Sociedade Civil Organizada Global. Prof. Diego Araujo Azzi BRI/CECS

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Transcrição:

Sociedade Civil Organizada Global Prof. Diego Araujo Azzi BRI/CECS 2018.3

Aula 6 (03/10) Novos movimentos sociais e classes sociais Leitura base: EVERS, Tilman. Identidade: a face oculta dos novos movimentos sociais. Novos Estudos Cebrap, v. 2, n. 4, pp. 11-23, 1984. LACLAU, Ernesto. Os novos movimentos sociais e a pluralidade do social. CEDLA, Latin American Studies, n 29, pp. 1-9, 1984. Leitura complementar: PAOLI, Maria Celia. Movimentos sociais, Cidadania, Espaço Público: perspectivas brasileiras para os anos 1990. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 23, 1991. BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Cap. 6 Espaço Social e gênese das classes. Bertrand Brasil, 2004.

Novos movimentos sociais e classes sociais Contexto: autores de meados dos anos 1980, refletindo sobre as mudanças políticas e sociais ocorridas desde os 1960 As modificações no panorama descritivo da política impunham rupturas com instrumentos normativos de interpretação, que já não respondem à complexidade social Interpretações baseadas no conceito de classe e no estruturalismo marxista são colocadas em questão. Na tradição marxista, os sujeitos sociais tem existência objetiva a priori, sob a forma de classes sociais

Evers: o potencial destes novos movimentos não está na tomada do poder, mas sim na renovação de padrões sócio-culturais e sócio-psíquicos do cotidiano Dicotomia alienação-identidade (representação x autorepresentação). Processo de criação dos próprios sujeitos modos de subjetivação A criação de novas formas autônomas de expressão social expandiu a esfera do político Religião, moradia, raça, gênero, indígenas, camponeses, jovens, ecologia, etc passam a ser objeto do conflito público

Momento de crise do socialismo realmente existente ainda ante da queda da URSS, crise das esquerdas partidárias Se há novos campos de ação política, novas formas de se fazer política, novos sujeitos da política, então... Seria possível pensar numa nova forma de disputa e construção de hegemonia, não mais sob a forma da liderança do partido, mas sim Segundo uma lógica movimentista

Realidade multifacetada Identidade multiclassista Em termos Habermasianos, os novos movimentos sociais resgatariam a política do domínio do sistema, de volta para o mundo da vida Potencial transformador sociocultural: movimentos de numero baixo de participantes; estruturas não-burocráticas ou informais; tomada de decisão coletiva; pouco distanciamento entre liderança e base; atividades culturais

Novos movimentos sociais seriam criticados como formas pré-políticas, menos válidas do que aquelas praticadas por políticos profissionais e burocratas Para Evers, no entanto, o potencial socio-cultural dos novos movimentos sociais pode revelar-se como mais político do que a ação imediatamente orientada na direção das estruturas de poder existentes A utopia positiva para a qual apontam os novos movimentos sociais permanece como a face oculta da sociedade dominante e visível no cotidiano

Novos movimentos sociais e um novo tipo de partido político em gestação, exemplo do PT no Brasil, um partido gestado a partir de movimentos sociais diversos Nenhum movimento social pode ir além de tentar lutar em um (ou poucos) dos muitos fronts possíveis de dominação, aceitando por consequência, o status quo em todos os outros fronts Mas não há hierarquia preestabelecida e das metas emancipatórias e, assim, também não há sujeitos históricos ontológicamente privilegiados

Pluralidade de espaços do conflito social era reduzida a um espaço político unificado no qual a presença dos agentes é entendida enquanto representação de interesses: a esfera política é um nível específico da sociedade Laclau: crise dos paradigmas normativos das C. Sociais Identidade dos agentes como categorias pertencentes à estrutura social: qualquer conflito tem unidade referencial de um grupo lutas camponesas, p. ex. Conflito determinado em termos de um modelo diacrônicoevolucionário: o significado de cada luta em termos de um esquema evolucionista em que o movimento da história se torna objetivo e independente da agência dos sujeitos

Os novos movimentos sociais são resultado de construções políticas complexas, que não podem decorrer unilateralmente das relações de produção Pela mesma razão, o político deixa de ser um nível do social tornando-se uma dimensão presente ao longo de toda a prática social O pessoal é político Ruptura com a categoria de sujeito enquanto unidade racional e transparente que transmite um significado homogêneo para o campo da conduta individual

Os sujeitos podem ocupar múltiplas posições de sujeito no interior da estrutura social, participando assim de diferentes formações discursivas Formações discursivas se influenciam mutuamente através de práticas articulatórias O social é construído pela limitação parcial dos efeitos das lógicas discursivas contraditórias

Os antagonismos sociais surgem quando a divisão do espaço social em dois campos impede a ambos de serem constituídos através de diferença e positividade Já que a identidade de um é definida enquanto negação da outra posição de sujeito Nas últimas décadas a multiplicação de pontos de ruptura que tem acompanhado a crescente burocratização da vida social e a comodificação das sociedade industriais avançadas tem levado a uma proliferação de antagonismos

No século XIX, as lutas sociais não conduziram tanto a uma proliferação de espaços políticos e a uma politização de cada antagonismo social, mas, ao invés disso, A construção de formas de permitir o acesso destes antagonismos a um espaço político relativamente unificado A presença dos conflitos na esfera política assume a forma de uma relação de representação Dimensão totalizante do social

O fato novo dos novos movimentos sociais é que neles a dimensão totalizante da sociedade está ausente ou questionada As mobilizações populares não mais se baseiam num modelo de sociedade total, mas numa pluralidade de exigências que leva a abertura de uma pluralidade de espaços políticos Estariam estas novas práticas alterando as dinâmicas entre representantes e representados ou seriam elas também capturadas pela lógica política da representação institucional?