Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul

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Transcrição:

Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul Procedimento Ordinário nº 0022850-26.2009.8.12.0001 Requerente: E.L.M. Requerido: De Rosso - Comércio e Serviços Industriais Ltda EPP e outros, Azul Cia de Seguros Gerais Sentença I. Relatório. E. L. M., inscrito no CPF sob o nº 501.467.771-15, ajuizou Ação de Indenização por Danos Morais, Materiais e Lucros Cessantes em face de De Rosso Comércio e Serviços Industriais Ltda EPP, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 04.150.791/0001-97, e Celso de Rosso, portador da Cédula de Identidade RG nº 5831300 SSP/SP. Aduz que, em 03.11.2008, por volta de 06h320, ao trafegar em sua motocicleta Honda/CBX 200 Strada, pela rua Dolor Ferreira de Andrade, foi abalroado pelo veículo Ford/Courier Flex, placas HSV 4802, quer transitava pela rua 25 de Dezembro, de propriedade da primeira requerida e conduzido pelo segundo requerido, o qual não respeitou a sinalização de parada obrigatória. Sustenta que, em decorrência do acidente, sofreu fratura do pólo inferior da paleta esquerda, que desencadeou extrema cominuição do terço inferior da patela, resultando em dores crônicas, fato que implicou no seu afastamento do trabalho, especialmente na não renovação de sua convocação no ano de 2009 para exercer o cargo de professor junto ao Estado. Menciona que sua motocicleta sofreu danos que resultam no valor de R$ 1.673,60. Lastreia o pedido de danos morais no argumento de que as lesões sofridas prejudicam o desempenho de suas atividades profissionais, pois que é professor de línguas estrangeiras e de capoeira e, ainda, o desempenho das atividades, ainda que gratuitas, de intérprete de LIBRAS e instrutor de acampamento infantil da igreja em que congrega. Requer a condenação dos requeridos no pagamento dos danos materiais no valor de R$ 1.673,60 (mil seiscentos e setenta e três reais sessenta centavos); danos morais no montante de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais); lucros cessantes no valor de R$ 12.544,74 (doze mil, quinhentos e quarenta e quatro reais, setenta e quatro reais) e, ao final, pleiteou a concessão dos benefícios da justiça gratuita. Com a inicial vieram os documentos de f. 12-59. À f.60 consta decisão deferindo a concessão dos benefícios da justiça gratuita ao requerente. Realizada audiência preliminar (f. 81), foi ofertada contestação; determinado a conversão do procedimento comum sumário para ordinário e deferida a denunciação à lide da seguradora Azul. Em contestação (f. 82-102) os requeridos, em síntese, atribuem a culpa do acidente ao autor, pois que, por ocasião do acidente, conduzia sua motocicleta com imprudência e negligência, tendo atravessado o cruzamento das ruas em altíssima velocidade; que o condutor

do veículo realizou parada no cruzamento ao lado da placa de pare e como não vinha nenhum veículo pela via transversal, prosseguiu seu caminho adiante. Alegam ausência de comprovação de culpa pelo acidente; a inocorrência de danos morais; que as lesões sofridas pelo autor em nada impedem o exercício de sua profissão como professor de língua estrangeira, tampouco a de interprete de LIBRAS ou mesmo a participação nos acampamentos mencionados, pois que seu joelho se restabelecerá; ausência de comprovação dos danos materiais e lucros cessantes; denunciam à lide de Azul Cia de Seguros Gerais. Ao final, protestam pela produção de provas; pela concessão dos benefícios da justiça gratuita e pela improcedência dos pedidos. Juntaram os documentos de f.103-199. À f.203-205 os requeridos reiteraram o pedido de justiça gratuita, tendo juntado os documentos de f.206-219. Impugnação à contestação à f.228-236. Citada (f.262) a litisdenunciada Azul Companhia de Seguros Gerais ofertou contestação (f. 272-291) e alega, em síntese, a inexistência de contratação de cobertura securitária para danos morais na apólice de seguro; ausência dos pressupostos da responsabilidade civil; ausência comprovação dos alegados danos morais e lucros cessantes. Requer seja reconhecida a inexistência de cobertura para danos morais; a improcedência dos pedidos ou a improcedência dos danos morais e lucros cessantes. Impugnação à contestação apresentada pela litisdenunciada à f. 300-303. A decisão de f. 321-323 indeferiu os benefícios da justiça gratuita aos requeridos, bem como deferiu a produção de prova pericial, tendo para tanto nomeado perito e fixado honorários. Desta decisão os requeridos interpuseram Agravo de Instrumento (f. 335-342), cuja decisão encontra-se à f. 399-401 e 410-413. Os requeridos informaram á f.348-349 que autor ingressou com ação de cobrança de seguro obrigatório DPVAT. Laudo pericial encartado aos autos à f. 429-437 e complemento à f.452-453, sobre o qual as partes se manifestaram à f.442-443,444-447,448 e 462-464. Expedido ofício à secretaria de Estado de Educação, a resposta encontra-se encartada à f. 497-408. Realizada audiência de instrução e julgamento (f. 540-541), colheu-se o depoimento de quatro testemunhas; foi juntada cópia da sentença proferida nos autos de cobrança de DPVAT, sobre o qual o autor se manifestou à f. E, nova audiência de instrução e julgamento (f. 573), colheu-se o depoimento de mais uma testemunha. As partes apresentaram alegações finais em forma de memoriais, sendo o autor à f. 591594 e os requeridos à f.598-603 e a litisdenunciada, embora intimada em audiência (f. 573), permaneceu silente (f. 604). Vieram os autos conclusos para prolação de sentença. É o relatório. Decido. II. Fundamentação Trata-se de Ação de Indenização por danos materiais e morais decorrentes de acidente de trânsito intentada por Edilson Leão Magalhães em face de De Rosso Comércio e Serviços Industriais Ltda EPP e Celso de Rosso e Ação Incidental de Denunciação da Lide proposta em face de Azul Cia de Seguros Gerais.

II.1 - Da responsabilidade civil: Segundo disposição constante dos arts. 186 e 927, ambos do Código Civil: Art. 186. Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar prejuízo a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito." "Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo". Com efeito, a responsabilidade civil, como sabido, é a obrigação imposta por lei à determinada pessoa de reparar os danos causados a outrem por fato de pessoas ou coisas a ela vinculadas (art. 927 CC). O que interessa em tema de responsabilidade civil, é identificar a conduta que reflete a obrigação de indenizar, e por essa obrigação responderá o próprio causador do dano responsabilidade direta, - ou terceiro que esteja ligado ao ofensor - responsabilidade indireta. Nesta última, estamos no campo da responsabilidade presumida, que, em certo grau, assemelhase muito à responsabilidade objetiva, todavia não se confunde com ela. Resta incontroverso nos autos, que o Ford Courier placa HSV 4802, de propriedade da requerida De Rosso Comércio e Serviços Industriais Ltda EPP, conduzida pelo requerido Celso de Rosso, envolveu-se no acidente noticiado na inicial, conforme demonstra o relatório de acidente de trânsito de f. 16-21. Logo, tratando-se de responsabilidade por acidente de trânsito, comprovada a culpa do condutor, o proprietário do veículo fica solidária e objetivamente responsável pela reparação dos danos causados em virtude de acidente automobilístico, mesmo que este não seja seu preposto. Além disso, para haver o dever de indenizar deverão estar presentes, ainda, os pressupostos da responsabilidade civil, quais sejam: a conduta dolosa ou culposa; dano indenizável e nexo de causalidade, ou seja, o liame que liga a conduta do agente ao dano. Da análise dos autos, percebe-se de pronto duas versões antagônicas. Aquela apresentada pelo requerente, de que o sinistro ocorreu por culpa do condutor do Ford Courier, que não respeitou a sinalização de parada obrigatória e invadiu a via preferencial; e a versão apresentada pelos requeridos, de que o acidente ocorreu por culpa exclusiva da vítima/autor que, de forma imprudente e negligente, atravessou o cruzamento das ruas em altíssima velocidade, dando causa ao acidente noticiados nos autos. Da descrição do acidente (f.16), verifica-se que "pela Rua 25 de Dezembro no sentido norte/sul trafegava V1 Ford/Courier e pela Rua Dr Dolor Ferreira de Andrade no sentido oeste/leste trafegava o V2 Honda/Strada; No cruzamento das vias veio a ocorrer o abalroamento da frontal do V1 no flanco médio esquerdo do V2. Resultando do acidente danos materiais nos veículos e 01 (uma) vítima. O insp Laercio informou que a polícia técnica não compareceria não local. Obs. Existe sinalização vertical de pare na Rua 25 de Dezembro. Do croqui, realizado no local do acidente (f. 22), observa-se que o veículo courier, conduzido pelo requerido Celso, adentrou na via preferencial em que o requerente

trafegava (Rua Dr Dolor Ferreira de Andrade), desrespeitando a parada obrigatória na R. 25 de Dezembro, sendo, portanto, o causador do abalroamento. Em consonância é o laudo pericial de f. 248-261, que embora alegue impossibilidade de traçar dinâmica completa do evento, afirma que, conforme a descrição do acidente, tem-se como causa determinante do evento a postergação de sinalização de parada obrigatória por parte do veículo Ford/courier, este que interceptou a trajetória do veículo motocicleta (f. 261). Ora, é sabido que o condutor do veículo deve transitar em velocidade moderada, de forma que permita parar seu veículo com segurança para dar passagem a pedestre e a veículos que tenham o direito de preferência, a teor do que disciplina o 44 do Código de Trânsito Brasileiro. Portanto, em análise as provas produzidas, não há dúvidas de que o citado acidente ocorreu, em razão da inobservância das normas de trânsito por parte do requerido - condutor do veículo Ford Courier (Celso), as quais, se fossem respeitadas, evitariam a colisão. Nem se argumente que o autor, por ocasião do acidente, imprimia alta velocidade em sua motocicleta, eis que o laudo pericial é expresso em consignar que ambos os veículos estavam animados com velocidade inferiores à máxima permitida para as vias arteriais, ou seja, inferior a 60 km/h (f. 259). Assim, comprovada a culpa dos requeridos pelo acidente automobilístico noticiado na inicial, resta apurar o quantumdevido a título de indenização. II.2 - Dos danos materiais: Relativamente aos danos causados à motocicleta do requerente, o orçamento de f. 35-36, trazido com a inicial, demonstra despesa no valor de R$ 1.673,60 (mil, seiscentos e setenta e três reais e sessenta centavos) para conserto das avarias da motocicleta CBX200, placa HRQ 6845, do requerente. Tenho que prospera dita indenização, mormente porque, embora os requeridos a impugnem, não lograram êxito em trazer aos autos qualquer prova hábil a desconstituir o orçamento apresentado que, alias, foi elaborado por concessionária específica da marca da motocicleta do autor. No que se refere aos lucros cessantes, é sabido que constitui espécie de dano material, podendo ser definido, nos dizeres de Sérgio Cavalieri Filho [1] como: perda do ganho esperável, na frustração da expectativa de lucro, na diminuição potencial do patrimônio da vítima. Pode decorrer não só da paralisação da atividade lucrativa ou produtiva da vítima, como, por exemplo, a cessação dos rendimentos que alguém já vinha obtendo da sua profissão, como, também, da frustração daquilo que era razoavelmente esperado Para Sílvio Rodrigues: "(...) A prova do lucro futuro é sempre incerta, pois, enquanto o prejudicado tende a aumentar os possíveis ganhos que experimentaria, o inadimplente tende a depreciar tais lucros, atribuindo-os à fantasia do credor. A lei, deferindo ao juiz maior arbítrio no julgar da existência e

montante dos eventuais proveitos do autor, emprega a palavra razoavelmente, cuja elasticidade salta aos olhos" [2]. Grifei. Ainda, tratando-se de lucros cessantes, é sabido que a mera possibilidade é insuficiente, embora não se exija uma certeza absoluta, de forma que o critério mais acertado estaria em condicioná-lo a uma probabilidade objetiva, resultante do desenvolvimento normal dos acontecimentos conjugado às circunstâncias peculiares ao caso concreto. No caso dos autos resta incontroverso a ocorrência do acidente por culpa do motorista do veículo da requerida e que por consequência afastou o requerente de suas atividades laborais, ou seja, em decorrência direta do ato ilícito praticado. Também restou comprovado que a não convocação do autor pelo Estado para o cargo de professor de Língua Inglesa, ocorreu em razão do acidente noticiado (f. 497). Por outro lado, no que se refere ao prazo do afastamento das atividades laborais, conquanto tenha divergência nos autos, pois que o atestado médico indica o prazo de 150 (cento e cinquenta) dias (f. 31 e 32) e as testemunhas Fábio Correa de Oliveira (f. 542) e João Gomes da Silva (f. 543) apontam um ano e seis meses, respectivamente, tenho que se mostra razoável adotar o período de seis meses, mormente porque o ofício encaminhado pela Secretaria Estadual de Educação afirma que o autor foi convocado para dar aulas no segundo semestre do ano de 2009. Aliás, lapso temporal que guarda consonância com a opinião do perito (quesito 12 - f. 435). Portanto, diante da existência dos requisitos caracterizadores da responsabilidade aquiliana, quais sejam, conduta culposa, ocorrência do dano e o nexo de causalidade entre eles, a procedência do pedido de indenização pelos lucros cessantes, neste aspecto, é medida que se impõe. Assim, arbitro a indenização pelas perdas e danos à título de lucros cessantes, devida pelos requeridos ao requerente, no montante equivalente à seis meses, adotando-se como parâmetro a média indicada de R$ 964,98 (f. 07), o que corresponde à R$ 5.789,88 (cinco mil, setecentos e oitenta e nove reais, oitenta e oito centavos), por entender ser razoável para compensar o requerente pelos lucros que deixou de auferir. II.3- Dos danos morais: Os danos morais, pela sua natureza de extrapatrimonialidade, são aqueles que atingem a esfera subjetiva da pessoa, cujo fato lesivo macula o plano dos valores da mesma em sociedade ou a sua própria integridade físico-psíquica, atingindo a sua honra, reputação, afeição, integridade física etc. No caso dos autos, independente do grau de dano funcional ocasionado pelo acidente, pois que o perito nomeado por este juízo indica dano de 10% da capacidade do joelho esquerdo do autor e o elaborado nos autos de ação de cobrança (DPVAT autos 0042401-89.009.8.12.0001), embora realizados em curto espaço de tempo (28.04.2011 e 22.08.2011 f. 560 e 477), não aponta qualquer redução de capacidade, é inegável o sofrimento, a dor, a tristeza e a angústia experimentados pelo requerente, que sofreu lesões em seu joelho e teve que PERMANECER AFASTADO DE TODAS AS SUAS ATIVIDADES REMUNERADAS POR PELO MENOS SEIS MESES (complementação laudo pericial f. 453), inclusive tendo se submetido à 70 (setenta) sessões de fisioterapia (histórico laudo pericial- f. 431), por ato do condutor do veículo, de propriedade da requerida.

Ademais, as provas produzidas nos autos, demonstram que o autor realizava atividades esportivas, como capoeira, e acampamentos com crianças da igreja em que congrega, estas que foram suspensas até o seu pronto restabelecimento. De outro vértice, há que se considerar o fato da sequela não ser permanente, pois que o perito afirma que pode ser tratada (quesito do juízo b f.435). Por tais razões, tenho que restou caracterizado o dano moral e o nexo de causalidade, de modo que a fixação do valor da indenização, para dar cumprimento ao artigo 927, do Código Civil, deve ser suficiente para indenizar o ofendido, bem como servir de desestímulo à atos semelhantes. Entretanto, mensurar o quantumdevido, constitui atividade difícil para o julgador, haja vista a falta de critérios objetivos na legislação pátria. Rui Stoco, em sua obra Tratado de Responsabilidade Civil, Ed. RT, São Paulo: 2001, p. 1.030, traz algumas recomendações a serem seguidas pelo órgão judicante no arbitramento, para atingir a homogeneidade pecuniária na avaliação do dano moral. Veja-se: "a) o Magistrado nunca deverá arbitrar a indenização tomando como base apenas as possibilidades do devedor; b) também não deverá o julgador fixar a indenização com base somente nas necessidades da vítima; c) não se deve impor uma indenização que ultrapasse a capacidade econômica do agente, levando-o à insolvência; d) a indenização não pode ser causa de ruína para quem paga, nem fonte de enriquecimento para quem recebe; e) deverá o julgador fixá-la buscando o equilíbrio através de critério eqüitativo e de prudência, segundo as posses do autor do dano e as necessidades da vítima e de acordo com a situação sócio-econômica de ambos; f) na indenização por dano moral o preço de afeição não pode superar o preço de mercado da própria coisa; g) na indenização por dano moral a quantia a ser fixada não pode ser absolutamente insignificante, mas servir para distrair e aplacar a dor do ofendido e dissuadir o autor da ofensa da prática de outros atentados, tendo em vista o seu caráter preventivo e repressivo; h) na fixação do valor do dano moral o julgador deverá ter em conta, ainda e notadamente, a intensidade do sofrimento do ofendido, a gravidade, a natureza e repercussão da ofensa e a sua posição social e política. Deverá, também, considerar a intensidade do dolo e o grau de culpa do agente. " Assim, considerando-se as peculiaridades do caso concreto; as condições econômicas de ambas as partes, já que a indenização não pode constituir enriquecimento ilícito; o período de afastamento do autor das atividades laborais e recreativas; bem como atento aos norteadores da razoabilidade e proporcionalidade, arbitro o dano moral no valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais). III. Da lide secundária:

Em relação à Ação Incidental de Denunciação à Lide, merece prosperar a pretensão dos litisdenunciantes De Rosso Comércio e Serviços Industriais Ltda EPP e Celso de Rosso em serem ressarcidos da condenação à título de danos morais e materiais, tendo em vista o contrato de seguro celebrado entre as partes, apólice juntada à f. 116-118, que tem como objeto o veículo envolvido no sinistro (veículo Courier L 1.6 Flex, placa HSY 4802). Verifica-se que consta na apólice cobertura de danos materiais de R$100.000,00 (cem mil reais) e danos corporais em R$100.000,00 (cem mil reais). Não obstante, ao contrário do que alega a seguradora denunciada, certo é que os danos corporais segurados englobam também os danos morais, já que o dano moral em questão tem origem no dano corporal sofrido pelo requerente, conforme pacifica jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Não fosse isso, o contrato de seguro firmado entre as parte não possui cláusula expressa de exclusão dos danos morais, como se vê dos riscos excluídos e exclusões gerais, constantes das cláusulas 4, 5 e 8 (f. 156,166 e 171), devendo, pois, compreendê-los segurado pelos danos pessoais, conforme entendimento do STJ sedimentado pela Súmula 402, confira-se: "O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão". (Rel. Min. Fernando Gonçalves, em 28/10/2009). Portanto,é devido o ressarcimento do valor da condenação até o limite apólice contratada, incluindo-se os danos morais arbitrados. Por outro lado, tenho que não prospera o pedido de abatimento do valor recebido a título de DPVAT, ante a parcial procedência da ação, que somente julgou procedente o pedido de restituição de despesas médicas (f. 550-555). IV. Dispositivo. Posto isso, com fulcro nos arts. 186, 927 e 945 do Código Civil c/c o art. 269, inciso I do Código de Processo, julgo procedentes em parte os pedidos formulados poredilson Leão Magalhães nesta Ação de Indenização por Acidente de Trânsito proposta em face de De Rosso Comércio e Serviços Industriais Ltda EPP e Celso de Rosso, para condenar os requeridos, solidariamente, a pagarem ao requerente: - a título de danos materiais, a quantia de R$ 1.673,60 (mil, seiscentos e setenta e três reais e sessenta centavos), atualizado monetariamente pelo IGPM, a partir da data do orçamento de f. 35 (03.11.2008), além de juros de mora de 12% ao ano a partir da citação (24.06.2009 f. 80). - a título de lucros cessantes, o valor de R$ 5.789,88 (cinco mil, setecentos e oitenta e nove reais, oitenta e oito centavos), monetariamente pelo IGPM, a partir da data do acidente (03.11.2008), além de juros de mora de 12% ao ano a partir da citação (24.06.2009 f. 80). - a título de dano moral, a quantia de R$ 12.000,00 (doze mil reais), atualizada monetariamente pelo IGPM a partir da sentença, além de juros de mora de 12 % ao ano (art. 406 do C.C./2002 c/c art. 161, 1º, do CTN e Súmula 362 do STJ [3] ), contados também da sentença, até a data do efetivo pagamento. Por ter o requerente decaído de parte mínima do pedido, condeno os requeridos no pagamento das despesas processuais, honorários pericias no valor de R$ 1.000,00 (f. 322) e

honorários advocatícios, estes que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, com fundamento no 3º do art. 20 do CPC. Por outro lado, com fulcro no art. 269, I, do CPC, julgo procedente o pedido formulado por de De Rosso Comércio e Serviços Industriais Ltda EPP e Celso de Rosso nesta Ação Incidental de Denunciação à Lide movida em face de Azul Cia de Seguros Gerais para condenar a litisdenunciada a ressarcir aos litisdenunciantes o valor da condenação arbitrado no processo movido por E. L. M., até o limite apólice contratada, incluindo-se os danos morais arbitrados. Condeno a litisdenunciada ao pagamento de honorários advocatícios, estes que fixo em R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), com fundamento no art. 20, 4º do CPC, ante a resistência desta à denunciação da lide ofertada, a favor do patrono da litisdenunciante. Publique-se. Registre. Intime-se. Campo Grande, 07 de março de 2014. José Eduardo Neder Meneghelli Juiz de Direito