PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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1 Certificado digitalmente por: STEWALT CAMARGO FILHO PODER JUDICIÁRIO REEXAME NECESSÁRIO Nº COMARCA DE PALOTINA VARA CÍVEL, DA FAZENDA PÚBLICA, ACIDENTES DO TRABALHO, REGISTROS PÚBLICOS E CORREGEDORIA DO FORO EXTRAJUDICIAL, JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA REMETENTE: AUTOR: RÉUS: RELATOR: JUIZ DE DIREITO GILMAR SCALABRIN MUNICÍPIO DE PALOTINA/PR DES. STEWALT CAMARGO FILHO REEXAME NECESSÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCESSÃO DA ORDEM. SENTENÇA SUJEITA AO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO (ART. 14, 1º, DA LEI Nº /2009). ITBI. ALÍQUOTA DO TRIBUTO CALCULADA SOBRE CONSTRUÇÃO FUTURA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS Nº 110 E 470 DO STF. BASE DE CÁLCULO QUE DEVE CORRESPONDER AO VALOR VENAL DO IMÓVEL (ART. 38 DO CTN), NO MOMENTO DA TRANSMISSÃO. APLICAÇÃO DA ALÍQUOTA DE 1% SOBRE O VALOR FINANCIADO PELO SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO (ART. 48, INCISO I, DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO MUNICIPAL). DIREITO LÍQUIDO E CERTO VIOLADO. SENTENÇA CONFIRMADA EM REEXAME NECESSÁRIO. VISTOS. Página 1 de 7

2 I. Trata-se de Reexame Necessário da r. sentença (mov. 26.1), que julgou procedente o pedido formulado na inicial, para conceder a segurança pleiteada por Gilmar Scalabrini, autorizando o impetrante a realizar a transferência do imóvel pagando-se somente o imposto devido sobre o imóvel existente, no presente caso o terreno, restando o impetrado impedido de aplicar penalidades pelo não recolhimento do ITBI sobre a construção futura, confirmando os termos da liminar antes deferida. O Município de Palotina foi condenado ao pagamento das custas e despesas processuais. Não houve fixação de honorários advocatícios, diante da incidência das súmulas 105 do STJ e 512 do STF. A decisão foi submetida ao reexame necessário, por força do artigo 14, 1º, da Lei nº /2009. O parecer ministerial definiu-se pela confirmação da sentença (f. 14/14). É o relatório. II. Conheço da remessa necessária, nos termos do art. 14, 1º, da Lei nº /2009, uma vez que concedida a segurança pleiteada. A sentença deve ser confirmada por seus próprios fundamentos. Versam os autos sobre mandado de segurança impetrado por Gilmar Scalabrin, apontando a ilegalidade da cobrança realizada pelo Município de Palotina, no que se refere à base de cálculo e aplicação da alíquota de ITBI. Na inicial, o impetrante alegou que adquiriu um terreno, sem benfeitorias, no valor de R$ ,00 (cinquenta mil reais), Página 2 de 7

3 com recursos 100% financiados pela Caixa Econômica Federal, conforme contrato por Instrumento Particular de Compra e Venda anexado aos autos. O bem foi adquirido para construção futura de uma casa residencial, a ser financiada pelo Sistema Financeiro de Habitação, através do Programa Minha Casa Minha Vida, no valor de R$ ,43 (oitenta e seis mil novecentos e cinquenta e três reais e quarenta e três centavos). Porém, ao gerar a guia de pagamento de ITBI, constatou que a Prefeitura de Palotina realizou a cobrança de 2% (dois por cento) sobre operação futura, pois incluiu, na base de cálculo, a construção da casa que será erguida no terreno, quando o correto seria cobrar a alíquota de 1% sobre R$ ,00 (cinquenta mil reais), que corresponde ao valor do terreno não edificado, no momento da transmissão. Da análise dos documentos acostados aos autos (mov. 1.4 e 1.5), verifica-se, de fato, a ilegalidade da cobrança. No Documento de Arrecadação Municipal (mov. 1.5, p. 24), consta a aplicação da alíquota de 2% (dois por cento) sobre a base de cálculo de R$ ,29 (setenta e três mil seiscentos e noventa e oito reais e vinte e nove centavos), que corresponde aos recursos próprios do autor investidos no negócio (R$ ,29) e desconto relativo à utilização do FGTS (12.469,00). Incidiu, ainda, a alíquota de 1% (um por cento) sobre o valor de R$ ,14 (sessenta e três mil duzentos e cinquenta e cinco reais e quatorze centavos), relativo ao valor financiado pela Caixa Econômica Federal, pelo Programa Minha Casa Minha Vida, para compra do terreno e construção do imóvel. No entanto, nos termos do artigo 38 do Código Tributário Nacional, a base de cálculo do imposto é o valor venal dos bens Página 3 de 7

4 ou direitos transmitidos, que, na situação concreta, compreende somente o valor venal do terreno no momento da transmissão, ou seja, R$ ,00. A cobrança na forma como realizada pelo Município de Palotina contraria a orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal no sentido de que o Imposto de Transmissão Inter Vivos incide somente sobre o que tiver sido construído ao tempo da alienação do terreno, e não sobre a construção, ou parte dela, realizada pelo adquirente posteriormente, conforme preceituam as Súmulas nºs 110 e 470, in verbis: Súmula 110 O imposto de transmissão inter vivos não incide sobre a construção, ou parte dela, realizada pelo adquirente, mas sobre o que tiver sido construído ao tempo da alienação do terreno. Súmula 470 O imposto de transmissão inter vivos não incide sobre a construção, ou parte dela, realizada, inequivocamente, pelo promitente comprador, mas sobre o valor do que tiver sido construído antes da promessa de venda. Nesse contexto, o ITBI deve ser calculado na forma prevista no art. 48, I, do Código Tributário do Município de Palotina, que prevê a aplicação da alíquota de 1% (um por cento) nas aquisições de casa própria financiada pelo Sistema Financeiro da Habitação, sem contemplar a construção futura, conforme determinado na sentença de origem. Destarte, a decisão de concessão da ordem deve ser confirmada, pois está em consonância com o entendimento jurisprudencial. No mesmo sentido, confira-se aresto do Superior Tribunal de Justiça: Página 4 de 7

5 PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. ITBI. BASE DE CÁLCULO. TERRENO NÃO EDIFICADO, COM POSTERIOR CONSTRUÇÃO. VIOLAÇÃO DOS ARTS DO CC/2002 E 38 DO CTN. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE COMANDO NORMATIVO SUFICIENTE PARA INFIRMAR O FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. APLICAÇÃO DA SÚMULA 284/STF. DEFINIÇÃO DO ASPECTO TEMPORAL DO FATO GERADOR. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. (...) omissis V. Ademais, ainda que superados todos os óbices, o Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento de que o Imposto de Transmissão Inter Vivos (ITBI) não incide sobre a construção, ou parte dela, realizada pelo adquirente, mas sobre o que tiver sido construído ao tempo da alienação do terreno, nos termos das Súmulas 110 e 470 do STF. VI. No caso dos autos, é incontroversa a situação fática, consistente na realização de permuta entre um imóvel não edificado, por quatro salas, posteriormente construídas pelo adquirente do terreno, pretendendo a Municipalidade que o valor do ITBI seja calculado considerando o valor do imóvel com as edificações realizadas após a realização do negócio jurídico. VII. Agravo Regimental improvido. (STJ, AgRg no REsp /RN, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, DJe 30/09/2014) A ilegalidade da cobrança, na forma como praticada pelo Município de Palotina, em situações semelhantes, vem sendo reconhecida pelas Câmaras Especializadas deste Tribunal de Justiça, que possuem entendimento pacífico sobre o assunto. Veja-se: Página 5 de 7

6 REEXAME NECESSÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. IMPOSTO SOBRE A TRANSMISSÃO DE BENS IMÓVEIS E DE DIREITOS A ELES RELATIVOS (ITBI). BASE DE CÁLCULO. ARTIGO 38 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. IMPOSTO QUE NÃO INCIDE SOBRE A CONSTRUÇÃO A SER REALIZADA PELO ADQUIRENTE. INTELIGÊNCIA DAS SÚMULAS 110 E 470 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PRECEDENTE DESTA CÂMARA. SENTENÇA MANTIDA EM SEDE DE REEXAME NECESSÁRIO. (TJPR 1ª CC RN nº Palotina Rel. Fernando César Zeni Decisão Monocrática DJe 07/12/2016). REEXAME NECESSÁRIO - MANDADO DE SEGURANÇA - IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO DE BENS IMÓVEIS (ITBI) - IMPOSSIBILIDADE DE TRIBUTAÇÃO SOBRE VALOR DE CONSTRUÇÃO FUTURA - DIREITO LÍQUIDO E CERTO VIOLADO - SEGURANÇA CONCEDIDA - SENTENÇA MANTIDA. (TJPR - 3ª CC - RN Palotina - Rel.: Marcos S. Galliano Daros - Unânime DJe ) TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. ITBI. CONTRATO DE FINANCIAMENTO CELEBRADO ENTRE O IMPETRANTE E A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL PARA AQUISIÇÃO DE TERRENO E CONSTRUÇÃO DE EDIFICAÇÃO PELO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA.BASE DE CÁLCULO DO ITBI QUE DEVE CORRESPONDER AO VALOR VENAL DO BEM TRANSMITIDO (CTN, ART. 38 E CÓDIGO TRIBUTÁRIO MUNICIPAL DO MUNICÍPIO DE PALOTINA, ART. 45). INCLUSÃO DE VALORES RELATIVOS À CONSTRUÇÃO DE OBRA FUTURA.IMPOSSIBILIDADE. ENUNCIADO DASSÚMULAS 110 E 470 DO STF. CONCESSÃO DA ORDEM PARA AUTORIZAR A TRANSFERÊNCIA DO BEM, MEDIANTE PAGAMENTO DO ITBI A INCIDIR TÃO SOMENTE SOBRE O VALOR DO IMÓVEL EXISTENTE (TERRENO DESPROVIDO DE EDIFICAÇÕES), NA ALÍQUOTA DE 1% (LCM, ART. 48). SENTENÇA MANTIDA EM REEXAME NECESSÁRIO. Página 6 de 7

7 (TJPR - 2ª CC - RN Palotina - Rel.: Lauro Laertes de Oliveira - Unânime DJe ) Destarte, deve ser confirmada a sentença de concessão da ordem para autorizar a transferência do imóvel mediante o pagamento de ITBI incidente apenas sobre o valor do terreno não edificado, excluindo da base de cálculo os valores relativos à construção futura. Também deve ser mantida a responsabilidade pelo ônus sucumbencial, nos termos determinados na decisão de origem. Do exposto, voto no sentido de confirmar, integralmente, a sentença em reexame necessário. III. ACORDAM os Desembargadores integrantes da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em confirmar a sentença em reexame necessário. Participaram do julgamento presidido pelo Desembargador GUIMARÃES DA COSTA, o Desembargador SILVIO DIAS, e o Juiz Substituto em 2º grau CARLOS MAURÍCIO FERREIRA. Curitiba, 07 de março de Des. Stewalt Camargo Filho Relator Página 7 de 7