Modelação do efeito do frio extremo na saúde da população de Lisboa: contributos para um sistema de vigilância e alerta

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Transcrição:

Modelação do efeito do frio extremo na saúde da população de Lisboa: contributos para um sistema de vigilância e alerta Susana Pereira da Silva Mestrado em Bioestatística - Trabalho de Projeto Orientadora: Maria Helena Mouriño (FCUL-DEIO) Coorientador: Baltazar Nunes (INSA-DEP) Seminário MOC 11 de outubro de 2017

Estrutura Enquadramento Objetivos Material e Métodos Dados Metodologia Resultados Conclusões Perspectivas futuras 1

Enquadramento A Saúde e sujeita a grande influência das alterações climáticas (OMS) Estudos reportaram os efeitos do frio na mortalidade, admissões hospitalares e recurso a serviços de urgência Por doenças dos aparelhos Circulatório e Respiratório (C&R) População mais idosa Importante conhecer a vulnerabilidade da população às condições meteorológicas adversas Alguns países Europeus já fazem esta monitorização 2

Enquadramento A mortalidade em Portugal é superior nos meses mais frios Excessos associados a epidemias de gripe e a temperaturas baixas Últimos episódios muito mediáticos em 2011/12, 2014/15 e 2016/17 FRIESA - Modelação e Previsão do Efeito do Frio Extremo na saúde da População: a base para o desenvolvimento de um sistema de alerta em tempo real - criou um sistema de vigilância e alerta do frio extremo (tmin) DGS criou um PCTEA-MI apenas com dados meteorológicos 3

Enquadramento - Objetivos Contribuir para o ajuste do Sistema FRIESA através de desenvolvimento de modelos que permitam avaliar o efeito do frio extremo (Lisboa 65+) temperatura temperatura e intensidade do vento temperatura e humidade temperatura windchill comparação dos modelos para seleção do que melhor descreve os efeitos do frio Construção de modelos que permitam facultar aos decisores em Saúde Pública os meios apropriados de atuação em situações de perigosidade associadas ao frio extremo podendo contribuir para a mitigação dos seus possíveis efeitos adversos. 4

Material e Métodos - Dados População 65 e mais anos do distrito de Lisboa Mortalidade diária (de 2002 a 2012) Todas as Causas (TC) - CID10 A00- Y98 Doenças dos aparelhos Circulatório e Respiratório (C&R) - CID10 I00-I99 e J00-J99 População média anual residente Estação Meteorológica de Lisboa - Gago Coutinho Temperaturas mínima e máxima (ºC) Temperatura registada às 09:00 horas (ºC) Humidade registada às 09:00 horas (%) Intensidade do vento registada às 09:00 horas (m/s) Taxa de incidência de Síndroma Gripal (SG) (/100000 habitantes) - Rede Médicos-Sentinela Temperatura média Temperatura Windchill 5

Material e Métodos - Metodologia Análise descritiva Séries temporais Estatísticas descritivas das variáveis Modelos Lineares e não lineares de desfasamento distribuído (DLNM) Associações exposição -lag- resposta associações em que a dependência entre exposição (variável climatérica) e resposta (mortalidade) é desfasada no tempo A exposição no dia t determina o risco no dia t+k Risco Relativo (RR) Risco de um evento ocorrer - óbito - relativo à comparação entre dois 6 níveis da exposição ao fator de risco -temperatura -

Material e Métodos - Metodologia K Ln E Y t = α + β k,t Temp l k,t + γgripe l t + δns t t, 4 k=1 + εns doy t, 6 + εdow t + Ln pop t Y t mortalidade observada no dia t (t=1,2,3 1830) α ordenada na origem Temp(l) k,t matriz cruzada relativa á k-ésima variável meteorológica considerada desde o dia corrente (lag=0) até ao lag correspondente a l dias Gripe(l) t matriz cruzada relativa á taxa de incidência de síndrome gripal desde o dia corrente (lag=0) até ao lag correspondente a l dias ns(t t,4) - corresponde a um natural cubic spline que é aplicado com 4 graus de liberdade (df) ao dia da observação (t) para controlar a tendência ns(doy t,6) - corresponde a um natural cubic spline que é aplicado com 6 graus de liberdade (df), um por cada mês, aplicado ao dia do ano (doy) para descrever a sazonalidade em cada época dow - variável categórica correspondente ao dia da semana pop - população média anual residente que entra como offset. 7

Material e Métodos - Metodologia 8

Material e Métodos - Metodologia Comparação e avaliação 4 dos modelos Critério de informação de Akaike relativo à quasi-verosimilhança (QAIC) QAIC = 2L(θ)+2φk Critério de informação de Bayesiano relativo à quasi-verosimilhança (QBIC) QBIC = 2L(θ)+Ln(n)φk L - logaritmo da função de verosimilhança associada ao modelo ajustado com parâmetros θ ϕ - parâmetro de estimação da sobredispersão k número de parâmetros n número de observações Valores mais baixos destas medidas indicam melhores modelos Princípio da Parcimónia: opção por modelos mais simples quando a qualidade do ajuste seja similar 9

Resultados - Análise descritiva Variável Obs Média Mediana s.d. min. max. TC 1830 49,98 49 10,94 25 102 C&R 1830 27,34 26 7,91 8 67 T.Média 1830 13,77 13,35 3,63 3,75 26,45 Intensidade do Vento 1830 3,14 2,9 1,81 0 11 Humidade 1830 79,08 81 14,36 23 100 T.Windchill 1830 11,44 11,57 4,82-3,96 27,29 10

Resultados - Todas as causas (TC) T. média T. Média + Vento T. Média + Humididade Windchill T. Média [lag] lin [ns(4)] lin [ns(4)] lin [ns(4)] - Vento [lag] - lin [lin] - - Humidade [lag] - - double thr [lin] - T. Windchill - - - lin [ns(4)] Gripe [lag] thr [ns(3)] thr [lin] thr [ns(3)] thr [ns(3)] QAIC 10582.30 10573.14 10559.04 10571.61 QBIC 10731.81 10728.13 10730.57 10720.14 Nº de parâmetros 24 25 28 24 11

Resultados - Circulatórias e Respiratórias (C&R) T. média T. Média + Vento T. Média + Humididade T. Windchill T. Média [lag] lin [ns(4)] lin [ns(4)] lin [ns(4)] - Vento [lag] - lin [lin] - - Humidade [lag] - - double thr [lin] - T. Windchill - - - lin [ns(4)] Gripe [lag] thr [ns(3)] thr [ns(3)] thr [ns(3)] thr [ns(3)] QAIC 9660.08 9647.90 9638.82 9640.06 QBIC 9809.55 9808.72 9810.43 9787.78 Nº de parâmetros 24 26 28 24 12

Resultados - Windchill TC RR 1.047 lag 5 WC -3 C&R RR 1.052 lag 5 WC -3 13

Resultados Windchill TC C&R 14

Resultados Windchill 15

Conclusões O método utilizado permite modelar de forma flexível a relação entre a temperatura e a mortalidade cujo efeito é desfasado a relação entre os fatores concorrenciais como o aumento das infeções respiratórias e a mortalidade e estudar o risco usando índices meteorológicos e biometeorológicos As temperaturas baixas representam um bom preditor da mortalidade em Lisboa Os seus efeitos são superiores na mortalidade por doenças dos aparelhos circulatório e respiratório (Carmona et al, 2015) Temperatura Windchill melhor descritor que temperatura média (Carder et al, 2005 e Kunst et al, 1994) PERSPECTIVAS FUTURAS Testar diferentes lags Usar indicador diário para controlar o confundimento da atividade gripal Contribuir para a atualização do Sistema FRIESA 16

Modelação do efeito do frio extremo na saúde da população de Lisboa: contributos para um sistema de vigilância e alerta Muito Obrigada! Relatório Completo Susana Pereira da Silva susana.pereira@insa.min-saude.pt