A INCLUSÃO DOS SÓCIOS DA SOCIEDADE-EMPREGADORA NO PÓLO PASSIVO DA DEMANDA TRABALHISTA * Denis Domingues Hermida 1 Quando da propositura da reclamação trabalhista, cabe ao Advogado não só dirigir a sua atenção ao preenchimento dos requisitos da petição inicial, mas também se utilizar dos meios previstos na legislação para garantir a efetividade da prestação jurisdicional e, de forma mais específica, buscar a vinculação de patrimônio da Parte-Ré à futura execução (ou cumprimento de sentença). Se de um lado é cristalino na jurisprudência que a dívida trabalhista gera desconsideração da personalidade jurídica, de outro lado tal característica não gera garantia de vinculação do patrimônio dos sócios da Sociedade-Ré à futura execução trabalhista, principalmente na hipótese de alienação de bens de sócios antes da efetiva decisão interlocutória de desconsideração da personalidade jurídica. Especificamente, há entendimento já pacificado pelo Tribunal Superior do Trabalho no sentido de que não há fraude de execução na alienação de bens pelos sócios de pessoa jurídica executada por dívidas trabalhistas enquanto não incluídos os mesmos no polo passivo ou desconsiderada a personalidade jurídica, como demonstrado na ementa abaixo transcrita: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. FRAUDE À EXECUÇÃO. ALIENAÇÃO DE BEM DO SÓCIO ANTES DE DESCONSTITUÍDA A PERSONALIDADE JURÍDICA DA EMPRESA. INEXISTÊNCIA DE CONLUIO ENTRE O SÓCIO ALIENANTE E O ADQUIRENTE. Enquanto não direcionada a execução contra o patrimônio dos sócios da empresa por meio da desconstituição da personalidade jurídica da sociedade não há como vislumbrar a existência de ação contra o sócio capaz de reduzi-lo à insolvência. Nesse contexto, a alienação de bem de propriedade particular do sócio, antes de afastada a autonomia da empresa, não configura fraude à execução com base no inciso II do artigo 593 do Código de Processo Civil, considerando que, no caso, não se tem notícia da existência de conluio entre o sócio alienante e o adquirente do imóvel com o fim de inviabilizar a execução contra a empresa. Incólume o princípio do devido processo legal. Agravo de instrumento a que se nega provimento. TST, Processo: AIRR - 67140-07.2003.5.01.0030 Data de Julgamento: 18/08/2010, Relator Ministro: Lelio Bentes Corrêa, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 26/11/2010 1 Advogado, Sócio da Sociedade de Advogados Ogando e Hermida Advocacia, diretortesoureiro da OAB/Santos na gestão 2010/2012, professor universitário na Unisantos, Unip e Unesp, mestre em direito constitucional pela PUC/SP, Doutorando em Direito do Trabalho pela PUC/SP, especialista em direito da empresa e da economia pela FGV/SP e especialista em direito tributário pelo IBET. Para acesso a outros textos do autor, acesse www.denishermida.com.br
Nesse ponto, defendemos, para a garantia da efetividade de eventual decisão condenatória e futura execução, a inclusão dos Sócios da Sociedade-Reclamada no pólo-passivo da demanda trabalhista, sob a forma de litisconsórcio passivo facultativo, com o pleito de declaração por sentença da responsabilidade subsidiária dos referidos sócios na hipótese de não suficiência dos bens da Sociedade-Reclamada para fazer frente ao futuro (e eventual) crédito trabalhista. Haverá, certamente, aqueles que defenderão falta de interesse de agir (entendido como condição da ação que se caracteriza pelo binômio necessidade e adequação da prestação jurisdicional) sob o fundamento de ausência de necessidade, já que em fase de execução(cumprimento de sentença) pode, independentemente de qualquer pleito inicial, ser desconsiderada a personalidade jurídica da Sociedade-Ré e atingidos os bens dos sócios. No entanto, a simples possibilidade dos sócios dilapidarem a totalidade de seus respectivos patrimônios e, aplicando-se o entendimento ora cristalizado pelo Tribunal Superior do Trabalho (acima transcrito), não ser tal dilapidação enquadrada como fraude de execução, já gera a necessidade de inclusão dos sócios no pólo-passivo da demanda trabalhista. Incluindo-se sócio da Sociedade-Reclamada no pólo passivo da demanda (juntamente, é claro, com a própria Sociedade) e, uma vez ocorrendo a dilapidação por ato voluntário - do patrimônio dos bens desse sócio, ter-se-á o enquadramento perfeito da situação fática à previsão de fraude de execução descrita no artigo 593, inciso II, do Código de Processo Civil, in verbis: CPC. Art. 593. Considera-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens: I omissis II quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência... No que se refere ao acesso do Advogado a informações a respeito da composição societária da Sociedade-Reclamada, hoje a internet, e mais especificamente o site da JUCESP permite, de forma simples e gratuita a obtenção da Ficha de Breve Relato da referida Sociedade (desde que, por óbvio, seja a sociedade empresária e registrada na Junta Comercial do Estado de São Paulo), onde constam todos os dados inerentes à composição dos sócios da sociedade. Para tal, basta o acesso ao site www.jucesponline.sp.gov.br e transcrever o nome da sociedade na lacuna exibida de pronto na primeira página do referido site, como demonstrado abaixo:
Uma vez digitado o nome da sociedade, basta clicar em buscar, quando, então, serão apresentados os resultados de acordo com a busca solicitada, cabendo ao usuário clicar sobre o resultado correto, como consta da ilustração abaixo: Uma vez clicado o nome correto da sociedade de que se busca informação, surgirá tela apresentando dados gerais a respeito da sociedade e a disponibilidade de acesso a serviços como ficha cadastral completa e ficha cadastral simplificada. Sugere-se que o usuário selecione a opção ficha cadastral simplificada para conhecer os atuais sócios e a opção ficha cadastral completa para ter acesso, inclusive, a sócios que já se retiraram da sociedade.
Uma vez solicitado o documento ou serviço desejado e clicado ok, surgirá tela para inserção de CPF, senha e código de imagem. A senha a ser utilizada é a mesma senha para acesso a informações sobre nota fiscal paulista (e que, para quem ainda não a possui, pode ser obtida no site https://www.nfp.fazenda.sp.gov.br/cadastrocat/solicitacaocadastrocpf.aspx).
Incluídos o CPF, a senha e o código de imagem e clicado o ícone entrar, o site já oferece o documento solicitado, gratuitamente, como demonstrado na figura abaixo. Vale lembrar que para acesso à imagem da ficha cadastral é necessário que o computador do usuário tenha o programa que exiba arquivos em formato pdf (como o programa acrobat reader, que pode ser obtido gratuitamente através do site http://get.adobe.com/br/reader/ ). Por fim, seguem abaixo exemplos de causa de pedir e pedido referente à inclusão dos sócios da sociedade-reclamada no pólo passivo da demanda: a) Causa de Pedir: Os Reclamados (nomes dos sócios) são, conforme Ficha Cadastral Completa fornecida pela Junta Comercial do Estado de São Paulo, sócios da sociedade-empresária (nome da Sociedade- Reclamada), Empregadora do Reclamante. Tendo-se em vista que as dívidas trabalhistas geram desconsideração da personalidade jurídica e consequente responsabilidade subsidiária, solidária e ilimitada dos sócios da pessoa jurídica empregadora, requer o Reclamante seja declarada a responsabilidade subsidiária dos Reclamados (nomes dos sócios),
para que os mesmos, na hipótese de insuficiência de bens da Primeira- Reclamada ( nome da sociedade-reclamada ) para fazer frente à dívida oriunda da presente reclamação trabalhista, sejam responsabilizados solidária e ilimitadamente pelas dívidas oriundas da presente reclamação trabalhista. O interesse de agir no que se refere à inclusão dos referidos Reclamados no polo passivo da demanda se faz em razão de entendimento já pacificado pelo Tribunal Superior do Trabalho no sentido de que não há fraude de execução na alienação de bens pelos sócios de pessoa jurídica executada por dívidas trabalhistas enquanto não incluídos os mesmos no polo passivo ou desconsiderada a personalidade jurídica, como demonstrado na ementa abaixo transcrita: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. FRAUDE À EXECUÇÃO. ALIENAÇÃO DE BEM DO SÓCIO ANTES DE DESCONSTITUÍDA A PERSONALIDADE JURÍDICA DA EMPRESA. INEXISTÊNCIA DE CONLUIO ENTRE O SÓCIO ALIENANTE E O ADQUIRENTE. Enquanto não direcionada a execução contra o patrimônio dos sócios da empresa por meio da desconstituição da personalidade jurídica da sociedade não há como vislumbrar a existência de ação contra o sócio capaz de reduzi-lo à insolvência. Nesse contexto, a alienação de bem de propriedade particular do sócio, antes de afastada a autonomia da empresa, não configura fraude à execução com base no inciso II do artigo 593 do Código de Processo Civil, considerando que, no caso, não se tem notícia da existência de conluio entre o sócio alienante e o adquirente do imóvel com o fim de inviabilizar a execução contra a empresa. Incólume o princípio do devido processo legal. Agravo de instrumento a que se nega provimento. TST, Processo: AIRR - 67140-07.2003.5.01.0030 Data de Julgamento: 18/08/2010, Relator Ministro: Lelio Bentes Corrêa, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 26/11/2010 Assim, tem-se na inclusão dos sócios da pessoa jurídica empregadora no polo passivo da reclamação trabalhista instrumento de garantia contra a insolvência intencional dos referidos sócios, antes de eventual desconsideração da personalidade jurídica, com o fito de tornar inadimplida a futura execução trabalhista.
b) Pedido: Declaração por sentença da responsabilidade subsidiária dos Reclamados (nomes dos sócios), para que os mesmos, na hipótese de insuficiência de bens da Primeira-Reclamada ( nome da Sociedade- Reclamada ) para fazer frente à dívida oriunda da presente reclamação trabalhista, sejam responsabilizados solidária e ilimitadamente pelas dívidas oriundas da presente reclamação trabalhista;