OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO EDUCACIONAL DO DEFICIENTE VISUAL PARA SUA INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO



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Transcrição:

OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO EDUCACIONAL DO DEFICIENTE VISUAL PARA SUA INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO Leni Aparecida da SILVA(PG-UENP/Jac.) leniapsilva@bol.com.br Sonia Maria Dechandt Brochado (Orientadora-UENP/Jac.) O presente trabalho é uma reflexão sobre as atuais metodologias aplicadas na formação da pessoa com deficiência visual - DV, não somente na sua formação enquanto cidadão, mas na sua capacitação profissional, já que o mesmo irá competir por vagas de trabalho. Desse modo, indaga-se, através da análise de um discurso que afirma que essa formação é dada, se essas competências estariam no plano do discurso ou estariam sendo vivenciadas em sala de aula. Em outras palavras: Implica uma cadeia que nos leva a repensar e a revisitar o bem, o possível e o necessário, ou seja, a própria ética. A ética não pode escapar dos problemas da complexidade. [...] Buscase, com freqüência, distinguir ética e moral. Usemos ética para designar um ponto de vista supra ou meta-individual; moral para situar-nos no nível da decisão e da ação dos indivíduos. Mas a moral individual depende implícita ou explicitamente de uma ética. Esta se resseca e esvazia sem as morais individuais. Os dois termos são inseparáveis e, às vezes, recobrem-se (MORIN, 2005:15). O objetivo deste artigo é refletir sobre a formação da pessoa com deficiência visual como fator primordial para a sua transformação de aluno em cidadão crítico, participativo e apto para o mercado de trabalho.

Tendo em vista os objetivos do trabalho, a metodologia adotada neste artigo foi a pesquisa bibliográfica, visto que muitos autores vêm corroborar sobre o tema abordado, e a pesquisa de campo realizada com deficientes visuais que relataram suas experiências de formação educacional. A pesquisa de campo ainda se encontra em andamento e somente a partir do término da aplicação da mesma é que se poderá ter uma visão completa dos resultados. Mas, em função dos dados já coletados, é possível apresentar resultados parciais e verificar que a situação da educação não supre as reais necessidades destes alunos. Para concluir esse pensamento não se pode deixar de mencionar Adam Schaff que contribui com a idéia partindo do pressuposto que: O conhecimento é pois um processo infinito, mas um processo acumulando as verdades parciais que a humanidade estabelece nas diversas fases do seu desenvolvimento histórico: alargando, limitando, superando estas verdades parciais, o conhecimento baseia-se sempre nelas e toma-as como ponto de partida para um novo desenvolvimento (SCHAFF, 1995:97). Defende-se a idéia, neste artigo, de uma inclusão escolar com autonomia, auto-suficiência e independência com a finalidade de proporcionar uma educação eficaz de qualidade para todos, haja vista que o pensamento de Siaulys (2006) que reforça essa idéia, afirmando que a inclusão social e educacional dessas pessoas atualmente é assunto de direitos humanos, de tratados e discussões que propõem uma educação de qualidade que satisfaça às necessidades básicas de aprendizagem, o desenvolvimento pleno das potencialidades humanas, bem como a melhoria da qualidade de vida e do

conhecimento e da participação na transformação social. Declara ainda que frequentar a escola, ter acesso a um ensino de qualidade, participar das atividades junto com a comunidade escolar é um direito de todas as pessoas e deve ser assegurado pelo Estado. De acordo com o manual do Ministério do Trabalho e Emprego (2007), as leis em vigor 8.213, de 24 de julho de 1991, o artigo 5º, 2º, da Lei 8.112/90 e o art. 37, 1º, do Dec. 3.298/99, asseguram a todo deficiente o direito de concorrer a uma vaga no mercado de trabalho através de cotas, mas isso não o exime de uma educação de qualidade. A valorização da pessoa com deficiência se deve a um conjunto de fatores. Pensa-se, dessa forma, na formação educacional que valorize as suas outras habilidades, mesmo porque o paradigma que valoriza somente um tipo de inteligência já vem sendo questionado há algum tempo. Exemplo disto é o que diz Gardner (1994), defensor de que a inteligência humana engloba um conjunto de várias competências, muito mais amplo e universal, sendo consideradas por ele a existência de oito delas. Estaria o modelo atual de educação suprindo as reais carências do aluno com necessidade educacional especial para adquirir um emprego? É este questionamento que nos remete a pensar se a educação atual não é contraditória em relação à produtividade e à mão de obra qualificada exigida. Desta forma, poderíamos estar fantasiando, sendo demagogos e até assistencialistas, pois conforme menciona Garcia: Será possível pensar que, sujeitos considerados portadores de deficiência, possam inserir-se no mercado de trabalho, na atualidade, num contexto de altos índices de desemprego? Em

que condições esta inserção ocorre? Diante da frágil estrutura de educação profissional, a qual o próprio MEC admite, por que empregadores iriam arriscar a contratação de pessoas com pouca tradição de qualificação, diante de um número imenso de pessoas qualificadas, não deficientes, e esperando uma oportunidade de emprego? (GARCIA,1998:3) Dentro de uma sociedade excludente, onde até pessoas não deficientes são excluídas, o que se deve pensar dos deficientes visuais? Por essa razão, o anseio desta pesquisa é verificar se a educação para os mesmos está realmente adequada, no sentido de questionar se futuramente eles teriam condições de disputar vagas de trabalho, dentro ou fora das cotas. Ou ainda se elas não estariam encontrando até mais dificuldades, em razão de um ensino precário que as deixariam em desvantagem ao serem inseridas no mercado de trabalho. Daí a importância de não se deparar-se com uma formação talvez duvidosa como também com a própria limitação da deficiência. A esse pensamento Lancillotti nos diz que, contraditoriamente, se a ampliação da absorção dessa força de trabalho permitiu o reconhecimento da pessoa com deficiência em suas capacidades e favoreceu a manutenção da sua vida pela via normativa do trabalho, isto se deu apenas na medida em que representou alguma vantagem econômica para seu empregador. Nos resultados dos dados observados na pesquisa de campo, por meio da aplicação de questionário aberto a um pequeno corpus de pessoas com deficiência visual, no ensino médio, evidenciouse que dos entrevistados, 80% afirmaram que os professores não estão preparados para atender alunos com deficiência na área visual.

Quando perguntados se a escola e os professores oferecem recursos e materiais didáticos para atender as necessidades desses alunos, 80% responderam que não recebem nada além do material ampliado. Em outra questão objetivou-se saber qual o conceito desses alunos quanto à sua formação; 100% dos entrevistados declararam não preencher suas necessidades satisfatoriamente. Quando questionados se estão preparados para o mercado de trabalho, 80% declararam que não, devido à sua formação escolar que deixou a desejar, tendo como consequência o seu despreparo para o mercado de trabalho. Deste modo, afirma-se através do pensamento de Lancillotti o que a pesquisa de campo nos revelou até o presente momento. Constatou-se a existência de uma limitação de professores que saibam desenvolver um trabalho de qualidade com esses alunos e a falta de materiais específicos para os mesmos, causando assim uma formação duvidosa não somente no aspecto acadêmico e profissional, mas também na sua formação enquanto sujeito. Conclui-se então, que a formação deve se dar de uma forma ética, com qualidade, eficácia para que o deficiente não seja visto ou colocado no mercado de trabalho como propaganda ou marketing da própria empresa. Assim não seria explorado pelo sistema capitalista, mas sim valorizado por sua capacidade intelectual de resolver problemas e de ser produtivo na função que o mesmo exercerá. Por esse raciocínio, configura-se a obrigatoriedade do Estado em oferecer uma formação de qualidade a todos. Porém, para que isso ocorra é necessária a inserção do deficiente no mercado de trabalho e que a educação saia da integração para uma inclusão real.

REFERÊNCIAS GARCIA, Rosalba Maria Cardoso.Apresentação. In: Interações voltadas à cidadania e à filantropia na escolarização de sujeitos que apresentam seqüelas motoras. Dissertação de Mestrado em Educação. Florianópolis, UFSC, 1998.. A proposta de expansão da Educação Profissional: uma questão de Integração? Disponível em WWW.educacaoonline.pro.br/index.php? view=article&catid=5%3aeducacao-espe..., consultado em 26/08/2009. GARDNER, Howard. As oito inteligências. A mente do bebê: o fascinante processo de formação do cérebro e da personalidade. São Paulo: Duetto Editorail, p. 22-29, nº. 3, 2008. LANCILLOTTI, Samira Saad Pulchério. A integração pelo trabalho na sociedade da exclusão. MORIN, Edgar. O método 6: ética. Trad: Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2005. SCHAFF, Adam. História e Verdade. Trad. Maria Paula Duarte; São Paulo: Martins Fontes, 1995. SIAULYS, Mara Olímpia de Campos. A inclusão no Brasil. IN: Revista Orientações aos professores da escola regular: A inclusão do aluno com baixa visão no Ensino Regular. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2006.

Anexo 1 Questionário Solicitamos autorização para coleta e divulgação de dados de pesquisa de campo, destinada a subsidiar trabalho de pesquisa de Iniciação Científica, comprometendo-nos com a não identificação dos informantes. 1) Qual o seu grau de escolaridade? 2) Em sua escola há uma preocupação real com a sua aprendizagem? 3) Devido a sua deficiência sua escola e professores fornecem recursos e materiais didáticos para atender suas necessidades? 4) Em seu conceito como avalia sua formação? 5) Em relação a sua formação acredita estar preparado para o mercado de trabalho. Sim, não por quê? 6) Sua formação oferece subsídios para uma melhor compreensão do mundo? 7) Você acredita que seus professores estão preparados para trabalhar com a sua deficiência?