Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº PR (2012/ ) RELATOR : MINISTRO SIDNEI BENETI RECORRENTE : SANDIVAL VIGIANI ADVOGADO : ELISON LUIZ CALEGARI E OUTRO(S) RECORRIDO : UNIBANCO UNIÃO DE BANCOS BRASILEIROS S/A ADVOGADO : LUCIANO CORREA GOMES E OUTRO(S) ADVOGADOS : LIVIA BORGES FERRO FORTES ALVARENGA E OUTRO(S) MARCELO CAVALHEIRO SCHAURICH E OUTRO(S) DECISÃO 1.- SANDIVAL VIGIANI interpõe Recurso Especial, com fundamento nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional contra Acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (Rel. Des. HAMILTON MUSSI CORRÊA) proferido em autos de ação revisional de contrato bancário, em que são discutidos os encargos pactuados, assim ementado (e-stj fls. 931/932): Revisional. Abertura de crédito em conta-corrente. Juros Capitalização mensal. Comissão de permanência. Repetição do indébito. 1. A inversão do ônus da prova não se confunde com a dispensa do autor de demonstrar o fato constitutivo do seu direito. 2. Mantêm-se as taxas de juros flutuantes cobradas pelo banco no contrato de crédito em conta-corrente quando o correntista se limita a pedir sua redução a 6% ou 12% ao ano, sem demonstrar serem as taxas aplicadas abusivas ou além daquelas usualmente praticadas pelo mercado. 3. Embora seja vedada a capitalização mensal de juros, tal prática não ocorre quando os créditos mensais lançados em conta-corrente tenham superado os juros cobrados, sem que estes passassem a integrar o principal, na forma determinada pelo artigo 354 do Código Civil de 2.002, correspondente ao artigo 991, do Código Civil de A cobrança de comissão de permanência é indevida quando não provada sua pactuação. 5. Determinado o expurgo da comissão de permanência, é devida a dedução dos valores cobrados a maior, de forma simples, tendo em vista o princípio que veda o enriquecimento Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 12/12/2012 Página 1 de 6

2 sem causa do credor, não se exigindo prova de que o pagamento se deu por erro, como dispõe o art. 877, do Código Civil vigente, por não se tratar de hipótese que se amolde ao pagamento indevido com fulcro no artigo 876 do Código Civil. Entretanto, é devida a repetição do indébito em dobro, conforme previsão do art. 42, parágrafo único, do CDC, tão só naquelas hipóteses em que há prova de que o credor agiu com comprovada má- fé. Apelação provida em parte. 2.- Em suas razões de Recurso Especial, alega o recorrente violação dos arts. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor; 354 do Código Civil, bem como dissídio jurisprudencial, sustentando: a) que diante da ausência de comprovação do banco de que não houve cobrança de juros capitalizados e da inversão do ônus da prova deferida na origem, não poderia o Acórdão concluir no sentido de que inexistiu, no caso, capitalização dos juros; e b) a inaplicabilidade da imputação do pagamento em contrato em que há relação de consumo. 3.- Sem contrarrazões (e-stj fls. 967), o recurso foi admitido na origem (e-stj fls. 969/971). É o breve relatório. 4.- Os temas já estão pacificados pela jurisprudência firmada nesta Corte, de modo que o recurso deve ser julgado monocraticamente pelo Relator, segundo orientação firmada, com fundamento no art. 557 do CPC, desnecessário, portanto, o envio às sobrecarregadas pautas de julgamento deste Tribunal. 5.- Inicialmente registre-se que o Acórdão recorrido não se manifestou a respeito da alegada inaplicabilidade da regra da imputação do pagamento em contrato em que haja relação de consumo. Tampouco foram interpostos Embargos de Declaração com a finalidade de provocar a discussão da questão suscitada pelo recorrente. O tema carece, portanto, do devido prequestionamento, incidindo à espécie o óbice da Súmula 282 do Supremo Tribunal Federal. 6.- A respeito da inversão do ônus da prova e da presunção de Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 12/12/2012 Página 2 de 6

3 veracidade dos fatos alegados pelo Recorrente, verifica-se que o Colegiado estadual concluiu com base nos seguintes fundamentos: A petição inicial veio instruída com cálculos em que foi apontada a ocorrência de capitalização de juros. Entretanto, as indicações ali constantes conflitam-se com os extratos trazidos pelo próprio autor. Isto porque, para que ocorra a capitalização mensal de juros em contratos de conta-corrente é necessário que a cada mês os valores creditados sejam interiores aos dos juros lançados sobre o saldo devedor, pois conforme dispõe o artigo 354 do Código Civil de equivalente ao artigo 993 do Código Civil de 1.916, 'havendo capital e juros, o pagamento imputar- se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital. salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital. Assim, nos meses em que os depósitos são superiores aos juros não ocorre a capitalização destes, que são imputados antes do principal na forma do artigo referido. Ou seja, a capitalização mensal dos juros só ocorre quando a amortização é negativa. No caso. é evidente que a regra legal de imputação ao pagamento não foi observada no cálculo que instruiu a petição inicial. E emblemática a situação exposta na inicial relativa ao mês de agosto de que se estende ao período em que o contrato é revisado. Naquele mês alegou o autor haver sido cobrada a importância de R$ 11,91 "a maior pelo efeito anatocismo" (f 9>. quando pelos extratos juntados às ts. 193/1 98 consta o débito de R$ 6,45 de juros, em 02.08, inferior, portanto, aos créditos lançados no penaodo. São créditos do mes: R$ 5363 em 03/08: RS em 04/08, R$1 10,38 em 05/08. R$ 8.71, R$ 370,00 e RS 62,06 em 06/08; R$ em 08/08: R$ em 10/08: R$ 0,58 em 13/08; R$ em 19/08; R$ 80,50 em 23/08: R$ em 25/08, R$ 210,00 em 27/08 K 0Ú ,39 em 30/108. Deste modo, sendo evidente que os lançamentos superaram os juros do mês anterior, equivoca-se o laudo contábil unilateral juntado pela autora ao apontar a capitalização de juros pela incorporação ao saldo da conta-corrente e à base de cálculo dos juros subsequentes em junho e julho/1998 (f. 238). Portanto, como nios extratos trazidos constam vários depósitos com lançamentos de crédito, resta afastada a presunção de Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 12/12/2012 Página 3 de 6

4 ocorrência de capitalização no contrato de conta-corrente. Repita-se que apesar de ser aplicável o CDC á relação em exame e deferida a inversão do ônus da prova, esta não se confunde com a dispensa da parte autora de demonstrar o fato constitutivo do seu direito, nem gera a presunção de ocorrência da capitalização mensal de juros. Assim, sem que a parte autora tenha apontado de modo específico qualquer período em que tenha ocorrido a capitalização mensal de juros em atenção á regra do artigo 354 do CC, não sendo evidente a ocorrência da pratica. impõe-se a reforma da sentença na parte em que reconheceu tal cobrança e determinou seu expurgo. Assim, para infirmar os fundamentos do Acórdão recorrido e acolher a tese sustentada pelo recorrente seria necessário proceder à interpretação de cláusulas contratuais e ao reexame de provas, o que é vedado nesta instância, a teor das Súmulas 5 e 7 desta Corte. Acerca do tema, o seguinte precedente: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. VÍCIOS NA CONSTRUÇÃO DO IMÓVEL. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. REEXAME DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS 5 E 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. IMPROVIMENTO. 1.- A análise da alegação recursal demandaria a interpretação de cláusulas contratuais e o reexame do conjunto fático-probatório, obstado nesta instância, conforme o disposto nas Súmulas/STJ 5 e O agravo não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar a conclusão alvitrada, a qual se mantém por seus próprios fundamentos. 3.- Agravo Regimental improvido. (AgRg no AREsp /RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/04/2012, DJe 08/05/2012) 7.- Cumpre observar ainda que, conforme dispõe o artigo 131 do Código de Processo Civil, é de se ter presente que o destinatário final das provas Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 12/12/2012 Página 4 de 6

5 produzidas é o juiz, a quem cabe avaliar quanto à sua suficiência e necessidade, em consonância com o disposto no parte final do artigo 130 do CPC. Como é cediço, o juiz apreciando as provas dos autos, poderá julgar a causa de acordo com o seu livre convencimento, avaliando a suficiência das provas. Aliás, é firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que compete às instâncias ordinárias exercer juízo acerca das provas produzidas, haja vista sua proximidade com as circunstâncias fáticas da causa, cujo reexame é vedado em âmbito de Especial, a teor do enunciado 7 da Súmula deste Tribunal. A propósito: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 05 E 07 DO STJ. DISCUSSÃO AFETA AO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO DO MAGISTRADO. AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. O aresto ora hostilizado deu por suficiente a simples análise do contrato celebrado entre as partes para saber se era ou não oneroso. Tal conclusão, definitivamente, não se desfaz sem a apreciação detida do instrumento contratual, circunstância que atrai a incidência das súmulas 05 e 07 desta Corte. 2. Ademais, a análise da plausibilidade da prova requerida é questão afeta ao livre convencimento motivado do magistrado, não configurando nulidade ou cerceamento de defesa o indeferimento de provas reputadas imprestáveis ao deslinde da controvérsia. 3. Agravo regimental conhecido e improvido. (AgRg no Ag /RS, Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe 09/03/2009); AGRAVO REGIMENTAL - CONTRATO DE SEGURO DE VIDA - JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE - POSSIBILIDADE - CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA - NÃO-OCORRÊNCIA - INCAPACIDADE ABSOLUTA - DEVER DE INDENIZAR - CARACTERIZAÇÃO - ENTENDIMENTO OBTIDO DA ANÁLISE DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO - IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME NESTA INSTÂNCIA ESPECIAL - APLICAÇÃO DO ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA /STJ - AGRAVO Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 12/12/2012 Página 5 de 6

6 IMPROVIDO. (AgRg no REsp /SC, Rel. Min. MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, DJe 29/04/2009); AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. CERCEAMENTO DE DEFESA. DANO MORAL. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 07/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADO. 1. Não se verifica a suscitada violação ao art. 535 do CPC, porquanto as questões submetidas ao Tribunal de origem foram suficiente e adequadamente delineadas, com abordagem integral do tema e fundamentação compatível. 2. Para análise de eventual cerceamento de defesa decorrente do julgamento antecipado da lide é imprescindível o revolvimento do acervo fático-probatório delineado nas instâncias ordinárias, providência vedada em sede especial nos termos da súmula 7 desta Corte. Precedentes. (...) 5. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag /RS, Rel. Min. FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, DJe 20/10/2008). 8.- Ante o exposto, nega-se seguimento ao Recurso Especial. Intimem-se. Brasília (DF), 28 de novembro de Ministro SIDNEI BENETI Relator Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 12/12/2012 Página 6 de 6