TERCEIRIZAÇÃO DE ATIVIDADE-FIM : IMPACTOS NA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Transcrição

1 TERCEIRIZAÇÃO DE ATIVIDADE-FIM : IMPACTOS NA PREVIDÊNCIA SOCIAL Guilherme Guimarães Feliciano Anamatra 2017

2 TERCEIRIZAÇÃO DE ATIVIDADE-FIM NO BRASIL: EVOLUÇÃO LEGISLATIVA E JURISPRUDENCIAL

3 TERCEIRIZAÇÃO DE ATIVIDADE-FIM: EVOLUÇÃO DA MATÉRIA Lei n /1974 (trabalho temporário). A jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 256 do TST (temporários e vigilantes). Súmula n. 331 do TST: atividade-fim vs. atividade-meio (subordinação/pessoalidade). Zonas gríseas e segurança jurídica. Lei n /2017: empresa prestadora de serviços determinados e específicos. Silêncio quanto às atividadesfim (art.4º-a). Lei n /2017 (Reforma Trabalhista): qualquer atividade, inclusive a sua atividade principal (art.4º-a). Legalização definitiva da possibilidade jurídica de terceirização de atividade-fim. Constitucionalidade?

4 TERCEIRIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL: A DIMENSÃO DA REALIDADE

5 TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL. O DADO DA REALIDADE (1) Terceirizados percebem remuneração 27,1% inferior à dos trabalhadores diretos (terceirização achatamento salarial). Setores contratantes pagavam, em média, aos seus empregados, salários de R$ 1.824,20, enquanto que os setores terceirizados remuneravam seus trabalhadores com o montante médio de R$ 1.329,40 (DIEESE, ). Impactos inexoráveis em um modelo de RGPS baseado na tributação dos rendimentos do trabalho e da folha de salários (art. 195, I, a, e II, CF). Salários e benefícios diferenciados pelos métodos de gestão. Aos contratados diretamente pelo tomador dos serviços são assegurados salários e demais contrapartidas em valores significativamente superiores (inclusive pela via da negociação coletiva), quando comparados àqueles assegurados aos empregados da terceirizada. Malferimento à isonomia constitucional, tendente a um quadro galopante de desigualdade social: concentração de trabalhadores terceirizados na faixa salarial que recebe de um a dois salários e de dois a três salários mínimos (enquanto os trabalhadores diretos estão mais distribuídos entre as várias faixas salariais). A maior rotatividade de mão de obra. Empregados diretos: permanência média no emprego por 5,8 anos; terceirizados: permanência média no emprego por apenas 2,6 anos (Fonte: IPEA), amiúde com períodos intercalares de informalidade. Consequências para as finanças públicas (elevação do número de beneficiários do seguro-desemprego e aumento da concessão de aposentadorias por idade, sem a contribuição de 35 anos).

6 TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL. O DADO DA REALIDADE (2) Consolidação de quadros sociológicos de preconceito e discriminação contra os trabalhadores terceirizados. Contextos de assédio moral. A dinâmica de discriminação e preconceito contra trabalhadores terceirizados faceta da terceirização não indicada nas estatísticas, mas que é bastante dolorida para quem vivencia em seu cotidiano contribui para a segregação no espaço de trabalho, com a indicação dos terceiros como trabalhadores/cidadãos de segunda classe, sem ressonância, permeados de ausências e sombras. (AMORIM, Helder Santos; DELGADO, Gabriela Neves. Os limites constitucionais da terceirização. São Paulo: LTr, 2014, p. 16). Incremento setorial do número de acidentes de trabalho e mortes decorrentes do trabalho. Dados de 2005 (DIEESE): de cada 10 acidentes de trabalho, 8 referem-se a empresas terceirizadas, sendo que nos casos de morte decorrente do trabalho, 4 das 5 ocorrências foram registradas em empresas terceirizadas. Ainda em termos médios, 80% dos acidentes de trabalho estão ligados à prestação de trabalho terceirizado. A terceirização tende a facilitar o trabalho degradante e análogo ao de escravo (artigo 149/CP). Pesquisa realizada a partir dos dez maiores casos de resgates de trabalhadores em condições análogas a de escravos em (SIT/AFT) : dos trabalhadores resgatados, eram terceirizados. Na derivação: 85% dos trabalhadores submetidos às condições análogas à de escravo eram terceirizados.

7 TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL. O DADO DA REALIDADE (3) Organização Internacional do Trabalho (Informe anual, ): Dois terços dos trabalhadores brasileiros não têm contratos permanentes, o que significa que há maiorias que não contam com direitos trabalhistas ou sociais regulares. O desemprego no Brasil caiu de 9,5% em 2000 para 6,8% ao final de 2014; atualmente, estimam-se 14 milhões de desempregados. Ainda em 2014, porém, 66,9% dos trabalhadores viviam de contratos temporários. A taxa é inferior à da China ou da Índia, com mais de 90% dos trabalhadores nesta situação, mas está distante das maiores economias de livre mercado. Nas grandes economias, apenas 17% dos trabalhadores, em média, não contam com contratos permanentes. Nos EUA, a taxa cai para apenas 13%. Hoje, no mundo, apenas um quarto dos trabalhadores tem uma relação estável e duradoura com o empregador; 76,3% contam apenas com contratos de curto prazo ou temporários. Entre os assalariados, aqueles sem contratos permanentes ganham em média 42% a menos que os empregados fixos. Vínculos trabalhistas precários + redução da massa salarial = vínculos previdenciários irregulares e queda global de arrecadação previdenciária.

8 TERCEIRIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL. A ATUAL DIMENSÃO LEGAL- POSITIVA: Lei n /2017 ( Reforma Trabalista )

9 LEI n /2017: TERCEIRIZAÇÃO PRECARIZANTE Sanção da Lei n /2017 ( vacatio legis de 120 dias: 11/11/2017). Terceirização de atividade-fim. Perspectivas. Manifestação dos Ministros do Tribunal Superior do Trabalho ( ). Liberalização/universalização da terceirização na economia e na sociedade brasileiras. Em quaisquer segmentos econômicos ou profissionais, para quaisquer atividades ou funções, desde que a empresa terceirizada seja especializada naquela prestação (modelo italiano?). Insegurança jurídica. Inexistência de mínimas garantias de isonomia entre os trabalhadores efetivos e os terceirizados (= a terceirização como vantagem competitiva pela via do solapamento dos direitos sociais). Os direitos e garantias dos trabalhadores terceirizados são manifestamente inferiores aos dos empregados efetivos, principalmente pelos níveis de remuneração e contratação significativamente mais modestos. Reflexos negativos nos mercados internos de trabalho e consumo e impacto ampliado nos cofres do Regime Geral da Previdência Social. Esvaziamento do conceito constitucional e legal de categoria profissional (= debilitação sindical). Achatamento e homogeneização dos mercados de trabalho, reduzindo-se imenso contingente de trabalhadores à condição anódina de «prestadores de serviços» (e já não mais bancários, metalúrgicos, comerciários etc.). Inexistência de garantias fiscais e securitárias bastantes. Aumento dos níveis de sinistralidade na indústria. Sobrecarga adicional no Sistema Único de Saúde (SUS). Provável déficit fiscal e previdenciário acentuado, pela queda global da massa salarial. Comprometimento das balizas da EC n. 95 ( Novo Regime Fiscal ).

10 TERCEIRIZAÇÃO E DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO

11 TERCEIRIZAÇÃO, DIGNIDADE E DIDH Convenção OIT n. 155 (SST) Art. 17. Sempre que duas ou mais empresas desenvolvam simultaneamente atividade num mesmo lugar de trabalho terão de colaborar na aplicação das medidas preventivas no presente convênio. Convenção n. OIT n. 167 (SST na construção civil) Art. 8º Quando dois ou mais empregadores estiverem realizando atividades simultaneamente na mesma obra: a) a coordenação das medidas prescritas em matéria de segurança e saúde e [...] a responsabilidade de zelar pelo cumprimento efetivo de tais medidas recairão sobre o empreiteiro ou sobre outra pessoa ou organismo que estiver exercendo controle efetivo ou tiver a principal responsabilidade pelo conjunto de atividades na obra. Responsabilidade solidária em matéria de meio ambiente dotrabalho

12 TERCEIRIZAÇÃO, DIGNIDADE E DIDH Convenção n. 94 (Cláusulas de Trabalho em Contratos com Órgãos Públicos) Art Os contratos aos quais se aplica a presente convenção conterão cláusulas garantindo aos trabalhadores interessados salários, inclusive os abonos, um horário de trabalho, e outras condições de trabalho que não sejam menos favoráveis do que as condições estabelecidas para um trabalho da mesma natureza, na profissão ou indústria interessada da mesma região: a) seja por meio de convenção coletiva [...]; b) seja por meio de sentença arbitral; c) seja por meio da legislação nacional. 2. Quando as condições de trabalho mencionadas no parágrafo precedente não estiverem regulamentadas segundo uma das modalidades acima indicadas, na região em que o trabalho é efetuado, as cláusulas que deverão ser inseridas nos contratos garantirão aos trabalhadores salários, inclusive abonos, um horário de trabalho e outras condições de trabalho que não sejam menos favoráveis de que: a) sejam as condições estabelecidas [...] para um trabalho da mesma natureza na profissão ou na indústria interessadas da região análoga mais próxima; b) seja o nível geral observado pelos empregadores pertencentes à mesma profissão ou à mesma indústria que a parte com a qual é firmado o contrato, e que se encontrem em circunstâncias análogas.

13 TERCEIRIZAÇÃO, DIGNIDADE E DIDH Convenção 111 (Discriminação no trabalho) Art Para os fins da presente convenção o termo discriminação compreende: a) toda distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo, [...] ou origem social, que tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidade ou de tratamento em matéria de emprego ou profissão; b) qualquer outra distinção, exclusão ou preferência que tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou tratamento em matéria de emprego ou profissão [...]. Recomendação 198 (Elementos da relação de emprego) 4. Políticas nacionais devem ao menos incluir medidas para: (...) b) combater as relações de trabalho disfarçadas [...], notando que uma relação de trabalho disfarçada ocorre quando o empregador trata um indivíduo diferentemente de como trataria um empregado, de maneira a esconder o verdadeiro status legal dele ou dela como um empregado, e estas situações podem surgir onde acordos contratuais possuem o efeito de privar trabalhadores de sua devida proteção.

14 CONCLUSÕES

15 BONAVIDES, Paulo: (...) em termos de legitimidade e democracia, jamais há de prosperar, em países periféricos, Estado de Direito sem Estado Social. Mas os neoliberais da democracia negativa não têm, a esse respeito, o mesmo entendimento. Forcejam por passar certidão de óbito à intangibilidade da garantia que protege os direitos sociais na Constituição. Enquanto não logram esse desiderato, buscam mantê-los instáveis, debaixo da ameaça de revogação, ou como se isto já fora possível fazê-los retroceder vazios às esferas programáticas da Constituição, isto é, ao tempo em que permaneceram relegados ao esquecimento e abandono na época clássica do constitucionalismo liberal. (...).

16 Visão «apocalíptica»? «Parternalismo» do garantismo social? "Classe, exploração, mais-valia, lucro, pauperização, ruína são momentos da totalidade conceitual. O sentido não deve ser buscado na reprodução da sociedade atual, mas na sua transformação. Por isso, para o modo de julgar dominante, a teoria crítica aparece como subjetiva e especulativa, parcial e inútil, embora ela não proceda nem arbitrariamente nem ao acaso. Como ela contraria o modo de pensar existente que permite a continuidade do passado favorecendo os interesses da ordem ultrapassada, e se opõe aos garantes de um mundo partidário, a teoria crítica aparenta ser partidária e injusta". (HORKHEIMER, Max."Teoria tradicional e teoria crítica")... Da força à injustiça há só um passo (Confúcio). Há que bem regrar para libertar.

17 ...OBRIGADO!