Uso Combinado de TPH - ESTHET-X na Resolução de Fratura em Dentes Anteriores - Relato de Caso Clínico PEREIRA, Marcelo Agnoletti Especialista em Dentística restauradora FUNBEO-FOB-USP Mestre em Dentística Restauradora FOB-USP Doutorando em Dentística Restauradora FO-USP MALASPINA, Odirlei Arruda C.D. graduado pela FOB-USP Aluno do curso de especialização em Radiologia pela APCD Regional-Bauru Aluno do curso de atualização em Ortdontia pela ACOPEN-Bauru FURUSE, Adilson Yoshio C.D. graduado pela FOB-USP MONDELLI, José Prof. Titular do Departamento de Dentística, Endodontia e Materiais Dentários da FOB-USP Introdução A Dentística Restauradora passou por uma evolução significante na segunda metade do Século XX, proporcionando aos profissionais da área uma gama maior de alternativas. Antes deste período, poucos materiais e técnicas restauradoras eram empregados e suas indicações bem distintas. Esta evolução iniciou-se com o condicionamento ácido, proposto por BUONO- CORE 2, seguida logo após pelo advento das resinas compostas por BOWEN 1. Contudo foi nos últimos 20 anos que esta evolução se mostrou significativa, alcançando os compósitos ótimos resultados mecânicos e estéticos, tanto pela evolução da parte orgânica quanto da inorgânica, bem como pelo melhor conhecimento das estruturas dentais, principalmente da dentina 4. O número, tamanho e disposição das partículas, bem como o tipo e quantidade dos monômeros resinosos culminaram para que os compostos baseados em resina fossem não só utilizados em dentes anteriores com ótimos resultados como também nos posteriores, aqui, proporcionado também pela introdução dos adesivos dentinários 3. Os procedimentos restauradores adesivos além de favorecer a estética, aumentam significantemente a longevidade das restaurações diretas em dentes anteriores. Entretanto, é preciso salientar que são técnicas altamente sensíveis e precisam ser empregadas com critério 4, cabendo ao profissional inteirar-se das características químicas e físicas (mecânicas e ópticas) destes materiais, alcançando assim resultados satisfatórios. Outro fator importante é a necessidade de um maior embasamento frente ao grande número de resinas disponíveis (híbridas, microhíbridas e microparticuladas), no que diz respeito ao comportamento da cor e respectivamente da reflexão de luz destes materiais (tipo, tamanho e quantidade da fase inorgânica), os quais apresentam comportamentos mecânicos e ópticos variados, permitindo não só uma abordagem mais crítica e artística, bem como resultando em maior naturalidade. Recentemente foi lançado no mercado odontológico pela Dentsply a resina microhíbrida Esthet-X, a qual além de oferecer as características mecânicas e ópticas necessárias para a sua utilização em dentes anteriores com sucesso, apresenta um custo relativamente em conta (aproximadamente 1/3 do custo das similares) diante de outras opções disponíveis; já a resina TPH a muitos anos vêem demonstrando, a um custo baixo, ótimos resultados no restabelecimento de parte perdida da coroa em dentes anteriores e posteriores, tanto pelas suas características físicas como manipulativas. Pensando em atingir uma parte da classe odontológica brasileira, principalmente os profissionais na área da Dentística Restauradora, a finalidade deste trabalho é descrever um procedimento clínico onde o uso combinado das resinas TPH Esthet-X represente uma alternativa viável tanto estética quanto funcional, para a confecção de restaurações diretas em dentes anteriores, viabilizando financeiramente o acesso a esta nova tecnologia, já que grande parte dos profissionais possuem em seu arsenal a resina TPH, diminuindo o impacto financeiro, na aquisição de todas as cores disponíveis da resina Esthet-X (31 cores), onde desta maneira somente àquelas relativas ao esmalte seriam adquiridas em primeira instância, tornando essa interação uma alternativa acessível (financeira e funcional) nos procedimentos adesivos quando se trata de restaurações diretas. Caso Clínico Paciente do sexo feminino, 28 anos, apresentou-se ao serviço de urgência da Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual de Londrina, imediatamente após ter sofrido um acidente de trânsito, e foi encaminhada à clínica do curso de mestrado em Dentística Restauradora que estava sendo realizado naquela data. A mesma apresentava fratura dos dois incisivos centrais, sem comprometimento pulpar ou periodontal (Fig. 1), e como houve a perda dos fragmentos, a possibilidade da colagem dos mesmos foi descartada. A opção então foi a de reconstruir os elementos por meio de restaurações diretas com resinas compostas. As resinas TPH e Esthet-X foram selecionadas, devido às suas características mecânicas e ópticas. Fig. 1 aspecto inicial do caso clínico apresentando fratura dos dois incisivos centrais. 29
Após a seleção de cor (Fig. 2), realizou-se o isolamento absoluto do campo operatório e profilaxia com pedra pomes (Fig. 3), já que dentro dos princípios de adesão um contato íntimo do aderente ao substrato é requerido, e estes procedimentos proporcionam um meio seguro na utilização desta técnica. Fig. 5 vista vestibular logo após a reconstrução do incisivo central direito. Fig. 2 seleção de cor realizada com a escala da resina Esthet-X, que possui em sua haste a relação das cores a serem utilizadas para a obtenção da mesma. Fig. 3 profilaxia realizada com pedra pomes e escova de Robinson. Após a remoção de restaurações de classe III preexistentes (Fig. 4), realizou-se primeiramente a reconstrução do incisivo central superior direito (Fig. 5), onde observou-se por meio de compasso de ponta seca a falta de espaço necessário para que os dois incisivos tivessem a mesma dimensão mésiodistal (Fig. 6 A e B). Fig. 4 vista oclusal após a remoção das restaurações antigas que apresentavam sinais de infiltração marginal. Fig. 6 com o compasso de ponta seca, tomase a dimensão mésio-distal do incisivo central direito, o qual não teve sua região do equador envolvida na fratura, confirmando a suspeita, da não existência do espaço necessário para a obtenção da mesma dimensão M-D para o incisivo esquerdo. Como a paciente apresentava pequenos espaçamentos entre os incisivos centrais e laterais (Fig. 7 A e B), optou-se pela técnica de separação dentária para recuperação desta dimensão. O afastador mecânico de ELLIOT foi eleito por ser este de uso imediato e não possuir as aletas laterais como o separador de IVORY, o que dificulta o procedimento restaurador pela técnica aqui utilizada. Depois de recuperado o espaço necessário para que os dois incisivos apresentassem o mesmo tamanho (Fig. 8), iniciou-se então o procedimento restaurador. 30
região deste (esmalte mais reativo devido a exposição dos prismas transversalmente) e por último à dentina por ser este um substrato mais suscetível a técnica, requerendo menos tempo de contato com o ácido, como demonstrado nas figuras 9A, B e C. Fig. 7 as figuras A e B ilustram a presença de pequenos espaços entre os incisivos centrais e os laterais, tanto no lado direito quanto no lado esquerdo. Em B nota-se também a presença do bisel, já confeccionado, realizado com ponta diamantada em forma de chama n.º 1111 (K. G. Sorensen). (C) Fig. 8 nota-se aqui, por meio do compasso de ponta seca, a obtenção do espaço M-D necessário conseguido com a utilização do afastador mecânico de ELLIOT. Durante a realização do condicionamento ácido total, na tentativa de evitar a formação de fendas entre o material restaurador e a estrutura dentária, tanto por falha no procedimento adesivo quanto pela contração de polimerização da resina composta, culminando na tão famosa linha esbranquiçada que aparece durante os procedimentos de acabamento e polimento; iniciou-se o condicionamento ácido do esmalte na região periférica ao bisel, onde o esmalte apresenta-se aprismático e menos reativo, estendendo-o imediatamente após à Fig. 9 condicionamento ácido total com ácido fosfórico, inicialmente à região periférica ao bisel ; imediatamente após a região compreendida por este ; e por último à dentina (C), onde após 15 segundos é feita sua remoção com água durante aproximadamente 20 segundos. Depois da utilização do adesivo Prime & Bond NT (segundo instruções do fabricante) iniciou-se a reconstrução da face palatina com a resina TPH na cor A2 ocupando aproximadamente a espessura do esmalte palatino, até mais ou menos 1,5mm da borda incisal (fig.10), espaço este preenchido com a resina TPH incisal B1 (Fig. 11), específica para tal área. Essa fase foi executada utilizando-se o dedo indicador posiciona- 31
do e pressionado firmemente à região e uma tira de poliéster, como se fosse uma matriz obtida após enceramento prévio, conseguindo desta maneira um anteparo ao qual a resina é depositada, esta técnica permite não só a obtenção da curvatura palatina, bem como uma crista marginal contígua àquela presente no remanescente da coroa como visto na figura 12. Fig. 10 confecção da parte relativa ao esmalte palatino na cor A2, respeitando a região correspondente à borda incisal, que será realizada com resina própria para isto (translúcida). incisal, por ser esta mais translúcida e requerer um material com tal característica. Na figura 14, bem semelhante à anterior, nota-se que foi empregado uma resina translúcida nesta região (Esthet-X cor CE), preocupando-se também de cobrir boa parte do bisel com a resina opaca (TPH A2- O) a fim de mascarar sua linha interna. O passo seguinte é o preenchimento da parte restante com a resina Esthet-X na cor A2 relativa ao esmalte (Fig. 15), conseguindo assim além de translucidez, um polimento satisfatório. A figura 16 retrata o aspecto final imediato, logo após a remoção do afastador mecânico, onde pode-se notar uma boa harmonia entre a forma dos dois incisivos, obtida com a utilização deste dispositivo. Nas figuras 17 e 18 ilustram, respectivamente, o aspecto inicial e final, logo após o polimento, realizado com as pontas abrasivas Enhance e pasta própria para polimento de compósitos, utilizada com disco de feltro, onde observa-se a aparência estética satisfatória obtida. Fig. 13 preenchimento da porção relativa à dentina com resina de opacidade semelhante a esta, respeitando a região incisal. Fig. 11 determinação do contorno vestibular onde pode-se notar a determinação do perfil vestibular. Fig. 14 mascaramento da linha interna do bisel com a resina opaca e preenchimento da região incisal com resina translúcida. Fig. 12 vista palatina onde observa-se a contiguidade na união do material com a estrutura dentária tanto na região cervical quanto na incisal. Depois de reconstruído o perfil vestibular (Fig.11), onde já observa-se em parte a forma final do dente, o próximo passo é a reconstrução da parte relativa à dentina utilizando a resina TPH A2-O (Fig. 13), com opacidade semelhante a mesma. O volume de resina empregado aqui, ocupa o espaço relativo ao da dentina quando visto por incisal. Nesta fase deve-se evitar estender a resina mais opaca à região Fig. 15 aspecto do caso após a inserção da resina correspondente à porção de esmalte (Esthet-X A2). 32
Fig. 16 aspecto imediato logo após a remoção do afastador mecânico, nota-se aqui a semelhança dos dois incisivos centrais, tanto em forma quanto em tamanho, como também a obtenção de uma relação de contato, obtida após a remoção do dispositivo de ELLIOT. Fig. 18 vista do sorriso antes e após o tratamento restaurador. Conclusão O uso combinado das resinas TPH e Esthet-X constitui uma alternativa satisfatória na resolução de fraturas em dentes anteriores, não só do ponto de vista funcional, como também estético e financeiro, representando uma maneira confiável e conservativa para restaurações diretas em dentes anteriores como: restaurações de classe III e IV, fraturas e tratamentos cosméticos (fechamento de diastemas, remodelação dentária e facetas diretas). Fig. 17 vista aproximada do caso na fase inicial e logo após o polimento. Endereço para correspondência: R. Padre Bartolomeu de Gusmão 3-70, ap-1402a Vila Riachuelo Bauru SP CEP-10045-030 e-mail: marceloagnoletti@yahoo.com Referências Bibliográficas 1.1. BOWEN, R.L. Properties of silica reinforced polymer for dental restorations. J. Amer. Dent. Assoc., v.66, p.57-64, 1963. 2.2. BUONOCORE, M.G. A simple method of increasing the adhesion of acrylic filling materials to enamel surfaces. J. dent. Res., v.34, p.849-53, 1955. 3.3. CARVALHO, R.M. Adesivos dentários. Fundamentos para aplicação clínica. Rev. Dent. Rest., v.1, n.2, 1998. 4.4. SILVA E SOUZA JR. Procedimentos restauradores estéticos em resina e porcelana para dentes posteriores. Rev. Dent. Rest., v.1, n.1, 1998. 33
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