O PEDAGOGO E OS NOVOS DESAFIOS DO MERCADO DE TRABALHO



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3 Metodologia de pesquisa

Transcrição:

O PEDAGOGO E OS NOVOS DESAFIOS DO MERCADO DE TRABALHO Roseli Zen Cerny [1] Nilza Godoy Gomes UNIVALI RESUMO: O artigo apresenta um relato parcial da pesquisa O Pedagogo e os novos desafios do mercado de trabalho: construindo a identidade, realizada durante o ano de 2003, com estudantes e egressos do Curso de Pedagogia Tecnologia Educacional e Treinamento Empresarial da Universidade do Vale do Itajaí (Pedagogia TE&TE). Neste relato analisaremos os dados referentes a inserção profissional do egresso no mercado de trabalho, as atividades que estão desenvolvendo, a relação das atividades exercidas com a formação recebida e o grau de satisfação com esta formação. A metodologia utilizada foi a pesquisa avaliativa focando especificamente os alunos e seu fazer profissional. Para coleta de dados utilizamos entrevistas estruturadas e semi-estruturadas. Os resultados parciais apontam que os egressos atuam em diferentes organizações, o que permite inferir que o Pedagogo vem ocupando novos espaços no mercado de trabalho. PALAVRAS-CHAVE: avaliação institucional; formação profissional; currículo Introdução O artigo é resultado parcial de um projeto de pesquisa realizado no ano de 2003, no Curso de Pedagogia habilitação em Tecnologia Educacional (ênfase em educação à distância) e Treinamento Empresarial da Universidade do Vale do Itajaí Campus Biguaçu, que buscou conhecer o perfil do aluno, levantar suas expectativas em relação ao mesmo e qual a inserção dos egressos no mercado de trabalho. Apresentaremos aqui os resultados referentes aos alunos egressos. Durante o ano de 1996, uma comissão constituída pela Portaria 233/96, da Universidade do Vale do Itajaí, trabalhou na execução do projeto de um curso de Pedagogia que buscava oferecer uma formação condizente com as perspectivas de ocupação para o profissional do próximo milênio. Em 1997, iniciou a primeira turma de estudantes do Curso de Pedagogia habilitação em Tecnologia Educacional (ênfase em educação à distância) e Treinamento Empresarial, com o objetivo de preencher uma lacuna de atuação do profissional da educação para a formação de jovens e adultos, na educação a

distância, na educação das organizações, bem como na área da informática educativa na educação básica. A matriz curricular do Curso foi desenhada e implementada a partir de uma concepção voltada para a articulação entre Educação, Administração e sobretudo a Informática, conforme está descrito na proposta de criação do curso: A Habilitação em Tecnologia Educacional oferece Licenciatura em Didática, Psicologia da Educação e Informática Educativa; e a Habilitação em Treinamento Empresarial, o Bacharelado respectivo. A Licenciatura em Didática e Psicologia da Educação é uma necessidade básica para a formação do professor objeto do curso e enfatiza o uso das tecnologias de comunicação e informação, tanto no ensino presencial, quanto no à distância. A atuação profissional está voltada tanto para a docência das referidas disciplinas no Ensino Médio quanto à capacitação de professores para o uso das novas tecnologias. A Licenciatura em Informática Educativa possibilitará aliar o conhecimento em Pedagogia e em Informática. O campo de atuação estende-se a todos os níveis de ensino, principalmente em escolas, núcleos de tecnologia, órgãos públicos de ensino, laboratórios de informática, dentre outros. O Bacharelado na Habilitação de Treinamento Empresarial culmina com a realização do Estágio Supervisionado em Treinamento Empresarial e a atuação profissional do egresso está voltada para a intervenção em organizações, através da execução de programas e/ou projetos de treinamento, bem como a estruturação da área de treinamento nas organizações. (Univali, 2001) No Projeto do Curso está definido que o profissional egresso deve estar preparado para atuar: - No assessoramento de projetos de educação de adultos; - Na pesquisa para metodologias de ensino voltadas ao desenvolvimento de novas tecnologias na educação; - No planejamento, organização, direção e controle de projetos de treinamento empresarial, tanto formal quanto informal; - Na assessoria na área de recrutamento e seleção nas empresas; - No diagnóstico das necessidades de treinamento nas empresas, propondo as alternativas de projetos mais adequados; - No desenvolvimento de processos de educação continuada nas organizações públicas, privadas e não-governamentais; - Com equipes coordenadoras de programas de qualidade, contribuindo na escolha dos métodos educativos mais adequados a implementação da nova filosofia de gestão; 2

- Como profissional autônomo, no desenvolvimento de projetos e programas de educação com ênfase em Educação À distância e Treinamento Empresarial; - Como docente em instituições de ensino na área de Informática Educativa, Psicologia da Educação e Didática e em programas e projetos de capacitação de recursos humanos para empresas e escolas. Nesse espaço de tempo, seis turmas de pedagogos já foram formadas e estão inseridos de alguma forma no mercado de trabalho. Acreditamos que neste momento é vital para a continuidade, consolidação e readequação do Curso e como subsídio para as pesquisas na área de formação de professores, em especial, pedagogos que saibamos qual a trajetória dos egressos do Curso de Pedagogia TE&TE e as possibilidades de atuação desses profissionais. O Papel do Pedagogo Uma análise da sociedade atual permite perceber que vivenciamos processos de rápidas e profundas transformações jamais vistas em períodos precedentes, instituindo modos de vida extremamente diferentes de tempos anteriores. Segundo Giddens, (1991) três características principais identificam essas mudanças na sociedade. A primeira é o ritmo da mudança (rapidez extrema com maior ênfase no campo tecnológico), a segunda é o alcance da mudança (interconexação global entre as diversas regiões do mundo) e a terceira trata da natureza específica das instituições modernas (formas sociais modernas que não se encontram em períodos precedentes). A educação pode ser considerada como um dos setores vitais para que essas transformações aconteçam. Neste sentido nos deparamos com a necessidade de refletir que papéis deverão desempenhar os educadores no mundo de hoje e como sua atuação poderá ser ampliada para além do espaço escolar? Acreditamos que muitos segmentos produtivos da sociedade podem e devem se beneficiar com a contribuição dos profissionais da Pedagogia, dentre os quais podemos citar: empresas, agências culturais e de comunicação, instituições de saúde, organizações não governamentais etc... 3

Sabemos que a grande demanda atual é a formação continuada ou ao longo da vida. Não se concebe mais que apenas a formação inicial seja capaz de preparar profissionais para atuar na sociedade devido, principalmente, à rápida obsolescência do conhecimento e da tecnologia, conforme define Belloni (1999:25) A formação ao longo da vida, trata de um campo novo que se abre e requer a contribuição de todos os atores sociais e especialmente uma forte sinergia entre o campo educacional e o campo econômico no sentido de promover a criação de estruturas de formação continuada mais ligadas aos ambientes de trabalho. Contudo, a atuação profissional dos educadores nestes novos espaços não deve ser pressionada apenas pelas demandas do mercado, é preciso não perder de vista a identidade do profissional e, especialmente, o que a diferencia das demais profissões. Para clarificar esta idéia podemos nos perguntar o que diferencia, por exemplo, o pedagogo do psicólogo ou do administrador no setor de recursos humanos de uma empresa? Que atribuições cabem ao pedagogo que são inerentes a sua formação e que as diferenciam dos demais profissionais? Historicamente o Curso de Pedagogia não se constituiu exclusivamente para a formação de professores para o ensino fundamental. Desde sua criação, na década de 30 do século passado, ele apresenta várias modalidades de organização, as quais revelam as contradições de busca de identidade da Pedagogia enquanto campo de conhecimentos sobre um objeto determinado. (Marafon, 2003) Conforme esta autora, nos anos 60 o parecer do Conselho Federal de Educação (CFE 251/62) normatizou prioritariamente a formação de bacharéis e licenciados para atuar como professor de disciplinas dos cursos ginasial e normal e também diretor de escola. Outras modificações ocorreram ainda nos anos 60, o CFE através do Parecer 252/69 aboliu a distinção entre bacharelado e licenciatura em Pedagogia e introduziu a proposta da formação dos especialistas em administração escolar, supervisão pedagógica e orientação educacional ao lado da habilitação para a docência das disciplinas pedagógicas dos cursos de formação de professores. Atualmente, conforme o texto final discutido pela Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia, publicado em 06/05/99 pelo CNE, a atuação profissional do pedagogo deverá ser a docência na educação infantil, nas séries iniciais do ensino fundamental e nas disciplinas da formação pedagógica do nível médio, podendo atuar ainda na organização de sistemas, unidades, projetos e experiências educacionais escolares e não-escolares. Outro documento publicado pelo Ministério 4

da Educação e elaborado pela mesma Comissão, e que serve de orientação para o reconhecimento de cursos de Pedagogia no país, enfatiza novamente que o trabalho pedagógico será o principal articulador dessa formação, sendo a docência, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, a base da organização curricular e da identidade profissional. Levando em consideração os documentos norteadores para a formação de pedagogos, publicados pela Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia do MEC, podemos perceber que no contexto atual, a formação deste profissional está voltado para a docência nos anos iniciais do ensino fundamental, por outro lado, destaca-se a dificuldade que muitas instituições de ensino superior enfrentam quando querem oferecer cursos de Pedagogia com uma formação diferenciada, como foi o caso da UNIVALI. Desde a sua criação professores e coordenadores do Curso de Pedagogia TE & TE têm debatido e apresentado propostas para modificações curriculares que permitam que a formação deste profissional tenha como identidade o educador. O que tem norteado essas discussões é o objeto de trabalho específico do pedagogo, ou seja: os processos de ensino e de aprendizagem. O que diferencia o pedagogo de outros profissionais seja na escola ou em outros espaços de trabalho é a sua atuação a partir da compreensão das complexas relações dos e entre os processos de ensino e de aprendizagem. Ele é o profissional capaz de investigar, refletir, gerar conhecimento, gerir e ensinar tanto no âmbito da instituição escolar como em espaços de educação não-formal. Com isto acreditamos que existe a necessidade de ampliarmos o debate seja no Comitê de Especialistas do MEC, seja em outros fóruns de educadores para a construção de uma identidade profissional que permita que o pedagogo possa atuar em diferentes setores da sociedade, com uma sólida formação cujo foco deverá ser a Educação numa perspectiva crítica e transformadora. Metodologia da pesquisa A pesquisa focou especificamente os alunos, compreendendo-os como sujeitos que estão envolvidos num processo de formação de educadores sendo simultaneamente ser genérico e ser particular (Heller,1985), sujeito que terá como 5

objeto de seu fazer profissional, a Pedagogia resignificada constantemente pelas demandas de uma sociedade repleta de mudanças. O objetivo da pesquisa foi conhecer o perfil do aluno do Curso de Pedagogia TE & TE e sua inserção no mercado de trabalho. Para a realização do estudo foram utilizados as seguintes fontes: Entrevista estruturada realizada por telefone, para verificar onde estão atuando estes profissionais, quais as atividades que estão desenvolvendo e a continuidade dos estudos. A opção pelo uso do telefone é devido às dificuldades iniciais de localizar os endereços e também, porque nos contatos iniciais, com alguns alunos para solicitarmos o endereço, manifestaram a preferência de responder as perguntas por telefone. Dos 101 alunos formados até o segundo semestre de 2002, localizamos 78 destes, representando uma amostra de 77% dos egressos. As entrevistas foram realizadas nos meses de maio a agosto de 2003. Entrevista semi-estruturada para conhecer a contribuição do Curso na sua atual ocupação profissional, qual a satisfação com a formação recebida e sugestões para melhoria do currículo Curso. Na organização destas entrevistas, nos detivemos em algumas questões básicas consideradas fundamentais para escolha dos entrevistados. A primeira delas diz respeito ao número de entrevistas a realizar. Partimos da perspectiva teóricometodológica que tem como premissa que não é possível responder a esta pergunta com base em cálculos matemáticos (ZAGO, 2003:297). O que nos interessa é a representatividade do meio pesquisado. Outra questão importante considerada foi assegurar que as entrevistas gerassem informações em maior profundidade, permitindo explicitar de forma mais clara as opiniões dos alunos sobre o curso que freqüentaram e a contribuição para a sua inserção no mercado de trabalho. Partindo desta direção trabalhamos com critérios claros de seleção dos entrevistados. Os critérios elencados foram: - ex-alunos que estivessem trabalhando em empresas; - ex-alunos que estivessem trabalhando em escolas; 6

A partir das entrevistas realizadas por telefone foi possível identificar os locais de trabalho dos ex-alunos e proceder à seleção dos entrevistados. Inicialmente selecionamos quatro alunos por semestre (2000.2 a 2002.2), dois atuando em empresas e dois atuando em escolas. Foram realizadas um total de 15 entrevistas. Algumas entrevistas agendadas não se efetivaram por motivo de não comparecimento do entrevistado ao local, viagem do entrevistado e recusa em conceder a entrevista. Todas as entrevistas foram gravadas, prática esta negociada previamente com os entrevistados e com a garantia do anonimato das informações. Apresentação e Discussão dos dados Verificamos que os egressos do Curso estão em sua maioria empregados, apenas 13% não estão atuando no mercado de trabalho. Analisando os resultados por tipo de empresa verificamos que 48% atuam em instituições escolares, ou seja, 36% em escolas de ensino básico e 12% em universidades. Por outro lado identifica-se uma diversidade de empresas onde estão inseridos os egressos, conforme demonstrado na tabela 1. Tabela 1 - Empresas onde atuam os Egressos- Classificação por tipo de Empresa Nome da empresa No. ex-alunos Escolas 25 Universidades 8 Comércio 7 Indústria 5 Senai/Sesi 4 Escritório de Contabilidade 2 Empresa familiar 2 Correios e Telégrafos 2 Fundações 4 Prestadora de Serviços 2 Autônoma 1 Prefeitura Municipal 1 Banco 1 7

Procuradoria Geral da Justiça 1 Policia Rodoviária Federal 1 Supermercados 1 Empresa de Consultoria 1 Total 68 As informações obtidas sobre a atividade exercida pelos egressos revelam que, a exemplo do que prevê o projeto do Curso, os profissionais desempenham atividades que podem ser consideradas novos espaços de atuação do pedagogo, a exemplo do consultor de empresas, marketing e treinamento, recrutamento e seleção e coordenadora de qualidade. Apenas um dos entrevistados foi contratado pela empresa como Pedagogo Empresarial. No lócus tradicional de atuação a escola verifica-se que novas atividades estão sendo exercidas, que é o caso do professor de informática educativa e do assistente pedagógico de cursos à distância, conforme demonstrado na tabela 2. Tabela 2 - Atividade exercida no mercado de trabalho Atividades Quantidade Professora de informática educativa 5 Assistente Pedagógica de cursos a 3 distância Coordenadora pedagógica 5 Professora de escola pública 7 Professora de escola particular 3 Gestor de escola 5 Pedagogo empresarial 1 Consultor de empresas 1 Auxiliar administrativo 9 Auxiliar de contabilidade 2 Balconista 1 Gerente administrativa 3 Bancária 1 Telefonista 1 Marketing e treinamento 1 Secretária 2 Microempresária 3 Capacitação e acompanhamento com 1 estagiários Treinamento e recrutamento 3 Recepcionista 1 Vendedora 3 Digitadora 1 Telemarketing 1 8

Supervisor de atendimento 2 Coordenadora de qualidade 1 Auxiliar de biblioteca 1 Desempregados 10 Analisando os dados da tabela 2 considerando a inserção nas instituições escolas ou empresas verificamos que 42,6 % estão na escola e 57,4% nas empresas. Gráfico 1 Atuação no campo de Formação 37% 13% 50% Trabalha na área Desempregados Não trabalha na área Perguntamos, também, aos entrevistados se estavam atuando na área de formação. As respostas indicaram que 37% não trabalham na área e 50% trabalham, conforme gráfico 1. Dentre os que estão trabalhando, podemos analisar que o índice de 50% que consideram estar atuando na área é bastante significativo, tendo em vista o histórico da profissão e a própria indefinição do papel do pedagogo, ainda, fortemente associado ao trabalho na escola. Gráfico 2 Continuidade dos Estudos 58% 42% Sim Não Os egressos também foram questionados quanto à continuidade dos estudos. Encontramos um percentual de 42% que deram prosseguimento à formação em 9

cursos de especialização e mestrado. Nas entrevistas muitos revelaram que ao continuar a formação perceberam a boa fundamentação recebida durante o Curso, mesmo aqueles que foram fazer especialização em áreas voltadas à escola, como o caso relatado neste depoimento: O Curso de Especialização em Psicopedagogia, que estou realizando agora, cada disciplina apenas complementa o que tinha estudado durante a graduação. Considero que tenho uma boa bagagem de conhecimentos. Quando me comparo com meus colegas que cursaram Pedagogia em Séries Iniciais, sinto que estou mais preparada do que eles em relação aos conteúdos teóricos. Outro profissional entrevistado, que no momento está fazendo mestrado em educação, relatou que o foco de sua pesquisa será as tecnologias de informação e comunicação na educação, significando que deu continuidade à formação recebida durante a graduação. Contribuição do Curso para o exercício profissional Nesta parte, apresentamos as opiniões retiradas das entrevistas semiestruturada destacando a satisfação dos egressos com a formação recebida e a contribuição do Curso para o exercício profissional. Todos os entrevistados informaram que o Curso atendeu no todo ou em parte as expectativas construídas durante a realização. Eles relacionam a formação recebida com as atividades que desempenham atualmente. Os dados obtidos permitem inferir que a formação dada pelo Curso através da licenciatura e do bacharelado permitiu que os egressos tivessem um leque maior de possibilidades para se inserir no mercado de trabalho, como na fala dessa acadêmica: considero que o curso superou as minhas expectativas, abriu uma série de possibilidades.... Outra entrevistada diz que: a nossa formação é mais abrangente, permite compreender a organização escolar (por conta do bacharelado), o Curso favoreceu o desenvolvimento de trabalho inovador que realizo na escola através de projetos de trabalho interdisciplinares e, outra menciona o fato de que buscava um curso que não apenas permitisse trabalhar com o ensino fundamental, mas com a gestão e administração de uma empresa educacional, compreender como formar adultos também era uma meta almejada, uma vez que precisa dedicar-se, entre outras atividades, à formação de professores. 10

Uma única entrevistada menciona que o bacharelado não correspondeu às suas expectativas porque não tinha a ver com seus interesses de trabalho como professora do ensino fundamental, mencionou que as disciplinas do bacharelado a assustaram. A contribuição mais importante citada pela maioria dos entrevistados foi a formação teórica oferecida pelas disciplinas de fundamentos da educação e administração. Alguns citaram algumas disciplinas como fundamentais para as atividades profissionais, como por exemplo nesta fala: - A contribuição foi em relação à Disciplina de Informática Educativa, eu trabalho como responsável pelo Laboratório de Informática da escola e, como certeza foi a disciplina que mais contribuiu, o que eu aprendi lá estou usando no meu dia-a-dia. O estágio em treinamento empresarial é citado por dois entrevistados, eles mencionam que favoreceu a melhoria no desempenho profissional. Ficou evidenciado também nas entrevistas que os profissionais que se mantiveram trabalhando na mesma instituição consideram que o Curso favoreceu o crescimento na empresa: Aprendi muito com este Curso, obtive uma melhora muito grande dentro da empresa, em matéria de desenvolvimento, com resultados reconhecido pelo sistema de avaliação realizada pela empresa. A melhoria foi tanto na parte de recursos humanos como na parte de desenvolvimento tecnológico. As entrevistas revelaram, também, que os egressos puderem desempenhar novas funções na área educacional e de acordo com a proposta do Curso, ilustrado no depoimento: o Curso possibilitou trabalhar com EAD na perspectiva empresarial, com o ensino fundamental com a Disciplina de Informática Educativa e como coordenadora pedagógica da educação complementar do SENAC (EJA, Supletivo, pré-vestibular), foi um marco na minha formação e deu a opção de trabalhar com a tecnologia educacional. Considerações As informações e opiniões resultantes da pesquisa com egressos são de importância fundamental no processo de reflexão e análise do Curso no sentido de fornecer subsídios para as decisões relativas a mudanças e ações a serem implementadas. Não se pode dizer que estes resultados sejam incontestáveis ou 11

que possam ser tomados como indicativos claros de ação. Eles trazem a opinião de 77% do total dos egressos do Curso de Pedagogia TE&TE que é índice de resposta fidedigno, considerando as dificuldades de realizar pesquisa com egressos. Consideramos que os egressos deste Curso vêm atuando de forma inovadora, quebrando paradigmas estabelecidos sobre a atuação do pedagogo. No mercado de trabalho os pedagogos enfrentam resistências, especialmente nas empresas, quanto às possibilidades de atuação, levando não raras vezes ao desconhecimento sobre a contribuição desse profissional. Isso possivelmente é reflexo da histórica discussão sobre a identidade dos profissionais da área. Acreditamos que este estudo pode contribuir para complementar informações, provocar o debate, bem como subsidiar propostas alternativas de ação, além de fomentar a discussão sobre o papel do pedagogo na sociedade. Os resultados, ainda que analisados parcialmente, podem-se identificar problemas que permanecem e avanços que foram conseguidos e novos desafios a serem enfrentados. Entre os problemas, podemos citar a falta de demanda desses profissionais no mercado de trabalho, apenas um dos egressos ocupa o cargo de pedagogo empresarial. Entre os avanços mais significativos observou-se que o pedagogo vem ocupando outros espaços de trabalho extremamente carentes de profissionais especializados na área, como é o caso das tecnologias na educação e da formação continuada de profissionais nas organizações. Entre os novos desafios a serem enfrentados está o compromisso das instituições na divulgação do profissional que está sendo formado. Notas [1] A pesquisa coordenada por nós foi financiada pelo Art.170. Participaram da equipe de pesquisa a Profa. Nilza Godoy Gomes e a acadêmica de Pedagogia Juliana da Silva. 12

Referências Bibliográficas BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas: Editores Associados, 1999. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação: Lei 9.394/96. ROSA e SIQUEIRA (org). Rio de Janeiro: Esplanada, 1998.\ GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. Tradução de Raul Fiker. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 1991. LIBÂNEO, José Carlos. Que Destino os Educadores Darão à Pedagogia? In PIMENTA, Selma Garrido (org.) Pedagogia, Ciência da Educação? São Paulo: Cortez, 1998. 2 ed. MARAFON, Maria Rosa Cavalheiro. Universidade e Escola Pública Refletem Sobre a Pedagogia e a Educação. In: 26 o Reunião Anual da ANPED: Caxambu, 2003 SCHEIBE, Leda. Diretrizes Curriculares para a Formação do Pedagogo: conciliação de forças? In: 22 o Reunião Anual da ANPED: Caxambu, 1999. UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI. Catálogo do Curso de Pedagogia. Pró- Reitoria de Ensino. Centro de Educação Superior IV. Biguaçu: Univali, agosto de 2001. ZAGO, Nadir; CARVALHO, Marília P.de; VILELA, Rita A T.(org.) Itinerários de pesquisa: Perspectivas qualitativas em Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. 13