Resseguro para os ramos de



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Transcrição:

ISSN 0019-0446 IRB-Brasil Resseguros S.A. [ ano 68 ] [ número 305 ] [ novembro ] [ 2008 ] Resseguro para os ramos de Aumenta a demanda por produtos de vida e previdência Entrevista: Claudio Contador, da Escola Nacional de Seguros Agrobusiness conta com seguro para acelerar crescimento Energia limpa na mira do mercado de seguros

EXPEDIENTE CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Otávio Ribeiro Damaso (Presidente) Eduardo Hitiro Nakao (Vice-presidente) Otacílio Caldeira Júnior Carlos Augusto Moreira Araújo Luiz Tavares Pereira Filho Antonio Eduardo Marquez de Figueiredo Trindade DIRETORIA Eduardo Hitiro Nakao (Presidente) Alberto de Almeida Pais (Vice-presidente Executivo) Sergio Caruso Vandro Ferraz da Cruz Manoel Morais de Araujo Francisco Aldenor Alencar Andrade CONSELHO FISCAL Marcio Leão Coelho (Presidente) Rogério Baptista Teixeira Fernandes Eduardo Gonçalves Boquimpani Lúcio Antônio Marques Sidney Maury Sentoma SEDE Av. Marechal Câmara, 171 - Castelo CEP 20020-901 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil Telefone: (21) 2272-0200 - www.irb-brasilre.com.br GERÊNCIA REGIONAL EM SÃO PAULO R. Manoel da Nóbrega, 1.280-7 andar - Jardim Paulista CEP 04001-004 - São Paulo - SP - Brasil Telefone: (11) 3885-2011 ESCRITÓRIO DE REPRESENTAÇÃO DA SECRETARIA EXECUTIVA EM BRASÍLIA SCN - Edifício Brasília Trade Center, Quadra I - Bloco C - salas 1.601 a 1.606 CEP 70710-902 - Brasília - DF - Brasil Telefone: (61) 3328-9563 SUBSIDIÁRIAS EM NOVA YORK UA Holding Corporation UAIC - United Americas Insurance Company UA Service Corporation, 805 Third Avenue - 14 th floor New York - 10022 - USA Telefone: 1-212-4860700 ESCRITÓRIO DE LONDRES London Branch 25, Lime Street - London EC3M 7HR, United Kingdom Telefone: 44-207-2833638 CONSELHO EDITORIAL Eduardo Hitiro Nakao Vandro Ferraz da Cruz Francisco Aldenor Alencar Andrade Sebastião Furtado Pena Gisele de Lima Castro Campos Sergio Ricardo de Vasconcellos Dias Claudio Roberto Contador Lúcio Antônio Marques COORDENAÇÃO EDITORIAL Inah de Paula Comunicações DIREÇÃO DE ARTE Inah de Paula Comunicações REDAÇÃO Jorge Clapp e Valéria Maciel REVISÃO IRB-Brasil Resseguros S.A. e Inah de Paula Comunicações GRÁFICA Grafitto Gráfica e Editora FOTÓGRAFO Alexandre Faria DISTRIBUIÇÃO IRB-Brasil Resseguros S.A. Os conceitos emitidos em artigos assinados exprimem apenas as opiniões de seus autores e são de sua exclusiva responsabilidade. Os textos publicados podem ser livremente reproduzidos, desde que citada a fonte. Publicação editada pelo IRB-Brasil Re. Circulação desta edição: 3.000 mil exemplares, distribuídos gratuitamente mediante assinatura.

EDITORIAL Esta edição da Revista do IRB circula no momento em que o mundo experimenta uma forte crise econômica, cujas conseqüências ainda não podem ser totalmente dimensionadas. Esse, aliás, é o tema da entrevista exclusiva concedida à Revista do IRB pelo economista Claudio Contador, diretor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg). Na conversa, ele traça um cenário positivo para o País e comenta os possíveis reflexos da crise no mercado de seguros. Contador projeta um futuro auspicioso para o Brasil: temos um projeto de boa qualidade, o futuro é promissor, diz o economista. A matéria de capa tem como tema central as novas perspectivas para os ramos de pessoas. Na reportagem, a Revista do IRB ouviu a consultora da Gerência de Riscos Pessoais do IRB-Brasil Re, Alessandra Martins Monteiro; o presidente da Münchener do Brasil, Kurt Müller; o diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Alfredo Cardoso; e a diretora da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Solange Beatriz. Outra matéria importante trata da busca por fontes alternativas de energia. Na reportagem, mostramos que as seguradoras mantêm um time de especialistas para analisar esse setor. É o caso da Allianz Brasil, que conta com um grupo de cientistas para estudar as mudanças climáticas e as soluções que possam minimizar esses efeitos: a mudança do clima é um grande risco que expõe toda a nossa sociedade. Resolvemos estudar o clima de forma científica, na tentativa de contribuir para amenizar esses impactos, explica o diretor de Grandes Riscos da Allianz Brasil, Ângelo Colombo. Há ainda uma reportagem sobre o agrobusiness. A matéria oferece indícios de que o faturamento do seguro rural vai crescer de forma expressiva nos próximos anos. Mas esse futuro promissor dependerá da manutenção da subvenção aos prêmios dessa carteira e da implementação do Fundo de Catástrofe do Seguro Rural, cujo projeto de lei ainda tramita no Congresso Nacional. O leitor encontrará também, nesta edição, as tradicionais seções Na Estante, Jurisprudência e Panorama do Mercado. Boa Leitura! Conselho Editorial R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 1-52, novembro 2008 3

IRB-Brasil Resseguros S.A. 3 5 6 11 13 15 17 23 33 Revista do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 1-52, novembro 2008 ISSN 0019-0446 Editorial Carta do Presidente Cenário global desfavorável não afeta Brasil Entrevista com Claudio Contador Na Estante Panorama do Mercado Jurisprudência Matéria de Capa Setor de resseguro explora segmento de riscos pessoais Em Foco Agrobusiness atrai o foco do mercado de seguros Mercado segurador investe em produtos para energia limpa Artigo Técnico Procedimento licitatório simplificado: empresas estatais e atuação competitiva no cenário concorrencial Bárbara Malta Rabello Raphael Domingues de Moraes Zyngier Novo Ambiente de Resseguro no Brasil conseqüências imediatas da abertura de mercado Osvaldo Haruo Nakiri O Mercado de Seguros 10 anos de mudanças Lucio Marques Aspectos cruciais das novas regras para o resseguro no Brasil Sergio Barroso de Mello Seguro de roubo Alvaro Eyler 23 27 33 38 42 44 49

CARTA DO PRESIDENTE O ano de 2008 representa um marco histórico sem precedentes para o setor de seguro/resseguro no País, cujos reflexos se estendem além de nossas próprias fronteiras. A abertura do mercado de resseguro corresponde ao início de uma nova era, em que os players passam a atuar num cenário concorrencial, o que exige um cuidadoso processo de preparação e aprendizagem, a exemplo do que ocorreu com o IRB-Brasil Re que, ao longo dos últimos anos, não mediu esforços nesse sentido, em que pesem as restrições a que está sujeito. As modificações ocorridas na sua estrutura interna, com a adoção de medidas de gestão mais eficazes, tais como a revisão de normas e procedimentos, a integração das gerências e a maior interação com os clientes e parceiros, foram fundamentais para que entrássemos confiantes e preparados no mercado competitivo. Outro ponto a destacar consiste no investimento realizado pela Empresa em treinamento do corpo funcional. Instituições especializadas foram contratadas para ministrar cursos fechados, com conteúdos programáticos voltados, basicamente, para a atividade-fim da Empresa e profissionais das áreas de subscrição, estratégia e tecnologia fizeram visitas ao exterior, com a finalidade de conhecer in loco os sistemas e métodos adotados naquele mercado. Nesses primeiros meses de mercado concorrencial, podemos comprovar que a nossa estratégia é sólida e eficaz. O impacto da abertura nas atividades da Empresa ocorreu dentro do esperado, ou seja, trabalhamos com eficiência para minimizar as perdas de receita e obtivemos êxito. Mas estamos conscientes de que os desafios são contínuos e só poderão ser superados com muito trabalho e dedicação. Para isso, contamos com um corpo técnico capacitado e com inegável grau de comprometimento com a Empresa além de conhecedor das reais necessidades dos nossos clientes diretos e indiretos, no caso, as cedentes (sociedades seguradoras) e os segurados, respectivamente. Por tudo isso, estamos otimistas diante das perspectivas que surgem com o mercado aberto e, especialmente, com a atuação e o papel do IRB-Brasil Re neste momento histórico, em que a concorrência no setor de resseguro emerge na sua plenitude. Eduardo Hitiro Nakao Presidente R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 1-52, novembro 2008 5

ENTREVISTA Cenário global desfavorável não afeta Brasil O cenário econômico atual é de muitas incertezas. Uma crise, iniciada nos Estados Unidos, cujo tamanho exato ainda não foi dimensionado, preocupa e se espalha por todo o mundo, deixando um rastro de incertezas que se reflete em diferentes setores da economia. As Bolsas de Valores vivem momento de grande instabilidade. Um dia sobem alavancadas por notícias favoráveis pinçadas de um noticiário nervoso. No outro, despencam arrastadas por fatos negativos que azedam os humores nos quatro cantos do planeta. Nesse contexto, é difícil achar um oásis, um país ou região que consiga passar ao largo da crise. Afinal, na era da globalização não há como fugir dos avanços e muito menos dos desvios de rumo, principalmente quando os medicamentos convencionais demoram um pouco mais a surtir efeito. Mesmo assim, pelo menos até agora, o Brasil foi pouco contaminado pelo clima de pessimismo, muito embora aqui ou ali surjam alguns sintomas que demandam atenção maior, especialmente os relativos aos repiques da inflação, à desvalorização do real frente ao dólar e ao sobe e desce nos pregões da bolsa. O crescimento econômico apurado nos últimos anos, coroado pela conquista do grau de investimento, a melhor distribuição de renda e a queda nos níveis de desemprego mantêm o otimismo do brasileiro. Essa reação positiva pode contribuir para manter o Brasil até certo ponto imune à crise que toma conta de europeus, asiáticos e norteamericanos. Nessa entrevista, o diretor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg), Claudio Contador, traça um cenário positivo para o futuro do País e comenta os possíveis reflexos do momento econômico no mercado de seguros e resseguros: o Brasil é a bola da vez, não tenho dúvidas disso, afirma Contador, que nasceu no Rio de Janeiro, formouse economista em 1966, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e no início da década seguinte recebeu o Mestrado (1971) e o Doutorado (1973) em Economia da conceituada Universidade de Chicago. Como bom virginiano, Claudio Contador é metódico e pode passar horas trabalhando em uma análise minuciosa sobre os diversos ângulos de uma questão que se apresenta com falsas obviedades. Assim, é enfático ao projetar um futuro auspicioso para o Brasil: temos um projeto de boa qualidade, o futuro é promissor, afirma. 6 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 6-10, novembro 2008

ENTREVISTA Antes de ocupar o cargo de diretor da Escola Nacional de Seguros, Claudio Contador consolidou sua bela carreira em cargos tais como o de editor da revista Pesquisa e Planejamento Econômico, do IPEA; diretor da Escola de Pós-Graduação em Administração de Empresas, Universidade Federal do Rio de Janeiro; chefe do Departamento de Economia e Finanças e diretor do Centro para Pesquisas e Estudos em Seguros, da Coppead, além de intensas atividades de consultoria na sua empresa, Silcon Estudos Econômicos e participação em inúmeros conselhos de empresas e instituições no Brasil e no exterior. Assim, pôde acumular a expertise necessária para publicar mais de uma dezena de livros e quase 300 artigos no Brasil e no exterior. Pôde também pontuar suas pesquisas em tópicos abrangentes, incluindo planejamento de estratégias, sistemas de simulação, mercado de seguros, análise de custos e benefícios, ciclos econômicos, indicadores antecedentes e previsão. Foi em função desses atributos que a Revista do IRB o procurou para ouvir sua opinião sobre os rumos da economia e, mais particularmente, do mercado de seguros. Revista do IRB Quais as vantagens competitivas oferecidas pelo Brasil? Claudio Contador O Brasil tem cada vez mais destaque no mercado mundial. É a bola da vez, como se costuma dizer. A economia local combina uma base de consumidores muito pobres um pouco melhor que a Índia e a China, mas com problemas semelhantes, uma classe média, típica de países europeus de renda média, e segmentos muito sofisticados, típicos dos EUA e das economias mais avançadas. Então, é um laboratório excelente, pois as empresas podem trabalhar com produtos para todos os tipos de públicos. Se um produto der certo aqui, ele pode ser levado para outros países. Fotos: Alexandre Faria Revista do IRB A crise mundial preocupa ou o Brasil está imune? Claudio Contador O potencial de problemas lá fora é bem maior que aqui, porque no exterior, principalmente nos EUA, houve grande securitização de dívidas imobiliárias, falta de fiscalização sobre os mercados financeiros e sistemas contáveis abertos a fraudes. Então, a crise preocupa, mas o Brasil tem bons indicadores. Nós temos estabilidade política e econômica. O País se destaca mesmo no âmbito do chamado BRIC. A Rússia possui certa estabilidade, mas é um mercado menor que o nosso. A Índia é mais pobre e a China é um grande mistério, por ser um mercado fechado. R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 6-10, novembro 2008 7

ENTREVISTA É preciso, agora, acabar com alguns resquícios da legislação, como proibir pessoas e empresas de abrirem contas correntes em moeda estrangeira Revista do IRB Houve avanços na legislação? Claudio Contador Nos casos específicos do mercado de capitais e do setor de seguros, o ideal é que houvesse uma interação total entre os órgãos reguladores, Susep, Banco Central, ANS, Comissão de Valores Mobiliários e Secretaria de Previdência Complementar. O Brasil até teve sorte, porque houve um resgate do mercado de capitais sem a força do Governo. Foi uma reação espontânea. Não havia ativos privados para servir de reservas de seguradoras e outros investidores institucionais e sustentar o crescimento econômico. A concentração de títulos públicos, por carência de títulos privados, nas reservas das seguradoras e entidades de previdência não é favorável ao crescimento do mercado e da economia em geral. Isso não acrescenta nada para o aumento da capacidade produtiva local. Mas esse receio passou. Hoje, as ações, debêntures privadas e outros ativos do mercado de capitais podem capitalizar e aumentar o crédito para as empresas. É preciso, agora, acabar com alguns resquícios da legislação, como proibir pessoas e empresas de abrirem contas correntes em moeda estrangeira. Revista do IRB Qual o papel reservado ao seguro nesse contexto? Claudio Contador O seguro melhora e fortalece o mercado interno de capital, aumenta as taxas de poupança e investimento, ajuda a incrementar o potencial de crescimento do PIB e fornece informação sobre risco nas atividades de negócios. Então, tem um papel de protagonista. Revista do IRB Até que ponto a obtenção do grau de investimento é importante para o País? Claudio Contador Foi excelente. Contudo, após passar a crise atual, será preciso evitar a doença holandesa, que foi provocada por uma grande entrada de dólares, que valorizou a moeda local e tirou a competitividade da indústria, nos anos 70. De qualquer forma, creio que o Brasil não corre esse risco. Temos uma economia maior, mais projetos, mais oportunidades. Revista do IRB Qual a real relação entre crescimento econômico e incremento da atividade de seguros? Claudio Contador Claro que há uma relação direta entre estabilidade econômica, inflação baixa e crescimento do mercado de seguros. Mas, isoladamente, o crescimento econômico não gera crescimento do setor de seguros, que 8 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 6-10, novembro 2008

ENTREVISTA O seguro melhora e fortalece o mercado interno de capital, aumenta as taxas de poupança e investimento, ajuda a incrementar o potencial de crescimento do PIB e fornece informação sobre risco nas atividades de negócios pode consolidar uma tendência de expansão até mesmo em condições econômicas não totalmente favoráveis. O mais importante é ter uma legislação adequada, marcada pela desregulamentação, maior abertura do mercado interno ao capital estrangeiro, como ocorreu na última década, e abertura no resseguro. Os fatores macro, de maior impacto no processo de crescimento da indústria do seguro e do resseguro, são a renda real e a taxa de inflação. Revista do IRB E a questão dos alimentos? Claudio Contador Os preços dos alimentos também tendem a se normalizar, até porque teremos novas e promissoras safras. Aliás, isso cria renda no campo e é muito bom para o mercado de seguros, que pode explorar novos nichos na área rural. Nesse sentido, lembro que a demanda por alimentos na China aumentou quatro vezes nos últimos anos. Ainda assim, para atingir a média da Europa será preciso multiplicar por sete os números atuais. Então, há um enorme potencial de consumo de alimentos no exterior, que pode ser aproveitado pelo Brasil. Por isso, o seguro tem muito a ganhar com o novo cenário mundial. Revista do IRB Como o senhor vê os primeiros meses de abertura no resseguro? Claudio Contador A importância do resseguro ainda não foi totalmente percebida pelo Governo, a não ser por vozes isoladas, como a do superintendente da Susep, Armando Vergílio. O resseguro é fundamental para a necessária integração internacional, que é o que falta ao Brasil. Repito sempre que se houver um bom marco regulatório poderemos atrair capital de boa qualidade. É simples assim. Temos grandes projetos nas áreas de energia, transportes e infra-estrutura em geral, que precisam do resseguro. O mercado de resseguros ainda é pequeno no Brasil, gera por ano cerca de R$ 3,5 bilhões, montante que equivale a apenas uma semana de exportações brasileiras. Mas não tenho dúvidas de que a abertura e o novo modelo podem alavancar muitos negócios para o mercado de seguros. Revista do IRB E que nichos o senhor destaca nesse novo cenário, que mistura abertura no resseguro e crescimento econômico? Claudio Contador São vários nichos que surgem para o seguro e o resseguro. No caso do seguro popular, destaco o potencial apresentado pelas pequenas e médias empresas, que precisam contratar seguros a preços mais competitivos. Há um espaço enorme para o seguro voltado para essas empresas. Desde que sejam produtos baratos, fáceis de contratar, com renovação automática. Digo sempre que se um corretor de seguros se dispuser a entrar em um prédio comercial, onde cada sala é uma pequena empresa, imagine quantos seguros ele vai vender. Revista do IRB E o microsseguro? Claudio Contador É um dos assuntos mais discutidos nos principais encontros do seguro mundial. Mas não há ainda uma legislação específica e é preciso, antes de tudo, entender a diferença entre o micros- R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 6-10, novembro 2008 9

ENTREVISTA A Escola inseriu no planejamento de 2008 a realização de palestras, cursos, pesquisas e a publicação de títulos sobre o tema seguro e o seguro popular, que tem prêmios baixos e um mercado enorme, com produtos vendidos em grandes redes varejistas, por exemplo. O microsseguro pode vir a exigir subsídio do Governo para existir, pois é voltado para classes muito baixas. Ele dá ainda um alívio muito grande para políticas sociais. Poderá ser até embutido no programa Bolsa-Família. De qualquer forma, o mercado tem muito que aprender com o microsseguro. As seguradoras, os consumidores, todos têm muito a aprender. Revista do IRB De que forma a Escola Nacional de Seguros pode atuar para ajudar a sociedade e o mercado a entenderem melhor o microsseguro? Claudio Contador A Escola inseriu no planejamento de 2008 a realização de palestras, cursos, pesquisas e a publicação de títulos sobre o tema. Houve ainda uma edição especial da revista Cadernos de Seguro, editada por nós, sobre o tema. Pensamos também em publicar uma coletânea de artigos em inglês, para mostrar no exterior o que anda sendo discutindo aqui no Brasil. Revista do IRB Qual o cenário atual do mercado mundial de seguros? Claudio Contador No mundo, a atividade de seguros gera recursos da ordem de US$ 3,4 trilhões. Estudos recentes mostram que esse mercado cresce mais rapidamente nas economias emergentes, incluindo o Brasil. Com isso, é possível que seja mantido, nos próximos anos, o ritmo de crescimento da receita do mercado global em torno dos 2,5%. Para nós, a boa notícia é que as economias em crescimento necessitam mais de serviços de seguros. Além disso, normalmente os investidores priorizam os países com mercados de seguros sólidos. O Brasil leva vantagem porque o seu mercado de seguros vem crescendo rapidamente. 10 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 6-10, novembro 2008

NA ESTANTE CONTABILIDADE DE CUSTOS Autor: Eliseu Martins - Ed. Atlas - 370 págs. O trabalho aborda as mais recentes evoluções conceituais e novas tendências na utilização da Contabilidade de Custos para fins gerenciais. O autor direciona o foco do livro para a utilização da Contabilidade de Custos nas funções de planejamento e controle, relacionadas ao estabelecimento de padrões, orçamentos e outras formas de previsão. A partir de uma abordagem realística, são destacadas ainda as principais barreiras e reações comportamentais às tentativas de implantação e os custos e benefícios dos diferentes sistemas disponíveis. ÉTICA EMPRESARIAL: POSTURAS RESPONSÁVEIS NOS NEGÓCIOS, NA POLÍTICA E NAS RELAÇÕES PESSOAIS Autor: Robert Henry Srour - Ed. Campus - 286 págs. O autor aborda, de forma clara e objetiva, a ética empresarial, sob a perspectiva da responsabilidade social da empresa, em um ambiente de negócios marcado pela competição acirrada. Indicado para profissionais que desenvolvem atividades em organizações públicas ou privadas. A publicação é recomendada também para programas de treinamento e desenvolvimento de executivos. ECONOMIA E SEGURO: UMA INTRODUÇÃO Autor: Francisco Galiza Escola Nacional de Seguros - Ed. Funenseg - 230 págs. O livro apresenta aspectos básicos da contabilidade e da economia aplicados ao seguro, noções de probabilidade, estatística, risco e incerteza, análise macroeconômica, evolução histórica e perspectivas, além das definições e dos principais conceitos usados na área. Referência desde a sua primeira edição, de 1997, a publicação é um clássico do mercado de seguros do Brasil. R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 11-12, novembro 2008 11

NA ESTANTE RESSEGUROS: FUNDAMENTOS TÉCNICOS E JURÍDICOS Autores: João Marcos Brito Martins e Lídia de Souza Martins - Ed. Forense Universitária - 230 págs. A publicação trata de um assunto que vem ocupando espaço cada vez mais amplo na mídia: o resseguro. De forma didática, utilizando uma linguagem acessível a públicos distintos, os autores explicam os fundamentos de um contrato de resseguro, sob os aspectos técnicos e jurídicos. SEGURO: CONCEITOS, DEFINIÇÕES E PRINCÍPIOS Autor: Julio Cezar Pauzeiro - Ed. VTN Comunicação - 124 págs. O autor compartilha com os leitores as informações e expertise acumuladas em uma vida profissional totalmente dedicada ao mercado de seguros. Utilizando uma linguagem acessível, a publicação desmistifica o segurês e coloca de maneira objetiva, prática e sistematizada tudo aquilo que as pessoas sempre tiveram curiosidade de aprender sobre seguro. Seleção de obras disponíveis na Biblioteca de Seguros Rodrigo Médicis pertencentes ao acervo da empresa. A Biblioteca está aberta para consulta diariamente das 9 às 17 horas, na Avenida Marechal Câmara, nº 171 - térreo, Castelo, RJ. Informações pelos telefones (21) 2272-0631 e (21) 2272-0655, pelo e-mail cobib@irb-brasilre.com.br ou pelo site www.irb-brasilre.com.br 12 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 11-12, novembro 2008

PANORAMA DO MERCADO Site da CNSeg tem informações sobre o resseguro Já está disponível no site da CNSeg um campo específico para o segmento de resseguro, visando a ampliar a área de conhecimento para os usuários e facilitar a sua navegação. O espaço reúne informações diversas sobre o tema, como, por exemplo, história do resseguro no Brasil, o processo de abertura do mercado, as empresas do setor, palestras nacionais e internacionais, artigos e notícias publicados no site e eventos a serem realizados. Também estão sendo disponibilizadas as Cláusulas Contratuais. Para acessar Resseguro basta clicar no item Mercado, no site www.fenaseg.org.br. Inscrições para Curso Superior da Funenseg Estão abertas até o dia 13 de janeiro de 2009 as inscrições para o vestibular do Curso Superior de Administração com Ênfase em Seguros e Previdência, ministrado pela Escola Nacional de Seguros (Funenseg), no Rio de Janeiro. São 50 vagas para a sexta turma do curso, que será formada no primeiro semestre de 2009. A inscrição custa R$ 30,00. Os interessados poderão se inscrever no hotsite http://faculdade.funenseg.org.br, onde também estão disponíveis o edital, a ementa, o corpo docente e demais informações. O vestibular está marcado para o dia 18 de janeiro de 2009. Susep já cadastrou 33 resseguradoras A crise econômica não reduziu o apetite dos resseguradores estrangeiros em relação ao mercado brasileiro. Desde o início da vigência das novas regras que regulamentam a abertura do resseguro, em 17 de abril, até o fechamento desta edição, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) já cadastrou ou autorizou a operação no mercado brasileiro de 33 resseguradoras, incluindo o IRB-Brasil Re. Dessas empresas, três estão operando como resseguradoras locais (entre as quais o IRB), outras 13 são admitidas; e 17 eventuais. Segundo o diretor da Susep, Murilo Chaim, a questão do acesso ao mercado brasileiro já está praticamente resolvida. Esperamos que até o fim do ano 55 empresas tenham autorização para operar com segurança no País, afirmou, no Seminário Internacional de Resseguro A Arte de Elaborar o Contrato, que a CNSeg e a Escola Nacional de Seguros (Funenseg) realizaram em São Paulo, no fim de outubro. Tanto interesse é mais do que compreensível. Mesmo com a crise internacional, cujas conseqüências ainda não são totalmente conhecidas, o Brasil é tido como um dos mercados de seguros e resseguros com o maior potencial para crescer nos próximos anos. As estimativas continuam otimistas. Em cinco anos, o mercado segurador vai dobrar de tamanho. Já o mercado de Resseguro deverá duplicar de tamanho em três anos, acredita Murilo Chaim. R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 13-14, novembro 2008 13

PANORAMA DO MERCADO PANORAMA DO MERCADO Mercado cria fórum para acompanhar crise O mercado brasileiro decidiu criar um fórum de acompanhamento da crise financeira internacional. A idéia é avaliar os reflexos no mercado segurador e propor medidas para a direção da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg) e das quatro federações participantes do sistema de representação institucional FenaCap, FenaPrevi, FenSeg e FenaSaúde. Segundo o presidente da CNSeg, João Elisio Ferraz de Campos, é fundamental a participação do mercado no fórum para o alcance dos objetivos propostos na iniciativa. Os participantes do fórum serão indicados pelos presidentes das seguradoras. O cadastramento será feito por intermédio de endereço eletrônico criado para atender ao fórum, revelou João Elisio, em carta enviada a todas as empresas do mercado. Ele explicou ainda que o fórum tem caráter provisório, propositivo, consultivo e mobilizador. Outra finalidade do fórum é promover a integração das empresas que compõem o sistema de representação institucional formado pela CNSeg e pelas Federações em relação à crise financeira internacional. O fórum terá um Comitê Gestor, coordenado pelo consultor Ismar Tôrres e composto por representantes da confederação e das federações. Contrato deve ser renegociado com antecedência É preciso começar a renegociar um contrato de resseguro com bastante antecedência, para que se possa obter benefícios tanto para os segurados como para o próprio corretor. O conselho foi dado por Maria Elena Bidino, diretora da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), durante a palestra sobre o tema O Novo Cenário do Resseguro no Brasil, realizada no 13º Congresso dos Corretores de Seguros (Conec), organizado pelo Sindicato dos Corretores de Seguros de São Paulo (Sincor-SP), em outubro. Na palestra, a executiva ressaltou a necessidade de qualificação técnica dos profissionais que atuam no resseguro. No mercado aberto, quanto mais informações o corretor oferecer à seguradora, maior será a chance de a negociação com os resseguradores resultar em melhora de preços e de coberturas, lembrou Maria Elena Bidino. Ela disse ainda que faltam alguns detalhes no aspecto regulatório, mas nada impede que as empresas realizem contratos. Segundo Maria Elena Bidino, esses ajustes são normais em um setor que acaba de ser aberto. 14 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 13-14, novembro 2008

JURISPRUDÊNCIA Indenização por danos morais e materiais - Não sendo demonstrada falha no serviço e sendo certo que a vítima teve a melhor e a última oportunidade de evitar o dano, é indevida a indenização. Preliminares rejeitadas. Recursos providos. (TJ-SP Ac. Unânime da 2ª Câmara de Direito Público, julg. em 26.08.2008 Ap. Cív. 7992175100 Rel. Des. Lineu Peinado) AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - CONTRATO DE SEGURO - PRESCRIÇÃO - DANO MORAL A ação do segurado, visando o recebimento de indenização contratada, prescreve em um ano (CC/1916, art. 178, 6º). Não configurado o dano moral, inexiste o dever de indenizar. Apelação não provida, e parte dispositiva da sentença alterada. (TJ-MG Ac. Unânime da 10ª Câmara Cív., julg. em 19.08.2008 Ap. Cív. 1.0024.05.577743-7/002 Rel. Des. Roberto Borges de Oliveira) AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO AGRÍCOLA. DENUNCIAÇÃO DA LIDE AO IRB-BRASIL RESSEGUROS S.A. INADMISSIBILIDADE. RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DA SEGURADORA PERANTE O SEGURADO. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJ-PR Ag. Instr. Unânime da 10ª Câmara Cível, julg. em 13.12.2007 Ag. Instr. 0429279-5 Rel. Des. Nilson Mizuta) CIVIL - APELAÇÃO - AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS - ACIDENTE DE TRÂNSITO - DANOS MORAIS CONFIGURADOS - RESPON- SABILIDADE CIVIL DA TRANSPORTADORA RÉ CARACTERIZADA - DENUNCIAÇÃO DA LIDE DA SEGURADORA - DANOS MORAIS - COBERTURA EXCLUÍDA EXPRESSAMENTE NA APÓLICE - REGRESSO - IMPOSSIBILIDADE - REFORMA DA SENTENÇA - LIDE SECUNDÁRIA INACOLHIDA - RESSEGURO - DENUNCIAÇÃO PREJUDICADA- HONORÁRIOS DE ADVOGADO - RECURSOS CONHECIDOS, PROVIDO O PRIMEIRO E PREJUDICADO O SEGUNDO. O contrato de seguro garante o direito de regresso nos limites delineados na apólice.-havendo previsão expressa na apólice, de exclusão de cobertura para danos morais, a seguradora não deve ser condenada a pagar ao segurado, regressivamente.-firmado resseguro pela seguradora litisdenunciada, também não haverá regresso, se esta não deve reembolsar ao segurado originário. Contudo, nesta lide terciária, a empresa de resseguro faz jus a honorários advocatícios contra aquela que a denunciou.-recursos conhecidos, provido o 1º e prejudicado o 2º. (TJ-MG Ac. Unânime da 17ª Câmara Cív., julg. em 17.07.2008 Ap. Cív. 1.0569.05.003151-1/001 Rel. Des. Márcia de Paoli Balbino) R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 15-16, novembro 2008 15

JURISPRUDÊNCIA PROCESSUAL CIVIL. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. AÇÃO DE SEGURADO CONTRA A SEGURADORA. PRAZO PRESCRICIONAL. INCIDÊNCIA DO ART. 178, 6 o, INCISO II, DO CÓDIGO CIVIL. SUMULA 101 DO STJ. PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO QUE SE ACOLHE. EXTINÇÃO DO PROCESSO COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. PROVIMENTO DO RECURSO. (TJ-RJ Ac. Unânime da 1ª Câmara Cível, julg. em 10.06.2008 Ap. Cív. 2008.001.19484 Rel. Des. Maldonado de Carvalho) QO. SEGURADORA. RECUSA. RENOVAÇÃO. APÓLICE. A Turma, em questão de ordem, decidiu submeter à Segunda Seção recurso especial em que se discute o direito da seguradora de não renovar apólice coletiva de seguro especificamente no que diz respeito à segurada, ora recorrente. O Min. Massami Uyeda ressaltou tratar-se de um leading case no qual a controvérsia centra-se entre a teoria contratual pura e as emanações protecionistas do Código de Defesa do Consumidor. (REsp 1.073.595-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, em 18/9/2008) CIVIL. SEGURO DE VIDA. EMBRIAGUEZ. A cláusula do contrato de seguro de vida que exclui da cobertura do sinistro o condutor de veículo automotor em estado de embriaguez não é abusiva; que o risco, nesse caso, é agravado resulta do senso comum, retratado no dito se beber não dirija, se dirigir não beba. Recurso especial não conhecido. SEGURO. VEÍCULO. MORA. NOTIFICAÇÃO. PRÊMIO. A Turma reiterou que o simples atraso no adimplemento de parcelas do prêmio do seguro de veículo não autoriza o desfazimento automático do contrato, pois é necessária a interpelação para a prévia constituição em mora do segurado. No caso, o segurado pagou duas das quatro parcelas e, embora em atraso, não houve interpelação, cabendo, em razão do furto do veículo, a condenação da seguradora ao pagamento do seguro, acrescido de juros moratórios a contar da citação, custas e honorários advocatícios de 10% sobre o valor da condenação. (REsp 726.673-SP, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 2/9/2008) UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA. VERBA. ACIDENTE. TRABALHO. Na dissolução da união estável, a partilha de bens refere-se ao patrimônio comum formado pelo casal, não se computando indenizações percebidas a título personalíssimo por quaisquer dos ex-companheiros, tal qual a recebida em razão de acidente de trabalho sofrido, pois é certo que a reparação deve ser feita àquele que sofreu o dano e carrega consigo a deficiência adquirida. A indenização recebida em razão do pagamento de seguro de pessoa cujo risco previsto era a invalidez temporária ou permanente não constitui fruto ou rendimento do trabalho que possam ajustar-se às disposições do inciso VI do art. 271 do CC/1916. (REsp 848.998-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 28/10/2008) (STJ Resp, Unânime da 3ª T., julg. em 26.08.2008 Resp. 973.725SP Rel. Min. Ari Pargendler) 16 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 15-16, novembro 2008

MATÉRIA DE CAPA SETOR DE RESSEGURO EXPLORA SEGMENTO DE RISCOS PESSOAIS O mercado de seguro vive um momento auspicioso. De acordo com as estatísticas da Susep, de janeiro a agosto deste ano, foram arrecadados R$ 44,092 bilhões em prêmios, o que representa um incremento de 17,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Alguns setores, como o de vida e previdência, apresentam um crescimento acima da média do mercado e, em função da demanda aquecida, aparecem como grandes nichos a serem explorados. Alexandre Faria Outro setor com boas perspectivas de crescimento é o de saúde. Os avanços tecnológicos neste mercado trouxeram melhoria nos tratamentos, mas, por outro lado, o custo do serviço também aumentou consideravelmente. Diante desse cenário, as resseguradoras se preparam para atender à demanda aquecida dos ramos pessoais. O IRB-Brasil Re, por exemplo, vai atuar com força total nos segmentos de vida individual e previdência privada. Para isso, já estuda o lançamento de novos produtos. Na área de vida, três soluções deverão surgir: resseguros para doenças graves (câncer, infarto, entre outros), riscos agravados e riscos preferenciais. Antes atuávamos em parceria com outros resseguradores. Agora já nos estruturamos para oferecer sozinhos os produtos na área de vida individual. Posso dizer que temos experiência e uma base de dados bastante consistente nesta área, informa a consultora da Gerência de Riscos Pessoais do IRB-Brasil Re, Alessandra Martins Monteiro. Alessandra Monteiro Já trabalhamos com a previdência aberta, garantindo coberturas de risco agregadas aos planos de acumulação, como VGBL e PGBL A previdência complementar também será um nicho a ser explorado pelo IRB-Brasil Re. Já trabalhamos com a previdência aberta, garantindo coberturas de risco agregadas aos planos de acumulação, como VGBL e PGBL, R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 17-22, novembro 2008 17

MATÉRIA DE CAPA diz Alessandra. No momento, um novo produto está sendo desenhado com foco, principalmente, nos fundos fechados. Trata-se da troca da tábua de mortalidade, na qual os fundos baseiam seus cálculos para medir as probabilidades de vida e de morte de um determinado grupo de pessoas. Com o passar dos anos, existe a tendência de aumento da expectativa de vida, o que pode deixar a tábua de mortalidade defasada. O fundo então tem que se reestruturar, mas haverá uma diferença nos cálculos no momento de adoção da nova tabela. O resseguro pode cobrir este déficit, explica a consultora, informando que o IRB-Brasil Re desenvolve estudos,que se encontram em fase avançada para oferecer esse tipo de produto. Atualmente, os ramos de vida individual e previdência aberta representam 15% de resseguros aceitos pelo ressegurador. A nossa expectativa é de crescimento, prevê Alessandra. Há um grande interesse de transferência de risco a respeito de longevidade. Mas ainda não existe uma solução def inida Ao longo dos últimos anos, o IRB-Brasil Re preparou-se para enfrentar o mercado concorrencial. O nosso foco será no cliente. Vamos atender de forma individualizada e a nossa grande vantagem é que temos um conhecimento profundo do mercado, ressalta Alessandra. Antranik Asarian Para ajudar ao cliente neste momento de adaptação à abertura de mercado, o IRB-Brasil Re está oferecendo treinamento em resseguro e subscrição de riscos de pessoas. Até o momento foram realizados treinamentos em dez seguradoras e já existem outros eventos agendados para os próximos meses. O encontro dura um dia. O objetivo é o de qualificar os riscos aceitos pelas seguradoras e, conseqüentemente, também os da carteira de resseguro, explica Alessandra Monteiro, destacando que estão sendo oferecidos treinamentos na área de sinistros de vida e acidentes pessoais. Vamos trabalhar em parceria e dividir a nossa expertise na área com nossos clientes. Kurt Müller A Münchener Rück do Brasil também acredita na expansão da oferta de resseguro para os mercados de vida e previdência privada no Brasil. De acordo com o presidente da companhia no Brasil, Kurt Müller, a expectativa, principalmente, em relação ao segmento de vida é grande. Atualmente, no Brasil, em seguro de vida, 1,4% do prêmio de risco total é 18 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 17-22, novembro 2008

MATÉRIA DE CAPA cedido em resseguro. Na Alemanha e na França os percentuais são de 6% e 8%, respectivamente. Por isso, estamos esperando, no Brasil, o aumento dessa participação de 1,4%. Além do que, esperamos que o mercado hoje significativo de co-seguro (R$ 422 milhões) migre naturalmente ao mercado de resseguros, explica. Para Kurt Müller, o mercado brasileiro de previdência privada também apresenta um enorme potencial, principalmente, porque nos últimos anos a população começou a tomar consciência da importância de se preparar para o futuro. Este é o ramo de maior crescimento. E as pessoas estão se conscientizando de que há necessidade de complementação de renda na fase de aposentadoria. No entanto, ele lembra que a questão da longevidade ainda é um desafio, não somente no Brasil, mas em todos os países. Há um grande interesse de transferência de risco a respeito de longevidade. Mas ainda não existe uma solução definida, finaliza Müller. Muitas possibilidades e algumas pendências para a oferta de novos resseguros A opinião dos especialistas é unânime: muitas questões ainda precisam ser resolvidas para que ofertas de novos tipos de resseguro possam surgir no mercado brasileiro. Uma delas é a legislação que norteia o segmento de saúde suplementar. Atualmente, de acordo com a regulamentação dos planos de saúde, as operadoras de planos podem contratar o resseguro diretamente das resseguradoras. Já a regulamentação de resseguro em vigor estabelece a necessidade de o contrato ser firmado entre uma seguradora e uma resseguradora. Ou seja, a legislação é conflitante com relação ao cedente. O primeiro passo é conseguir uma definição jurídica se as operadoras de saúde podem ser caracterizadas como cedentes, explica Murilo Chaim, diretor da Susep. Acervo ANS O diretor de Normas e Habilitação de Operadoras da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Alfredo Cardoso, ressalta que é preciso definir como vai ser a regulamentação, a sua abrangência e de que forma será a operação. Por isso, optamos por realizar uma proposta conjunta da ANS e da Susep, tendo em vista que o resseguro para saúde envolve características do mercado segurador e também do segmento de saúde suplementar, avalia. Para isso, Susep e ANS vão formar um grupo de trabalho especificamente para estudar o assunto. Alfredo Cardoso R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 17-22, novembro 2008 19

MATÉRIA DE CAPA Resseguradoras se preparam para oferecer soluções em Saúde Suplementar Apesar de ainda depender da questão jurídica, o mercado já se prepara para oferecer soluções em saúde suplementar. A relevância do setor pode ser traduzida em números: o segmento movimenta anualmente cerca de R$ 45 bilhões e garante a proteção de 48 milhões de beneficiários. A diretora da FenaSaúde, Solange Beatriz, vê com otimismo a oferta deste produto no Brasil. Há uma expectativa por parte dos operadores de planos de saúde de minimizar os picos de sinistralidade, de garantir o equilíbrio atuarial e de diminuir a exigência de capital por repassar risco. Diante dos custos elevados e crescentes na área da saúde, a expectativa é de que esse instrumento venha contribuir para o aprimoramento deste mercado, avalia. Mas a posição da Agência parece ser clara. A idéia da ANS é que todas as operadoras possam contratar resseguro diretamente das resseguradoras. Dessa forma aumentará a concorrência no mercado, diz Cardoso. A idéia da ANS é que todas as operadoras possam contratar resseguro diretamente das resseguradoras Amadurecimento Após 10 anos da regulamentação da saúde suplementar, com o estabelecimento da Lei 9.656, de 3 de junho de 1998, o amadurecimento do setor é visível. Este avanço pode ser observado em vários pontos: melhoria das informações econômico-financeiras e assistenciais; profissionalização a partir dos investimentos realizados em tecnologia da informação; aperfeiçoamento das regras; padronização e transmissão eletrônica de dados entre operadoras e prestadores por meio do TISS (Troca de Informações de Saúde Suplementar); e o gradual saneamento do mercado. 20 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 68, n. 305, p. 17-22, novembro 2008