VIAGEM RECENTE AOS ESTADOS UNIDOS ASPECTOS DE ERGONOMIA



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Transcrição:

1 VIAGEM RECENTE AOS ESTADOS UNIDOS ASPECTOS DE ERGONOMIA Hudson de Araújo Couto - Setembro de 2005 Em minha viagem recente aos Estados Unidos, em maio de 2005, ao lado dos aspectos gerais relacionados à Medicina do Trabalho e Meio Ambiente citados no Informativo anterior, fui buscar atualização em Ergonomia. As informações que passo a seguir são uma compilação dos dados obtidos no Congresso da ACOEM, na visita ao NIOSH e no estágio técnico no Centro de Ergonomia da Universidade de Michigan, onde apresentei um seminário sobre o Índice TOR-TOM, que está em fase final de desenvolvimento. Visita ao NIOSH Um dos dias mais importantes da viagem recente aos Estados Unidos foi a visita ao NIOSH em Cincinatti, estado de Ohio (DART- Division of Applied Researches Technology). Lá fui recebido pelos Drs. Thomas Waters, Stephen Hudock (engenheiros) e Thomas Hales (médico do trabalho). Como era de se esperar, a pauta principal era uma discussão profunda do critério do NIOSH (equações do NIOSH) para o levantamento manual de cargas, considerando a revisão feita em 1993. O mentor da revisão foi o eng. Thomas Waters, na instituição há 17 anos. Profissional dotado de um alto nível de conhecimento técnico e com alta rapidez de raciocínio, ele apresentou respostas seguras às principais dúvidas que levamos. Em síntese, o critério do NIOSH é considerado atual, de boa confiabilidade e os pesquisadores não têm motivos atuais para mudá-lo. Um alerta importante: cuidado na interpretação do Índice de Levantamento, uma vez que há alguns fatores que, se não forem considerados, podem levar a uma interpretação equivocada.

2 Em detalhes O critério do NIOSH necessita ser revisto? Não, por enquanto está atendendo bem à grande maioria das situações. O critério do NIOSH realmente é confiável? Os estudos têm mostrado que ele é mais confiável do que inicialmente pensado. Pensou-se inicialmente que o LPR (limite de peso recomendado) representasse um valor seguro para se proteger 90% dos homens e 75% das mulheres, mas os estudos científicos recentes, tanto os epidemiológicos quando os psicofísicos (em que a pessoa define a sua capacidade) têm mostrado que, quando o critério do NIOSH apresenta um Índice de Levantamento abaixo de 1, mais de 90% das mulheres e praticamente todos os homens saudáveis conseguem fazer a atividade. Como classifica atualmente os limites do Índice de Levantamento de Cargas e o risco? Para o IL abaixo de 0,9 sem preocupação, seguro; 0,9 a 1,2 também considerar seguro, a menos que a força de trabalho seja predominantemente de pessoas do sexo feminino e de baixa capacidade de força física; de 1,2 a 2,0 tomar cuidado quanto às condições de trabalho; e acima de 2,0, direcionar forte atenção para com essas condições de trabalho. Mas os estudos epidemiológicos apresentados por você no congresso da ACOEM mostram uma redução na incidência de lesões e queixas em situações de IL acima de 3. Como explicar? Nesse caso, trata-se de situações de seleção natural ou planejada, ou seja, naquelas situações somente encontramos indivíduos fisicamente muito bem preparados. (É importante lembrar que, na essência, a definição do critério do NIOSH prevê que 25% dos homens conseguirá fazer o esforço em situações de IL maior que 1. Ainda não tem dados para dizer se aqueles indivíduos envolvidos em tarefas de alta exigência ficaram incapacitados depois de alguns anos nessas atividades). Como lidar com as situações de levantamento com uma das mãos? Aplica-se o critério proposto pela Clínica del Lavoro de Milão, de aplicar-se o multiplicador 0,6? O NIOSH não endossa esse parecer, embora reconheça que nesse tipo de situação a exigência é maior. Waters recomenda que seja feita uma ponderação quanto a consideração de risco, ou seja, se o cálculo do Índice de Levantamento tiver mostrado um determinado valor (sem risco, risco ou alto

3 risco), caso o levantamento de peso esteja sendo feito com uma das mãos, considerar um nível acima. Uma das críticas ao critério do NIOSH é que ele não incorpora o carregamento da carga. Não se deveria acrescentar este fator? O critério do NIOSH pode ser usado quando a pessoa dá até 2 passos carregando a carga, pois nesse caso não haverá interferência desse fator com a freqüência de levantamento. Quando o indivíduo tem que carregar a carga por distâncias maiores, na realidade deveria ser aplicada outra ferramenta de avaliação (metabolimetria), e não o critério do NIOSH. (Nesse ponto fazemos a seguinte consideração: há um grande número de situações de trabalho em que o trabalhador levanta e carrega cargas e o dispêndio energético está situado abaixo do limite de fadiga física, que é de 4,5 kcal/min; consideramos que uma futura revisão da equação do NIOSH deveria incorporar uma análise deste aspecto). Que outros fatores devem ser considerados para mudar de faixa na interpretação do critério do NIOSH? Ambientes muito úmidos, esforços feitos com arrancos nos movimentos, horas extras e a necessidade posterior de carregar a carga por distâncias maiores que 2 passos. O critério do NIOSH pode ser aplicado quando a pessoa trabalha sentada? Originalmente, o critério não foi pensado para essa situação, mas não há inconvenientes em usá-la, desde que se faça a mesma ponderação citada para levantamento com uma das mãos, isso quando ocorre nas situações limítrofes. Ou seja, se a aplicação do critério tiver mostrado um IL de 0,6 ou abaixo, é claro que o mesmo será válido; mas se o critério tiver mostrado Índice de Levantamento entre 0,8 a 0,9, ao invés de considerar esta situação como segura, considere como de risco, se a pessoa estiver trabalhando sentada. Quais são as evoluções previstas para o critério do NIOSH há duas evoluções: uma delas já colocada no livro editado pelo NIOSH (e que se encontra disponível por Internet no endereço www.cdc.gov/niosh/94-110.html) é a que prevê a variação dos diversos fatores envolvidos ao longo da tarefa, como por exemplo, numa paletização; outra a que prevê a avaliação em que o indivíduo faz diversos tipos de atividades durante sua jornada; para essas situações, Occhipinti e Colombini, na Itália, estão desenvolvendo junto com Tom Waters o que é denominado SLI (Sequence Index Lifting), mas ainda não está publicado.

4 Esta ferramenta dará mais força ao critério do NIOSH, habilitando-o para um número maior de situações práticas. O critério do NIOSH é obrigatório nos Estados Unidos? É difícil definir, mas é considerado um guideline, não um requirement. Alguns podem argüir que sim, que é obrigatório, pois baseado no OSHA Act de 1970, artigo 5 (a) 1 (general duty clauses- ver transcrição dessa cláusula, ao final deste artigo), o empregador não pode expor o empregado a qualquer risco e, sabendo-se que existe um estudo claro mostrando que situações de IL alto são de alto risco, o empregador deveria estar obrigado. Mas é uma discussão que envolve advogados. Mas a OSHA ainda não o transformou em Standard. Um dos aspectos mais interessantes passados a este consultor pelo Eng. Thomas Waters foi uma visão geral de quando usar cada ferramenta na avaliação do risco para a coluna vertebral em atividades de levantamento de cargas e de exigência para a coluna vertebral. Em síntese, isso vai depender da circunstância, podendo ser usada a equação do NIOSH, modelos biomecânicos, metabolimetria ou um modelo baseado num equipamento de análise criado por William Marras, em Columbus, Ohio. Em detalhes: Quando a atividade envolver alta exigência, porém em baixa freqüência, a melhor ferramenta são os modelos biomecânicos (um dos modelos mais atuais é o 3DSSPP-Tridimentional Static Strenght Prediction Programdesenvolvido pela Universidade de Michigan, sob responsabilidade do Dr. Don Chaffin). É importante lembrar que essa ferramenta permite também a análise de atividades de exigência diferente, tais como puxar e empurrar, sempre lembrando a necessidade de se ter um dinamômetro para a avaliação da força realizada na tarefa. Quando a atividade envolver exigência constante de levantamento de cargas, em condições padronizadas, usar a equação do NIOSH. Quando a atividade envolver movimentação intensa de pacotes e cargas, como acontece nos depósitos e armazéns de distribuição, o melhor é usar a metabolimetria e a medida da freqüência cardíaca, para definição de tempo

5 de trabalho e tempo de repouso. (É importante lembrar que, nesses casos, mesmo com metabolismo razoável, pode haver lesão se houver movimentação de carga muito pesada). O modelo de William Marras é denominado LMM (Lumbar Motin Monitor) e prevê a instalação de um equipamento sofisticado, composto de 3 goniômetros capazes de medir a inclinação, a lateralização e a torção da coluna vertebral durante o esforço, bem como a velocidade dos movimentos. Com base em informações básicas da atividade passadas pelo pesquisador para o software (peso, distância horizontal, distância vertical no destino), o sistema analisa a exigência na tarefa e classifica o esforço em porcentagem de risco de lombalgia. Em detalhes: O equipamento é usado pelo trabalhador e o pesquisador pode ter acesso aos dados tanto diretamente (através de telemetria 10 metros de distância), quanto posteriormente, pois há um datalog coletor de dados - incorporado ao equipamento. Na tela do computador pode-se ver gráficos dos movimentos realizados, tanto de ângulo de flexão, quanto de velocidade de movimentos e aceleração dos movimentos. Com base numa lógica interna, o programa informa os seguintes resultados: freqüência de levantamento, velocidade média de torção, momento máximo, flexão sagital máxima e flexão lateral máxima. E, baseado em experiência do autor, o programa coloca um resultado final de probabilidade de risco de distúrbios da coluna vertebral, classificando a tarefa em alto risco, risco médio e baixo risco. Como em qualquer sistema ou modelo proposto, há críticas ao sistema de William Marras, de que seria pouco sensível à duração do esforço. O custo aproximado do equipamento e do sistema é de 33 mil dólares. Ao lado de tantas tecnologias elegantes, encontramos ainda no NIOSH um sistema bastante primitivo, de análise do esforço de membros superiores na tela do computador, analisando quadro a quadro o posicionamento dos diversos segmentos corpóreos e

6 anotando a angulação encontrada, dentro de parâmetros. Para se ter uma idéia, para analisar um ciclo de 1 minuto gasta-se cerca de 2 horas. Esse sistema foi usado pela Ergo nos anos de 1990 e foi abandonado por existirem atualmente técnicas bem mais modernas. Muito mais moderno é o que Thomas Waters e outros pesquisadores estão tentando implementar no laboratório do NIOSH: sensores em 16 pontos do corpo, junto com um sistema de data-collecting utilizado em Medicina Esportiva, em que um pesquisador, assistindo ao vídeo da tarefa, simula a realização da mesma em câmera-lenta, sendo que o programa capta toda a angulação. Pudemos assistir a um ensaio da mesma e é previsto que venha a se tornar uma metodologia de referência no futuro. Outros estudos de Ergonomia que estão sendo feitos no próprio laboratório do NIOSH: alternativas para a pipetagem em laboratórios, cabos de chaves de fenda e parafusadeiras e sua melhor adequação em termos de torque e menor esforço nesse caso, há uma metodologia elegante, baseada no uso de uma luva dotada de 18 sensores de força, que são pré-calibrados em dinamômetro de célula de carga, verificando-se o esforço que o indivíduo irá fazer em tarefa padronizada. Num dos últimos boletins do NIOSH (Workplace Solutions), é feita uma análise e uma série de recomendações quanto à prevenção de distúrbios e de lesões no levantamento e movimentação de pacientes. Em síntese, o NIOSH recomenda que seja adotada a sugestão do Veterans Health Administration, de 2005, que fundamenta a prevenção em 4 pontos principais: equipamentos próprios para a movimentação dos pacientes, avaliação técnica da tarefa de movimentação dos pacientes, dar treinamento adequado ao pessoal envolvido e avaliar a eficácia da solução. Em detalhes Entre os equipamentos de auxílio na movimentação de pacientes, destacam-se: (a) dispositivo para mover o paciente desde a posição sentada até de pé; (b) talha montada no teto; (c) dispositivo de deambulação; (d) girafa de movimentação do paciente; (e) dispositivo de redução da fricção na movimentação de pacientes entre o leito e a maca; (f) cinto dotado de alça colocado no paciente- facilita a movimentação do mesmo.

7 O informativo do NIOSH destaca que as soluções podem ser complexas e devem ser bem analisadas quanto à sua eficácia. O NIOSH recomenda o site www.patientsafetycenter.com/safe%20pt%20handling%20div.htm onde podem ser obtidas informações preciosas, inclusive um algoritmo que orienta quanto às melhores condutas visando a movimentação segura do paciente. ACGIH propõe limites de tolerância para levantamento de cargas e mantém critério do HAL para limite de tolerância em atividades de membros superiores A American Conference of Governmental Industrial Hygienists (entidade privada) movimentou-se e criou um limite de tolerância para levantamento de cargas, que se encontra no livreto anual daquela instituição. Em detalhes: O critério da ACGIH é baseado em 3 tabelas, todas elas relacionadas à freqüência do esforço; a partir daí, a Tabela 1 especifica levantamento de cargas no nível dos ombros, conforme costuma acontecer na unitização de cargas em containers. A Tabela 2 fala das situações em que a carga é pega no nível da canela e é levantada até o nível do púbis, aproximadamente; e a Tabela 3 fala da elevação de cargas desde o nível do chão até o nível das canelas. Dois detalhes: a ACGIH aceita o levantamento de cargas desde o nível da canela até o nível aproximado do púbis de até 32 kg, desde que próximo do corpo; e não há uma tabela de levantamento de carga desde o nível do chão até o nível dos cotovelos, que seria muito útil; mas pode-se deduzir pelas outras tabelas que, nessa situação, a ACGIH recomenda um limite de 14 kg. O livreto com os limites de tolerância da ACGIH especificados para 2005 pode ser obtido naquela instituição (www.acgih.org) ou no Brasil na ABHO (Associação Brasileira dos Higienistas Ocupacionais (www.abho.org.br ). O critério da ACGIH para membros superiores, mantido desde a intenção de proposição em 1999, é baseado no HAL (Hand Activity Level, que poderia ser traduzido por nível

8 de atividade das mãos), que é comparado com o NPF (Pico de Força Ajustado). O pessoal do Center for Ergonomics (com Thomas Armstrong à frente) tem uma vasta experiência com o uso do HAL e o considera de grande valor na avaliação e definição objetiva do risco em atividades denominadas monotask (ou seja, em que o tipo de atividade é o mesmo, não havendo diversificação). Em detalhes Analisando a atividade em campo em video-tape, o HAL (nível de atividade das mãos) é classificado por dois analistas numa escala de 0 a 10, da seguinte forma: (0) mãos desocupadas a maior parte do tempo, sem esforço regular; (2) pausas longas bem nítidas ou movimentos lentos; (4) movimentos ou esforços lentos ou de pouca variabilidade; pequenas pausas ocorrem freqüentemente; (6) movimentos e esforços constantes- ocorrência infreqüente de pausas; (8) movimentos ou esforços rápidos e constantes- inexistência de pausas; (10) movimentos constantes e rápidos dificuldade de manter o ritmo ou exigência contínua. Este valor é cruzado com o valor do pico de força ajustado, que considera o valor atribuído pelos trabalhadores àquele esforço numa escala de 1 a 10 e compara o valor encontrado com a medida média de dinamometria manual daquela população ou de uma população de referência. Os números assim cruzados (HAL e NPF) são levados a uma escala, que mostra se a tarefa se encontra acima do TLV, entre o TLV e o Nível de Ação ou abaixo do nível de ação. Até o presente momento, esse limite de tolerância é referendado apenas para esforços de mãos e antebraços, não tendo sido ainda validado para ombros. Maiores detalhes podem ser obtidos no website do Prof. Thomas J.Armstrong, diretor do Centro de Ergonomia da Universidade de Michigan. Ali também é possível ter algumas situações comuns de trabalho e fazer exercícios simulados de calcular o limite de tolerância. Ver site http://umrerc.engin.umich.edu/jobdatabase/rerc2/hal/acgihtlv.htm

9 O programa 3 D da Universidade de Michigan O Centro de Ergonomia da Universidade de Michigan lançou em julho de 2005 a versão 5 do programa de avaliação de esforço estático em 3 dimensões (3DSSPP 3D Static Strenght Prediction Program), criado há cerca de 25 anos e que vem sendo atualizado de forma competente e ficando cada vez mais fácil de ser usado ao longo desses anos. Tivemos uma demonstração dos recursos da versão 5.0 e podemos dizer que a mesma contém muitas novidades que fazem diferença. Para maiores informações, consulte www.engin.umich.edu/dept/ioe/3dsspp. Em detalhes: A versão 5.0 do 3DSSPP incorpora pelo menos as seguintes melhorias, todas elas muito úteis: Recursos de tornar mais fácil a posição do humanóide que ilustra a tela, possibilitando assim que o analista do trabalho simule com mais facilidade o posicionamento do corpo do trabalhador ao realizar a tarefa; Posição sentada nesta versão, é possível utilizar o modelo para calcular o impacto de esforços de levantamento de carga feitos nesta posição; é também possível programar para que o software faça mudanças na postura da pelve, de acordo com tipos básicos de cadeiras e assentos; Em tarefas feitas em posições extremas, é possível ver a posição do centro de massa do corpo em relação aos limites do centro de equilíbrio; Os limites de tolerância estão representados agora em cores intuitivas: verde sem risco, amarelo atenção, e vermelho quando há risco; Permite avaliar a sobrecarga numa perna ou na outra, bem como permite que o analista coloque voluntariamente o peso numa só perna do modelo, simulando o que ocorre com freqüência no trabalho; Houve uma modificação nas tabelas de centro de massa dos diversos segmentos, mais compatível com as diferenças entre homens e mulheres; É possível entrar com dados antropométricos de uma população trabalhadora conhecida, nos limites de percentis 5, 50 e 95%;

10 É também possível mudar os dados de força, inclusive colocando algumas forças exercidas em algumas partes do corpo, por exemplo, quando carregando uma sacola com a resistência aplicada sobre um dos cotovelos; É também possível ir mudando os parâmetros de resistência e verificando, par-epasso, o impacto sobre os diversos segmentos corpóreos: Foi incluído o recurso de modificar o torque sobre a mão, em situação semelhante a que ocorre com o martelo, em que o peso não está distribuído eqüitativamente pelas mãos; Foi incluída uma tabela para interpretar fadiga de acordo com as escalas de Rommert, segundo as quais, quanto mais o indivíduo estiver usando seu torque máximo voluntário, mais facilmente ele terá fadiga; Enfim, uma grande mudança, para melhor, numa ferramenta muito útil na análise de esforços ocasionais.

11 Do Modelo Biomecânico Tridimensional ao Projeto Simulador de Esforços Humanos (HUMOSIM) Com o seu afastamento da direção do Centro de Ergonomia da Universidade de Michigan, o Prof. Don Chaffin tem se dedicado à coordenação do desenvolvimento do HUMOSIM; na realidade é um projeto de parceria entre a Universidade e diversas empresas, incluindo a empresa norte-americana que desenvolve o software de projeto intitulado Jack. O projeto HUMOSIN está originando informações importantes para os parceiros desse consórcio e deve estar disponível para um licenciamento para qualquer empresa a partir de 2007. Parceiras no projeto como a Ford, Daimler Chrysler e outras já têm usado o HUMOSIM para planejar futuros postos de trabalho. Em detalhes: Atualmente já estão incorporados ao projeto HUMOSIM nada menos que 180 tipos de movimentos comumente feitos pelo trabalhador ao exercer sua atividade; o mais impressionante é que, enquanto o sistema mostra a atividade feita pelo trabalhador, ao mesmo tempo existe informação dinâmica sobre o grau de sobrecarga para cada uma das principais articulações, permitindo ao projetista de postos de trabalho congelar a imagem e estudar o impacto daquele movimento sobre o ser humano, com o objetivo final de se ter um trabalho seguro para o ser humano. Uma visão geral do HUMOSIM pode ser vista no site www.humosim.org, onde também estão disponíveis algumas simulações de esforços, verificando-se simultaneamente o impacto para as diversas articulações. Outros projetos atuais no Centro de Ergonomia da Universidade de Michigan Os projetos daquele centro de excelência são muitos, mas tive minha atenção voltada para aqueles aspectos que mais demandam para a nossa realidade:

12 O esforço ao colocar mangueiras nos automóveis está sendo analisado atualmente num projeto patrocinado pela General Motors; trata-se de uma das tarefas críticas na indústria automobilística e o Centro de Ergonomia está terminando a montagem da metodologia de pesquisa, que prevê a utilização de uma espécie de luva com marcadores, que indicará o tipo de esforço que está sendo praticado pelo trabalhador, associado às células de carga, que registrarão a intensidade do esforço; ao lado disso, já foi feita uma pesquisa com os trabalhadores quantificando a visão dos mesmos quanto ao esforço praticado, numa escala de 0 a 10, comparando os resultados com os testes de eletromiografia de superfície feitos em campo (os pesquisadores também fizeram uma estimativa); o resultado parcial é que os trabalhadores estimam melhor o esforço que os pesquisadores; as mulheres avaliam melhor que os homens; quando não há visibilidade na montagem (montagem cega) o trabalhador avalia o esforço como pior; aqueles mais antigos na profissão também avaliam o nível de esforço como mais alto, mas eles são capazes de fazê-lo executando uma intensidade menor de esforço; está sendo feita agora uma estratificação para os diversos tipos de mangueira existentes no motor do automóvel. Outros aspectos relacionados à Ergonomia nos Estados Unidos Um dos aspectos mais freqüentes em nossa visão é a questão da obesidade e suas conseqüências para dificultar a condição física da pessoa em realizar um determinado trabalho. Esse aspecto, associado à questão do envelhecimento, se constitui em ponto fundamental da agenda de Ergonomia naquele país nos próximos anos, constituindo-se em tema de congresso científico. O assunto está também na pauta dos advogados das empresas seguradoras (workers compensation), que utilizam o dado para tentar isentar as empresas de pagamento de indenização, com o seguinte argumento: o problema está com os trabalhadores que fumam e estão excessivamente gordos, desta forma inaptos para o trabalho. A redução do peso da mala nas aeronaves também foi outro fato marcante; até recentemente, uma mala podia pesar até 70 pounds (32 kg). Atualmente esse valor foi reduzido para 50 pounds, o equivalente a 23 kg. O motivo alegado foi realmente a incidência de transtornos músculo-esqueléticos. Não ficamos sabendo de que forma essa medida foi adotada (se por pressão dos sindicatos ou por regulamentação da agência

13 federal OSHA), mas segundo o Prof. Chaffin, deve ter sido por acordo entre o sindicato e as empresas. O trabalho pesado ainda é um problema nos Estados Unidos Quando de minha primeira visita ao Centro de Ergonomia da Universidade de Michigan, o Dr. Chaffin informou que, pelos seus cálculos, 1 de cada 3 tipos de trabalho nos Estados Unidos era de alta demanda física; atualmente, segundo ele, é um de cada 4 tipos de trabalho, o que representa uma grande melhoria, ocorrida ao longo de 25 anos. OSHA ACT - Extrato