UMA POSSÍBILIDADE DE DIÁLOGO ENTRE A EDUCAÇÃO FÍSICA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL



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Transcrição:

UMA POSSÍBILIDADE DE DIÁLOGO ENTRE A EDUCAÇÃO FÍSICA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL Miraíra Noal Manfroi UFSC/CD/LAPE UDESC/CEFID/ LAPLAF Alcyane Marinho UFSC /CD/LAPE UDESC/CEFID/LAPLAF Agência Financiadora: CAPES Resumo Devido à extensão territorial, à diversidade natural e cultural, dentre outros fatores, a Educação Física escolar no Brasil possui diferentes nuances e características. No sentido de melhor compreender um pouco dessa realidade, houve uma aproximação com uma escola pública municipal da cidade de Florianópolis em Santa Catarina. O objetivo deste estudo, parte de uma pesquisa mais ampla com etapas ainda em andamento, foi investigar como ocorrem as aulas de Educação Física em uma escola pública de uma comunidade com predominância açoriana, seus tempos, espaços, conteúdos, metodologias e suas relações com a educação ambiental. Trata-se de uma pesquisa etnográfica, com abordagem qualitativa e de caráter descritivo. O professor de Educação Física desta escola usa os recursos ofertados pela própria comunidade e pela natureza em seu planejamento, utilizando de circunstâncias geográficas, tão diversificadas e, aparentemente, desfavoráveis, como oportunidades para manifestação de diferentes abordagens metodológicas e conteúdos instigantes e provocadores de aprendizagens sobre diversos conteúdos da cultura corporal e da educação ambiental. Palavras-chave: Educação Ambiental. Educação Física. Crianças. UMA POSSÍBILIDADE DE DIÁLOGO ENTRE A EDUCAÇÃO FÍSICA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL Introdução Devido à extensão territorial, à diversidade natural e cultural, dentre outros fatores, a Educação Física escolar no Brasil possui diferentes nuances e características. Neste contexto, esta pesquisa se desenvolveu em uma escola pública municipal, localizada na cidade de Florianópolis em Santa Catarina. Esta escola atende as crianças da comunidade e de locais próximos, da creche até o quarto ano do ensino fundamental.

Possui funcionários e professores que moram na comunidade, mas também alguns que residem e outros locais. A maioria das crianças estuda ali até o quarto ano e somente depois deste período se transfere para outras escolas. No entanto, várias destas crianças, no contra turno de estudo formal, visitam a escola e adoram ficar por ali, lanchar e conversar com os professores no intervalo. Nesta dinâmica, a escola, para a comunidade, é um espaço de favores e de apoio, pois muitos aparecem para fazer pesquisa; para pedir para ler algum documento e suprir outras eventuais necessidades. Nesta região as crianças só conseguem chegar por trilha ou por barco, não havendo estradas. Além disso, as condições físicas da escola e seus arredores são peculiares: não possui quadra poliesportiva; há um campo de grama ao lado; existe uma lagoa de grande extensão em sua frente; e é cercada por uma reserva natural constituída de montanhas com matas. Partindo destas considerações, o objetivo deste estudo, parte de uma pesquisa mais ampla, com etapas ainda em andamento, foi de investigar como ocorrem as aulas de Educação Física em uma escola pública de uma comunidade com predominância açoriana, seus tempos, espaços, conteúdos e metodologias, bem como suas relações com a educação ambiental. Métodos Com o intuito de conseguir permanecer o máximo de tempo no campo de pesquisa, para compreender seus significados e pormenores, a pesquisa, nesta fase de andamento, foi fundamentada na etnografia, método científico que visa descrever um grupo ou uma cultura a partir de observações sistemáticas e participativas, complementadas por conversas informais e outros recursos que possibilitem compreender uma determinada cultura em suas manifestações cotidianas, visto que a vida diária se apresenta como grande potencialidade de movimentos transgressores e criativos, sendo capaz de se ressignificar e de buscar outras formas de viver (MAGNANI, 2002). Em etnografia, como Magnani (1998, 2002) traz em seus estudos, deve-se buscar que o olhar de longe e de fora se torne o olhar de perto e de dentro, com a compreensão de que nossa subjetividade faz parte de todo o processo. Nesta perspectiva o desafio metodológico foi o de conjugar momentos de mergulho na realidade com momentos de afastamentos e estranhamentos, para não desprezar aspectos do cotidiano.

Considerando que a pesquisa proposta pressupõe interfaces entre a Educação Física e as ciências humanas e sociais, é importante ressaltar, como afirma Minayo (1996, p.15) que: [...] as Ciências Sociais, [...], possuem instrumentos e teorias capazes de fazer uma aproximação da suntuosidade que é a vida dos seres humanos em sociedade, ainda que de forma incompleta, imperfeita e insatisfatória.. Nesta afirmação, são apontados os possíveis limites da pesquisa e a sua provisoridade histórica e científica, mas, ao mesmo tempo, indicam-se as possibilidades de fidedignidade na coleta e na interpretação dos dados. Levando em conta que a etnografia não utiliza testes ou outros instrumentos baseados em respostas, comportamentos ou performances esperadas a priori, o caderno de apontamentos foi o companheiro inseparável para que não se perdessem detalhes que, em um primeiro olhar, podem parecer descartáveis, mas que, ao se relacionarem com outros fatos e instrumentos, podem evidenciar significativas particularidades do grupo estudado. Estas anotações tinham o intuito de conseguir mais detalhes para diferenciar o ato de piscar para um tique nervoso, no sentido de valorizar a ciência interpretativa e suas buscas por significados, e não uma ciência experimental em busca de leis (GEERTZ, 1989). Além do caderno de apontamentos, foram utilizados outros instrumentos, não de maneira isolada, mas em um continuum: observações participantes, conversas informais, registros fotográficos e filmagens. Nesta perspectiva, foram participantes o professor de Educação Física e as crianças, alunas de uma escola pública da cidade de Florianópolis, que se mostraram disponíveis, após os responsáveis receberem as informações necessárias para compreender os objetivos da pesquisa, as possíveis implicações em suas vidas e assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) atendendo aos princípios éticos estabelecidos pela Resolução 466/2012, do Ministério da Saúde, destaca-se também que esta pesquisa teve aprovação no comitê de ética. Portanto, esta trajetória metodológica possibilitou que, após um refinamento teórico sobre o objeto a ser estudado, as aulas de Educação Física de uma escola pública da cidade de Florianópolis se fizesse conhecer em seus espaços e tempos, como um momento privilegiado de trocas e de construção de um processo educacional mais humano, sensível e ligado às questões ambientais. Resultados

As observações participantes nas aulas de Educação Física possibilitaram constatar que as próprias circunstâncias geográficas, tão diversificadas e, aparentemente, desfavoráveis, possibilitam diferentes abordagens metodológicas e conteúdos instigantes e provocadores de aprendizagens, muitas vezes, envolvidas com questões ambientais. Nesta escola estudada, não existe quadra poliesportiva, quando as aulas acontecem do lado de dentro dos murros, são desenvolvidas no pátio, que é de areia e que fica bem no centro da escola, ou então na própria sala de aula em dias de chuva. Quando acontecem do lado de fora são realizadas em um campo gramado que fica ao lado da escola, lagoa ou cachoeira. Sendo importante destacar que as condições geográficas, entre a lagoa e as montanhas, deixa uma estreita faixa de espaço livre e relativamente plano para o desenvolvimento das aulas. No entanto, a escola possui materiais diferentes para se trabalhar durante as aulas de Educação Física, que auxiliam na maior diversificação dos conteúdos, como: bolas, arcos, cordas, pernas de pau, instrumentos musicais, slackline, pranchas de stand up, colchonetes, entre outros. Para além destes materiais, nos espaços fora da escola, bancos viram tábuas de equilíbrio, galhos de árvores servem para se pendurar, cachorros soltos viram pegadores no pega pega. Assim, pela criatividade do professor e a adesão das crianças, o próprio cenário da comunidade e da escola viram espaços desafiadores para novas aprendizagens ligadas também às questões ambientais. Importante evidenciar que o professor de Educação Física usa os recursos ofertados pela própria comunidade e pela natureza em seu planejamento, ampliando a concepção de Educação Física escolar e de cultura corporal. Durante a pesquisa foram observadas aulas com slackline entre as árvores, caminhadas na busca de pássaros, stand up na lagoa, futebol em um quintal com grama sem demarcações préestabelecidas, dança embalada por cantigas de roda, entre outras possibilidades. Desta forma, foi encontrada uma proposta educacional coerente com o contexto, com as suas crianças, tempos e espaços, a qual perpassa pela estreita relação com o ambiente natural e seu entorno, podendo trazer ressonâncias voltadas à educação ambiental. Discussão Este estudo evidenciou que o professor de Educação Física da escola pública em questão, ao ampliar os espaços das suas aulas para além dos muros da escola, proporcionou a seus alunos o encontro com árvores, trilhas, bichos, águas, o que permite refletir sobre a existência das diversas possibilidades de trabalhar a cultura

corporal com atividades diferenciadas e relacionadas com a natureza (CORNELL, 1996). Além do processo educacional diferenciado ofertado a essas crianças, a comunidade é beneficiada na medida em que ocorre o envolvimento desta escola pública com os espaços e os tempos locais, sendo possível sonhar com mais organização e limpeza, com mais árvores e flores, com mais águas e peixes. Espaços esteticamente mais bem planejados que, gradativamente, possam mudar a vida de todos. Sendo assim, a escola, ao ampliar seu cotidiano para outros espaços públicos e possibilitar experiências educativas brincantes, está contribuindo com a construção de uma cultura que aproxime e que misture idades, gêneros, experiências, conhecimentos, crenças, esperanças, entusiasmos, alegrias, tristezas, decepções, vidas. Assim, este professor ao levar as crianças para fora dos limites da escola, além da possibilidade de desenvolver os conteúdos mais variados da cultura corporal, em ambientes diversificados, proporciona aos seus alunos o desenvolvimento motor, psicológico e social norteados pela perspectiva que entende as crianças como seres capazes, sociais e históricos (PRADO, 2012), construindo um processo educacional diferenciado em uma sociedade na qual, como afirma Marcellino (2005, p.59), as crianças, em sua maioria, convivem com a [...] impossibilidade de vivência do presente, em nome da preparação para um futuro que não lhe pertence.. Para assegurar o direito das crianças viverem as suas infâncias e a sua cultura corporal nos processos de escolarização se faz necessário o intercâmbio de professores que trabalham em diferentes contextos na área da Educação Física e demais áreas do conhecimento. Estas trocas podem ajudar a fortalecer o leque de oportunidades ofertado e construído com as crianças durante as aulas, na busca de um plano educacional mais humano e sensível. Para tanto, a oportunidade de encontros dos próprios professores para além dos muros da escola também se faz necessária, para que o olhar do papel escolar seja ampliado e mantenha uma dinâmica que permita o seu constante envolvimento na melhoria da vida dos seus alunos e das comunidades em que estão inseridos, em relação aos mais diversos aspectos, incluído os ambientais (SORRENTINO; PORTUGAL; VIEZZER, 2009). Conforme apontam Neira e Nunes (2011), esta responsabilidade é pedagógica, mas também política e social, pois, ao estabelecer pontes de mão dupla com o seu entorno, as escolas públicas e os professores que nelas atuam estarão, intencionalmente, reconhecendo que os saberes populares e os jeitos de viver das comunidades

(gestualidades, historicidade, estética, formas de ser e de pensar) são tão significativos para a vida social quanto os conteúdos escolares. Referências CORNELL, J. Brincar e aprender com a natureza. São Paulo: Melhoramentos, 1996. GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. MARCELLINO, N. C. Pedagogia da animação. 7. ed. Campinas: Papirus, 2005. MAGNANI, J. G. C. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 17, n. 49, p. 11-29, jun. 2002. MAGNANI, J. G. C. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade. 2. ed. São Paulo: Hucitec/UNESP, 1998. MINAYO, M. C. de S. (Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Contribuições dos estudos culturais para o currículo da educação física. Revista Brasileira de Ciência do Esporte [online]. 2011, vol.33, n.3, pp. 671-685. ISSN 0101-3289. PRADO, P. D. Educação e culturas infantis: crianças pequenininhas brincando na creche. São Paulo: Képos, 2012. SORRENTINO, M.; PORTUGAL, S.; VIEZZER. Educação ambiental de jovens e adultos. Anais... Jornada Internacional de Educação Ambiental: Belém do Pará, 2009.