29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul PROMOÇÃO DA PEQUENA PRODUÇÃO LEITEIRA SUSTENTÁVEL

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1 29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul PROMOÇÃO DA PEQUENA PRODUÇÃO LEITEIRA SUSTENTÁVEL Área Temática: Tecnologia e Produção João Luíz Zani (Coordenador da Ação de Extensão) João Luíz Zani [1], Mário Carlos de Araújo Meireles [2], Tony Picoli [3], Lúcia Treptow Marques [4] Palavras-chave: leite, comunicação, capacitação técnica Resumo Esta ação de extensão buscou fornecer informações e ferramentas a quinze famílias de pequenos produtores de leite. A comunicação deu-se através de reuniões mensais e visitas as propriedades. Nas reuniões foram discutidos assuntos como mastite, higiene na produção, manejo dos rebanhos e utilização de plantas medicinais. Foram convidados técnicos e pesquisadores especialistas nas diferentes áreas para orientação e discussão. Ocorreu uma redução nos gastos de produção e uma melhora significativa na qualidade do leite produzido. Introdução A agricultura familiar é responsável por grande parte da produção agrícola do país e o conhecimento da situação de produção nas propriedades rurais permite traçar metas para melhorar os sistemas de produção e a renda dos produtores. O controle sanitário adequado dos rebanhos, permite elevar a produção e também contribui significativamente na prevenção de doenças causados aos próprios produtores, uma vez que várias zoonoses podem ser transmitidas do gado para as pessoas que o manejam, como a brucelose e a tuberculose. A necessidade de informar sobre a presença e os perigos de contrair essas doenças de origem animal e de orientar sobre como preveni-las é muito importante para as comunidades rurais. A presença da agricultura familiar e de subsistência é marcante, existindo na área de abrangência da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas e Embrapa- CPACT mais de propriedades com área inferior a 100 hectares (85% do total de propriedades da região) responsáveis pela produção de uma gama variável de produtos como leite, ovos, milho, hortaliças, fumo, frutas e outros produtos agropecuários que abastecem os mercados locais e regionais. No interior do município de Pelotas a economia está muito ligada à produção de pêssego, leite e fumo. Nestes sistemas de produção a agroindústria exerce um papel preponderante, muitas vezes determinando os preços e forma de pagamento destes produtos ao agricultor. A produção de leite no Rio Grande do Sul (RS) caracteriza-se por apresentar sistemas de produção diversificados, com grande pulverização de produtores [1] Professor Doutor. Departamento de Veterinária Preventiva UFPEL. Jluizzani@ig.com.br [2] Professor Doutor. Departamento de Veterinária Preventiva UFPEL. [3] Pós-graduando em Veterinária UFPEL. [4] Médico Veterinário autônomo

2 (Zanela et al., 2006). O RS é caracterizado por propriedades com pequenas áreas de campo, o que leva ao produtor uma pequena produção de leite diária. Bitencourt et al. (2000) afirma que 66,6% dos produtores produzem até 50 litros/dia/leite, o equivalente a 30,2% da produção. A produção de leite no Rio Grande do Sul é atividade predominantemente de pequenas propriedades; a maior parte provém de estabelecimentos com área aproximada de 20 hectares. Na região de Pelotas, 79% dos produtores desenvolvem a atividade em áreas menores que 15 hectares e 82% dos produtores possuem menos de 10 vacas em lactação (Marques et al., 2004). No rebanho predominam as raças holandesa e jersey, embora ainda existam muitas vacas sem raça definida. Os produtores têm na produção de leite um complemento das demais atividades rentáveis exercidas na propriedade e isto tem reflexo direto na produtividade, que é muito baixa. Entretanto é possível observar que em algumas bacias leiteiras esse conceito de produção marginal está mudando. Um grande número de produtores estão em fase de especialização na produção de leite, se capacitando para fazer da exploração leiteira a principal fonte de renda da propriedade. Instalações inadequadas prejudicam a eficiência da produção leiteira, porém os fatores mais críticos dizem respeito à nutrição do rebanho, reprodução, melhoramento genético, manejo e sanidade. A nutrição do rebanho é apontada como um dos fatores mais importantes para o desempenho da produção leiteira. A baixa produtividade do rebanho leiteiro do Estado deve-se principalmente à alimentação inadequada, tanto em quantidade quanto em qualidade, com escassez de alimentos em períodos específicos do ano, quando a produção reduz significativamente. Nesses períodos, os custos se elevam, pois os custos fixos se manter e a produção não, também porque os gastos com medicamentos e assistência veterinária aumentam. Pesquisas apontam que aproximadamente 70% dos atendimentos veterinários poderiam ser evitados caso houvesse uma alimentação adequada. É comum não se alimentar o rebanho segundo seu potencial produtivo individual, com as vacas pouco produtivas sendo alimentadas da mesma forma que as mais produtivas, fato este que não otimiza a produção e ainda eleva seu custo. Poucos produtores fazem uso da silagem como forma de suprimento alimentar em períodos de carência. Os problemas de sanidade do rebanho afetam diretamente a qualidade do leite produzido. A saúde do rebanho, as condições de higiene na ordenha e no armazenamento e transporte do leite influem de forma significativa no volume e na qualidade do produto. Embora o manejo sanitário não seja intensivo, os níveis de muitas doenças de notificação obrigatória como a febre aftosa, raiva, tuberculose e brucelose é baixo; entretanto a incidência de mastite se mantém elevado, como fator importante de comprometimento da qualidade do leite. O manejo inadequado costuma trazer reflexos negativos para a saúde do rebanho, comprometendo a sua produtividade e reprodução. Um manejo eficiente, respaldado na alimentação adequada do rebanho, pode reduzir significativamente o intervalo entre partos, bem como o percentual de variação da produção ao longo do ano. Cada produtor procura adequar o manejo às peculiaridades da sua propriedade. Devido à carência de informações, a falta de qualificação e apoio aos agricultores familiares produtores de leite da região da colônia de Pelotas, foi desenvolvido este trabalho, com uma parceria entre o Departamento de Veterinária Preventiva da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas,

3 Embrapa Clima Temperado e associações comunitárias no sentido de estabelecer estratégias de comunicação e de atuação para melhoria da qualidade e produtividade leiteira nas pequenas propriedades. Os objetivos deste trabalho foram gerar mais renda e melhorar a qualidade de vida dos agricultores familiares produtores de leite da região, aumentar a produtividade dos animais, reduzir os custos de produção, melhorar a qualidade do leite, capacitar técnicos e agricultores familiares e diminuir o impacto ambiental da produção leiteira. Metodologia Foram escolhidos vários produtores como unidades de atuação direta da equipe do projeto. Participaram quinze pequenas propriedades localizadas em duas localidades nos municípios de Pelotas e Piratini, no Rio Grande do Sul. A renda dessas famílias era baseada na agricultura familiar com produção leiteira. Durante um ano e meio, as atividades agropecuárias dessas famílias foram monitoradas por professores, técnicos e alunos da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas em conjunto com a EMBRAPA Clima Temperado Pelotas. Nessas propriedades foram realizadas visitas de informação e de coleta de material para avaliação da produção leiteira. Esses produtores foram visitados mensalmente e, nessas ocasiões, os produtores foram orientados sobre prevenção e controle de doenças do rebanho leiteiro, principalmente as transmissíveis e com potencial zoonótico, medidas preventivas de mastite, manejo e higiene da ordenha, cuidados higiênicos na obtenção e conservação do leite, o adequado funcionamento e limpeza do equipamento de ordenha, como realizar uma limpeza e secagem adequada dos tetos, nutrição animal e outros aspectos de seu interesse relacionados à produção animal. Foi instituído o uso do teste da caneca de fundo escuro em todos os rebanhos e estabelecido uma sequência de ordenha dos animais com base nas contagens de células e o isolamento bacteriano de cada quarto mamário. Além disso, as famílias receberam material informativo sobre os assuntos abordados. Quanto a avaliação da produção leiteira, foram realizadas análises mensais de indicadores da qualidade do leite, em especial, ocorrência de mastite, contagem de células somáticas, contagem bacteriana e isolamento bacteriano. Para isso, eram colhidas amostras de leite dos tetos de todas as vacas em lactação a cada visita nas propriedades. Também foi realizada mensalmente a identificação dos microrganismos causadores de mastite em cada propriedade. Os laudos de todas as análises foram entregues aos produtores e os resultados discutidos em reuniões mensais, afim de se buscar estratégias para a melhoria da produção. A troca de experiências e de conhecimentos entre os produtores, técnicos e comunidade deu-se de formas distintas. As reuniões mensais tinham o intuito de divulgar os resultados das análises aos produtores, sanar possíveis dúvidas e abordar um tema de interesse comum, geralmente na forma de palestras ministradas por técnicos especialistas na área. Outra maneira de comunicação que se deu com as famílias participantes do projeto foi através de cursos, palestras e dias de campo ministrados por profissionais capacitados de cada área que foram convidados a realizar tais atividades. O uso de plantas medicinais presentes na região, capacitando os agricultores para que dominem o reconhecimento das plantas e das suas propriedades medicinais, para o

4 controle e prevenção de doenças dos rebanhos foi um dos cursos ofertados, assim como manejo de pastagens e produção de silagem. No período foram realizadas sete reuniões técnicas, um curso sobre utilização de plantas medicinais, além de visitas mensais a cada uma das 15 propriedades rurais acompanhadas. Entre os resultados obtidos está a melhoria na qualidade do leite produzido nas propriedades acompanhadas. Essa melhoria pode ser expressa pelos indicadores de qualidade do leite obtidos. No período trabalhado os indicadores de qualidade do leite produzido melhoraram consideravelmente. Os valores médios de mastite foram reduzidos de forma significativa desde o início do trabalho, de 46% para 25%. Os níveis médios de contagem de células somáticas no tanque e contagem bacteriana total dos produtores acompanhados ficaram abaixo do estabelecido pelas normas do Ministério da Agricultura, reduzindo em aproximadamente 50% as suas médias. A melhora da qualidade do leite ficou evidente quando se observou que os valores médios dos constituintes do leite (Gordura, proteína, sólidos totais, etc...), retornaram para valores acima do mínimo exigido para comercialização. Práticas de manejo foram modificadas em algumas propriedades, e outras vem sendo implementadas conforme a realidade e condição de cada produtor. Alguns produtores utilizam a homeopatia para controle de doenças e outros a fitoterapia, o que reduziu os gastos devido a utilização de medicamentos alopáticos, diminuindo os riscos de resíduos em alimentos e no meio ambiente. Conclusões A realização deste trabalho permitiu um maior conhecimento da realidade da pequena produção leiteira na região em estudo, por parte da academia. A realização das atividades previstas no trabalho melhorou a qualidade do leite produzido nestas propriedades, fundamentalmente pela melhoria na saúde dos animais e adequações de manejo. Dessa forma, os ganhos com a atividade leiteira aumentaram.

5 Figura 01. Visita da equipe de extensão a uma propriedade rural. Referências bibliográficas BITENCOURT, D.; PEGORARO, L.M.C.; GOMES, J.F.; VETROMILA, M.A.M.; RIBEIRO M.E.R.; STUMPF JR., W. Sistemas de pecuária de leite: uma visão na região de Clima Temperado. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, p MARQUES. L. T; ZANELA M.B.; FISCHER V.; STUMPF W. Jr.; GABANA G.; PETERS M.D.P. Caracterização das Unidades de Produção de Leite (UPL) da região sul do Rio Grande do Sul. Parte 1: Área utilizada e rebanho In: I Congresso Brasileiro de Qualidade de Leite, 2004, Passo Fundo. Anais do I Congresso Brasileiro de Qualidade de Leite, 2004 SCHUCH, L.F.D. ; ZANI, J.L. ; MARQUES, L.T. ; DORNELES, T. ; PAZ, F. D. ; ALBARELLO, C. E. ; PICOLI, T. ; RIBEIRO, M.E.R.. Tecnologias sustentáveis e estratégias de comunicação rural para qualificação da produção leiteira na agricultura familiar. In: X Congreso Iberoamericano de Extensión Universitaria, 2009, Montevideo. Anais X Congreso Iberoamericano de Extensión Universitaria, 2009, 2009.

6 ZANELA M.B.; FISCHER V.; RIBEIRO M.E.R; STUMPF, W.J; ZANELA, C; MARQUES L.T.; MARTINS P.R.G. Qualidade de leite em sistemas de produção na região sul do Rio Grande do Sul. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.41,n.1, p , ZANI, J.L. ; MARQUES, L. T. ; SCHUCH, L.F.D. ; MEIRELES, M.C.A. ; DORNELES, T. ; PAZ, F. D. ; ALBARELLO, C. E. ; PICOLI, T. ; RIBEIRO, M.E.R.. Formas de Comunicaçao Rural para Melhoria da Qualidade da Produção Leiteira em Pequenas Propriedades na Colônia de Pelotas - RS. Expressa Extensão (UFPel), v. 14, p , 2009.