Uso de lipídeos em dietas de ruminantes



Documentos relacionados
Metabolismo de Lipídios PEDRO LEONARDO DE PAULA REZENDE

Alimentação da vaca leiteira

O uso de concentrado para vacas leiteiras Contribuindo para eficiência da produção

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE E VALOR NUTRICIONAL DE ÓLEOS E GORDURAS

Introdução. Conceitos aplicados a alimentação animal. Produção animal. Marinaldo Divino Ribeiro. Nutrição. Alimento. Alimento. Nutriente.

Biomassa de Banana Verde Integral- BBVI

PROGRAMA DO CURSO Pós-Graduação em Nutrição de Bovinos Leiteiros Uberlândia, MG

Relación entre la grasa de la leche y las enfermedades cardiovasculares:

Utilização de dietas de alto concentrado em confinamentos

Função orgânica nossa de cada dia. Profa. Kátia Aquino

Eliane Petean Arena Nutricionista - CRN Rua Conselheiro Antônio Prado 9-29 Higienópolis Bauru - SP Telefone : (14)

Proteína: digestibilidade e sua importância na produção. Fabrizio Oristanio (Biruleibe)

QUÍMICA CELULAR NUTRIÇÃO TIPOS DE NUTRIENTES NUTRIENTES ENERGÉTICOS 4/3/2011 FUNDAMENTOS QUÍMICOS DA VIDA

USO DE CONCENTRADOS PARA VACAS LEITEIRAS

Gorduras, Alimentos de Soja e Saúde do Coração Análise das Evidências

USO DE ÓLEOS E GORDURAS NAS RAÇÕES

Alimentos de Soja - Uma Fonte de Proteína de Alta Qualidade

Lisina, Farelo de Soja e Milho

NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO ANIMAL 1. HISTÓRICO E IMPORTANCIA DOS ESTUDOS COM NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO:

3ªsérie B I O L O G I A

Nutrientes. E suas funções no organismo humano

ÔMEGAS PARA O QUE SERVEM?

5 Alimentos que Queimam Gordura IMPRIMIR PARA UMA MAIS FÁCIL CONSULTA

JUSTIFICATIVA OBJETIV OS:

Coach Marcelo Ruas Relatório Grátis do Programa 10 Semanas para Barriga Tanquinho

ÓLEO DE CHIA REGISTRO:

34 Por que as vacas mastigam o tempo todo?

Os lipídios são substâncias com estrutura variada sendo muito abundantes em animais e vegetais;

ALIMENTAÇÃO DE CORDEIROS LACTENTES

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA CARNE. Profª Sandra Carvalho

VALOR NUTRITIVO DA CARNE

EFEITO DA UTILIZAÇÃO DE PRÓBIÓTICOS EM DIETAS PARA BOVINOS NELORE TERMINADOS EM CONFINAMENTO INTRODUÇÃO

Funções dos lípidos:

Figura 1: peridrociclopentanofenantreno

ARTIGO TÉCNICO Minerthal Pró-águas Suplementação protéica energética no período das águas

Vida saudável. Dicas e possibilidades nos dias de hoje.

( ) Falta de vitamina D. Dificuldades em absorver o cálcio, provocando problemas para a calcificação dos ossos.

Diferimento de pastagens para animais desmamados

O papel da Nutrição na Saúde dos Peixes. João Manoel Cordeiro Alves Gerente de Produtos Aquacultura Guabi Nutrição Animal

Utilização de gordura inerte na dieta de ruminantes

Estratégias Nutricionais para reduzir a emissão de Metano em Bovinos

Confira a lista dos 25 melhores alimentos para emagrecer:

Perder Gordura e Preservar o Músculo. Michelle Castro

M E T B O L I S M O CATABOLISMO ANABOLISMO

Apresentação. O que significam os itens da Tabela de Informação Nutricional dos rótulos

Impacto da nutrição na qualidade da carne e do leite. Marcone Costa Zootecnista - DSc Ass. Téc. Nutrição Animal

Sistemas de produção e Índices zootécnicos. Profª.: Valdirene Zabot

TRATAMENTO QUÍMICO DE RESÍDUOS AGRÍCOLAS COM SOLUÇÃO DE URÉIA NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

IESA-ESTUDO DIRIGIDO 1º SEMESTRE 8º ANO - MANHÃ E TARDE- DISCIPLINA: CIÊNCIAS PROFESSORAS: CELIDE E IGNÊS. Aluno(a): Turma:

Os lipídeos se encontram distribuídos em todos os tecidos, principalmente nas membranas celulares.

Conheça o lado bom e o lado ruim desse assunto. Colesterol

Ingredientes: Óleo de chia. Cápsula: gelatina (gelificante) e glicerina (umectante).

NUTRIÇÃO DE GATOS. DUTRA, Lara S. 1 ; CENTENARO, Vanessa B. 2 ; ARALDI, Daniele Furian 3. Palavras-chave: Nutrição. Gatos. Alimentação.

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA BOVINOS LEITEIROS

7ª série / 8º ano 2º bimestre U. E. 10

(2) converter as moléculas dos nutrientes em unidades fundamentais precursoras das macromoléculas celulares;

Universidade Federal do Paraná Departamento de Zootecnia Centro de Pesquisa em Forragicultura (CPFOR)

ECOLOGIA GERAL FLUXO DE ENERGIA E MATÉRIA ATRAVÉS DE ECOSSISTEMAS

A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO E DO MANEJO DE VACAS LEITEIRAS EM PRODUÇÃO

2011 Evialis. Todos os direitos reservados uma marca

DOCUMENTO DE REFERÊNCIA PARA GUIAS DE BOAS PRÁTICAS NUTRICIONAIS

A Importância dos Alimentos. Prof.: Andrey Oliveira Colégio Sete de Setembro Disciplina: Educação Física

Valores diários recomendados de nutrientes, vitaminas e minerais.

Ingredientes: Óleo de castanha do pará e vitamina E. Cápsula: gelatina (gelificante) e glicerina (umectante).

Nutrição completa para equinos. Linha Equinos. Rações Suplementos Minerais

Perguntas & Respostas ABIA sobre gorduras trans

Ingredientes: Óleo de açaí e vitamina E. Cápsula: gelatina (gelificante) e glicerina (umectante).

IMUNOCASTRAÇÃO. Universidade Estadual de Londrina Camila Lorena de Lucio 4º ano de Zootecnia.

Para que serve o alimento?

FARELO DE SOJA: PROCESSAMENTO E QUALIDADE

Intestino delgado. Intestino grosso (cólon)

Associação Catarinense das Fundações Educacionais ACAFE PARECER RECURSO DISCIPLINA QUÍMICA

Bem, a resposta é: Sim.

Custo Unitário do Nutriente (CUN) = A (B 100 x C 100),

A Importância do Fósforo na Dieta de Vacas de Leite

Triglicerídeos altos podem causar doenças no coração. Escrito por Fábio Barbosa Ter, 28 de Agosto de :19

As membranas são os contornos das células, compostos por uma bicamada lipídica

Nutrição. tica (SND) Disciplina:Nutrição para Enfermagem Curso: Enfermagem Semestre: 4º. Profa. Dra. Andréia Madruga de Oliveira Nutricionista

A PRODUCAO LEITEIRA NOS

Análise Nutricional do Contador de Pontos (Carinhas)

Profa. Joyce Silva Moraes

REGISTRO: Isento de Registro no M.S. conforme Resolução RDC n 27/10. CÓDIGO DE BARRAS N : (Frutas vermelhas) (Abacaxi)

NUTRIÇÃO APLICADA À FARMÁCIA

Convivendo bem com a doença renal. Guia de Nutrição e Diabetes Você é capaz, alimente-se bem!

REVISÃO QUÍMICA. Profº JURANDIR QUÍMICA

Trato Digestivo do Suíno

A Dieta Atkins promete não somente redução de peso, mas também uma melhoria no seu sistema cardíaco e funções da memória, dentre outros benefícios.

MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DECEx DEPA COLÉGIO MILITAR DE BRASÍLIA PLANO DE AULA BIOLOGIA 1º ANO/EM

Oficina CN/EM Alimentos e nutrientes (web aula) H34 Reconhecer os principais tipos de nutrientes e seu papel no metabolismo humano.

Qualidade e valor nutricional da carne de coelho. Óscar Cerqueira Nutricionista ACES Douro I

Sistemas do Corpo Humano

Alimentação na Gestação

Nascida da experiência internacional do Grupo Agras, em atividade desde 1946 na importação de matérias-primas alimentares, a Agras Delic introduziu

O QUE SÃO SUBSTÂNCIAS INORGÂNICAS? QUAL A FUNÇÃO BIOLÓGICA DE CADA UMA?

CUIDADO NA FORMULAÇÃO DE DIETAS VEGETAIS OU COM SUBPRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL.

BIOLOGIA - 1 o ANO MÓDULO 17 MITOCÔNDRIAS E RESPIRAÇÃO CELULAR

Como nosso corpo está organizado

MANEJO E ALIMENTAÇÃO DE VACAS EM LACTAÇÃO

Lipídios. Dra. Aline Marcellini

Transcrição:

Uso de lipídeos em dietas de ruminantes Sérgio Raposo de Medeiros 1 1 Pesquisador Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, MS. A evolução das espécies ruminantes ocorreu associada à ingestão de forragens que são naturalmente pobres em gordura, com teores da ordem de 3% na Matéria Seca (MS). O ecossistema ruminal, um dos melhores exemplos de simbiose da natureza, onde o animal provê o ambiente e o alimento e a microbiota hospedada nele permite o uso da fonte mais abundante de energia que são as fibras das forragens, tem dificuldade em lidar com dietas que tenham elevado valor de gordura. Os teores de gordura em nutrição animal são expressos como o material que é extraído do alimento pelo éter, determinação conhecida como extrato etéreo (EE). O valor crítico de teor de gordura na dieta estabelecido é de, no máximo, 6% de EE na MS. Valores acima disso atrapalham a degradação ruminal. Os efeitos negativos na fermentação ruminal em dietas com gordura acima do limite crítico ocorreriam por dois principais motivos: 1) efeito tóxico direto dos ácidos graxos aos microrganismos e 2) efeito físico pelo recobrimento das partículas alimentares com gordura, com conseqüente redução do contato destas com agentes de digestão. O primeiro é considerado preponderante. Neste ponto fica claro que fontes de gordura mais insaturadas são mais problemáticas do que fontes menos saturadas. De fato, óleos vegetais são mais tóxicos no rúmen do que gorduras animais (uso proibido em função da necessidade de redução de risco de transmissão da doença da Vaca Louca, a encefalopatia espongiforme bovina). Também a forma como a gordura é oferecida influi nos efeitos deletérios no rúmen: os ácidos graxos do grão de oleaginosas (caroço de algodão, soja, girassol, etc.), uma vez que são defendidos pelas estruturas da semente, são liberados mais lentamente e, por isso, são menos problemáticos do que a ingestão direta do óleo dessas oleaginosas. Como os ácidos graxos insaturados (i.e. ácidos graxos com ligações duplas entre pelo menos dois carbonos) são os mais tóxicos, 1

a microbiota ruminal desenvolveu uma estratégia para reduzir a insaturação dos ácidos graxos com a colocação de hidrogênios nestas duplas ligações, transformando-as em ligações simples ou saturadas. Biohidrogenação CH3- CH2-...- CH = CH - CH2- COOH --------------------------------- CH3- CH2-...- CH2 - CH2 - CH2- COOH Ácido graxo insaturado Ácido graxo insaturado Esse fenômeno chama-se biohidrogenação e é responsável pela carne bovina ser mais saturada do que de animais monogástricos (aves e suínos, por exemplo) e o principal motivo de restrição por médicos e nutricionistas à inclusão dela nas dietas. Usualmente a maior parte dos ácidos graxos que passam o rúmen são biohidrogenados. Mesmo os ácidos graxos dos grãos, apesar da menor velocidade de liberação comentada acima, também costumam ser extensamente biohidrogenados. Como um último aspecto de efeitos ruminais da gordura, há uma interessante coincidência nas alterações de padrão de fermentação entre dietas com gordura e dietas com Ionóforos. O programa de Cornell (CNCPS), um sistema de modelagem e avaliação de rações, por exemplo, desconsidera o efeito do Ionofóro se há gordura na dieta. Na verdade, apesar das evidências científicas, ainda falta identificar se o efeito é substitutivo, como assume o CNCPS, ou se há diferença entre diferentes teores de gordura na dieta e diferentes concentrações do aditivo. Exemplificando, falta saber se uma dieta com valores intermediários de gordura (4,5% MS da dieta) não resulta em 100% do efeito do ionóforo, mas, talvez, precise apenas de meia dose (efeito aditivo) ou mesmo menos do que metade da dose (efeito sinérgico) para fazer o mesmo efeito total do aditivo isoladamente. Outro aspecto importante da presença de lipídeos no rúmen é que eles não contribuem para o crescimento da microbiota ruminal, pois não são fermentados no rúmen e, portanto não contribuem com energia. Essa informação pode ser importante no momento de equilibrar a proteína degradável no rúmen que deve ser uma porcentagem da energia da dieta, mas apenas daquela fermentescível no rúmen. 2

Apesar de não fornecerem energia, é importante mencionar que uma pequena, mas significativa, parte dos ácidos graxos são incorporados às membranas celulares dos microrganismos ruminais. O valor da gordura como combustível fisiológico é de 9 Mcal/kg, equivalente a cerca de 2,25 a energia de carboidratos e da proteína, mas isso, desde que seja absorvida e fique a disposição para ser metabolizada (energia metabolizável). Portanto, varia em função da digestibilidade de cada fonte de gordura. O que mais interfere na digestibilidade dos ácidos graxos seria o grau de insaturação. Assim, quanto mais insaturado o ácido graxo, maior sua digestibilidade e, portanto, seu valor energético, Na Tabela 1, abaixo, podem ser vistos dados dos diferentes valores de energia que algumas fontes de gordura podem ter em função da digestibilidade e da percentagem do EE que corresponde a ácidos graxos. Tabela 1 Nutrientes digestíveis totais (NDT) de algumas fontes de gordura Fonte da Gordura Tipo Digestibilidade (%) Óleo Vegetal Ácidos Graxos + Glicerol Sais de cálcio de ácidos graxos Ácidos graxos de Sebo hidrolisado Sebo Ácidos Graxos + Sebo parcialmente hidrogenado Extrato Etéreo (%) NDT (%) NRC, 2001 Cálculo 1 NDT (%) NRC, 1996 Tabela 86 100 184,0 177 Ácidos Graxos 86 85 163,5 ND Ácidos Graxos 79 100 178 ND Glicerol Ácidos Graxos + Glicerol 68 100 147,4 177 43 100 97 177 1 NDT, % = (EE X 0,1) + (Digestibilidade dos ácidos graxos X (EE X 0,9) X 2,25) Um dos grandes apelos para a inclusão de fontes de gordura na alimentação de ruminantes é que o fornecimento de lipídeos na dieta frequentemente melhora a eficiência da conversão de alimentos, ou seja, para uma dieta com gordura pode ser necessário menor consumo de matéria seca para cada quilo de ganho. Na Tabela 2, é apresentado um exemplo com dietas com e sem gordura. 3

Tabela 2 Comparação de dietas com e sem adição de gordura Recria Terminação Sem Com Diferença, Sem Com Diferença, Variável gordura gordura % gordura gordura % GDP, kg/cab.dia 1,060 1,230 + 16 1,200 1,320 + 11 Consumo, kg/cab. 7,620 6,530-16 8,440 8,570 + 2 Conversão Alimentar; kg de alimento/kg de ganho 7,210 5,310 + 26 7,040 6,450 + 8 As razões para essa melhoria seriam basicamente duas: 1) Economia no anabolismo: ácidos graxos pré-formados dispensam síntese de novo a partir do acetato, o que evita parte do incremento calórico associado à esta rota metabólica; ou seja, aproveita-se o ácido graxo pronto, sem necessidade de ter que produzi-lo. 2) Maior eficiência no catabolismo: a geração de energia por oxidação de ácidos graxos de cadeia longa é cerca de 10% mais eficiente que a oxidação de acetato, ou seja, há menos de perda de energia quanto é usada a gordura em relação a uma das principais fontes de energia do ruminante. Recentemente, o interesse em ácidos graxos aumentou sobremaneira em função do reconhecimento do envolvimento destas substâncias na regulação metabólica. Uma das descobertas mais interessantes foi a de que o tecido adiposo pode ser considerado como uma imensa glândula do organismo, pois secreta o hormônio Leptina. A descoberta da Leptina foi acompanhada de grande alvoroço em função de ela estar ligada na regulação da ingestão. Vislumbrou-se ser possível usá-la como uma arma contra o crescente drama do aumento da prevalência da obesidade. Todavia, os promissores resultados com cobaias não se sustentaram para humanos. Por estar relacionada à mecanismos de 4

controle celular e em várias outras funções, ainda há grande interesse nela. Além disso, os próprios ácidos graxos podem influenciar diretamente o metabolismo animal. O melhor exemplo disto são os ácidos linoléicos conjugados (CLA) que são um grupo de ácidos graxos que têm um comum uma característica estrutural mais rara na natureza que são os carbonos conjugados. Alguns destes ácidos graxos têm marcantes efeitos metabólicos. O de maior ocorrência, o ácido rumênico (CLA c9,t11) está associado, principalmente, a efeitos anti-câncer. Outro CLA, o CLA, o t10,c12, está identificado como um potente repartidor de nutrientes. Concentrações pequenas nas dietas (menores do que 1%) são capazes de reduzir em mais de 50% a secreção de gordura do leite em poucos dias, sejam vacas estabuladas de alta produção ou vacas de baixa produção em pastagens tropicais. Há efeitos marcantes, também, na redução da deposição de gordura em monogástricos, incluindo efeitos siginificativos em humanos. Por essas ações, e outros efeitos potencialmente benéficos à saúde humana, os CLAs, e outros ácidos graxos como o ômega-3, têm sido alvo de intensos estudos. Na produção animal, já existem vários relatos de melhoria da reprodução com a suplementação de gordura. A quantidade que parece fazer diferença seria algo em torno de 4% da MS e identificou-se que fontes de gordura vegetal dão melhores resultados que fontes de gordura animal. Isto está ligado a maior proporção de ácidos graxos poliinsaturados (particularmente ácido linoléico). Uma das explicações metabólicas para isso é que as Prostaglandina F2α, quando não bloqueadas pelo embrião, resultam em morte embrionária. A enzima responsável por esse bloqueio é a Ciclooxygenase-2 (COX-2), cuja enzima limitante para sua produção é regulada por ácidos graxos poliinsaturados (18:2, EPA, DHA, CLA). Portanto, teores baixos desses ácidos graxos podem predispor a morte embrionária. No Brasil - Central, onde temos estacionalidade pronunciada e devemos ter menor ingestão de ácidos graxos poliinsaturados, por conta das forrageiras tropicais terem um perfil de ácidos graxos mais saturados, pode-se esperar resultados na exploração desta técnica. Trabalhos em andamento na Embrapa Gado de Corte procuram aprofundar nosso conhecimento sobre esses assuntos. Tem-se trabalhado, também, com a tentativa de modular a composição dos ácidos graxos da gordura da carne com o objetivo de reduzir a restrição da comunidade de saúde contra a carne, pelo aumento em geral da proporção dos ácidos graxos insaturados e pelo 5

incremento específico de ácidos graxos relacionados à melhoria da saúde, como os CLA e os ômega-3. A idéia seria oferecer aos animais dietas ricas em gordura que, ao mesmo tempo em que podem ter maior eficiência alimentar, alterariam a composição da gordura da carne. No caso da composição lipídica da carne, haverá a necessidade de se criar mecanismos mais eficientes de proteção dos ácidos graxos. A proteção com a formação de sais de cálcio de ácidos graxos, a única comercialmente disponível, é menos eficiente com ácidos graxos poliinsaturados, o que faz com que seja mais difícil manipular o perfil lipídico de produtos animais com seu uso. É interessante lembrar o efeito da gordura na ingestão de matéria seca (IMS). Se a inclusão é menor do que 6% da MS, reduções na IMS estariam ocorrendo apenas pelo atendimento da exigência de energia e não difere do que ocorre com dietas sem a inclusão de gordura. Com a inclusão acima deste valor crítico, a redução na degradação da fibra pode explicar o decréscimo de IMS, pois se reduz a velocidade de redução das partículas e, portanto, do escape destas do rúmen, permanecendo mais tempo a digesta neste. Ocorre que, mesmo que se use gordura protegida, que não atrapalharia a digestão de fibra ruminal, valores acima de 6% costumam reduzir a IMS. Neste caso, provavelmente o maior teor de gordura plasmática sinalize ao sistema nervoso central que o animal não precisa ingerir mais, mecanismo de saciedade conhecido como quimiostático por envolver metabólitos sanguíneos. A gordura na nutrição de ruminantes já tem disponível uma grande massa de informação, mas as novas descobertas e seu uso em sistemas mais extensivos permitirão ainda muitos outros trabalhos de pesquisa. Particularmente, em países tropicais e baseados em pastagens, como o Brasil, há possibilidade de bons avanços com o aumento no uso de gordura na alimentação de bovinos. 6