Estudo de Caso à Luz da Fenomenografia: Novas Possibilidades Epistemológicas nas Teorias Organizacionais
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- Júlio César Miranda Branco
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1 Estudo de Caso à Luz da Fenomenografia: Novas Possibilidades Epistemológicas nas Teorias Organizacionais Nicássia Feliciana Novôa 1, Helder Antônio da Silva 2, Wanderléia Da Consolação Paiva 3 1 Núcleo de Gestão do Campus Barbacena - Instituto Federal do Sudeste de Minas, Brasil. nicassia.novôa@ifsudestemg.edu.br 2 Núcleo de Gestão do Campus Barbacena - Instituto Federal do Sudeste de Minas, Brasil. helder.silva@ifsudestemg.edu.br 3 Núcleo de Gestão do Campus Barbacena - Instituto Federal do Sudeste de Minas, Brasil. wanderleia.paiva@ifsudestemg.edu.br Resumo. O Estudo de Caso no contexto das organizações é amplo, difuso e complexo e pode ser aplicado em diversas áreas dos estudos na Teoria das Organizações e, como tal, influencia diretamente no tipo de abordagem e método da pesquisa a ser utilizado, apesar de o positivismo ser a linha predominante nesse tipo de metodologia nas ciências da administração. Diante desse cenário, este estudo apresenta o método do Estudo de Caso Fenomenográfico como uma alternativa de investigação significativa para estudar fenômenos nas organizações à luz dos diferentes modos em que as pessoas experimentam, conceitualizam, apreendem, e compreendem vários aspectos do seu mundo e de suas práticas nas organizações. As reflexões foram estruturadas para apresentar que este método qualitativo, devido a sua natureza adaptativa e interpretativa, se tornou uma opção para as pesquisas organizacionais, sendo que apesar de sua aplicação em pesquisas ainda não ser expressiva, feito com rigor metodológico, pode agregar qualidade, validade e confiabilidade aos resultados do estudo científico. Palavras- chave: Epistemologia, Interpretativismo, Estudo de Caso, Fenomenografia, Estudo de Caso Fenomenográfico. Case Study in Light of Phenomenography: New Possibilities Epistemological in Organizational Theories Abstract. The case study in the context of organizations is broad, diffuse and complex and can be applied in various fields of studies in Organizational Theory and, as such, directly influences the type of approach and research method to be used, although positivism be the predominant line in this type of methodology in management sciences. In this scenario, this study presents the method of Case phenomenographic study as a significant research alternative to study phenomena in organizations in the light of the different ways in which people experience, conceptualize, perceive, and understand various aspects of their world and their practices in organizations. The reflections were structured to present this qualitative method because of its adaptive and interpretive nature, has become an option for organizational research, and despite its application in research is not yet significant, made with methodological rigor, can add quality, validity and reliability of the results of scientific study. Keywords: Epistemology, Interpretivism, Case Study, Phenomenography, Phenomenographic Case study. 1 Introdução O mercado da Sociedade Organizacional (Reed, 1998) vem se tornando cada vez mais complexo, fragmentado e descontinuo. Realidade essa que vem exigindo dos pesquisadores uma readequação de seus modos de pensar e de se relacionar com a grande diversidade de discursos e possibilidades de alternativas existentes na arena dos Estudos Organizacionais. Para isso, buscar novos paradigmas e metodologias de pesquisas fomentam reflexões analíticas e inovadoras que contribuem para surgimento de diversas visões da realidade nas Teorias Organizacionais, com o intuito de 736
2 proporcionar novos caminhos epistemológicos que vão além da clássica verdade objetiva (Reed, 1998; Morgan, 2007; Burrell, 1998). Diante desse cenário emerge o seguinte questionamento: quais as contribuições da Fenomenografia para análises da realidade organizacional e, como a mesma pode ser abordada nos estudos de caso? Como o sujeito é analisado nos estudos fenomenográfico nas teorias organizacionais? E ainda, quais as principais diferenças entre as abordagens racionalistas e as fenomenográficas? Essas questões de pesquisas podem levar ao entendimento das aproximações e/ ou distanciamentos das abordagens positivistas e não positivistas, no que tange as suas comparações nos estudos de casos nas Teorias Organizacionais. Essas reflexões comparativas podem proporcionar novas alternativas Epistemológicas de análises que podem vir a adotar a inclusão de novos reveses para a subjetiva, que podem enriquecer e contribuir significativamente para as Pesquisas nesse campo de Estudo. Deste modo, contribuindo para essas discussões, este ensaio teórico tem a finalidade de analisar o estudo de caso e a Fenomenografia, para verificar os Pontos de Intersecção e Pontos de Divergência de cada um desses conceitos, levando em consideração o quadro panorâmico proposto nas Teorias Organizacionais, que teve como base a abordagem do Quadro Paradigmática de Burrel e Morgan (1979), conforme descrito no Quadro 1: Quadro 1. Os Quatro Paradigmas Fonte: Burrell e Morgan (1979:29) O Quadro de Burrel e Morgan (1979) tem uma abordagem ampla e complexa com a presença de diversas Teorias, clássicas e não tão usuais, que se encontram presentes nas pesquisas acadêmicas organizacionais. Portanto, nesse estudo foi necessário um recorte dessas Teorias, pois será analisada somente a perspectiva Interpretativista (não positivista) e a funcionalista (positivista). Esse recorte foi realizado devido ao foco da pesquisa em analisar a aplicação do estudo de caso fenomenográfico na Teoria das organizações. 2 Fenomenografia: Conceitos de um Método de Pesquisa Fenomenografia é uma abordagem de pesquisa interpretativa que busca descrever fenômenos no mundo como os outros o vêem (Lin, 2011: 2), o objeto da pesquisa é identificar variações de formas de experimentar o fenômeno. Essa abordagem se consolidou na decada de 1970, sobretudo nos trabalhos direcionados à investigação das variações nos resultados de aprendizagem em estudantes 737
3 na Suécia por um grupo de pesquisadores liderados por Marton e seus colabores Dahlgren, Säljö e Svensson (Yates, Partridge & Bruce, 2012) na Universidade de Gothenburg (Reed, 2006; Lin, 2011). No seu início, essa abordagem se preocupava em explorar questões relativas à aprendizagem por meio das diferentes experiências dos atores pesquisados em diferentes contextos. Essa alteração do olhar do pesquisador sobre os individuos pesquisados, de os mesmos não serem mais o centro da investigação, permitiu a transformação da aprendizagem como originária do proceso de construção por meio dos fragmentos de como a aprendizagem foi experimentada pelos estudantes, ou seja, os investigados, cada um a sua maneira, foram fornecedores coletivos de suas experiênicas (Reed, 2006: 1), pois o objetivo dos estudos era mapear "as diferentes maneiras qualitativas em que as pessoas experimentam, conceitualizam, percebem, e compreendem vários aspectos e vários fenômenos do mundo em torno deles "(Marton, 1986, 31). Dessa forma, o termo fenomenografia surgiu em 1979 no trabalho de Marton entitulado como Phenomenography: describing conceptions of the world around us (Fenomenografia: descrevendo concepções do mundo que nos rodeia), sendo que sua origem etimologica advem das palavras gregas phainemenon que significa aparência e graphein que significa descrição (Fernandes, 2005: 4; Amaro & Brunstein, 2011: 7). Portanto seria um método para a descrição das aparencias, uma descrição do fenomeno como ele aparenta ser para os seus atores que podem ser representados ou escritos (Marton & Fei, 1999; Fernandes, 2005; Amaro & Brunstein, 2011; Jarret et. Al., 2014). Fig. 1. Racionalidade Fenomenografica Fonte: Bowden (2005: 13) & Tradução de Cherman (2013: 114) Ainda, avaliando o trabalho de Bowden (2005), mostrado na Figura 1, é possível verificar que a fenomenografia não é um fenomeno que discute em si, mas na relação entre o pesquisador e o seu objeto de estudo, ou seja, apresenta uma perspectiva construtivista individual e social para abordar a fenomenografia por meio da visão dualista concentrada seja no mundo interno (aqui dentro/in here) ou no mundo externo (lá fora/out there), como uma sendo a explicação para a outra. O mundo que existe para esse método é relacional e dialógico, um mundo que é experimentado, que é vivido e que pertence aos sujeitos integrantes. Assim, o objeto de estudo se concentra no aspecto relacional, dialógio na relação existente entre o sujeito e a sua experiencia com o fenômeno a ser estudo que possibilitara analisar a variação nos modos de se vivenciar/experimentar um fenômeno (Cherman, 2013: 114). Devido as possibilidades de analisar as experiencia dos sujeitos com o fenomeno, a fenomenografia vem sendo, paulatinamente, utilizada como uma abordagem nos estudos das Teorias Organizacionais (Lopes, 2012; Cherman, 2013). Apesar de ainda não ser uma abordagem significativa e expressiva na academia, os trabalhos apresentados demonstram novos caminhos epistemologicos altenativos que divergem da linha positivista dominante atualmente na academia. 738
4 Portanto, segue o método do Estudo de Caso, que domina as pesquisas nas Teorias Organizacionais numa visão positivista (Barbosa, 2008). O Método do Estudo de Caso: Conceitos estruturantes A escolha do método do estudo de caso é influenciada significativamente pelo tipo de problema de pesquisa com que se defronta o pesquisador. Perguntas do tipo como ou por que (YIN, 2010: 24), que foram estruturadas para explicar fenômenos organizacionais relevantes e atuais são mais adequadas a este tipo de método (Ghauri, 2004). Outra característica fundamental do Estudo de Caso se refere à intensidade do controle do pesquisador sobre o comportamento dos eventos ou do objeto de pesquisa, já que neste tipo de método existe pouca ou nenhuma capacidade do pesquisador para tal. Em temos de abordagem de pesquisa, o método do Estudo de Caso não é o único método, nem é exclusivo da pesquisa qualitativa, apesar de a maioria dos estudos serem direcionados para este tipo de abordagem (Eisenhardt, 1989; Gil, 2009; Yin, 2010). O Estudo de Caso pode ser quantitativo, qualitativo bem como a mistura das duas abordagens, ou seja, tanto quantitativo como qualitativo (Yin, 2010; Ghauri, 2004). Nesta pesquisa, devido às questões subjetivas e à natureza ontológica que envolve o tema da fenomenografia, vai ser abordado essencialmente como um método de Estudo de Caso não positivista, pois ele apresenta uma compreensão em profundidade do caso e para tal o pesquisador coleta muitas formas de dados qualitativos, variando desde entrevistas, observações e documentos até materiais audiovisuais (Creswell, 2014: 87). É notório que a Sociedade Organizacional vive num mercado intricado, fragmentado e descontinuo (Reed, 1998), que vem exigindo dos pesquisadores novos modos de pensar e de se relacionar com a grande diversidade e complexidade de fenômenos, eventos, discursos, entre outros aspectos da realidade das organizações. Com isso, novos paradigmas emergem, fomentando novas reflexões analíticas que contribuem para abertura de novas visões da realidade nas Teorias Organizacionais, com o intuito de proporcionar outros caminhos epistemológicos que vão além da clássica verdade objetiva (Reed, 1998; Morgan, 2007; Burrell, 1998). Diante desse cenário, o Estudo de Caso pode contribuir muito, pois esse método possui a capacidade de aplicação em diversos posicionamentos epistemológicos (Ghauri, 2004), podendo desenvolver estudos tanto na perspectiva positivista, como na interpretativa e, até mesmo, num posicionamento crítico ou dialético (Gil, 2009). Tudo vai depender dos dados oriundos da base do planejamento e dos objetivos de pesquisa desenhado pelo pesquisador. Devido a essa flexibilidade de aplicação do método, o mesmo se tornou democrático no campo de pesquisa aplicada aos estudos organizacionais. Quanto a classificação, o Estudo de Caso pode assumir quatro diferentes enfoques, que são distintos entre si: (i) exploratórios: tem a finalidade de buscar obter uma visão mais acurada do problema, não busca uma resposta definitiva, pode ser a primeira etapa de uma investigação mais ampla; (ii) descritivos: tem a finalidade de proporcionar a ampla descrição do fenômeno em seu contexto, buscando identificar múltiplas manifestações dos fenômenos descrevendo- os por meio de diversas perspectivas; (iii) explicativos: desenvolver categorias para ilustra, corroborar ou refutar teorias, para identificar relações de causa- efeito (Gil, 2009: 49-50)e; (iv) avaliativos: tem a finalidade de descrever e explicar informações para produzir julgamentos (Yin, 2010) No que tange as variações de tipos de pesquisas no Estudo de Caso, elas podem ser representadas pela Matriz apresentada na Figura 2 abaixo: 739
5 Fig. 2. Tipos Básicos de Estrutura no Estudo de Caso Fonte: Yin (2012: 8) Essa matriz de dois por dois mostra a origem da combinação de quatro tipos diferentes de pesquisas, ou seja, uma combinação que varia dos estudos de casos únicos versus estudos de casos múltiplos e, uma abordagem holística que contem uma única unidade de análise dos casos versus uma abordagem integrada ou incorporada que contem múltiplos aspectos específicos de análises dos casos. Por meio desses dados emerge uma descrição detalhada do caso na qual o pesquisador detalha aspectos tais como a história, a cronologia dos eventos ou a realização rotineira das atividades dos casos (Creswell, 2014: 89) A partir dessa descrição o pesquisador busca compreender a complexidade do fenômeno no seu contexto para originar o aprendizado por meio de uma situação incomum e relevante (Yin, 2010; Yin, 2012;). Planejamento e Aplicação do Método de Estudo de Caso Esta seção tem a finalidade de expor e explicar o processo e as etapas inerentes à estratégia de pesquisa baseada no método do estudo de caso qualitativo, a partir do modelo proposto por Yin (2010). O desenvolvimento do projeto de pesquisa no Estudo de Caso é delicado, pois não existe uma estrutura formal e padronizada a ser seguida, o que existe são algumas orientações. Essas orientações se iniciam com a construção de uma teoria preliminar ao plano e projeto de pesquisa referente a um determinado tema, sendo que neste estudo se refere a interpretação das analises das percepções das experiências dos sujeitos envolvidos no fenômeno a ser estudo. O mapeamento do construto pode fornecer a base para o Estudo de Caso na construção dos motivos relacionados com os atos, eventos, estrutura e pensamentos relacionados com a pesquisa. Yin (2010: 59) afirma que uma teoria mais elaborada apresenta a base de uma estrutura mais complexa de resultados esperados. A partir do mapeamento teórico, pode- se pensar na formulação das questões de pesquisa, sendo que essa ação nos estudos qualitativos é uma atividade bem mais complexa para gerar um problema de pesquisa original e relevante, mas específico e delimitado (Gil, 2009). Com a problemática em mãos pode- se dar início ao processo de estruturação do projeto de pesquisa para o Estudo de Caso. 740
6 Uma etapa importante do projeto é a seleção do(s) caso(s) para ser(em) pesquisados. O caso estudado deve ser algum fenômeno não controlável da vida real, não podendo ser uma abstração, um argumento ou mesmo uma hipótese. O pesquisador precisa definir o(s) caso(s) específico(s) dentro dos limites concretos espaciais, temporais e outros subjacentes aos aspectos chave na definição do(s) mesmo(s) conforme os objetivos traçados inicialmente pela pesquisa (Yin, 2010: 53). Com a definição clara e precisa do tema, com as questões de pesquisa estruturadas e circunstanciadas, com o planejamento da pesquisa desenhado inclusive com o(s) caso(s) definido(s), pode- se pensar na etapa da coleta de dados. Os dados nos levantamentos podem ser primários ou secundários. Para tal deve- se analisar a técnica adequada que venha atender o planejamento e as necessidades de cada pesquisa para garantir a profundidade do caso e credibilidade dos resultados (Gil, 2009). O tipo de técnica de coleta de dados a ser utilizada vai depender dos objetivos da pesquisa e da abordagem adotada pelo pesquisador, conforme o seu posicionamento epistemológico. Dependendo do tipo de dado a ser utilizado pela pesquisa, podem- se utilizar diferentes tipos de estratégias para coleta dos mesmos. A variedade de técnicas a serem aplicadas vai depender do tipo de elemento de investigação e do tipo de informação a ser obtida, ou seja, elementos para investigação podem ser locais, atores, eventos, processos etc. Para cada elemento podem existir diversas informações que podem ser captadas por uma técnica específica ou uma combinação de diversas técnicas, tais como: entrevista, observação, survey, grupo de foco, documentação, dentre outras (Yin, 2010; Gil, 2009; Martins 2008). Uma boa pesquisa de Estudo de Caso não está baseada em uma única fonte de dados. De fato, estudos de casos podem se beneficiar em ter múltiplas fontes que podem auxiliar na criação de um banco de dados da pesquisa, bem como estruturar e manter um encadeamento de evidencias, por meio do relato do pesquisador no relatório da pesquisa, (...) para a realização de estudos de caso de alta qualidade (Yin, 2010: 127). A coleta de dados em múltiplas fontes pode possibilitar a constatação e reavaliação da coerência dos resultados entre as diferentes fontes, bem como nas mesmas fontes. Essa ação pode ser chamada de triangulação, ou seja, estabelecer linhas convergentes de evidências que fará com que os resultados da pesquisa sejam tão fidedignos quanto possível (Yin, 2012). Pauwels e Matthyssens (2004) afirmam que a triangulação permite que os pontos frágeis existentes em único método utilizado para fonte de dados podem ser amenizados com a combinação de diversos métodos e fontes diferentes. Existem, segundo Yin (2010), quatro tipos distintos de triangulação, como: (i) de dados utilização de diferentes tipos de dados; (ii) de investigador utilização de diferentes avaliadores; (iii) de teoria utilização de diferentes tipos de perspectivas de dados, e; (iv) metodológica utilização de diferentes tipos de métodos. Cada uma dessas técnicas pode ser utilizada em combinação com outras para amenizar os problemas de validade e confiabilidade enfrentados pelo método do Estudo de Caso, que, devido à falta de rigor de alguns pesquisadores, trazem desconfiança nos resultados deste tipo de pesquisa. A etapa da análise dos dados pode assumir diversas formas, mas Yin (2010: 163) afirma que possuir uma estratégia analítica geral é a melhor preparação para a condução da análise do estudo de caso. É considerada uma atividade complexa e não existe um consenso sobre quais os procedimentos a serem aplicados, mas de forma geral inicia- se com o estabelecimento de categorias analíticas, passando pela codificação, tabulação e análise estatística dos dados até se chegar à interpretação. Já nos Estudos de Casos a análise e a interpretação são processos que ocorrem simultaneamente à coleta de dados (Gil, 2009: 91). A última etapa se refere ao compartilhamento dos resultados do Estudo de Caso, que se inicia com a definição do público qual irá ser direcionado o material textual e visual estruturado para formalizar os resultados, constatações e considerações sobre a pesquisa baseada nesse método. Para conseguir 741
7 um resultado de qualidade o pesquisador precisa apresentar evidências que venham a dar sustentabilidade e robustez à pesquisa. Um dos pontos que deve ser bem trabalhado pelo pesquisador é que o relatório final como fruto da pesquisa deve ser bem claro e deve ser iniciado antes mesmo que a coleta e a analise de dados sejam completados (Yin, 2010: 195). Diante dos dados apresentados, é notório perceber que, nos últimos anos, o Estudo de Caso vem assumindo uma nova forma híbrida (Dyer & Wilkins, 1991), que vem abrindo novos caminhos de pesquisas para a construção da teoria, Conforme apresentado no próximo tópico. Estudo de Caso Fenomenográfico: Reflexões sobre Diversidade Metodológica em Pesquisas Organizacionais Para poder entender a relação existente entre o Estudo de Caso e a Fenomenografia é necessário mostrar a distinção entre método e metodologia. Barbosa (2008: 2) afirma que método é o conjunto de técnicas empregadas na obtenção e coleta de dados, já a metodologia refere- se à base política, histórica, cultural que orienta o pesquisador e que define sua orientação epistemológica e ontológica no processo de pesquisa. Com isso, então, o estudo de caso como método pode ser analisado como um simples corte amostral que pode ser acompanhado de diferentes metodologias ajustando com diferentes métodos de coleta de dados, desde que o objetivo do pesquisador seja estudos para compreender em profundidade a respeito de um fenômeno, que não pode ser controlável (Gil, 2009; Yin, 2010, Creswell, 2014). A metodologia pode ser considerada como mais ampla e complexa, mas está restrita a um conjunto específico de métodos que revelem o posicionamento teórico do pesquisador além das restrições do fenômeno (Barbosa, 2008: 2). Ainda sobre essas reflexões, Yin (2010:87) apresenta o estudo de caso misturando com outros métodos através de projetos mistos, que força o compartilhamento de mesmas questões de pesquisas, por meio da coleta de dados complementares e conduzirem análises de contrapartida, devido o interesse do estudo de caso poder contribuir significativamente com a teoria e as práticas das organizações, que é o foco deste trabalho. Já Stake (1995: 11) no seu livro The Art of Case Research Study (A arte da pesquisa do Estudo de Caso), explica o conjunto de orientações interpretativas direcionadas para o estudo de caso que incluem "naturalista e holística, etnográfico, fenomenológica e biográfica como métodos de pesquisa". Segundo esse autor o estudo é uma escolha do que deve ser estudado e, não uma estratégia ou metodologia de pesquisa (Barbosa, 2008: 2), pois o que motiva a pesquisa é o interesse empírico e não pelo aparato empregado, já que o Estudo de caso não possui métodos e técnicas de coleta e de análise próprios. Diante desse contexto, a Fenomenografia pode contribuir com estudo de caso, pois o mesmo se insere no paradigma interpretativista que analisa o mundo social como significados atribuídos pelas pessoas para objetos e situações que recebem importância (Bispo e Amaro, 2013: 60). Dessa forma, essa abordagem contribui com a valorização das interpretações dos indivíduos da sua realidade, a partir das suas experiências, que contribuem para o entendimento de fenômenos sociais que vão além do paradigma positivista, pois a premissa do interpretativismo é que a realidade não é dada a priori, mas construída a partir das interações dos indivíduos que a compreendem tomando como base as interpretações feitas das situações vividas. Assim, uma pesquisa fenomenográfica pode ter como metodologia a entrevista fenomenográfica, observação participante ou não, método fenomenográfico, que podem contribuir com o Estudo de caso. A seguir apresenta- se o Quadro 2 com o sumário das principais diferenças e contribuições entre as abordagens racionalistas e a fenomenográficas. 742
8 Quadro 2. As Principais diferenças entre abordagens racionalistas e fenomenográficas Fonte: Adaptado de Amaro e Braunstain (2011). Ao colocar essas questões, não há a finalidade de restringir os questionamentos sobre a combinação do estudo de caso com a Fenomenografia. O presente estudo veio fomentar algumas reflexões que contribuam no avanço da discussão na utilização de novos alternativo para epistemológicas para abordagem de pesquisas. Assim sendo, fica aberta a possibilidade de novos questionamentos. 5 Conclusões Pode- se perceber que o Estudo de Caso é um método robusto, complexo e predominante no campo das Teorias das Organizações, que se tornou uma metodologia alternativa para as pesquisas científicas. Mas dependendo do contexto, para conhecer a realidade do ponto de vista dos sujeitos, a Fenomenografia pode possibilitar novas adequações do posicionamento metodológico da pesquisa em estudo de caso para obter as suas próprias respostas, pois cada realidade pode necessitar de diferentes técnicas de coletas de dados, bem como técnicas de analise de dados distintas para a compreensão de fenômenos que ocorrem em ambientes delimitados e específicos. Portanto, independente do desenho do projeto de pesquisa a ser utilizado no Estudo de Caso, todos possuem uma finalidade em comum, ou seja, investigar um fenômeno contemporâneo no contexto da sua realidade, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são visivelmente dissociados. Essa metodologia, ainda, aplica generalizações analíticas, devido a pesquisa esta circunscrita no tempo e no contexto histórico em que ocorreu e ao caso estudado em si. Portanto, o Estudo de Caso fenomenográfico, devido a sua natureza adaptativa e ao seu objetivo primordial em apreender e analisar a consciência focal dos entrevistados pertencentes a uma determinada organização, pode se tornar uma alternativa significativa para as pesquisa qualitativas, desde que seja realizado com rigor metodológico, pode agregar valor, validade e confiabilidade aos resultados das pesquisas. Para tal o pesquisador deve está consciente das limitações do método, com o intuito de utilizar o procedimento da triangulação para amenizar os possíveis vieses que podem advir no decorrer de todas as etapas da pesquisa. Referências Amaro, R. A. & Brunstein, J. (2011). As Contribuições da Fenomenografia para o Desenvolvimento da Competência Profissional nas Organizações. EnGPR2011. III Encontro de Gestão de Pessoas e 743
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