A IMPORTÂNCIA DO ÁUDIO-LIVRO PARA O DEFICIENTE VISUAL NO ESTUDO DE LITERATURA



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Transcrição:

A IMPORTÂNCIA DO ÁUDIO-LIVRO PARA O DEFICIENTE VISUAL NO ESTUDO DE LITERATURA Fernanda Antônia Bezerra 44 Joranaide Alves Ramos 45 nad.alvesramos@hotmail.com RESUMO Este trabalho mostra a importância do áudio-livro como facilitador para a aproximação entre a literatura, importante na vida de todo ser humano, e a pessoa com deficiência. Esse formato de livro possibilita aos deficientes visuais um contato direto com as obras literárias, sendo que tais informações ajudam para a sua formação crítica e pessoal. Para tanto, buscaremos refletir sobre as vantagens e desvantagens do livro falado. Nessa perspectiva mostraremos que o áudio-livro é uma alternativa capaz de auxiliar o deficiente visual no estudo da literatura. O estudo teve aporte teórico de autores como Sá (2006), Vilaronga e Silva (2011), Ochaíta e Espinosa (2004), Paletta et. al. (s. d.), entre outros. PALAVRAS-CHAVE: Áudio-livro. Deficiência Visual. Literatura. ABSTRACT This work shows the importance of audiobook as a facilitator on the approximation between literature, important in the life of every human being, and the disabled person. This format of book turns possible to visually impaired people a direct contact with literary works, while such information is helpful to its critical and personal formation. For this, we seek to reflect about the advantages and disadvantages of the audiobook. Through this perspective, it is showed that the audiobook is an alternative capable of assist the visually impaired person in the study of literature. The research had theoretical support of authors such as Sá (2006), Vilaronga e Silva (2011), Ochaíta e Espinosa (2004), Paletta et. al. (s.d.), among others. KEYWORDS: Audiobook. Visual Impairment. Literature. INTRODUÇÃO A utilização do áudio-livro é de suma importância para o estudo de literatura por pessoas com deficiência visual, pois esse formato de livro facilita o acesso às obras literárias que, de modo geral, ampliam a visão de mundo do leitor-ouvinte que refletirá criticamente sobre a realidade. A disseminação desse tipo de livro aproxima os alunos com deficiência visual da literatura, já que a maioria do acervo em áudio é de obras literárias. Esse acervo inclui 44 Acadêmica do VI período do Curso de Letras da Faculdade Sete de Setembro. 45 Professora de Literatura Brasileira do Curso de Letras da Faculdade Sete de Setembro Fasete. 74

literatura brasileira, infantil e estrangeira. Atentando para essa situação, a Fundação Dorina Nowil para cegos e o Instituto Benjamin Constant são exemplos de instituições não governamentais que trabalham em defesa da inclusão prestando diversos serviços, inclusive distribuição dos livros em áudio, seja por meio de empréstimos para os alunos ou de doações para as escolas públicas e privadas. Vale salientar que o avanço das tecnologias favorece a produção e circulação desse tipo de livro, mas ainda não atende à demanda das pessoas com necessidades educativas especiais. Pensando nisso, este estudo analisa a importância do livro em áudio para aproximar os alunos com deficiência visual da literatura, baseando-se em: Acessibilidade: as pessoas no itinerário da cidadania (2006), de Elizabet Dias de Sá; A dimensão formativa do cinema e a audio-descrição: Um outro ponto de vista (2011), de Iracema Vilaronga e Luciene Maria da Silva; Desenvolvimento psicológico e educação: Desenvolvimento e intervenção educativa nas crianças cegas ou deficientes visuais(2004), de Esperanza Ochaíta, Maria Ângeles Espinosa, et. al. ; entre outros. 1 O DEFICIENTE VISUAL, O ÁUDIO LIVRIVRO E A LITERATURA Com em alguns estudos percebemos que a ausência da visão proporciona ao deficiente o surgimento de outros sentidos como vias alternativas para o auxiliar em sua aprendizagem, entre esses sentidos destaca-se a audição, conforme afirma Esperanza Ochaíta e Mª Ângeles Espinosa (2004, p.151): Também a audição terá grande importância para o desenvolvimento e a aprendizagem dos cegos. Além de ser utilizada para a comunicação verbal, os não videntes empregam-na com uma função telerreceptora para a localização e a identificação de objetos e pessoas no espaço, funções para as quais é menos precisa que a visão. Para tanto, pode-se afirmar que o sentido da audição norteia as pessoas com deficiência visual a captarem as informações ao seu redor auxiliando também na aprendizagem dos mesmos. Os ouvidos assumem, portanto, o papel dos olhos, principalmente, no que se refere a "leitura" dos áudios-livros, já que a aprendizagem do cego não acontece através da visualização, assim afirma Ochaíta et al. (2004, p. 152): 75

Os cegos não têm patamares sensoriais mais baixos que os videntes, não ouvem melhor nem têm maior sensibilidade tátil ou olfativa; contudo, aprendem a utilizá-los melhor ou para outras finalidades distintas do que fazem os videntes. Portanto, a compensação refere-se à plasticidade do sistema psicológico humano para utilizar em seu desenvolvimento e sua aprendizagem vias alternativas que as usadas pelos videntes. Podemos afirmar que as pessoas com deficiência visual não tem canais sensoriais privilegiados, apenas utiliza esses sentidos conforme a necessidade. Podemos citar como exemplo o sentido da audição, pois o mesmo não é utilizado apenas para a comunicação verbal, mais também para a identificação de objetos e pessoas, não esquecendo aqui do papel importantíssimo da audição para a aprendizagem das pessoas cegas. "Os estudantes universitários e os profissionais cegos explicitam a necessidade de acesso à literatura especializada e às tecnologias assistivas em diversas áreas do conhecimento e no mundo do trabalho", conforme aponta Sá (2006, p. 16). Podemos constatar que há uma carência no acesso desse tipo de recurso para os alunos que buscam se apropriar de informações nas diversas áreas do conhecimento. O áudio-livro vem suprir essa necessidade, pois, aproxima a literatura dos deficientes visuais para serem agentes de transformação na sociedade. Segundo Paletta, Watanabe e Penilha, em "Audiolivro: inovações tecnológicas, tendências e divulgação" (s.d., p. 2.) : Audiolivro é um livro em áudio, para se ouvir. Também chamado de livro falado ou audiobook. Os arquivos de áudio geralmente são salvos em MP3, WMA, entre outros, podendo ser gratuitos ou pagos. As versões pagas contam com a vantagem de possuírem narradores profissionais contando a história, podendo haver ainda efeitos sonoros, que ajudam na interpretação do texto e evitam a monotonia na escuta. Já os gratuitos trazem uma grande variedade de obras para download, a maioria atualmente em domínio público, copyleft ou outra licença pública livre disponível, narradas por voluntários gratuitamente. Surge, então, um questionamento: O que fazer para que os livros em áudio estejam disponíveis nas bibliotecas de todo o Brasil? Disponibilizar áudio-livros nas bibliotecas de todo o Brasil é mais do que uma obrigatoriedade, é tornar possível a leitura para as pessoas com deficiência visual, oportunizando aos mesmos a liberdade de escolher as obras que eles querem ter acesso, por isso é importante que haja mais investimentos nesse formato de livro, por parte do governo federal e das organizações não governamentais. Sá (2006, p.16 e 17) apresenta as respostas de um questionário respondido por 76

pessoas com deficiência visual propondo uma melhoria no que diz respeito a leitura, a escrita e a informação. Vejamos: Para estas pessoas, a acessibilidade poderia ser viabilizada por meio de investimentos e ações tais como: ampliação e otimização das bibliotecas e serviços especializados existentes; incentivos e subsídios financeiros que possibilitem o acesso às tecnologias disponíveis no mercado; provisão de equipamentos e de programas com interfaces específicas como ampliadores de tela; sintetizadores de voz, impressoras e conversores Braille, dentre outras possibilidades, em escolas, bibliotecas e demais espaços educativos; atualização do acervo bibliográfico das universidades, produção de livros em disquetes ou CD-ROM, maior circulação de livros digitalizados em formato alternativo; estabelecimento de normas e regras de acessibilidade para a criação e manutenção de sites que possibilitem a navegação, utilização de serviços, acesso às informações e às interfaces gráficas na internet; produção simultânea, por parte das editoras, de formatos alternativos às edições em papel; criação de bibliotecas virtuais com acervo diversificado e acessível aos leitores com necessidades especiais e conversão de jornais, revistas e livros em vários idiomas para edição sonora ou eletrônica. Em decorrência de tais demandas podemos perceber que há uma carência de investimento que possibilite as pessoas com deficiência visual terem acesso a informação seja por meio do áudio-livro ou de outros meios tecnológicos que auxiliem na leitura e na escrita. A fundação Dorina Nowill e o Instituto Benjamin Constant desempenham esse trabalho de forma significativa, porém é necessário que o governo federal desenvolva políticas públicas com o intuito de abranger um número maior de pessoas com deficiência visual aproximando consideravelmente a distribuição desse formato de livro a tais pessoas. No Brasil, contabiliza apenas 140 audiolivros, segundo a Biblioteca Nacional, mas a oferta começa a aumentar. O audiolivro é predominantemente visto como um auxílio para deficientes visuais. As instituições de apoio ao deficiente visual como o Centro Cultural São Paulo (CCSP) e Lara Mara dispõem de audiolivros. O CCSP tem um convênio com a fundação Dorina Nowill, que também faz gravações. Essas instituições produzem livros em áudio em estúdio de rádio, tentando melhorar a qualidade dos audiolivros que fazem, normalmente com a ajuda de locutores voluntários. Os CDs produzidos não podem ser vendidos, porque não são produtos feitos para o mercado e, portanto, estão livres de vários encargos e burocracias. (PALETTA, WATANABE, PENILHA, s.d., p. 3-4) 77

Todavia, percebemos que, a quantidade de audio-livros não atende à demanda das pessoas com deficiência visual. Embora muitas instituições venham se empenhando em melhorar esse acervo e disponibilizar mais obras que atendam às necessidades das mesmas, ainda há uma enorme carência de audio-livros no país. Sendo que, a produção dos mesmos não facilitaria apenas as pessoas com limitação visual, mas também aquelas que não possuam limitação alguma, como por exemplo, aquelas que na correria do dia-a-dia não tem tempo para ler um livro impresso, preferindo ouví-lo enquanto dirigem, malham, etc. As gravações de obras literárias e teatrais surgiram pouco depois da Primeira Guerra Mundial para entreter soldados que perderam a visão durante as batalhas. O que era um produto para cegos, porém, foi se tornando uma opção também para pessoa que não tinham tempo para ler livros tradicionais. Com o advento das tecnologias digitais, os audiolivros surgem como novo tipo de produto que tem tudo para revolucionar o hábito de leitura. (PALETTA, WATANABE, PENILHA, s.d., p. 2-3) A literatura amplia a nossa visão de mundo, sendo assim não é difícil afirmar o quanto ela pode ser transformadora na vida de todos. O livro em áudio tem como objetivo incluir as pessoas com deficiência visual facilitando o acesso as obras literárias, já que as mesmas podem vir de forma escrita, sonora e em imagem. As pessoas com deficiência visual podem contar com obras literárias em Braille e também no formato em áudio. Segundo Vilaronga (et al.): O acesso à cultura e ao lazer, à informação e ao conhecimento, de forma, ao mesmo tempo, diferente e igualitária constitui uma das chaves do desenvolvimento humano e social. Diferente, porque é preciso assegurar a acessibilidade a todo e qualquer indivíduo, considerando suas formas de percepção e leitura de mundo; igualitária, porque todos devem ter acesso à cultura em igualdade de condições. (2011, p. 6). Essas condições vêm melhorando, consideravelmente, à medida que o deficiente visual se apropria com autonomia desses recursos fundamentais para o seu desenvolvimento. A ausência da visão não pode privá-los do acesso à cultura e ao conhecimento, pois os mesmos têm o direito garantido de usufruir de todos os meios que venham promover o seu desempenho intelectual, já que a sua aprendizagem acontece através dos diversos canais sensoriais. Diante disto, como despertar o interesse das pessoas com deficiência visual pelas 78

obras literárias no formato em áudio, sem perder o contato dos livros em Braille? Uma solução possível seria mostrar aos deficientes visuais que tão importante quanto ouvir as obras em áudio é manter também o contato com a leitura em Braille, já que a mesma contribui para melhorar a escrita, ampliando o seu vocabulário. Mesmo em meio as novas tecnologias o sistema Braille não deve se tornar obsoleto mediante o uso dos softwares, livros em áudio ou sintetizadores de voz, pois o mesmo possibilita a formação das pessoas com deficiência visual, no que se refere à ortografia, gramática, produção de texto e leitura das palavras. Sendo assim, todos os meios se complementam e abrem caminhos para a aquisição do conhecimento, contribuindo para a formação dos deficientes visuais ao longo da vida. Além dos livros em Braille, em áudio, os deficientes visuais também podem contar com o livro no formato DAISY, ampliando assim o acesso na aquisição do conhecimento, sempre de formas variadas, atendendo as suas particularidades. Segundo Silva em "Livros em DAISY": Através do Projeto Livro Acessível o Ministério da Educação apresenta uma opção inovadora de acesso aos livros: O MEC DAISY, que através de um padrão internacional de conversão de textos para o formato DAISY [Digital Accessible Information System], converge várias linguagens [imagem, som, texto] em um só produto acesível a todas as pessoas e de forma gratuita. [...] O MEC DAISY oferece para pessoas cegas a opção de ouvir o texto durante a navegação, bem como o acesso às imagens que são identificadas através de um estilo do Word denominado "Image Caption" que informa sobre o conteúdo da imagem através de uma legenda descrita elaborada pelo adaptador do livro. (SILVA, 2011, p. 1-2) Vale salientar que o livro DAISY além de transmitir a leitura, descreve também as imagens, tentando ser fiel a todo o conteúdo do livro descrito, ajudando os cegos na ampliação de mecanismos que auxiliam em sua aprendizagem. Com relação as crianças cegas, intensifica ainda mais o interesse das mesmas, principalmente no que diz respeito a descrição de livros infantis de literatura. Assim, constatamos que há muitos meios que aproximam os deficientes visuais ao estudo da literatura, pois os livros em áudio despertam como uma opção acessível sendo que muitos deficientes visuais não sabem ler em Braille, ou não tem acesso ao livro no formato DAISY. Todas as formas de aproximar a leitura das pessoas com deficiência visual são viáveis, mas como tudo na vida apresenta vantagem e desvantagem. 79

No caso dos áudio-livros, a desvantagem se dá na falta de paginação, pois ao ler a história nem sempre o ledor situa o ouvinte do livro falado dos números exatos das páginas que estão sendo lidas, dificultando assim a transcrição do trecho escolhido para análise de estudo, na maioria das vezes essa localização é feita por pastas, que ajudam na organização do texto, mas não supre a necessidade do aluno com deficiência visual. Apesar das dificuldades apresentadas acima e tantas outras que poderíamos enumerar, os áudio-livros são de muita utilidade no que se refere a aproximar o aluno com deficiência visual da literatura, pois os mesmos podem ouvir várias obras simultaneamente, dependendo da necessidade do momento, ou da solicitação dos professores, visto que a literatura deve estar presente cotidianamente na vida de todos, pois ela interfere na visão crítica do ser humano e os ajuda a ver a vida, por diversas vertentes, com o deficiente visual não seria diferente. Partindo da importância de se incluir os deficientes visuais na dinâmica na aula, como utilizar o áudio livro na sala de aula para o estudo da literatura? A melhor opção é reservar um momento nas aulas de literatura para utilização de áudio-livro tanto para videntes e não videntes. Visto que, esse recurso pode contemplar a aprendizagem de todos os estudantes. É necessário reservar espaços que contemplem a escuta de áudio-livros durante as aulas de literatura, pois temos muitos clássicos disponíveis que devem ser utilizados como processo de inclusão, valorizando assim as diferenças, segundo Vilaronga et. al. (2011, p. 17 apud PRETO, 2008): Mais do que a questão de uma identidade cultural, é preciso considerar a existência de múltiplas identidades. No mundo contemporâneo, é fundamental considerar que existe a necessidade de termos algumas igualdades - e são essencialmente igualdades nas dimensões social e humanitária, porque vivemos um mundo de profundas desigualdades sociais -, mas, ao mesmo tempo sentimos um movimento muito forte no fortalecimento da diferrença. A diferença é o elemento mais fundamental do mundo contemporâneo, porque é ela que move a sociedade do ponto de vista do respeito à diversidade. Esse é o ponto fundamental. Então, mais do que buscarmos apenas uma identidade, precisamos corroborar as singularidades fortalecendo a diferença. Tal afirmação nos leva a perceber que as diferenças acendem o desejo de lutar por condições que favoreçam a igualdade. Levando para aspectos da inclusão do audio-livro nas aulas de literatura, essa forma diferente de ouvir o conteúdo do livro e não de visualizar, estimularia novas experiências dos alunos videntes para com os não videntes, pois, na maioria 80

das vezes o deficiente visual é quem tem de se adaptar aos estímulos visuais e com utilização dos livros falados a aprendizagem poderia acontecer de maneira circular entre os videntes e não videntes. E assim, reforçamos o sentido de que quando há sensibilidade é possível ouvir imagens e ver através das palavras, como disse Olavo Bilac no poema Via Láctea, 1996 in. (TERRA, 2004, p. 431): "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" Eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pálido aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com ela? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas." Para o deficiente visual as palavras nunca vão substituir as imagens, mas através das palavras o mesmo pode criar essas imagens em sua mente, sendo a poesia uma das formas que os transportam para enxergar além da realidade. Nesse contexto, sendo a literatura uma forma de encontro com a fantasia e com a realidade criada o áudio livro dá ao leitor a condição de fazer a leitura, participar da fantasia e perceber a realidade criada que se encontra com outras realidades. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base em tudo isso podemos afirmar que o áudio-livro é importante para as pessoas com deficiência visual no estudo da literatura. Esse formato de livro acessível proporciona ao aluno o direito à informação, ao passo que permite sua inclusão no meio social. Apesar da limitação, o deficiente visual não pode ser privado de tais direitos; para isso, é necessário ampliar o acervo desses livros nas escolas públicas e privadas e nas livrarias, além de baratear o preço para que todos tenham acesso. 81

Salientamos ainda que o livro no formato em áudio é um recurso que deve ser utilizado pelos alunos com deficiência visual e também pelos professores em sala de aula para favorecer a inclusão de todos, mostrando assim, que a aprendizagem pode ocorrer de diversas formas, contemplando as pessoas videntes e não videntes. REFERÊNCIAS OCHAÍTA, Esperanza, ESPINOSA, Mª Ágeles. Desenvolvimento e intervenção educativa nas crianças cegas ou deficientes visuais. In: Desenvolvimento psicológico e educação. organizado por César Coll, Álvaro Marchesi e Jesús Palacios; trad. Fátima Murad - 2. ed. - Porto Alegre : Artmed, 2004. 3v. PALETTA, F. A. C.; WATANABE, E. T. Y.; PENILHA, D. F. AUDIOLIVRO: inovações tecnológicas, tendências e divulgação. CRUSP. São Paulo s.d. SÁ, Elizabet Dias de. Acessibilidade: as pessoas cegas no itinerário da cidadania. in: Inclusão: Revista da educação especial. Ano 2 - Nº 2. Agosto 2006. TERRA, Ernani. Português de olho no mundo do trabalho: volume único / Ernani Terra, José De Nicola. - São Paulo: Scipione, 2004. VILARONGA, Iracema; SILVA, Luciene Maria da. A dimensão formativa do cinema e a audio-descrição: Um outro ponto de vista. UNEB. Bahia 2011. 82