FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA INGLESA PARA CRIANÇAS: VISITANDO O ESTADO DO PARANÁ



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Transcrição:

FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA INGLESA PARA CRIANÇAS: VISITANDO O ESTADO DO PARANÁ Alessandra Ferraz TUTIDA (PG-UEL) Juliana Reichert Assunção TONELLI (UEL) RESUMO: Cresce cada vez mais o ensino de línguas estrangeiras para crianças, em especial a língua inglesa (LIC) (ROCHA, 2007; TONELLI, 2007; LINGUEVIS, 2007; CRISTOVÃO E TONELLI, 2010). Contudo, é possível identificar lacunas na formação inicial e continuada dos docentes desta área (ROCHA 2007; CRISTOVÃO E GAMERO, 2009; CRISTOVÃO E TONELLI, 2010). O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados de uma pesquisa que buscou investigar qual a formação inicial e/ou continuada que vem sendo ofertada aos professores de inglês (LI) para atuarem nas séries iniciais de escolarização: educação infantil e primeiro ciclo do ensino fundamental. Para atingir tal objetivo analisamos os currículos dos cursos de Licenciatura em língua inglesa e/ou nos cursos de pós-graduação lato e strictu sensu das universidades públicas do estado do Paraná buscando disciplinas que tratam do assunto. A análise mostrou que, apesar do vasto campo de estudos que apontam a carência na formação de professores de LI para atuarem nas séries iniciais de escolarização, ainda são modestas as iniciativas em universidades púbicas no Estado do Paraná com vistas à formação específica de professores de LI para crianças. Palavras- chave: Formação de professores. Língua inglesa para crianças. Estado do Paraná. 744

Introdução O ensino de línguas estrangeiras para crianças (LEC) vem conquistando espaço significativo na educação brasileira, com enfoque ainda maior na língua inglesa (LI) (ROCHA, 2007; TONELLI, 2007; LINGUEVIS, 2007; CRISTOVÃO e TONELLI, 2010) posto ser esta última a língua da globalização e ser considerada não mais uma LE, mas por ser uma língua de alcance global e fazer parte da realidade de muitos contribuindo, inclusive para a formação integral do cidadão, tem sido considerada uma língua adicional (LA) (SCHLATTER e GARCEZ, 2009). Não é de se estranhar que o ensino de inglês para criança 175 (LIC) tem crescido cada vez mais tanto no âmbito privado de ensino quanto no âmbito público. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de línguas estrangeiras de 5a a 8a série de 1998 discutem critérios de inclusão de destas línguas no currículo, além de expor dificuldades de inclusão de mais de uma língua estrangeira nas grades curriculares das escolas e delimitar fatores a serem considerados para a inclusão destas línguas no currículo. Tais fatores são, segundo o documento: fatores históricos, relativos as comunidades locais e a tradição. Durante a discussão sobre fatores históricos, fica explícito que a relevância do ensino de uma língua estrangeira é determinado pelo papel que esta desempenha em determinado momento histórico e que atinge âmbitos educacionais, culturais, científicos, trabalhistas, entre outros. A partir destas afirmações o documento expõe a influencia global da língua inglesa e antecipa seu declínio. O caso típico é o papel representado pelo inglês, em função do poder e da influência da economia norte-americana. Essa influência cresceu ao longo deste século, principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial, e atingiu seu apogeu na chamada sociedade globalizada e de alto nível tecnológico, em que alguns indivíduos vivem neste final do século. O inglês, hoje, é a língua mais usada no mundo dos negócios, e em alguns países, como Holanda, Suécia e Finlândia, seu domínio é praticamente universal nas universidades. É possível antever que, no futuro, outras línguas desempenhem esse papel. (PCNs, 1998, p.23) Além de grande relevância, a língua inglesa possui potencialidades de ensino variadas e tem como foco principal a formação integral do cidadão e a oportunidade de entrar em contato com línguas estrangeiras de maneira agradável a fim de possibilitar ao 175 Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1994, crianças são pessoas com até 12 anos de idade incompletos 745

aluno um impacto positivo no contato com novas línguas. Segundo Rocha (2007, p. 24) o contato com línguas estrangeiras pode Levar a criança a romper barreiras culturais e ampliar os seus horizontes, de promover o desenvolvimento cognitivo, linguístico, sociocultural e psicológico do aluno, de contribuir para a formação de sua consciência linguística e de atitudes positivas frente às diferenças linguísticas e culturais, finalmente de preparar terreno mais sólido para uma aprendizagem efetiva em séries posteriores. Corroborando o pensamento de Rocha (2007) acreditamos que o mesmo pode ser dito a respeito da língua inglesa. Ou seja, a aprendizagem desta língua pode favorecer o desenvolvimento global da criança. No Brasil, o ensino de uma LE passa a ser obrigatório somente a partir do atual 6 O ano do ensino fundamental. De acordo com o artigo 27 das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), no parágrafo 5º: "Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição." Muito embora a lei acima citada deixe claro que a escolha da língua a ser ofertada é de escolha da comunidade escolar, temos testemunhado a oferta da LI como sinônimo de LE, conforme assevera Rajagopalan (2010). Isto nos leva ao discutido por Rocha (2006) sobre uma possível exclusão que a oferta da LI pode causar: aqueles que não recebem esta mesma oportunidade, neste caso os alunos do contexto público, estão sendo negligenciados ou excluídos. A exclusão dos alunos do contexto público é apenas uma parte dos problemas relacionados ao ensino de língua inglesa para crianças (LIC). De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais de 2010, CNE/CEB 7/2010 (p. 9), Parágrafo primeiro Nas escolas que optarem por incluir Língua Estrangeira nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o professor deverá ter licenciatura específica no componente curricular. Ou seja, os professores que devem trabalhar com esta disciplina devem ser minimamente graduados em cursos de Letras com formação específica na língua estrangeira a ser ensinada, o que levanta outra questão conflituosa, já que o ensino de línguas estrangeiras passa a ser obrigatório apenas a partir do segundo ciclo do ensino fundamental (6 O ano), os professores não estão 746

sendo preparados para atuar no ensino com crianças. Tonelli e Cristovão (2010) consideram a ausência do tema como foco de atenção dos cursos de formação de Letras uma das problemáticas presentes no trabalho do professor de LI que atuará junto ao público infantil tornando a formação docente pobre e insuficiente. Esta controvérsia faz com que o profissional de Letras não esteja preparado para trabalhar com esta nova realidade que cresce a cada dia e que atinge aqueles profissionais que buscam emprego após terminarem seus cursos de graduação, por exemplo. Ainda nas palavras de Tonelli e Cristovão Entendendo que os cursos de Letras devam se adaptar às novas realidades e necessidades no desempenho do ensino de línguas é que defendemos a formação (inicial e continuada) de profissionais que possam também atuar em contextos de ensino de LIC. Nessa perspectiva, defendemos a formação global e plural do profissional de LIC e, para tal, acreditamos na necessidade da inserção de programas para a formação desse professor (...). (2010, p. 68) Isto posto, ressalta-se aqui o óbvio: a formação do profissional de LIC tem de ser diferenciada da formação do professor de LI para outras faixas etárias uma vez que os conhecimentos teórico-metodológicos e o perfil do professor de LIC é diferenciado. Crianças aprendem de maneiras diferentes, pertencem a uma realidade diferente do adulto por exemplo, dependendo da idade não são capazes de trabalhar com conceitos abstratos, o lúdico faz parte de sua realidade. O perfil destes alunos exige do professor um treinamento e formação diferenciados. Segundo Magalhães (2013, p. 248 e 249) o professor de LIC deve conhecer "características do desenvolvimento físico, social, emocional e cognitivo das diferentes faixas etárias." Ainda segundo a mesma autora, o professor também deve ter "prazer de ensiná-las, o domínio do idioma e o conhecimento teórico, além de doses generosas de paciência, afetividade, criatividade e dinamismo (2013, p. 241)". Tonelli e Cristovão também oferecem generosas contribuições a este debate, em relação aos assim chamados conhecimentos desejáveis a estes profissionais...entendemos que o professor de LIC deva: dominar a língua a ser ensinada/aprendida; considerar os contextos em que atua para poder transformar sua prática docente; exercer sua profissão bem fundamentado em bases teóricas, sem desconsiderar que prática e teoria estão intimamente imbricadas; dominar métodos e abordagens que sejam coerentes com as necessidades dos educandos; agir de forma 747

crítica e reflexiva nos contextos em que se encontra; entre outros aspectos. (2010, p. 68) Usando apenas destes exemplos, é possível perceber traços que tornam a formação do professor de LIC única e essencial para aqueles que querem trabalhar nesta área. Ainda outro desafio a ser vencido quanto ao ensino de LIC é a falta de parâmetros curriculares oficiais para este ensino (TONELLI, 2005; TONELLI e CRISTOVÃO, 2010; LIMA e MARGONARI, 2010), outras disciplinas curriculares possuem parâmetros que embasam o trabalho dos professores enquanto a língua inglesa depende de uma formação integral por parte do professor que, por não possuir parâmetros, deve criar seus próprios embasado em seu conhecimento teórico e/ou prático na área, reforçando a ideia de que os cursos de formação de professores não contemplam o ensino de LIC, podemos afirmar que mudanças curriculares nos cursos de formação destes professores devem ser implementadas o quanto antes. Pesquisas curriculares de universidades públicas do Paraná A fim de atingirmos o objetivo deste artigo, fizemos um levantamento dos currículos dos cursos de licenciatura em Letras/língua inglesa, ou dupla licenciatura (língua portuguesa e língua inglesa) das Universidades públicas do estado do Paraná, com a intenção de identificar se as Universidades têm se movido em vias de adaptar seus currículos a esta nova realidade e, assim, preparar seus (futuros) profissionais para atuar junto ao público infantil. É importante ressaltar que com isso não afirmamos que é possível esgotar a formação inicial de um professor de LIC durante um curso de formação inicial, porém acreditamos que os professores devam estar cientes desta realidade e minimamente preparados para trabalhar com ela. Com o objetivo de identificarmos possíveis ações para a formação continuada de professores de LI analisamos também as grades curriculares dos cursos de pósgraduação (lato e strictu sensu) destas mesmas universidades. No próximo item, apresentamos a metodologia de coleta e análise dos dados. 748

Metodologia Esta pesquisa foi realizada durante os dias 20 e 21 de outubro de 2013. Para a coleta dos dados, utilizamos primeiramente o website do Portal Brasil (http://www.portalbrasil.net/universidades_pr.htm) para encontrar as Universidades Públicas do Paraná. Durante a realização desta etapa da pesquisa, percebemos que este website não possuía a relação de todas as Universidades de nosso estado, portanto utilizamos também o website Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/anexo:lista_de_universidades_p%c3%bablicas_do_brasil). Identificadas as Universidades, visitamos os websites das mesmas para podermos então analisar seus currículos. Desde já apontamos questões problemáticas em relação a este levantamento, por exemplo, algumas das universidades não disponibilizavam suas grades curriculares e outras não as atualizavam há alguns anos. Além de alguns websites que estavam fora do ar. As Universidades Públicas encontradas nesta pesquisa foram: UFPR - Universidade Federal do Paraná UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná UEM - Universidade Estadual de Maringá (Campus Maringá e Educação a Distância) UEL - Universidade Estadual de Londrina UEPG - Universidade Estadual de Ponta Grossa UNICENTRO - Universidade Estadual do Centro-Oeste Paraná (Campus Irati e Campus Guarapuava) UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Campus Cascavel, Foz Do Iguaçu e Marechal Cândido Rondon) UENP - Universidade Estadual do Norte do Paraná (Campus Cornélio Procópio e Jacarezinho) UNESPAR- Universidade Estadual do Paraná FAFIPAR - Universidade Estadual do Paraná Campus Paranaguá FAFIPA - Universidade Estadual do Paraná Campus Paranavaí FAFIUV - Universidade Estadual do Paraná Campus União da Vitória 749

FECILCAM - Universidade Estadual do Paraná Campus Campo Mourão Dentre estas, não tivemos acesso aos currículos das universidades: FAFIPA, FAFIPAR e FAFIUV, pois as grades curriculares dos cursos de Letras Inglês e Letras Inglês /Português não estavam disponíveis em seus websites, por isso não podemos analisar se estas incluem ou não disciplinas que tratem especificamente do ensino de LIC. Dentre as outras, a única Universidade que possui em sua grade curricular uma disciplina específica que trata do ensino de LIC foi a UEM, em seu curso de educação a distância que oferta uma disciplina intitulada: Ensino de Língua Inglesa para Crianças e para Portadores de Necessidades Especiais Educacionais, com uma carga horária de 34 horas. Em relação aos cursos de pós-graduação lato e strictu sensu destas mesmas Universidades, nenhuma delas possuía um curso diretamente relacionado ao ensino de LIC. Reflexões finais A literatura acadêmica e os profissionais que trabalham nesta área reconhecem o a falta de formação inicial e/ou continuada dos professores de LIC (MAGALHÃES, 2013; RINALDI E FERNANDEZ, 2013; LIMA e MARGONARI, 2010; ROCHA, 2007; TONELLI e CRISTOVÃO, 2010; TONELLI e CHAGURI, 2014; entre outros). Todavia, durante a realização desta pesquisa, percebemos o quão modestas eram as adaptaçoes realizadas pelas universidades públicas do Paraná em vias de preparar seus alunos/professores para o trabalho com LIC. Como aponta Freitas (2010, p.203) A formação de professores de língua inglesa para crianças enfrenta muitos desafios, pois, embora haja necessidade de discussão sobre a formação deste professor, muitas vezes ela não se concretiza nos currículos de formação inicial." Atualmente, testemunhamos mudanças nesta realidade. A Universidade Estadual de Londrina, por exemplo, ofereceu em 2014 uma disciplina optativa para os cursos de pós-graduação (strictu sensu), disciplina intitulada: Língua Estrangeira para Crianças: Ensino-Aprendizagem e Formação Docente de 45 horas. A UEL também oferece disciplinas optativas durante o curso de graduação, além de estar em vias de iniciar um cursode pósgraduação (lato sensu) intitulado: Curso de Especialização em Ensino de Inglês para Crianças 750

na modalidade à distância que será ofertado no segundo semestre de 2014 pelo Núcleo de Educação a Distância (NEAD) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Embora novas iniciativas venham surgindo, estas ainda são modestas. Não podemos mais aceitar esta situação onde o a demanda de professores de LIC aumenta, enquanto a formação para este profissional não é suficientemente oferecida em cursos de formação inicial e/ou continuada. É preciso que as universidades incluam em seus currículos, tanto em nível de graduação quanto de pós-graduação, disciplinas que tratem do ensinoaprendizagem de LIC. Além disto, corroboramos o pensamento de Tonelli e Chaguri (2014) ao afirmarem ser indispensável que diretrizes para este ensino sejam desenvolvidas. Nas palavras de Tonelli e Chaguri (2014, p. 266) É preciso reforçar a urgência de políticas públicas que ofereçam amparo legal para que o ensino de LE seja uma realidade no contexto da EI orientando assim, a organização do currículo, a formação de professores para atuarem especificamente neste contexto e adequando estrutura da escola para esta nova realidade. Por isto, o ensino de uma LE na EI ainda que desejável precisa ser cuidadosamente planejado para que as crianças não peguem repulsa pela língua. O ensino de LIC proporciona oportunidades variadas de complementação a formação integral do cidadão, este ensino também possui inúmeras potencialidades, desde que seus docentes estejam preparados para este trabalho. Isto só é possível quando cursos de graduação e pósgraduação, assim como projetos de pesquisas, eventos de extensão, entre outras possibilidades dentro da comunidade acadêmica, ofereçam estas oportunidades aqueles que buscam uma complementação em sua formação acadêmica. A mudança parece em vias de acontecer, embora de maneira modesta, esperamos que o ensino de LIC se expanda para que mais profissionais da área possam ter a oportunidade de fazer um bom trabalho num contexto promissor que pode oferecer tantas possibilidades e tanto prazer aos envolvidos. 751

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Índice elaborado por Edson Seda. Curitiba: Governo do Estado do Paraná, 1994. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB no 07/2010, aprovado em 7 de abril de 2010. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Diário Oficial da União, Brasília, Seção 1, p. 10, 9 jul. 2010. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais (3º e 4º ciclos do ensino fundamental). Brasília: MEC, 1998. BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília: 1996. CRISTOVÃO, V. L. L.; TONELLI, J.R.A. O papel dos cursos de Letras na formação de professores de inglês para crianças. Calidoscópio, v.8, n.1, p. 65-76, 2010. LIMA, A. P.; MARGONARI, D. M. A prática de ensino e a formação de professores de inglês para crianças. In: ROCHA, C. H.; TONELLI, J. R. A.; SILVA, K. A da (Orgs). Língua estrangeira para crianças: ensino-aprendizagem e formação docente. Campinas: Pontes, p. 187-202, 2010. LINGUEVIS, A. M. Vamos ouvir a voz das crianças sobre aprender inglês na educação infantil. In: TONELLI, J. R. A.; RAMOS, S. G. M. O ensino de LE para crianças: reflexões e contribuições. Londrina: Moriá, p.137-154, 2007. TONELLI, J. R. A. Histórias infantis e o ensino de língua inglesa para crianças. In: TONELLI, J. R. A.; RAMOS, S. G. M. O ensino de LE para crianças: reflexões e contribuições. Londrina: Moriá, p.107-136, 2007. TONELLI, J. R. A; CHAGURI, J. P. A importância de uma língua estrangeira na educação infantil. In: TONELLI, J. R. A.; CHAGURI, J. de P. (Orgs) Espaço para reflexão sobre ensino de línguas. Maringá: EDUEM, p. 247-275, 2014. ROCHA, C. H. Reflexões e proposições sobre o ensino de LE para crianças no contexto educacional brasileiro. In: ALVAREZ, M. L. O. & SILVA, K. L. O. (Orgs) Linguística aplicada: múltiplos olhares. Campinas: Pontes, p. 71-107, 2007a. MAGALHÃES, V. B. O perfil e a formação desejáveis aos professores de língua inglesa para crianças. In: TONELLI, J. R. A.; CHAGURI, J. de P. (Orgs). Ensino de língua estrangeira para crianças: o ensino e a formação em foco. Curitiba: Appris, v.2, p. 239-260, 2013. RAJAGOPALAN, K. A língua estrangeira para crianças: Um tema no mínimo ambíguo. In: ROCHA, C. H.; TONELLI, J. R. A.; SILVA, K. A da (Orgs). Língua estrangeira para crianças: ensino-aprendizagem e formação docente. Campinas: Pontes, p. 9-12, 2010. 752