Brasil não pode emperrar pré-sal, diz presidente do World Petroleum Council Qua, 19 de Setembro de 2012 08:08



Documentos relacionados

20 de agosto de Xisto muda geopolítica da energia

Folha On Line - SP 24/08/2008 Dinheiro Online

)('(5$d 2 Ô1,&$ '26 3(752/(,526. )LOLDGD j. 3RVLFLRQDPHQWR GD )HGHUDomR ÔQLFD GRV 3HWUROHLURV )83 )UHQWH j 6H[WD 5RGDGD GH /LFLWDomR GD $13

Entrevistado: Almir Barbassa Entrevistador: - Data:11/08/2009 Tempo do Áudio: 23 30

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou com o governador Paulo Hartung no 27º Encontro Econômico Brasil-Alemanha.

NAGI PG. As Oportunidades do Pré-sal: Como minha indústria pode participar deste mercado. Eng. Virgilio Calças Filho Sorocaba 27/02/2014

Prova de Informática Petróleo e Gás PROVA DE INFORMÁTICA BÁSICA PETRÓLEO & GÁS

APRESENTAÇÃO NA FUP MUDANÇAS NO MARCO REGULATÓRIO DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO NO BRASIL

Em jogo, segredos estratégicos do pré-sal

Press Release. Voith promove constantes mudanças

A costa da África pode ser um foco da indústria no futuro próximo;

ÇÕES SOBRE MODELOS CONTRATUAIS PARA EXPLORAÇÃ ÇÃO O E PRODUÇÃ

Consórcio quer 'popularizar' compra de helicóptero e avião

COLÉGIO SALESIANO SÃO JOSÉ Geografia 9º Ano Prof.º Daniel Fonseca. Produção energética no Brasil: Etanol, Petróleo e Hidreletricidade

Entrevista José Sérgio Gabrielli (JSG) - Presidente da Petrobras Jornal: Valor Econômico Data: 08 de setembro de 2009.

ANEXO 1: Formato Recomendado de Planos de Negócios - Deve ter entre 30 e 50 páginas

Indicadores Anefac dos países do G-20

Fortaleza, junho de 2015

1. A retomada da bolsa 01/02/2009 Você S/A Revista INSTITUCIONAL 66 à 68

1. Informações Institucionais

Novos Negócios Farma

A INDÚSTRIA DE PETRÓLEO & GÁS NO ESTADO DO RJ. CAMPUS 2014 Brésil Internacional

O processo de abertura comercial da China: impactos e perspectivas

Connections with Leading Thinkers

DIREÇÃO NACIONAL DA CUT APROVA ENCAMINHAMENTO PARA DEFESA DA PROPOSTA DE NEGOCIAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO, DAS APOSENTADORIAS E DO FATOR PREVIDENCIÁRIO

FÓRUM REGIONAL ESPÍRITO SANTO

Empresas aéreas continuam a melhorar a rentabilidade Margem de lucro líquida de 5,1% para 2016

PETRÓLEO E GÁS NATURAL Mundo e Brasil Pré-sal e desenvolvimento nacional. Guilherme Estrella, geólogo

Willis Latin American Energy Conference

A autossuficiência brasileira

Investimento em infraestrutura: o que precisa ser feito?

Os consumidores avaliarão as iniciativas de sustentabilidade das empresas

DESOCUPAÇÃO DE IMÓVEIS ARREMATADOS EM LEILÃO

Os desafios do Bradesco nas redes sociais

Perspectivas para o Setor de petróleo e gás natural no Brasil

Como Investir em Ações Eduardo Alves da Costa

Os fundos de pensão precisam de mais...fundos

Milho Período: 11 a 15/05/2015

Pequenas e Médias Empresas no Canadá. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

Perspectivas sobre o Futuro do Pré-Sal

A nova classe média vai às compras

RISCOS E OPORTUNIDADES PARA A INDÚSTRIA DE BENS DE CONSUMO. Junho de 2012

Saiba o que vai mudar no seu bolso com as novas medidas econômicas do governo

Entrevista com Omnitrade, Revestimentos Metálicos, SA. Diogo Osório Administrador Patrícia Carvalho Administradora.

Transcrição de Teleconferência Resultados do 1T11 Queiroz Galvão QGEP Participações (QGEP3 BZ) 12 de maio de Operadora:

VEICULAR COMO VOCÊ DECIDE A COMPRA DO SEU CARRO

Os desafios da ANP: Pré-Sal e Biocombustíveis

Energia Competitiva para o Nordeste: Energia Limpa e Renovável

ENTREGAS RÁPIDAS, EFICIENTES E COM QUALIDADE. O diferencial que sua empresa busca para os negócios

NOTA TÉCNICA ALERTA PARA OS PRODUTORES DE SOJA

O governo do PT quer vender Libra para entrar na farra do Banco Brics

Plano Estratégico Petrobras 2030 e Plano de Negócios e Gestão

Mercado. Cana-de-açúcar: Prospecção para a safra 2013/2014

INFORME MINERAL DNPM JULHO DE 2012

A Lição de Lynch. O mago dos investimentos conta como ganhar nas bolsas depois de Buffet e Soros

Crescimento Econômico Brasileiro e o temor da Inflação

Certificação de Conteúdo Local Serviços de Petróleo e Gás

Como Plantar Pensando na Renda

Rodobens é destaque no website Infomoney

A seguir, é apresentado um panorama sintético dos resultados financeiros desses bancos.

Indicador ANEFAC dos países do G-20 Edição Por Roberto Vertamatti*

Sinergia com os EUA. Henrique Rezezinski¹. Ano: 2012

18 de maio, 19h30. Minhas primeiras palavras são de saudação ao colega Ministro Gao Hucheng, que

Rio de Janeiro, 5 de junho de 2008

MOTIVAÇÕES PARA A INTERNACIONALlZAÇÃO

Volatilidade e Mudanças Estruturais Impactos na Indústria de Petróleo

Se você está começando a explorar o marketing digita com o YouTube, então você, certamente, já notou o quão poderosos são os vídeos.

PETRÓLEO E GÁS NATURAL

Produção e consumo sustentáveis

Accenture Technology Vision 2015 Serviços Públicos para o Futuro. Visão geral das cinco tendências digitais para serviços públicos

Apresentação CEI. Perspectivas no mercado de energia fotovoltaica

OGPar: Ativos e Situação Atual A Nova Companhia

Press-release. Voith consegue superar conjuntura difícil 12/12/2012

6 Conclusão do estudo e implicações empresariais

COMO PARTICIPAR EM UMA RODADA DE NEGÓCIOS: Sugestões para as comunidades e associações

Fala, CMO! Com Marina Xavier da UnYLeYa

Oracle Financing: A Maneira Mais Rápida e Acessível de Adquirir Soluções de TI

O papel do CFO na estratégia corporativa

RELATÓRIO DE MISSÃO INTERNACIONAL À ALEMANHA

Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis Painel 1: Aspectos Regulatórios: Qual a Estrutura Apropriada para o Pré-Sal?

DEDICADA AOS DEZ TRABALHADORES MORTOS EM ACIDENTES, ATÉ JUNHO DE 2015

Desempenho do Comércio Exterior Paranaense Março 2013

ATUAÇÃO INTERNACIONAL DA PETROBRAS E AS OPORTUNIDADES PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA

NOSSA HISTÓRIA. Em Parceria com:

Colégio São Paulo Geografia Prof. Eder Rubens

PROBLEMA, MUDANÇA E VISÃO

Projeto Setorial de Exportação. ABF Associação Brasileira de Franchising

O Sr. CELSO RUSSOMANNO (PP - SP) pronuncia o. seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e. Senhores Deputados, em 5 de maio de 2000 foi

Resultados da Pesquisa global de opinião dos investidores 2012

Workshop sobre Marco Regulatório do Pré-Sal. A Cadeia Produtiva da Indústria Desafios e Oportunidades

Exportação de Serviços

Local Conference Call Bovespa Comunicado ao Mercado 28 de março de 2012

O Desafio da Recuperação Económica e Financeira. Prova de Texto. Nome da Equipa GMR2012

Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais

O Marketing Esportivo evoluiu. A Escala também.

Os determinantes do custo Brasil

1. A Google usa cabras para cortar a grama

Transcrição:

Dirigindo uma das principais entidades de petróleo do mundo, o World Petroleum Council, mas também presidente da brasileira Barra Energia, Renato Bertani acha que o Brasil não pode se dar ao luxo, como país em desenvolvimento, de demorar tanto tempo para desenvolver seus gigantescos reservatórios de petróleo no pré-sal brasileiro. O executivo, porém, ainda vê muito interesse de empresas estrangeiras no país caso os leilões de áreas de petróleo e gás voltem realmente a ser realizados, como anunciou ontem o governo. O próprio Bertani está à espera de novas áreas para a Barra Energia, hoje com apenas dois blocos devido à falta de leilões --um deles é o bem sucedido Carcará, em parceria com a Petrobras. Apesar de estar localizado na região do pré-sal, Carcará praticamente não registra presença de CO2 (gás carbônico), elemento que vem sendo encontrado em outros campos da região e que encarece a extração. 1 / 8

O foco da empresa nos leilões da ANP (Agência Nacional do Petróleo) será o pré-sal, informa o executivo que trabalhou 32 anos na Petrobras. De preferência, o prospecto Libra --já identificado pela agência e que, segundo Bertani, pode conter até 15 bilhões de barris de petróleo. * Folha - Como o senhor vê a exploração do petróleo nos próximos anos e o posicionamento do Brasil na indústria mundial? Renato Bertani - O mundo vai continuar precisando de petróleo. Hoje os combustíveis fósseis, onde se inclui também o gás e o carvão, representam 70% da energia consumida no mundo e, mesmo com o aumento dos biocombustíveis, deve continuar assim. Em 2030 o consumo global vai atingir 110 milhões de barris diários, contra os 87 milhões de hoje, e se levarmos em conta o declínio natural dos campos, vamos precisar de mais 65 milhões de barris diários, levando em conta uma média conservadora de declínio de 3,5%. O Brasil é um dos países do mundo que podem dar essa contribuição, porque ninguém vai conseguir suprir isso sozinho. Estão na lista Arábia Saudita, Iraque, Estados Unidos, Rússia, Brasil, e Canadá e Venezuela com óleo pesado. 2 / 8

E o preço do petróleo vai possibilitar os investimentos necessários para fazer frente a esse aumento de produção? O preço do petróleo vai continuar alto, nos patamares atuais para cima, com uma tendência levemente crescente, mas com volatilidade. Mas é absolutamente insustentável petróleo barato. Por quê? Tivemos um teste dessa tese há três anos, em 2008, quando o preço caiu e imediatamente bilhões de dólares de investimentos foram suspensos. O mercado percebeu que ia faltar petróleo se continuasse o preço baixo e o preço voltou para US$ 100. E quais são os obstáculos para o Brasil? Dentro desse contexto, a gente tem a situação de Libra, que é uma descoberta que foi feita há dois anos e se estima que tem reservas de 8 bilhões de barris, com algumas visões de que podem chegar a 15 bilhões de barris. É um ativo incrivelmente valioso que hoje está controlado pela ANP. Foi descoberto há dois anos e não sabemos quando será oferecido em uma licitação. Vai levar mais no mínimo dois anos até que os primeiros investimentos para desenvolver Libra venham a ser feitos. 3 / 8

Ninguém pode se dar ao luxo, principalmente um país em desenvolvimento, de deixar uma riqueza como essa por quatro anos, no mínimo, sem explorar. O governo errou então em mudar o marco regulatório e redesenhar a distribuição de royalties? A questão que está gerando esse atraso todo é a questão dos royalties, não do marco, uma questão que se originou com os Estados. Mas o fato é que precisa haver um avanço nessa discussão o quanto antes, porque o país está sendo prejudicado. O Brasil está perdendo o interesse de empresas de fora? O Brasil continua extremamente interessante, tem muito potencial, tanto no lado exploratório como no desenvolvimento econômico, mas a falta de rodadas está inibindo o entusiasmo e a iniciativa de algumas companhias em virem para o Brasil. E podem ir para outro lugar? 4 / 8

Hoje em dia, em termos de áreas emergentes, temos a exploração no oeste da África, que continua despertando muito interesse, e o leste da África particularmente tem gerado resultados extremamente interessantes. Quênia, Moçambique, Tanzânia estão atraindo muito capital. A Rússia é o maior produtor mundial de petróleo e tem muito potencial para recuperar os atuais campos. O capital vai para os ambientes onde há uma oportunidade de recuperar o capital, de crescer, mas acho que estamos perdendo a oportunidade de multiplicar a atual indústria de petróleo por duas ou três vezes. Então o Brasil pode perder nessa concorrência? Se retomarmos rápido os leilões, as companhias virão para o Brasil aportar capital e tecnologia, recursos humanos, e isso vai permitir ainda mais o desenvolvimento de uma indústria local de bens e serviços, e o Brasil vai sair ganhando. Por isso é lamentável que a nossa indústria esteja paralisada por falta de licitações, as razões aparentemente estão vinculadas a uma discussão da questão de royalties. 5 / 8

O Brasil já tem uma indústria pujante, mas poderíamos estar diversas vezes mais pujantes, atraindo mais investimentos e trazendo oportunidades. O que está acontecendo hoje é que algumas companhias já estão começando a repensar seus planos de investimento no Brasil, e começam a se posicionar no leste e oeste da África, nos Estados Unidos. No momento alguma empresa está decidida a sair do país por falta de áreas? Tem companhias constantemente ajustando seu portfólio, mas conheço pelo menos dez que querem entrar, da China, dos Estados Unidos, da Europa... Vocês são sócios da Petrobras em Carcará, que foi bastante comemorado pela estatal. Quais são as perspectivas para o desenvolvimento do campo? Carcará está sendo perfurado a 6.300 m, é um ótimo reservatório e praticamente não tem CO2 (gás carbônico). Tivemos sorte, mas tem que ter sorte e ter gestão, tem que furar os poços certos. O primeiro óleo está previsto para 2018. 6 / 8

E como a Barra vai se capitalizar para dar conta de tantos investimentos? Fomos capitalizados com US$ 1,2 bilhão dos nossos acionistas, fundos de investimentos americanos, e já gastamos US$ 470 milhões, então temos US$ 730 milhões e estamos preparados para a 11ã rodada de petróleo. Se precisar mais capital para desenvolver Carcará, o que acho provável, as alternativas seriam ter mais capital dos atuais investidores ou contrair dívida, porque a gente não tem nenhum endividamento. Não pensamos em abrir capital também, por ora. Vai depender de como vão evoluir as oportunidades de novos negócios e os nossos projetos. Queremos aumentar o portfólio, mas seletivamente, não tem nada em negociação. * RAIO X RENATO BERTANI 7 / 8

Idade 59 anos Formação Doutor em geologia e geoquímica sedimentar pela Universidade de Illinois (EUA) Atividades 32 anos na Petrobras (diretor de exploração e produção da Braspetro e presidente das subsidiárias internacionais da Petrobras no Reino Unido e nos Estados Unidos). Atual presidente da Barra Energia e do World Petroleum Council, entidade que reúne os 65 países responsáveis por 95% do petróleo produzido no mundo Por: Denise Luna (Fonte: Folha SP) 8 / 8