ESTRUTURAÇÃO DA PROPRIEDADE PRIVADA DA TERRA NO MUNICÍPIO DE DOIS VIZINHOS PR NAS DÉCADAS DE 1960 E 1970

Documentos relacionados
PRESENÇA DE ASSENTAMENTOS RURAIS NA MESORREGIÃO CENTRO-OCIDENTAL DO PARANÁ

DESENVOLVIMENTO DO ESPAÇO AGRÁRIO DO MUNICÍPIO DE FRANCISCO BELTRÃO PR.

PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA E ESTRUTURAÇÃO FUNDIÁRIA NA MICRORREGIÃO DE DOURADOS MS. Diego da Silva Souza¹; Prof. Drº. Marcos Kazuo Matushima²

MUNICÍPIO DE LONDRINA Plano Municipal de Saneamento Básico Relatório de Diagnóstico da Situação do Saneamento

DATALUTA PARANÁ BANCO DE DADOS DA LUTA PELA TERRA: RELATÓRIO 2012

Gislane Barbosa Fernandes 1 Thais Chaves Freires 2 Suzane Tosta Souza 3 INTRODUÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM GEOGRAFIA CLAUDIA APARECIDA CARA

1ª CIRCULAR IV JORNADA DE PESQUISAS SOBRE A QUESTÃO AGRÁRIA NO PARANÁ

O SETOR PRIMÁRIO E AS TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS E REGIONAIS NO ESTADO DE GOIÁS

Palavras-Chave: Atividade Industrial, Humildes, Desenvolvimento, Urbanização.

PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO VERDE GO LEI COMPLEMENTAR N /2011

Exercícios Complementares de Ciências Humanas Geografia Ensino Fundamental. Regiões Brasileiras

DOCENTE: JORDANA MEDEIROS COSTA

A ESTRUTURA FUNDIÁRIA BRASILEIRA: UMA ABORDAGEM SOBRE AS DESIGUALDADES

Concentração fundiária brasileira Passado histórico colonial. Lei de terras de 1850 (estabelecia a compra como a única forma de acesso à terra). Forte

Localização do Imóvel Matrícula

Grupo de Estudo sobre Trabalho, Espaço e Campesinato Departamento de Geociências/UFPB Programa de Pós-graduação em Geografia/UFPB

EVOLUÇÃO DAS OCUPAÇÕES DE TERRA NO ESTADO DA PARAÍBA: UMA ANÁLISE A PARTIR DO DATALUTA

O Latifúndio e seus desdobramentos na microrregião geográfica de União da Vitória - Paraná

Exercícios Revolução Verde

DINÂMICA TERRITORIAL RURAL DA MICRORREGIÃO DE JAGUARIAÍVA PR.

COLÉGIO 7 DE SETEMBRO DISCIPLINA DE GEOGRAFIA PROF. RONALDO LOURENÇO 7º ANO. PERCURSO 14 REGIÃO NORTE a construção de espaços geográficos

Geraldo Agostinho de Jesus

FORMAÇÃO SÓCIO ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE CAPANEMA

O FLUXO MIGRATÓRIO DOS DESCENDENTES DE POLONESES PARA O MUNICÍPIO DE PATO BRANCO-PR. Marcos Aurélio Saquet Colegiado de Geografia Unioeste

A EXPANSÃO URBANA DO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DEL-REI: UMA NOTA

Declaração para Cadastro de Imóveis Rurais. Manual de Orientação para Preenchimento da

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL A APARTIR DO CENTRO DE APOIO AO PEQUENO AGRICULTOR (CAPA) ENTRE OS LUTERANOS NO OESTE DO PARANÁ. Relato de Experiência

A ESTRUTURA FUNDIÁRIA E A REFORMA AGRÁRIA ESTRUTURA FUNDIÁRIA É A FORMA COMO AS PROPRIEDADES AGRÁRIAS DE UMA ÁREA OU PAÍS ESTÃO ORGANIZADAS, ISTO É,

AS REGIÕES DO BRASIL: REGIÕES CENTRO OESTE E SUL

Divulgação preliminar

LABORATÓRIO DE ESTUDOS TERRITORIAIS

ASSENTAMENTO E PRODUÇÃO DO ESPAÇO RURAL: Uma reflexão das ações do sindicato no espaço do Assentamento Força Jovem em Ubaíra - BA

Territorialidades associativas e cooperativas dos pequenos produtores rurais de corumbataí do sul pr

MESORREGIÃO OESTE DO PARANÁ: IMPLICAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS ( )

MOVIMENTOS SOCIAIS E POLÍTICA NO TOCANTINS: LUTA PELA TERRA E PRODUÇÃO DE SABERES

MATO GROSSO DO SUL RELATÓRIO 2012

Imposto sobre circulação de Mercadoria e Prestação de Serviço

UPE Campus Petrolina PROGRAMA DA DISCIPLINA

Transformações socioeconômicas e gestão territorial: o caso do município de Boa Esperança PR

OS LIMITES ENTRE O URBANO E O RURAL: UMA ANÁLISE SOBRE AS DECISÕES NORMATIVAS DA CÂMARA MUNICIPAL NO MUNICÍPIO DE LAJEADO-RS

Brasília, Brasil A Experiência do INCRA em Parceria com o Governo do Estado do Ceará no Cadastro e Regularização Fundiária

Evolução recente da estrutura fundiária e. propriedade agrícola no Brasil. Marlon Gomes Ney. Universidade Estadual do Norte Fluminense

Palavras Chave: segunda residência; produção do espaço urbano; dinâmica imobiliária; Santos SP; segregação socioespacial 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

UFGD/FCBA Caixa Postal 533, 79, Dourados-MS, 1

A TERRITORIALIZAÇÃO DO CAPITAL NO CAMPO: O CASO DA EXPANSÃO DA MONOCULTURA CANAVIEIRA EM DRACENA (SP) 1

01- Analise a figura abaixo e aponte as capitais dos 3 estados que compõem a Região Sul.

LOCALIZAÇÃO DO ESTADO NO BRASIL

ASPECTOS DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA NO MUNICÍPIO DE CIANORTE NA REGIÃO NOROESTE DO PARANÁ

AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES E CONTROLE NAS PROPRIEDADES DE FRANCISCO BELTRÃO, NOVA PRATA DO IGUAÇU E SÃO JORGE D OESTE

POLÍTICA HABITACIONAL NO MUNICÍPIO DE ANGÉLICA MS: PAPÉIS URBANOS E REPRODUÇÃO SOCIAL

Dienison B. Oliveira Acadêmico do Curso de Licenciatura em Geografia Universidade Estadual de Goiás/Unidade de Goiás

PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR E AS ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL E ECONÔMICA NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP)

Ciências Humanas e suas Tecnologias - Geografia 1ª Série Ensino Médio A Estrutura Agrária do Brasil

A LUTA PELA TERRA NO MUNICÍPIO DE ITIÚBA E AS CONTRADIÇÕES DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA i

RELATO. III Simpósio Nacional de Geografia Agrária II Simpósio Internacional de Geografia Agrária I Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira

PALAVRAS-CHAVE: Lutas, sem-terra, assentamentos, produção de leite, cooperativas.

Agricultura Familiar e Comercial nos Censos. Agropecuários de 1996 e Carlos Otávio de Freitas Erly Cardoso Teixeira

As cidades e a urbanização brasileira. Professor Diego Alves de Oliveira IFMG Campus Betim Fevereiro de 2017

SANTA CATARINA: Desenvolvimento Regional E Dinâmicas Atuais. PROF. LAURO MATTEI CHAPECÓ (SC),

Abordagem Sobre o Agrário

Localização do Imóvel Matrícula

MATOPIBA: expansão agrícola no cerrado

Prof. Marcos Colégio Sta. Clara ASSENTAMENTO MILTON SANTOS (AMERICANA/SP, 2014)

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

ASSENTAMENTO MILTON SANTOS (AMERICANA/SP) Prof. Marcos Colégio Sta. Clara

nos países em desenvolvimento, constituem-se num problema maior. dentro das próprias regiões, o desenvolvimento ocorre, também, de forma desigual.

APRESENTAÇÃO DA REGIÃO SUL A REGIÃO SUL

Entre a História e a Memória: o Cinquentenário da Revolta dos Posseiros no Sudoeste do Paraná Mayara da Fontoura das Chagas 1

PLURIATIVIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNÍCIPIO DE ITAPEJARA D OESTE PR 1 FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL NO CAMPO DO MUNICÍPIO DE ITAPEJARA D OESTE

CONTAMINAÇÃO POR AGROTÓXICOS EM PORECATU-PR: abordagem e espacialização de conflitos

O III PLANO DIRETOR E A ZONA NORTE: A questão do rururbano na cidade de Pelotas-RS

a) b) c) d) e) 3 2 1

ANÁLISE DO RECORTE ESPACIAL DE DISSERTAÇÕES E TESES COM A TEMÁTICA DO TURISMO (ÁREA DE GEOGRAFIA) NO ESTADO DO PARANÁ 1

ASSENTAMENTO MILTON SANTOS (AMERICANA/SP, 2015) Colégio Sta. Clara Prof. Marcos N. Giusti

A TERRITORIALIDADE CAMPONESA NO ASSENTAMENTO LAGOA GRANDE, MUNICÍPIO DE DOURADOS - MS: CAMINHOS E LUTAS PELA PERMANÊNCIA NA TERRA

O Ordenamento Fundiário no Brasil. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

A dinâmica agrária no espaço fronteira Brasil/Uruguai

GEOGRAFIA ESCOLAR E A CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS. Marilene Francieli Wilhelm (PIBID/UNIOESTE) Marli Terezinha Szumilo Schlosser (PIBID/UNIOESTE)

Opções produtivas e populacional dos municípios do território do sudoeste goiano.

PREVALÊNCIA DE FASCIOLOSE HEPÁTICA NO DESCARTE DE VÍSCERAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

MATO GROSSO DO SUL RELATÓRIO 2013

A importância da análise da circulação de ônibus para o estudo das relações interurbanas: o caso da Região Administrativa de Presidente Prudente-SP

AUP 266 Planejamento de Estruturas Urbanas I Prof. Maria Cristina Leme SETOR 6

ESTRUTURA FUNDIÁRIA BRASILEIRA

ATER e SETOR PÚBLICO no BRASIL

DESDOBRAMENTOS DA MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NO ESTADO DO PARANÁ (BRASIL)

GEOGRAFIA 9 ESTRUTURA FUNDIÁRIA BRASILEIRA

DIREITO AGRÁRIO LEGITIMAÇÃO DE POSSE

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO DIRETORIA DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PORTAL DIA A DIA EDUCAÇÃO

A ESPACIALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS DE LUTA PELA TERRA NO MUNICIPIO DE ITUIUTABA (MG) 1

ESTRATÉGIAS DE EXISTÊNCIA CAMPONESA FRENTE À EXPANSÃO DO AGRONEGÓCIO

PANORAMA DA INDÚSTRIA METAL-MECÂNICA NO PARANÁ

Meio Rural X Meio Agrário:

POLÍTICAS TERRITORIAIS, AGROENERGIA E CAMPESINATO: encontros e desencontros no território em disputa.

Aula Ao Vivo(18/04/2013) - Geografia Agrária do Brasil

Plano de Recuperação Semestral EF2

MAPAS/ DIVISÃO REGIONAL DO BRASIL

GEOGRAFIA ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO 2ª ETAPA 2017

A Informalidade no Acesso a Terra no Estado do Acre a partir dos dados do Cadastro Ambiental Rural

Transcrição:

ESTRUTURAÇÃO DA PROPRIEDADE PRIVADA DA TERRA NO MUNICÍPIO DE DOIS VIZINHOS PR NAS DÉCADAS DE 1960 E 1970 Claudia Aparecida Cara 1*, Marli Terezinha Szumilo Schlosser 2 [orientadora] 1 Mestranda de Geografia do Curso de Pós Graduação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Câmpus Francisco Beltrão, Paraná. E-mail: claudiadvpr@yahoo.com.br. 2 Professora Dra. do departamento de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Câmpus de Marechal Candido Rondon, Paraná. E-mail: marli20@hotmail.com * Autor para correspondência Resumo: O objetivo da pesquisa é demonstrar a forma com que ocorreu a distribuição e o acesso à terra aos camponeses no município de Dois Vizinhos entre as décadas de 1960 e 1970, período em que se estruturou a propriedade privada da terra no Sudoeste do Paraná e município de Dois Vizinhos, a partir da atuação do Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná (GETSOP). Para tanto, foi utilizado material fornecido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a partir dos registros do GETSOP entre as décadas de 1960 e 1970. O GETSOP emitiu nesse período 2.746 títulos rurais a 2.188 proprietários distribuídos entre as 31 glebas que formam o município de Dois Vizinhos, mais 145 chácaras próximas a área urbana, fato que proporcionou ao município uma estrutura fundiária baseada em pequenas propriedades. Palavras-chave: capitalismo, colonização, conflitos, estrutura fundiária Introdução O monopólio da terra é marca essencial do desenvolvimento do capitalismo no Brasil, visto que, os trabalhadores que não dispõem de condições financeiras para adquirir o título da terra, se vêem obrigados a vender ou trocar sua força de trabalho a quem dispusesse de terra e capital, ou ainda, lhes restava ocupar terras devolutas que mais tarde lhes seriam tomadas em virtude da expansão e acumulação de capitais (OLIVEIRA, 1986). Neste contexto, a expropriação e subordinação da terra, que há séculos vem sendo praticada no Brasil, têm ocasionado a insatisfação de parte da população que se mantém lutando e reivindicando o direito de acesso e uso à terra, gerando assim, inúmeros conflitos fundiários. Estes conflitos puderam ser observados no Sudoeste do Paraná e município de Dois Vizinhos, quando a população que aqui residia passou a reivindicar o título da terra e se opor aos interesses das companhias imobiliárias que passaram a atuar na região. Neste sentido, objetiva-se analisar como se deu a distribuição e acesso à terra aos camponeses no município de Dois Vizinhos PR, entre as décadas de 1960 e 1970. Material e Métodos Dois Vizinhos limita-se (Figura 1) a Norte, com os municípios de Boa Esperança do Iguaçu e Cruzeiro do Iguaçu, a Leste com São Jorge do Oeste, a Oeste com Salto do Lontra e Enéas Marques, e ao Sul com o município de Verê. A área rural do município é organizada em 31 glebas, sendo elas: 17F.B.; 76F.B.; 78F.B.; 87F.B.; 93F.B.; 107F.B.; 03D.V.; 13D.V; 14D.V; 15D.V; 16D.V; 19D.V; 20D.V; 21D.V; 22D.V; 23D.V; 24 D.V; 25D.V; 26D.V; 28D.V; 29D.V; 30D.V; 31D.V; 32D.V; 33D.V; 35D.V; 36D.V; 38D.V; 39D.V; 40D.V e 41D.V. A pesquisa foi desenvolvida a partir de dados obtidos junto ao INCRA no ano de 2011, a partir de registros do GETSOP referentes as décadas de 1960 e 1970, conforme o Cadastro da Colônia Missões Núcleo de Francisco Beltrão e município de Dois Vizinhos. 17 e 18 de Outubro de 2011 118

Foi realizado também, levantamento de dados junto aos Órgãos competentes: Prefeitura Municipal de Dois Vizinhos, Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES) com o objetivo de delinear a estrutura fundiária do município de Dois Vizinhos entre as décadas de 1960 e 1970, em função do tamanho da propriedade: 0 a 10 ha; 10 a 20 ha; 20 a 50 ha; 50 a 100 ha; 100 a 250 ha e > 250 ha. A partir dos dados cedidos pelo INCRA, foi comparando o número de títulos e o número de proprietários titulados pelo GETSOP entre as décadas de 1960 e 1970, em função do tamanho da propriedade. Foi organizada a partir de mapas cedidos pela Prefeitura Municipal de Dois Vizinhos (Figura 2) a distribuição das 31 glebas pelo município. Resultados e Discussão A história brasileira tem mostrado que desde os tempos do descobrimento, até os dias atuais, a concentração e apropriação de terras têm sido muito desigual, bem como o acesso a tecnologias, fatores estes, que dão características especificas à cada região do país. Sendo assim, ao se estudar a estrutura fundiária de uma região, se faz necessário considerar historicamente como se deu o processo de colonização e distribuição de terras, ou seja, de que maneira ocorreu o acesso à terra ao camponês. O município de Dois Vizinhos pertence à microrregião de Francisco Beltrão e mesorregião do Sudoeste do Paraná, foi emancipado em 28 de novembro de 1961 pelo decreto número 4.246/60, tendo sido criados logo em seguida dois Distritos Administrativos, o de Cruzeiro de Iguaçu, criado em 1965, e o de Boa Esperança do Iguaçu, criado em 1966. Ambos os Distritos se desmembram do município de Dois Vizinhos na década de 1990 dando origem a dois novos municípios, Cruzeiro do Iguaçu e Boa Esperança do Iguaçu. A estruturação da propriedade privada da terra no Sudoeste do Paraná e município de Dois Vizinhos é resultado de um processo histórico, marcado por inúmeros conflitos, dentre os quais se destacam a questão entre Brasil e Argentina; o conflito entre Paraná e Santa Catarina; o conflito entre o Governo Estadual e o Governo Federal; a criação da Colônia Agrícola Nacional General Osório (CANGO); a atuação da Clevelândia Industrial Territorial Ltda. (CITLA); a Revolta dos Posseiros em 1957; e a atuação do Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná (GETSOP), o qual atuou no Sudoeste do Paraná entre os anos de 1962 a 1973, emitindo um total de 43.383 títulos de propriedade. (LAZIER, 1997) É neste contexto de conflitos pela posse de terra que ocorreu a formação da propriedade privada da terra e colonização do município de Dois Vizinhos, principalmente, por migrantes de origem italiana e alemã, vindos dos Estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A área territorial do município de Dois Vizinhos após o desmembramento dos municípios de Cruzeiro do Iguaçu e Boa Esperança do Iguaçu é de 419,017km². Sua população segundo o IPARDES, em Maio de 2011 era de 36.179 habitantes, sendo que, destes, 8.084 residiam na zona rural e 28.095 residiam na zona urbana (IPARDES, 2011, p.10). Conforme vimos acima, o Sudoeste do Paraná e consequentemente o município de Dois Vizinhos tem sua história marcada por inúmeros conflitos pelo direito de uso e posse da terra, fato, que proporcionou ao município uma estrutura fundiária baseada em pequenas propriedades. 17 e 18 de Outubro de 2011 119

Segundo o INCRA, foram titulados município de Dois Vizinhos, durante a atuação do GETSOP entre os anos de 1962 a 1973, 2.746 títulos rurais (Tabela 1), a 2.188 proprietários (Tabela 2) distribuídos nas 31 glebas que compõem o município (Figura 2). Foram emitidos ainda, 145 títulos próximos a área urbana de Dois Vizinhos em forma de chácaras, a 123 proprietários. Neste contexto, verifica-se que alguns proprietários receberam do GETSOP, mais que um título de terra, distribuídos entre as 31 glebas que formam o território do município de Dois Vizinhos. A Prefeitura municipal de Dois Vizinhos foi a que recebeu do GETSOP o maior número de títulos, 46, sendo 40 títulos rurais e 06 chácaras próximas a área urbana. Segundo registro do GETSOP, a área total recebida pela Prefeitura Municipal de Dois Vizinhos foi de 118.865 ha, sendo que destes, 118.849 eram destinados a aberturas de estradas. A Mitra Diocesana de Palmas, também recebeu 19 títulos de terra do GETSOP, distribuídos entre as 31 glebas, totalizando uma área 35 ha, provavelmente destinados a construção de capelas. No entanto, o que chamou atenção, foi à titulação a uma serraria, a qual recebeu cinco títulos distribuídos entre as glebas 23D.V., 19D.V., e 03D.V., certamente áreas que apresentavam madeira de boa qualidade, mais uma chácara próxima a área urbana, onde provavelmente a serraria se instalou. A área total recebida pela serraria foi de 522 ha. A partir dos dados se observou que 24 proprietários receberam áreas entre 100 e 250 ha, apenas um proprietário mencionado acima recebeu área superior a 250 ha, o restante, ou seja, os 2.163 proprietários receberam áreas inferiores a 100 ha. Sendo assim, verifica-se que em 1973, encerradas as atividades do GETSOP, 94,02% dos proprietários apresentavam propriedades com área inferior a 50 ha. No entanto, em virtude da disseminação de novas tecnologias introduzidas no processo produtivo, este cenário vem se alterando gradativamente, levando muitos produtores a se desfazer de suas propriedades e migrar para o meio urbano, ou ter sua produção subordinada aos interesses do capital. Esse fato se deve, em parte, à forma com que a modernização da agricultura foi introduzida em algumas regiões do país e em virtude de seu caráter seletivo que direta ou indiretamente, acaba contribuindo para a concentração da estrutura fundiária, expulsão da população ocupada em atividades agrícolas e residente na área rural, mesmo em regiões em que a estrutura fundiária é baseada em pequenas propriedades. Conclusão A forma como se deu o processo de ocupação e colonização do sudoeste do Paraná, contribuiu para que o município de Dois Vizinhos tivesse sua estrutura fundiária baseada em pequenas propriedades, visto que, 94,02% dos proprietários apresentavam propriedades com até 50 ha, entre as décadas de 1960 e 1970. Referências INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. (década de 1960 e 1970) Registros do GETSOP: Cadastro da Colônia Missões Núcleo de Francisco Beltrão e município de Dois Vizinhos, 2011. IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Caderno Estatístico Município de Dois Vizinhos. 2011. LAZIER, Hermógenes. Análise histórica da posse da terra no Sudoeste paranaense. 2ª Ed. Curitiba, 1997. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Modo Capitalista de produção e agricultura. São Paulo: Editora Ática, 1986. 17 e 18 de Outubro de 2011 120

Tabela 1. Estrutura fundiária do município de Dois Vizinhos entre as décadas de 1960 e 1970 em função do tamanho da propriedade e número de títulos. Tamanho da propriedade (ha) Número de propriedades % 0 a 10 1.282 46,69 10 a 20 811 29,53 20 a 50 544 19,81 50 a 100 91 3,31 100 a 250 18 0,66 Total 2.746 100 Fonte: INCRA 2011 Tabela 2. Estrutura fundiária do município de Dois Vizinhos entre as décadas de 1960 e 1970 em função do tamanho da propriedade e número de proprietários. Tamanho da propriedade (ha) Número de proprietários % 0 a 10 750 34,28 10 a 20 713 32,59 20 a 50 594 27,15 50 a 100 106 4,84 100 a 250 24 1,10 > 250 01 0,05 Total 2.188 100 Fonte: INCRA 2011 Figura 1. Mesorregião geográfica do Sudoeste do Paraná: localização e limites do município de Dois Vizinhos. 17 e 18 de Outubro de 2011 121

Figura 2. Município de Dois Vizinhos e Glebas que o compõem. Fonte: Prefeitura Municipal de Dois Vizinhos 17 e 18 de Outubro de 2011 122