ASPECTOS ERGONÔMICOS ENVOLVIDOS NA MANUTENÇÃO EM UMA EMPRESA DE BENEFICIAMENTO DE MÁRMORE E GRANITO



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ASPECTOS ERGONÔMICOS ENVOLVIDOS NA MANUTENÇÃO EM UMA EMPRESA DE BENEFICIAMENTO DE MÁRMORE E GRANITO ERGONOMIC ASPECTS IN THE MAINTENANCE OF A COMPANY OF MARBLE AND GRANITE IMPROVEMENT Armando Marques 1,2, Rui Francisco Martins Marçal 1, Aurélio Azevedo Barreto Neto 2, Antonio Augusto de Paula Xavier 1 1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Ponta Grossa Av. Monteiro Lobatto Km 04, Jardim Pitangui, Ponta Grossa - PR, 84016-210 2 Coordenadoria de Saneamento Ambiental do Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo Centro Federal de Educação Tecnológica do ES Av, Vitória 1729, Jucutuquara, Vitória-ES, 29040-780 e-mail: aurelio@cefetes.br, amarques@cefetes.br Aceito em 23 de agosto de 2006 RESUMO Este trabalho apresenta um estudo de caso em uma empresa de beneficiamento de mármore e granito na Região Sul do Estado do Espírito Santo, com o objetivo de identificar os aspectos ergonômicos envolvidos nos serviços de manutenção. Utilizou como metodologia, visitas, observações e aplicação de questionários. Os resultados mostraram que os principais aspectos ergonômicos envolvidos na manutenção estão relacionados às condições de trabalho, como postura inadequada e ruídos, e também às condições organizacionais da empresa. Palavras-chave: Ergonomia. Manutenção. Mármore e granito-es. ABSTRACT This work presents a case study in a company of marble and granite improvement in Southern Espírito Santo State, with the aim of identifying the ergonomic aspects involved in the maintenance services. The used methodology was visits, observations and application of questionnaires. The results showed that the main ergonomic aspects involved in the maintenance are related to work conditions such as inadequate attitude and noise, and also to the organizational conditions of the company. Key words: Ergonomics. Maintenance. Marble and granite-es. 1 INTRODUÇÃO Para competir no mercado globalizado, as organizações buscam cada vez mais melhorar sua performance em termos de produtividade e qualidade de seus produtos. As grandes organizações perceberam que, para atingir tais objetivos, torna-se necessário o investimento não somente em equipamentos, mas também em pessoal, tanto na qualificação profissional quanto na qualidade de vida. Para um aumento de produtividade, é necessária uma melhoria da qualidade na execução do trabalho e para isso está se fazendo a adaptação do trabalho ao homem que o executa, respeitando as suas características e limitações. A satisfação no trabalho é fator fundamental para o desenvolvimento das atividades dos trabalhadores. 13

Marques, A. et al Para Vieira (1), a cultura do trabalho de uma empresa deve ser focalizada na importância do homem, cuidando de sua saúde, qualidade de vida e capacitação. Trabalhadores valorizados e satisfeitos produzem melhor e colaboram com prazer no crescimento da empresa. Segundo Kardec, Nascif e Baroni (2), se a saúde dos colaboradores não está bem, pode-se esperar que haverá perda grave de competitividade. Segundo Barbosa (3), a satisfação no trabalho implica maior produtividade e melhor qualidade no trabalho prestado, mas isto somente será obtido quando houver se alastrado no ambiente laboral os princípios da ergonomia. A prática da ergonomia poderá criar ambiente e trabalhadores saudáveis e, conseqüentemente, produtos e serviços com qualidade. Para que o ser humano produza com qualidade, é necessário que se tenha, primeiramente, boas condições e uma boa ambiência do seu local de trabalho, e nisto inclui um bom relacionamento com os companheiros e chefia. As organizações, ao proporcionarem aos seus funcionários maior conforto e comodidade para o desenvolvimento de suas tarefas, estão investindo diretamente no bemestar humano e na melhoria da eficiência e na qualidade dos serviços prestados. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é identificar quais são os aspectos ergonômicos que estão envolvidos nos serviços de manutenção de uma empresa de beneficiamento de mármores e granitos através de acompanhamento das atividades dos funcionários, verificando assim se esses aspectos ergonômicos estão lhes causando alguma lesão. A empresa selecionada para a realização deste trabalho está localizada às margens da BR 101, próximo à cidade de Rio Novo do Sul, região Sul do Estado do Espírito Santo. Possui, hoje, aproximadamente 30 funcionários, apenas 02 pertencentes ao setor de manutenção. 2 ERGONOMIA 2.1 Histórico A palavra ergonomia deriva dos termos gregos ergon, que significa trabalho e nomos, que significa regras ou leis. Surgiu, em 1857, com a publicação de um artigo pelo Polonês Victor Jastrzebowski com o título Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza. (4) Durante a I guerra mundial (1914-1917), com a necessidade de aumentar a produção de armamentos, os fisiologistas e psicólogos são chamados para melhorar as condições de trabalho dos trabalhadores e, com o fim da guerra, essa comissão foi transformada no Instituto de Pesquisa da Fadiga Industrial. Durante a II guerra mundial (1939 1945), com a expansão da velocidade de produção e o desenvolvimento de projetos complexos de instrumentos bélicos, aconteceram inúmeros acidentes na área militar. Esses acidentes foram atribuídos a falhas de projetos dos equipamentos que não se adequavam aos operadores. Para tentar solucionar essas falhas nos projetos, foram organizadas equipes de engenheiros, médicos e psicólogos para adequarem os projetos sob o ponto de vista anatômico, fisiológico e psicológico. Como conseqüências, muitos desses equipamentos foram redesenhados para adaptarem-se melhor ao desempenho do organismo humano. Com o término da guerra, esses especialistas tornaram a se unir em 12 de julho de 1949, na Inglaterra, com o intuito de discutir e formalizar a existência desse novo ramo da aplicação interdisciplinar da ciência, surgindo assim, oficialmente, a ergonomia como uma forma de melhorar as condições de trabalho e o bem estar do ser humano. Segundo Iida (4), somente no início da década de 50 com a fundação da Ergonomics Research Society, na Inglaterra, é que a ergonomia se expandiu no mundo industrializado. De acordo com Amado (5), no Brasil, a ergonomia começou a ser estudada nos anos 60. Com a criação da Associação Brasileira de Ergonomia em 1983, houve um desenvolvimento mais rápido, principalmente no meio acadêmico. Em 23 de outubro de 1990, foi instituída a Norma Regulamentadora nº. 17 pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social, que visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. 2.2 Definições e objetivos da ergonomia Para a Ergonomics Research Society, ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamento e ambiente, e, particularmente, a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento. 14

Para Wisner (6), ergonomia é o conjunto dos conhecimentos científicos relativos ao homem e necessário para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, eficácia e segurança. Segundo Iida (4), a ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Ainda segundo o autor, para se realizar um estudo ergonômico, não basta observar apenas o ambiente físico composto de máquinas e equipamentos utilizados para transformar os materiais, mas sim toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e o seu trabalho, incluindo os seus aspectos organizacionais de como esse trabalho é programado e controlado para produzir os resultados desejados. Segundo Palmer (7), o objetivo da ergonomia é aumentar a eficiência da atividade humana por meio de dados que permitam que se tomem decisões mais lógicas. A ergonomia permite que o custo individual seja minimizado ao remover aspectos do trabalho que, ao longo prazo, possam provocar ineficiências ou incapacidades físicas. 2.3 Condições ambientais do trabalho Para que o ser humano produza, é necessário que as condições ambientais no seu local de trabalho sejam favoráveis, logo, faz-se necessário que os projetistas conheçam a dinâmica dos processos produtivos relacionados à empresa em questão. Entre essas questões ambientais estão a temperatura, iluminação e ruídos. É necessário que estes fiquem dentro de um patamar que possa ser aceitável. Esses fatores, se não observados, causam grande desconforto, aumentando o risco de acidentes, podendo causar danos à saúde dos trabalhadores. A Norma regulamentadora 17 NR 17, no subitem 17.5.1, estabelece que as condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. A ergonomia se preocupa com o estudo das condições de conforto ambiental que se refere às características do ambiente de trabalho que podem afetar as pessoas. (8) 2.3.1 Temperatura Iida (4) afirma que a temperatura e a umidade ambiental influem diretamente no desempenho do trabalho humano. Estudos realizados em laboratórios e na indústria comprovam essas influências, tanto sobre a produtividade quanto sobre os riscos de acidentes. 2.3.2 Iluminação Quando se projeta um ambiente, a iluminação dos locais de trabalho deve ser cuidadosamente planejada, levando-se em conta o aproveitamento da luz natural e suplementando-a com a luz artificial. Além da luz natural ser de boa qualidade, deve-se levar em conta a economia com os gastos energéticos. Um bom sistema de iluminação, com o uso adequado de cores e a criação dos contrastes, pode produzir um ambiente de fábrica ou escritório agradável, onde as pessoas trabalham confortavelmente, com menor grau de fadiga, monotonia e acidentes, além de trabalharem com maior eficiência. (4) 2.3.3 Ruídos O ruído muito elevado dificulta a comunicação verbal, fazendo com que as pessoas tenham que falar muito alto e prestar atenção para serem compreendidas, causando assim, irritação e aumento da tensão psicológica. A conseqüência mais evidente do ruído é a surdez. Conforme Grandjean (9), o ruído provoca perturbações da atenção, do sono e sensações de incômodos. Além disso, comenta o autor, os ruídos prejudicam freqüentemente trabalhos mentais complexos, bem como determinadas produções com grandes exigências na destreza e na análise de informações. 3 MANUTENÇÃO A manutenção, nos últimos anos, passou a ser vista de forma diferente nos processos produtivos. Com a demanda produtiva cada vez maior e com a acirrada competitividade pelo mercado, não é admissível que os equipamentos parem de produzir ou até mesmo produzam com uma capacidade inferior do que a projetada. A manutenção assume uma função de suma importância, não só no processo produtivo, mas para a garantia de serviços essenciais ao conforto e ao bem estar da humanidade. Segundo Tavares (10), manutenção são todas as ações necessárias para que um item seja conservado ou restaurado de modo a poder permanecer de acordo com uma condição especificada. Então, pode-se dizer que manutenção nada mais é do que um conjunto de técnicas destinadas a manter equipamentos, instalações e edificações com um maior tempo de utilização, rendimento e redução de custos. 15

Marques, A. et al Para Kardec, Nascif e Barone (2), a missão da manutenção é garantir a disponibilidade da função dos equipamentos e instalações de modo a atender a um processo de produção ou de serviço, com confiabilidade, segurança, preservação do meio ambiente e custos adequados. Existem três tipos principais de manutenção, que são: manutenção corretiva, manutenção preventiva e manutenção preditiva. A manutenção corretiva é definida como aquela que tem o objetivo de reparar as anomalias após a quebra do equipamento ou quando, em operação, estiver trabalhando abaixo de uma condição aceitável. Na manutenção preventiva, as interferências são feitas de maneira programada e em intervalos pré-estabelecidos de forma a evitar falhas e baixo desempenho nos equipamentos. A manutenção preditiva é aquela que indica as condições reais de funcionamento das máquinas com base em dados que informam o seu desgaste ou processo de degradação. Trata-se da manutenção que prediz o tempo de vida útil dos componentes das máquinas e equipamentos e as condições para que esse tempo de vida seja bem aproveitado. 4 METODOLOGIA Foram realizadas visitas técnicas e acompanhamento das atividades desenvolvidas pelos profissionais envolvidos na manutenção. Nessas visitas, foram observados procedimentos de manutenção, bem como o funcionamento dos equipamentos durante a produção dos bens acabados. Em uma segunda etapa, foi aplicado um questionário com os funcionários que trabalham na manutenção. O questionário foi desenvolvido a partir das informações extraídas nas visitas técnicas e de adaptações dos estudos de Barbosa (3) sobre análise dos serviços de manutenção de máquinas e equipamentos a partir de uma abordagem ergonômica. O questionário aplicado abordou os seguintes pontos: perfil dos funcionários de manutenção, dados profissionais, características do trabalho, indicadores gerais de saúde, condições físicas de trabalho e condições organizacionais de trabalho. 5 ANÁLISE DE RESULTADOS A empresa desenvolve todas as etapas do beneficiamento do mármore e granito, desde a serragem até o polimento, sendo 80% da sua produção destinados à exportação. Para o desenvolvimento das suas atividades, a empresa conta com 04 teares, 04 politrizes, 04 pontes rolantes, 01 pórtico e 01 forno para secagem das chapas, conforme figura 1. Figura 1. Fluxograma do processo de beneficiamento A empresa não possui um departamento de manutenção bem estruturado, como a maioria das empresas deste setor. Próximo ao galpão da empresa, existe um local onde são feitos os serviços de solda, caldeiraria e pequenos reparos. Não são feitas ordens de serviços para que os reparos sejam feitos; na maioria das vezes, os operadores das máquinas chamam os funcionários da manutenção ou os próprios funcionários da manutenção têm a iniciativa de parar o equipamento para que a manutenção seja feita. A manutenção das máquinas e dos equipamentos é feita de forma corretiva e preventiva com dois turnos de trabalho, um das 7 horas às 11 horas e o outro das 13 horas às 17 horas. Quando ocorre alguma falha nos equipamentos fora desses horários, os funcionários da manutenção são chamados pelos operadores de máquinas e, o excedente de horas trabalhadas é configurado como horas extras. A manutenção é feita por dois funcionários, um eletricista e um mecânico, ambos residentes próximos à empresa, facilitando, assim, o deslocamento de sua residência até o local de trabalho. O eletricista tem 33 anos e trabalha na empresa há 3 anos, possui o 2º grau completo, mas não tem curso técnico. O mecânico tem 42 anos e trabalha na empresa há 10 anos e 6 meses e possui o 1º grau completo. Na maior parte do tempo, os serviços são executados na posição em pé e agachado, o que confirma as informações obtidas no questionário aplicado, no qual os funcionários relatam que ao final do dia apresentam dores nas pernas e cansaço, apesar dos serviços serem considerados por ambos normal ou pouco pesado. 16

O ambiente térmico nos setores de trabalho foi considerado satisfatório pelos funcionários. Isto porque o galpão da empresa possui um pé direito alto (aproximadamente 8 metros) e o local onde a empresa está instalada é favorável à circulação de ar, minimizando, assim, os efeitos da temperatura. Os níveis de ruídos no galpão são elevados por causa do funcionamento dos teares durante o processo de serragem, sendo considerado pelos funcionários como um fator que gera incômodo e que prejudica a realização das tarefas. A iluminação é considerada satisfatória, não prejudicando os serviços de manutenção. Observou-se também que a quantidade de partículas em suspensão é muito grande, devido ao fato de ser utilizado marteletes pneumáticos para separar partes de blocos que estão com uma dimensão acima da permitida para o corte nos teares. O poder de decisão da equipe de manutenção e a integração entre o pessoal da administração e da manutenção são considerados muito ruins pelos funcionários. Por outro lado, os funcionários afirmam ter liberdade para executar suas tarefas de forma criativa. Eles almejam por mais treinamento e aperfeiçoamento pois, a empresa está investindo em equipamentos tecnologicamente mais modernos. 6 CONCLUSÃO Os resultados obtidos revelaram que os principais aspectos ergonômicos que estão envolvidos na manutenção da empresa analisada estão relacionados às condições de trabalho, como: (i) ruídos em níveis elevados; (ii) grandes quantidades de partículas em suspensão e (iii) posturas inadequadas, uma vez que a maior parte das atividades é executada em pé ou agachada, causando fadiga aos funcionários no final de cada jornada de trabalho. A organização do trabalho dificulta e cria barreiras para melhorias no desempenho da empresa, dificultando o aumento efetivo da produtividade. Os funcionários não são qualificados e treinados para desenvolver as suas atividades e também não participam das decisões. Investimentos em qualificação profissional poderia contribuir no desempenho dos serviços executados, bem como na motivação profissional dos funcionários. 7 REFERÊNCIAS (1) VIEIRA, S. D. G. Estudo de caso: análise ergonômica do trabalho em uma empresa de fabricação de móveis tubulares. Florianópolis: UFSC, 1997. ( Dissertação de Mestrado). (2) KARDEC, A., NASCIF, J., BARONI, T. Gestão da manutenção e técnicas preditivas. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. (3) BARBOSA, M. A. P. Análise dos serviços de manutenção de máquinas e equipamentos a partir de uma abordagem ergonômica. Florianópolis: UFSC, 2000. (Dissertação de Mestrado). (4) IIDA, I. Ergonomia e produção. São Paulo: Edgard Blücher, 1995. (5) AMADO, F. V. Recomendações para uma gestão participativa no setor metalmecânico, a partir da abordagem ergonômica: um estudo de caso. Florianópolis: UFSC, 2002. ( Dissertação de Mestrado). (6) WISNER, A. Por dentro do trabalho, ergonomia: métodos e técnicas. São Paulo: FTD,1987. (7) PALMER, C. Ergonomia. Rio de Janeiro: FGV, 1976. (8) RIO, R. P. ; PIRES, L. Fundamentos da prática ergonômica. 3. ed. São Paulo: LTR, 2001. (9) GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre: Artes médicas,1998. (10) TAVARES, L. A. Administração moderna da manutenção. Rio de Janeiro: Novo Pólo, 1999. 17