(Saudação à Mesa, ao CEE e ao Povo de Canudos)

Transcrição

1 (Saudação à Mesa, ao CEE e ao Povo de Canudos) (Agradecimentos) O sonho do povo de Canudos de ter um campus universitário começa a se transformar em realidade com a instalação do seu Campus Avançado. A liderança do Magnífico reitor José Bites, neste processo, foi fundamental. Ele anunciou a decisão quando da sua campanha eleitoral em visita à nossa comunidade acadêmica. No início do seu mandato me designou para coordenar as ações estratégicas de Canudos e a um só tempo elaborar o projeto da nova institucionalidade, o que fiz ao lado de Sérgio Guerra, Manoel Neto, Edmilson Ferreira e Adriana Fontes. Em paralelo, cuidamos de fortalecer a gestão do arcabouço aqui implementado há três décadas. Tenho tido o privilégio de estar envolvido nesta caminhada há 23 anos; seja à frente do CEEC, seja na direção do Departamento de Euclides da Cunha, seja como Pró-reitor de Planejamento e agora nesta Coordenação. Dediquei o melhor dos meus esforços, junto com uma plêiade de colegas, amigos, colaboradores, intelectuais e estudiosos da questão Canudos para ofertar a este município o que de direito lhe tem sido negado desde o final do século XIX. (Um repertório de realizações foi implementado pela UNEB com os seguintes destaques: 1. O Parque Estadual de Canudos criado pelo Prof. Edivaldo Boaventura, completou 30 anos no último dia 30 de junho, esta efeméride hoje está sendo comemorada. O Parque, a partir de 1997 foi efetivamente implantado, com demarcações de sitio históricoarqueológicos, pesquisas arqueológicas e infraestrutura adequada ao ambiente. 2) Implantação do Memorial Antônio Conselheiro. 3) Todo um legado produzido pelo CEEC. 4) As Ações dos últimos 5 anos do Projeto Canudos Fapesb/Uneb com investimentos econômicos, sociais, ambientais e fortalecimento do processo de organização popular com perspectivas emancipatórias).

2 Antônio Conselheiro e seus fieis e abnegados seguidores foram exterminados pelo exército brasileiro, mas o legado deles nos motivaram, nos emocionam e nos obrigam a continuar com uma nova batalha. A batalha de preservar a memória e a história da guerra fratricida aqui ocorrida e a batalha de contribuir para promover o desenvolvimento sustentável, não como modismo, mas fincado na eficiência econômica, na equidade social e na prudência ecológica. Estamos falando de uma região e de um município com um dos piores IDHs do país. A pobreza e a desigualdade são marcas de um modelo de desenvolvimento que relega o semiárido à exclusão dos processos civilizatórios. A indústria da seca foi e ainda é a face desse modelo. Temos um semiárido dos mais ricos em água do mundo e falamos em seca. Aqui temos o açude Cocorobó com capacidade de armazenamento de 245 milhões de m3 cúbicos de água e temos seca; com uma bacia hidráulica de ha o açude tem potencial para produzir 800 a toneladas de peixe por ano, ou seja 3 toneladas por dia, e produzimos quase nada; poderíamos irrigar 10 mil ha e irrigamos menos de 2 mil ha. Há 30 anos as águas do Vaza Barris beneficiavam 23 municípios, inclusive alguns bairros de Aracaju, em Sergipe. Hoje, ainda não levamos água para a zona rural de Canudos, desprovida de uma rede filamentosa de adutoras para cumprir este desiderato. Estas rápidas constatações são a evidência do fracasso da maioria das políticas públicas dirigidas à região. O coronelismo e o patrimonialismo ainda persistem, com um viés mascarado. É verdade que na última década o Nordeste foi a região que mais cresceu, mas do ponto de vista relativo estamos longe de encostar no progresso do sul-sudeste. É verdade, também, que Programas do governo Lula/Dilma

3 foram capazes de tirar da linha de pobreza um percentual majoritário dos 30 milhões de pessoas que escaparam dessa vergonhosa situação no país; mas a região precisa mais, precisa de investimento, infraestrutura, reforma agrária, universalização da saúde e educação de boa qualidade. Pensar em desenvolvimento é pensar nessas questões, associadas à preservação ecológica notadamente do bioma caatinga e de um processo emancipatório tendo como substrato a efetiva participação popular. Peço-lhes um momento de reflexão: não deixemos que o combate às ações deletérias e de corrupção em voga neste momento no país, e que devemos reforçá-lo, não seja apanágio para os setores retrógrados e conservadores com suas históricas artimanhas, poderem ameaçar o processo democrático, tão duramente construído pelo povo brasileiro. De igual modo, devemos combater todo e qualquer tipo de preconceito, seja racial ou de gênero, hoje tão bem articulado por setores atrasados e de seitas religiosas oportunistas. A universidade está intimada a pensar e a construir com a população alternativas de desenvolvimento. Pesquisa, ensino e extensão precisam refletir essa realidade. Sem a pretensão e sem a arrogância acadêmica o que se faz aqui nos Sertões de Canudos é aprimorar o pensamento crítico sobre o desenvolvimento do semiárido, tão bem defendido por inúmeras entidades e instituições comprometidas, tais como a ASA, o Irppa, a Igreja Católica, o Instituto Popular Memorial de Canudos e dezenas de

4 Associações e Sindicatos aqui unificados em um Fórum com mais de 60 organizações. A tarefa irrecusável do Campus Avançado de Canudos é de abrigar todos que buscam a transformação da sociedade; avançar na gestão eficiente do Parque Estadual de Canudos para além de propostas mirabolantes e oportunistas: no primeiro momento, concluir o processo de reorganização fundiária e concomitantemente elaborar o Plano de Manejo Sustentável; implantar os cursos de ensino à distancia que dormitam na Capes/Mec há mais de um ano à espera da admissibilidade e criação do pólo; contribuir para conquistar os 12 pontos da Agenda Canudos apresentada aos candidatos ao Governo da Bahia em 2014 destaque para o saneamento básico do município, a cidade cenográfica, a reorganização e requalificação do Perímetro Irrigado, consolidação do Hospital Local e a gestão da política de educação contextualizada, com reformas infraestruturais e do pensamento pedagógico; reativar o Núcleo de Áudio Visual; implementar o Centro de Vocação Tecnológica e o Museu da Cidade que serão repassados à Uneb pelo Prefeito Genário Rabelo, consolidando assim a parceria estratégica estabelecida com o Poder Local e que já deu certo com a UATI, UPT e o PARFOR. Poderia insistir falando em dilemas e em ações virtuosas. Mas fico por aqui, com o coração cheio de esperanças e a convicção de que vamos transpor os himalaias do mundo inteiro, se preciso for, para a superação dos graves problemas regionais e locais, tendo como premissa a construção de políticas públicas efetivas de convivência com o semiárido,

5 a partir de Canudos, a partir deste Campus Avançado. Somente assim seremos fiéis ao ideário sagrado de Antônio Conselheiro.