escolas estaduais, PIB de 26.337,72. (IBGE, 2015) TABELA 2 Santos Anos Iniciais 1,8% 459 reprovações 0,4% 99 abandonos 97,8% 25.245 aprovações Anos Finais 5,2% 1.061 reprovações 0,8% 172 abandonos 94,0% 19.324 aprovações Ensino Médio 9,8% 1.459 reprovações 1,8% 276 abandonos 88,4% 13.174 aprovações Fonte: QEdu.org.br. Dados do Ideb/Inep (2016). População total de 434.742 habitantes. SANTOS: Cidade que possui 102 escolas municipais e 37 escolas estaduais, PIB de 40.007,26. (IBGE, 2015) TABELA 3 - São Vicente Anos Iniciais 7,4% 1.897 reprovações 0,3% 77 abandonos 92,3% 23.531 aprovações Anos Finais 8,2% 1.586 reprovações 1,2% 225 abandonos 90,6% 17.531 aprovações Ensino Médio 12,8% 1.439 reprovações 3,2% 362 abandonos 84,0% 9.443 aprovações Fonte: QEdu.org.br. Dados do Ideb/Inep (2016). População total de 360.380 habitantes. SÃO VICENTE: Cidade que possui 165 escolas municipais e 28 escolas estaduais, PIB de 14.119,82 (IBGE, 2015) 5

TABELA 4 - Praia Grande Anos Iniciais 5,9% 1.399 reprovações 0,7% 161 abandonos 93,4% 22.247 aprovações Anos Finais 6,2% 1.143 reprovações 1,7% 307 abandonos 92,2% 17.120 aprovações Ensino Médio 11,4% 1.320reprovações 2,4% 273 abandonos 86,2% 9.971 aprovações Fonte: QEdu.org.br. Dados do Ideb/Inep (2016). População total de 310.024 habitantes. PRAIA GRANDE: Cidade que possui 80 escolas municipais e 31 escolas estaduais, PIB de 21.300,82. (IBGE, 2015) TABELA 5 Cubatão Anos Iniciais 3,8% 341 reprovações 1,1% 83 abandonos 96,0% 8.699 aprovações Anos Finais 7,7% 557 reprovações 1,1% 83 abandonos 91,1% 6.571 aprovações Ensino Médio 16,0% 765 reprovações 3,9% 188 abandonos 80,1% 3.839 aprovações Fonte: QEdu.org.br. Dados do Ideb/Inep (2016). População total de 128.748 habitantes. CUBATÃO: Cidades que possui 56 escolas municipais e 14 escolas estaduais, PIB de 123.45,81. (IBGE, 2015) TABELA 6 Bertioga Anos Iniciais 2,2% 118 reprovações 0,4% 23 abandonos 97,3% 5.115 aprovações Anos Finais 9,1% 350 reprovações 1,3% 52 abandonos 89,6% 3.456 aprovações Ensino Médio 11,4% 332 reprovações 2,6% 78 abandonos 86,0% 2.509 aprovações Fonte: QEdu.org.br. Dados do Ideb/Inep (2016). População total de 59.297 habitantes. BERTIOGA: Cidade que possui 28 escolas municipais e 10 escolas estaduais, PIB de 26.790,37. (IBGE, 2015) 6

TABELA 7 Mongaguá Anos Iniciais 4,2% 210 reprovações 0,0% 1 abandono 95,8% 4.836 aprovações Anos Finais 7,8% 278 reprovações 0,9% 33 abandonos 91,3% 3.255 aprovações Ensino Médio 13,7% 387 reprovações 2,2% 63 abandonos 84,1% 2.370 aprovações Fonte: QEdu.org.br. Dados do Ideb/Inep (2016). População total de 54.257 habitantes. MONGAGUÁ: Cidade que possui 45 escolas municipais e 14 escolas estaduais, PIB de 19.699,03. (IBGE, 2015) TABELA 8 Peruíbe Anos Iniciais 4,1% 234 reprovações 0,1% 7 abandonos 95,8% 5.437 aprovações Anos Finais 4,5% 214 reprovações 1,5% 70 abandonos 94,0% 4.463 aprovações Ensino Médio 10,8% 341 reprovações 3,8% 122 abandonos 85,4% 2.701 aprovações Fonte: QEdu.org.br. Dados do Ideb/Inep (2016). População total de 66.572 habitantes. PERUÍBE: Cidade que possui 38 escolas municipais e 16 escolas estaduais, PIB de 19.699,03. (IBGE, 2015) TABELA 9 Itanhaém Anos Iniciais 3,9% 331 reprovações Anos Finais 6,1% 404 reprovações Ensino Médio 10,1% 459 reprovações Fonte: QEdu.org.br. Dados do Ideb/Inep (2016). População total de 98.629 habitantes. 0,1% 12 abandonos 0,6% 38 abandonos 4,8% 217 abandonos 95,9% 8.069 aprovações 93,3% 6.172 aprovações 85,1% 3.865 aprovações ITANHAÉM: Cidade que possui 45 escolas municipais e 26 escolas estaduais, PIB de 26.790,37. (IBGE, 2015) 7

2.4 A psicologia como ferramenta para entender o desinteresse de crianças e adolescentes dentro do núcleo escolar. Como uma questão de cunho social, também entende-se que um dos motivos da criança e adolescente estar fora da escola, vincula-se às razões psicológicas, uma delas identificada como um tipo de perseguição por exemplo é o bullying. A criança que sofre esse tipo de agressão psicológica e às vezes até mesmo físicas, desmotiva-se a continuar a frequentar a instituição de ensino por não se sentir protegida, uma característica é não reportar a autoridade na sala, o professor, e em casa aos pais por medo de retaliação da parte do seu agressor. Já o adolescente se sente incapaz, e resolve não denunciar por vergonha, não querem se sentir infantilizados pelo fato de reportarem aos adultos, essa vergonha volta-se na maioria das vezes com violência. No ano de 2013 em Santa Luzia, MG, o adolescente de 19 anos Alexandre Esteves dos Santos, que estudava na Escola Estadual Ephigênia de Jesus Werneck, após sofrer bullying atirou em dois colegas pelas costas (G1, 2013). Em Goiás no ano de 2017, um adolescente de 14 anos, abriu fogo em Goyazes uma escola particular em Goiânia, agiu motivado pelo bullying e provocações. O atentado resultou na morte de dois meninos de 13 anos e outros quatro estudantes baleados hospitalizados, o atirador teria tentado se matar após ter feito as vítimas, mas foi impedido por uma funcionária da escola (UOL, 2017). Na avaliação de Neide Noffs, psicopedagoga e diretora da Faculdade de Educação da PUC-SP (2017), a reação do garoto de 14 anos foi extrema e não pode justificar o crime. "Há uma fantasia de que o seu problema será resolvido eliminando as pessoas. Esses são apenas um dos vários casos registrados pelas autoridades competentes, existem registro de alunos que são vítimas de bullying e se voltam aos seus agressores com extrema violência, porém não são violentas em outro contexto, mas por essa falsa necessidade de se vingar, recorrem a essa prática. Segundo Antunes & Zuin: O tema chegou ao Brasil no fim dos anos 90 e início de 2000, e as pesquisas realizadas englobam apenas a realidade dos locais onde eram realizadas. Mas, na década de 80, já se realizavam estudos sobre a depredação de prédios escolares e aos poucos os estudos atingiram as relações interpessoais agressivas (Antunes & Zuin, 2008) Outros fatores que contribuem para alto índice de evasão escolar, são as dificuldades que alguns alunos apresentam no processo de aprendizagem, um bloqueio na sua forma cognitiva de evolução, são considerados os atrasados, os que não evoluem com a classe. Antigamente há quase 50 anos atrás a premissa era de que o fracasso escolar era atribuído por um fator estável, falta de inteligência ou preguiça, atualmente sem o apoio da família a escola não pode fazer muita coisa, e acaba sendo obrigada a aprovar o aluno no término do ano letivo, mesmo o 8

docente sabendo a real situação do aluno, é obrigado a inseri-lo no quadro daqueles que somente são aprovados pela progressão continuada. Entende-se com isso que o aluno quando não desiste, acaba concluindo o ensino fundamental de maneira fraca, aqueles que não desistem, chegam ao ensino médio mal sabendo formular uma produção de texto, não sabendo regras básicas da matemática como somas de adição, subtração, divisão e multiplicação, ficando cada vez mais difícil recuperar a atenção deste aluno em sala de aula, tão somente porque ele não entende aquilo que está sendo passado. A psicologia chama de percepção social o processo de interpretar informações de outra pessoa (percepção com visão pessoal), é basicamente o que professor faz sem perceber, tentando identificar de uma maneira mais abrangente o problema e tentar juntamente com a escola e a família ajudar esse aluno. Quando não se tem acesso a família e não se estabelece relação de confiança entre aluno e professor e pelas vias de fato esse aluno (a) acaba abandonando a escola, no caso do menor de idade, é encaminhado ao conselho tutelar do município ou da região dependendo do Estado, para avaliar os motivos e identificar a melhor maneira de estabelecer o regresso deste aluno (a) para ensino regular. Del Prette & Del Prette afirma que: Apesar de a atuação do psicólogo escolar/educacional ter se iniciado com um cunho clínico, na identificação de alunos com distúrbios de aprendizagem, problemas de conduta e de personalidade, atualmente a atuação desse profissional vem tomando novas direções e está cada vez mais comprometida com o aspecto social (Del Prette & Del Prette, 1996). Para Carvalho e Teixeira: Carvalho (1988), a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos publicou, em 1954, um número com uma pesquisa sobre a evasão escolar de alunos no ensino primário no Brasil. Anísio Teixeira, em nota prévia ao artigo, comenta que em todo o país, de cada 10.000 alunos que ingressaram na 1ª série primária em 1945, apenas 1500 terminavam a 4ª série, ou seja, 15%. Afirma que este estudo mostrou os malefícios econômicos e didáticos do regime de graduação rígida e inadequada da escola primária. Propõe uma escola universal, que se adapte aos alunos e não que os obrigue a se adaptarem aos seus padrões rígidos e uniformes. Sugere o regime de promoção automática e que a promoção do aluno obedeça à classificação por série cronológica de seus estudos e o nível que tiver atingido. Para Anísio Teixeira, só com a promoção automática o professor terá seu trabalho avaliado com mais facilidade pois avaliará sua classe ao final do ciclo, sendo também possível comparar o trabalho de uma escola com outra (Teixeira, 1954). 9

Portanto, soluções já estão sendo encontradas para que o quadro mude. O Ministério da Educação e Cultura (MEC) está desenvolvendo um programa para acelerar a trajetória escolar de estudantes que têm entre 15 e 17 anos de idade e ainda estão no ensino fundamental e fazer com que ingressem rapidamente no ensino médio. Batizado de Programa Nacional de Adequação de Idade/Ano Escolar, o plano será voltado aos cerca de 2,6 milhões de jovens que ainda não conseguiram passar do 9º ano, com isso visa diminuir a evasão no ensino fundamental. Programas como Bolsa Família também são aliadas para tentar erradicar a evasão escolar, porém nota-se que não é o suficiente para solucionar a questão. Já no ensino médio, a questão é tratada com mais dificuldades, tendo em vista que os motivos variam muito, por exemplo, a saída dos alunos(as) da escola se dá ao fato de que precisa trabalhar para ajudar a família, porque vai ser pai ou mãe, por que ingressou na vida do crime ou até mesmo está preso (a). Existe um leque de motivos e a cada ano que passa, com a questão social atual do país, a situação só se agrava. 2.5 Enfrentamento das crianças e adolescentes que ingressam na vida do crime por falta de instrução, fundação casa. Em entrevista ao site Conjur, um independente veículo de informação sobre direito e justiça, realizada em 10 de setembro do ano de 2017, através do jornalista Felipe Luchete, Márcio Fernando Elias Rosa, novo presidente da Fundação Casa (antiga FEBEM) esclarece que a Fundação Casa alterou de vez os alicerces que sustentavam a antiga FEBEM, que usava um modelo baseado no aprisionamento do menor infrator e hoje, depois do seu ingresso a instituição, prega que a energia empregada deve ser no sentido da pedagogia, mesmo sabendo que a área de segurança é de suma importância. Márcio Elias Rosa é também secretário estadual de justiça e defesa da Cidadania de São Paulo. Houve grande avanço na redução de grandes rebeliões nos últimos anos e o novo objetivo é enxergar o problema sobre o ponto de vista sócio-educativo em meios abertos, como por exemplo a advertência, prestação de serviço à comunidade e a liberdade assistida quando as infrações forem menos graves. Márcio Elias Rosa avalia que o problema central é não existir um controle sobre a atividade que deveria ser coordenada pelo município. Desde que assumiu a Fundação Casa vem sugerindo ações no sentido de que as prefeituras possam assumir ações de sistematizar dados adotando medidas eficientes de acompanhamento de cada caso quando o adolescente deixa a unidade. O coordenador da Comissão da Criança e do Adolescente do Condepe (conselho de direitos humanos), Ariel de Castro Alves disse ao Jornal Destak em 18 de julho de 2017 que concorda com a medida. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) prevê que as prefeituras, com o apoio do Estado, devem criar unidades de atendimento inicial para adolescentes apreendidos. 10

Márcio Rosa afirma que ainda hoje não há dados estatísticos confiáveis e quando existe, algum deles estão fragmentados entre as instituições. Receiase que a sociedade enxergue as medidas alternativas como impunidade. Márcio ainda diz que É preciso deixar claro para todo mundo que a violação da lei penal deve encontrar uma resposta adequada do ESTADO para cada situação. Uma sociedade que muda e tem seus anseios precisa ser ouvida, mas sem discursos de ocasião, precisa discutir medidas. Sobre dados da Fundação Casa em 1 de setembro de 2017, haviam 9,2 mil jovens internos na instituição, 43% (3,9 mil) respondiam por tráfico de drogas e 40% (3,7 mil) por roubo qualificado. Homicídio qualificado levou 98 adolescentes para a internação na instituição enquanto latrocínio 76. Isso significa que apenas a minoria dos internos é muito violenta e capaz de matar. Na instituição o jovem frequenta o curso de educação regular formal, com professores da rede estadual e aulas de acordo com o ano letivo de cada um e recebem tratamento médico e até psicológico. Quando o jovem interno sai da instituição esse trabalho precisa ser continuado, para isso o município poderia usar, aproveitar a rede que já existe, como por exemplo o CRAS (Centro de Referência em Assistência Social) e não haveria nem a necessidade de custos extras, apenas vontade de ajudar, defende Márcio Rosa. Hoje, pelo ECA, um menor só permanece internado caso cometa um ato de violência ou grave ameaça às pessoas. Somente nessas circunstâncias poderá ser internado e no prazo de até 3 anos, do contrário cabe ao poder judiciário indicar alternativas à internação. 1990: Lê-se no Estatuto da Criança e do Adolescente Lei 8.609 de 13 julho de Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos. 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. Quando uma pena alternativa a internação é oferecida pelo Estado está deve ser cumprida para que a impunidade não encontre lugar ao corpo social e para que ao adolescente não fique a ideia de que o crime compensa. Márcio Rosa indica que a falta de uma instituição que coordene as atividades além da internação é muito prejudicial e propõe que o Ministério Público, a Secretaria de Direitos Humanos ou mesmo o Governo do Estado estariam aptos a esse papel. Há, também, a necessidade de dados estatísticos de diversos órgãos com relação às infrações cometidas pelos menores, antes da internação para que o acompanhamento possa ser assertivo, um banco de dados para concluir análises estatísticas. E sem esses dados é muito difícil intervir e identificar anormalidades. Nos últimos doze anos, 1.002 funcionários foram desligados da 11

instituição, nem todos por mal comportamento, violência, abuso ou maus tratos, mas com parcela considerável nesse sentido. A sociedade precisa se questionar. Quando um jovem entra na Fundação Casa é porque praticou um crime, mas por que ele cometeu esse crime em idade de 14, 15 ou 16 anos? A falta de vínculo com a sociedade o leva a criar vínculo com a criminalidade. Muitos são os fatores que permeiam a falta de vínculo social, como a falta de acesso à educação, falta de vínculo familiar, falta de emprego, renda e oportunidade. Nesse momento o jovem infrator precisa descobrir novos valores na medida socioeducativas para voltar a sociedade com uma nova visão de mundo. Por isso Márcio Rosa defende que junto com o ESTADO, instituições diversas oriundas da sociedade devem e podem ajudar, seja no campo religioso, cultural, artístico de fora do domínio dos internos e suas realidades trazendo novas perspectivas, melhores que o crime, são 98% dos internos que vem por causa de roubo e tráfico de entorpecentes, somente 2% aproximadamente é capaz de chegar ao ato realmente perverso e mau. Também, tratando do mesmo assunto, encontra-se Pedro Hartung (2015), coordenador do programa Prioridade Absoluta, do Instituto Alana, alertando que o sistema socioeducativo ainda não foi implementado na sua plenitude, se referindo ao ECA. Esclarece que pensar no menor infrator como o principal responsável pela violência do país é um equívoco muito grande. Crianças e Adolescentes não são os principais causadores da violência, pelo contrário, são as principais vítimas. O jovem deve ser responsabilizado por seus atos, mas como? Aumentar a pena ou reduzir a maioridade penal, não são soluções que trarão benefícios, o jovem que comete um crime o comete não porque tem uma certa idade, mas por estar longe de seus ideais na sociedade. Somente 20% dos infratores reincidem na Fundação Casa, ex-internos que atingem a maioridade tem a taxa de 40% na situação prisional, já adultos ficam entre 60 e 70% na incidência. O ECA está com muitas alterações sendo propostas no Judiciário este ano, que nessas propostas, seus relatores consigam achar meios e respostas para um problema tão peculiar a sociedade. Que o bom senso e a ética possam ajuizar a decisão que será proferida nessa possível alteração, que os jovens possam vislumbrar uma luz na sociedade, uma oportunidade de se sentirem parte do todo para não mais fazerem parte do que deve ser erradicado do meio comum, a criminalidade infantil. Que a lei possa surtir o efeito por ela desejado. Que os jovens possam perceber que a infração não os tornará mais poderosos, ricos e acima da lei, mas que se a tornarem parte de si e de suas vidas está estará sujeita a sanções e punições. 2.6 Novas propostas de alteração do estatuto da criança e do adolescente (ECA). O Congresso Nacional tem temas polêmicos na pauta para debate, como o aumento da pena para adolescentes envolvidos em crimes. É o caso 12

da Comissão Especial que examina propostas de alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), cujo relatório final foi apresentado em outubro do ano passado e pode ir à votação nos próximos meses. Presidida pelo deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) e tendo como relator o deputado Aliel Machado (Rede-PR), o parecer é um texto alternativo ao Projeto de Lei do Senado (PLS 7.197/2002) de autoria de José Serra (PSDB-SP) e a outras 52 propostas que sugerem mudanças no ECA. O mais polêmico, uma das mudanças mais sensíveis previstas no relatório, é o aumento de internação para os crimes contra a vida. Atualmente a lei permite o prazo de internação de no máximo três anos. Agora, com a nova proposta, esse tempo poderá chegar a 10 anos de internação para os crimes mais graves, como homicídio ou latrocínio. Esse tempo terá como escala a idade do menor, variando entre três e dez anos. Mesmo promovendo essa alteração, a lei prevê que a internação seja cumprida em unidades destinadas a menores, porém, separado dos demais. Aliel Machado, reconhecido por sua posição contrária à redução da maioridade penal para adolescentes, reconhece que o tema tem muita força em função do apelo da sociedade "por sangue", "Qualquer extremo é muito ruim e os extremos já vêm com pedras nas mãos no debate", diz ele. Considera o projeto ruim por aumentar o prazo da pena para 10 anos de internação, o que define como uma "banalização" do crime hediondo, que inclui homicídio qualificado, latrocínio, estupro e sequestro, mas também o tráfico de drogas, a segunda maior responsável pelas internações de adolescentes. De acordo com o relator, o escalonamento altera a proposta enviada pelo Senado, através do senador José Serra (PSDB-SP), que previa internação de até 10 anos, independentemente da idade. Tomamos o cuidado de fazer esse escalonamento por vários motivos. Primeiro porque discutimos com especialistas a situação dos menores em situação de vulnerabilidade social e os crimes mais comuns praticados por eles. E também porque fizemos uma pesquisa nacional, que apontou que os crimes mais graves são cometidos, em média, aos 17 anos. Além disso, pela formação do ser humano, não é sensato comparar a maturidade de um menor de 12 anos com um de 17, revelou Aliel. Ele acredita "Quanto mais jovem, mais fácil recuperar para a sociedade e afirma "Tentei montar um texto que buscasse o consenso e uma razoabilidade sem paixão partidária, A ação tem que ter como resultado a morte, em todos os outros atos continua a lei atual", explica Aliel Machado. O coordenador do programa "Prioridade Absoluta" Pedro Hartung, do Instituto Alana destaca o senso comum de que o adolescente é o principal responsável pela violência do país, "o que é um equívoco", afirma. "Crianças e adolescentes não são os principais causadores (da violência), pelo contrário, são as principais vítimas. Se for uma questão de segurança pública, não é isso que vai resolver o problema do país. Infelizmente trata-se de uma cortina de fumaça, posto que não se faz o debate real sobre a violência no país. Segundo Hartung (2015), é uma falácia 13

achar que o adolescente não é responsabilizado. Não pode ser uma discussão açodada, deve ser séria, está em jogo à vida de milhões de adolescentes. Dez anos é um tempo importante na formação de um jovem. Para o coordenador da Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de São Paulo (Condepe), Ariel de Castro Alves, a proposta é uma solução a redução de maioridade penal, mas discorda do tempo de 10 anos para a internação. Além do aumento do período de internação, o texto alternativo do deputado paranaense propõe outras mudanças, como a que garante ao jovem o direito de ser acompanhado por um advogado ou defensor público desde a primeira oitiva, algo que não consta na legislação atual. O parecer prevê também a possibilidade de o gestor público responder por improbidade administrativa em caso de descumprimento da lei; e estipula que 20% do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) seja repassado para o Sinase, com o objetivo de superar os problemas de financiamento do sistema. As principais mudanças propostas no relatório: Modificação do tempo máximo de internação. Legislação vigente: O tempo máximo de internação estabelecido pelo ECA é de 3 anos, independentemente da gravidade do ato infracional. Proposta do relator: Aumento do tempo máximo para até 10 anos, de forma escalonada em razão da idade, de internação para os atos infracionais com resultado morte, mantendo o tempo máximo de 3 anos para os demais atos infracionais. Recrudescimento de pena a quem se utiliza de adolescente para a prática criminosa. Proposta do relator: Prever como causa de aumento de pena aquele que instiga, envolve ou determina a cometer crime o menor de 18 anos. Além disso, prevê o aumento da punição para as organizações criminosas que se utilizem de crianças ou adolescentes. Inclusão de garantias processuais ao adolescente em conflito como a Lei. Proposta do relator: Estabelecer a garantia de defesa técnica ao adolescente em todas as fases do procedimento de apuração do ato infracional. Adoção de novas tecnologias de ensino Proposta do relator: Possibilitar que a Administração Pública se utiliza de novas tecnologias de ensino, como a modalidade à distância, para garantir o acesso à educação, inclusive a profissionalizante, aos adolescentes privado de liberdade. Estabelecer o direito do adolescente privado de liberdade de receber educação, inclusive profissionalizante, além de Participação de criança ou adolescentes em exposições de artes e museus 14

Proposta do relator: Atribuir a competência a autoridade judiciária disciplinar através de portaria, a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável em exposições de artes visuais em museus e afins. Modificação da Lei de Improbidade Administrativa Proposta do relator: caracterizar como ato de improbidade administrativo o descumprimento das obrigações impostas pelo ECA ao gestor público. Previsão de transferência de recursos do Funpen para o SINASE Legislação vigente: Não há qualquer previsão de legal de repasse de recursos para o Sistema Socioeducativo. Proposta do relator: Obrigatoriedade de repasse de 20% do FUNPEN para o SINASE investir em infraestrutura e operacionalidade do Sistema Socioeducativo. A Comissão Especial de revisão das Medidas Educativas do ECA foi instalada em novembro do ano passado. Durante seu funcionamento a comissão percorreu os estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro e Mato Grosso, além de realizar audiências públicas em Brasília com autoridades de todo o país para a construção do parecer final. 3. Conclusão. Quando tudo parece normatizado e mesmo assim a evasão tem parâmetros acima da média desejada, buscam-se respostas nas alternativas adjacentes. O descomprometimento do aluno de ensino fundamental pode estar associado a alguma doença que o impossibilita de atingir seu potencial conforme a sua idade e série, por exemplo a miopia, deixando-o desmotivado (a) fazendo com que seu rendimento caia até chegar ao ponto de uma desistência escolar, vale ressaltar que esse tipo de caso ocorre em maior número quando a criança e a escola não tem apoio da família, quando vivem em comunidades periculosas, e quando há uma grande pluralidade de irmãos em uma mesma casa. Em casos como este a escola tem total direito, dever, e liberdade para encaminhar acompanhamento ao conselho tutelar da região, isso quando se refere ao ensino fundamental. A estatística é maior no ensino médio, os fatores que caracterizam a evasão nesse segmento são simples, os jovens têm mais liberdade que as crianças, e devido a necessidade social abandonam os estudos para trabalhar, pela criminalidade, por estarem presos, por que se tornaram pais, por bullying (neste caso a incapacidade de progressão cognitiva se dá pela fragilidade do mecanismo de defesa pessoal que alguns jovens apresentam na formação da fase adulta). Tudo isso acontece para mostrar a fragilidade do sistema de ensino, e o quanto ainda tem que avançar para fazer da educação algo imprescindível para as futuras gerações. 15

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