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PÁG. 3 DE 10 CESPES Núcleo de Estudos de Línguas e Culturas dos Povos Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela Estrada Nacional N.º 100, Lobito-Benguela Bairo da Nossa Senhora da Graça Email: cespes.benguela@unipiaget-angola.org http://www.piagetbenguela.org/index.php (Working paper - versão Electrónica)
PÁG. 4 DE 10 O PADRÃO AMERICANO DA ESCRITA DA LÍNGUA UMBUNDU Dinis Sicala Vandor (ISCED Universidade Katyavala Bwila de Benguela) Etnolinguisticamente, a língua umbundu apesar de hoje ser falada e entendida em quase todo o país, é essencialmente a língua dos ovimbundo o povo que ocupa um vasto espaço rectangular do litoral centro ao meio da metade oeste e do centro norte do Cunene subindo do baixo mar para as terras altas. Isso significa que no cômputo geral os ovimbundo ocupam as províncias de Benguela, kwanza Sul, Namibe, Huila Huambo, Kwando Kubango, Bié e Moxico. A língua umbundu apresenta actualmente dois padrões gráficos um europeu, também denominado católico e outro americano também denominado protestante. O padrão americano da escrita da língua umbundu está directamente ligado à chegada de missionários americanos e canadianos em Angola, principalmente, na parte centro sul de Angola e a fundação das missões protestantes nessa região Epesse, no prefácio do Dicionário de Umbundu de Etaungu Daniel (2002: 11) afirma que, tendo sido os missionários americanos e canadianos os que mais impulsionaram a educação dos ovimbundu através da religião e da escrita, principalmente, com a criação das Missões Evangélicas no Centro Sul de Angola, área de predominância daquele povo em cujas instituições se poderia encontrar escolas para o ensino académico, não é de estranhar que a língua umbundu tenha na sua escrita uma grande influência da Língua Inglesa. É o caso de se utilizar, certas letras quase não utilizadas no português, no francês, no espanhol, e no italiano, como por exemplo as letras (k, ny, y e o w) todas quase frequentes na língua inglesa..segundo o pastor Chipenda, foi na missão do Dondi, no Bailundo onde surgiu este padrão. Desses missionários destacam-se o canadiano Direy Divorson e o americano Lauren Anderson, que tendo desembarcado na Catumbela caminharam a pé e em tipoias até ao Planalto Central, onde desenvolveram a actividade de evangelização dos povos indígenas. Essa evangelização integrava como parte do processo, o ensino da escrita do umbundu, língua indígena falada pelos ovimbundu, pois o domínio da Bíblia Sagrada, o principal livro de evangelização, precisava ser lido e interpretado por esse povo que não o podia fazer em português, pois não o dominava. Por isso, missionários protestantes vindos dos EUA e Canadá tiveram o trabalho de traduzir os livros religiosos de português para o umbundu e, consequentemente, ensinar o povo a ler
e a escrever na sua própria língua. O PADRÃO AMERICANO DA ESCRITA DA LÍNGUA UMBUNDU PÁG. 5 DE 10 Deste modo, a expansão da literatura era de grande importância para as missões protestantes de maneiras que os nativos pudessem ler a bíblia e assim aprender a verdade bíblica que era, não só uma fonte de inspiração cristã como também a base de aquisição de vários conteúdos interessantes. A bíblia era o primeiro livro para comunicar com os nativos. Em função disso, na primeira missão protestante de cada área alguém começava a estudar a língua local, compilar lista de palavras e traduzir uma ou mais palavras, como por exemplo as partes do Novo Testamento. A falta de meios de impressão retardava, de algum modo, esse processo. A missão de Camundongo, fundada pelo Dr. Sanders e Fay, em 1884, foi das primeiras missões evangélicas a ter uma tipografia própria. Os seus primeiros missionários, Dr. Sanders e Wesley Stover, dedicaram-se, desde logo, à aprendizagem da língua umbundu e à produção de literatura cristã. Esta missão possuía uma escola da vida rural para catequistas e um hospital. Neste ano, produziu-se um livro de vocabulário em umbundu e uma gramática que, apesar de haver uma tipografia foram mandados para impressão nos EUA. Em 1895, Wesley Stover e outros traduziram para umbundu todo Novo Testamento, os Salmos, alguns hinos e diversas histórias. Um grande destaque vai para Heli Chatelain, missionário americano de naturalidade Suíça que chegou em Angola em 1885, como evangelista do cristianismo. Tendo como base o poder da palavra escrita propôs aos africanos hábitos de leitura da palavra de Deus, a Bíblia. Chatelain tinha uma grande facilidade em aprender, dominar e analisar línguas, atendendo o facto, segundo Moser () de ter um bom ouvido ser perito em música e uma grande capacidade de memorização, tendo sido considerado como um linguista. Estas características possibilitaram-no a realizar, no centro sul de Angola, o trabalho de traduzir alguns documentos religiosos de português para umbundu, para facilitar a interpretação da palavra de Deus, por parte dos autóctones e produzir a escrita do umbundu, utilizando o alfabeto latino, partindo daquilo que ouvia dos nativos e, consequentemente, ensinar a escrita dessa língua aos mesmos nativos, principalmente, aos catequistas e pastores, cuja formação teológica era feita exclusivamente em umbundu. Características A determinação das características da escrita da língua umbundu no padrão em que nos estamos a referir decorreu da análise de vários documentos escritos, nomeadamente a Bíblia Sagrada e os hinários de louvores, na versão Evangélica, por serem os documentos escritos mais divulgados, cujo acesso é, de alguma forma, fácil e outros escritos de forma particular, como por exemplo o Dicionário de Umbundo escrito pelo Reverendo Henrique Etaungu Daniel. Tal como se sabe os sons linguísticos são normalmente representados, na escrita por sinais gráficos
PÁG. 6 DE 10 também denominados letras que formam um conjunto chamado alfabeto. Por isso, ao analisar o sistema da escrita da língua umbundu, no padrão ora anunciado, começamos por apresentar o alfabeto que representa, tal como afirmamos acima, o conjunto de letras usadas para representar graficamente a língua. O alfabeto, nesta versão é constituído por vinte e quatro letras, sendo dezasseis que representam as consoantes, cinco a representar as vogais e duas a representarem as semivogais. Por isso, ao analisar o sistema da escrita da língua umbundu, no padrão ora anunciado, começamos por apresentar o alfabeto que representa, tal como afirmamos acima, o conjunto de letras usadas para representar graficamente a língua. O alfabeto, nesta versão é constituído por vinte e quatro letras, sendo dezasseis que representam as consoantes, cinco a representar as vogais e duas a representarem as semivogais. Alfabeto Maiúsculas Minúsculas a, mb, c, nd, e, f, ng, h, i, nj, k, l, m, n, ñ, ny, o, p, s, t, u, w, y, v A, MB, C, ND, E, F, NG, H, I, NJ, K, L, M, N, Ñ, NY, O, P, S, T, U, W, Y, V Obs. As letras marcadas a vermelho correspondem as que marcam a diferença entre este e o outro padrão. Correspondência grafémica/fonémica A escrita da língua umbundu foi organizada de tal maneira que a correspondência entre grafemas e fonemas é biunívoca, ou seja, cada grafema representa apenas um fonema e cada fonema é representado apenas por um fonema. Representação das consoantes: Existem dezasseis consoantes que, também são representadas por dezasseis letras, tal como se pode verificar na tabela abaixo. Consoante (fonema) ~b t ~d f ~g h ~g l k m n ñ η p s t v Representação gráfica (grafema)
PÁG. 7 DE 10 mb c nd f ng h nj l k m n ñ my p s t v Vogais: As vogais são cinco, normalmente, abertas e são representadas por cinco letras, respectivamente: Fonema a ε i ͻ u Grafema a e i e u Semivogais: Existem duas semivogais que, neste padrão, podem ser grafadas de maneiras diferentes, tendo em conta a sua posição na palavra e os antecedentes do ditongo. Fonema y w Grafema i ou y u ou w Representação gráfica da semivogal /y/ Em posição inicial da palavra: Em início da palavra a semivogal /y / é grafada pela letra < y >. Ex. Onjo yange a minha casa. Em posição interna da palavra A semivogal /y/ é grafada em < i > quando integra um ditongo precedido por uma consoante. Ex. Elienge - corrente, efiengu - assobio, epia - lavra. A semivogal /y/ é grafado por < y > quando integra um ditongo precedido por vogal. Ex. Eyovo salvação, uyaki guerra, eyulo victória. Representação gráfica da semivogal /w/ Em posição inicial da palavra: Em posição inicial da palavra a semivogal /w/ é sempre representada pela letra /w/. Ex. ulume wange o meu marido. Em posição interna da palavra:
PÁG. 8 DE 10 A semivogal /u/ é grafada em <u> quando integra um ditongo precedido por uma consoante. Ex. Oluali - mundo, oluiko - remo, oluongo coluna vertebral. A semivogal /w/ é grafado por <w> quando integra um ditongo precedido por vogal. Ex. owesi preguiça, owelema escuridão, owiki mel. Nasalação A nasalação das vogais é feita pelo til e não pelo m ou n, tal como em português. Ex. Onyohã cobra, Omõla criança 1. Acentuação gráfica A escrita do umbundu, neste padrão, não prevê o uso de acentos gráficos. Uma das razões para essa situação, achamos, que pode ser o facto de as palavras (pelo menos as dissilábicas e polissilábicas) serem todas acentuadas na penúltima sílaba, ou seja serem paroxítonas. Problemas A escrita da língua umbundu, nesta variante, foi proposta por missionários americanos e canadianos que, utilizando o alfabeto latino, tentaram representar os sons da língua partindo do que ouviam dos nativos e fazendo analogias com algumas línguas que já possuíam escrita, como o inglês, por exemplo que não possui acentuação gráfica pelo facto de a maioria das palavras serem acentuadas na penúltima sílaba. Por isso, esse padrão, e não só, apresenta algumas deficiências, das quais vamos apresentar as mais notáveis. 1. O facto de se não prever os acentos gráficos faz com que não se possa representar as diferenças tonais de certas palavras, pois apesar de as palavras serem quase todas paroxítonas, algumas apresentam alguns contrastes tonais. 2. Alguns sons não têm qualquer representação gráfica, pois presumiu-se não existirem pelo facto de os falantes ouvidos não os terem pronunciado, ou os terem mal pronunciado. É o caso do som /ʃ/ que integram as palavras [ͻkuʃεlεna], [ͻtʃi`ʃa ῖ], [ͻku`ʃͻpa `keyͻ] [ͻtʃiʃa`kãla], [`ʃͻ]* * Ao escrever estas palavras recorremos ao alfabeto fonético internacional. Sugestões Perante estes problemas, somos a sugerir o seguinte: Que seja revista a escrita da língua umbundu neste e noutro padrão, onde cremos haver também problemas;
PÁG. 9 DE 10 Que se confira os acentos gráficos, para diferenciar os contrastes tonais de certas palavras, sendo: a) Palavras com três níveis contrastantes de tom. - Acento agudo para o tom alto, ex. Ombólo buraco - Acento circunflexo para o tom médio, ex. ombôlo- coisa crua - Sem acento para o tom baixo ex. ombolo pão. b) Palavras com dois níveis contrastantes de tom. - Acento agudo para o tom alto. Ex. ongóngo terra vermelha. - se acento gráfico para o tom baixo. Ex. ongongo sofrimento Que haja uma letra que represente o som /ʃ/, pois, contrariamente do que se tem afirmado, ele existe. Para este caso propomos a letra x, já que não foi prevista nesse alfabeto. Que se crie um padrão único da escrita da língua umbundu. Daniel, Daniel Etaungu (2002), Dicionário da Língua Umbundu,
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