ACÓRDÃO uiiii mil mil mu um um um mu mi n 11

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1 DE SÃO PAULO DE SAO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N ACÓRDÃO uiiii mil mil mu um um um mu mi n 11 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Com Revisão n , da Comarca de Guará, em que é apelante/querelado NEILA TEREZINHA SIMÕES ANTÔNIO sendo apelado/querelante GENI VALÉRIO. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "DERAM PROVIMENTO AO APELO, PARA ABSOLVER A RÉ COM BASE NO ARTIGO 386, INCISO III, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores DÉCIO BARRETTI (Presidente sem voto), GALVÃO BRUNO E LEONEL COSTA. São Paulo, 18 de novembro de PEDRO MENIN RELATOR

2 Apelação Criminal com Revisão n Comarca : Guará - I a Vara Criminal Apelante : Neila Terezinha Simões Antônio Apelada : Geni Valério Voto n Ementa: Queixa-crime - Injúria Racismo - Inexistência da intenção de ofensa à querelante - Absolvição - Possibilidade - Apelação da ré provida. A respeitável sentença de fls. 63/68, cujo relatório se adota, julgou procedente a queixa-crime ofertada por Geni Valério, condenando a ré Neila Elias Antônio como incursa ao artigo 140, 3 o, do Código Penal, à pena de 01 ano de reclusão, em regime aberto e 10 dias-multa, no mínimo legal, substituída a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, consistente na prestação de serviços à comunidade. Irresignado, o nobre Defensor da ré apelou, alegando, em síntese, que inexiste o dolo para configurar o crime de injúria, eis que o depoimento da testemunha Marcos Antônio da Silva Zilli (fls. 42 dos autos) demonstra que as palavras ditas pela querelada não foram expressas com animas injuriandi, mas devendo ser consideradas com animus jocandi. Requer a improcedência da queixa-crime (fls. 75/81). Houve resposta (fls. 89/92) e, a douta Procuradoria Geral de Justiça, manifestou-se pelo provimento do reclamo (fls. 102/103).

3 É o relatório do essencial. Consta da queixa-crime, que a apelada, no dia 10 de julho de 2007, às 16:12 horas, no varejão do Télcio, localizado na Comarca de Guará, quando fazia compras de verduras e frutas e ao passar pelo caixa, teve sua honra subjetiva afrontada pela apelante Neila, ao dizer com ironia (intenção depreciativa) "que na casa da Querelante deveria ter 'muitos macacos' porque a mesma havia comprado muitas bananas " (fls. 02). Segundo o histórico do Boletim de Ocorrência, a vítima Geni Valério informou que a "'Mulher do Milinho da loja de calçados' viu tê-la comprado bananas e disse que na sua casa deveria ter 'muitos macacos' porque tinha comprado muitas bananas ". Em seguida a vítima Geni informou ter ficado muito constrangida com o comentário citado (fls. 08). No caso, devem ser analisados os autos para se chegar à suficiente convicção de que existiu a ofensa e se, realmente a apelante, ora querelada, a proferiu. A ré Nélia, com 76 anos de idade, uma anciã, ao ser interrogada perante ao pretório, negou a prática do delito, dizendo que na data dos fatos encontrava-se no varejão quando encontrou a querelante e somente comentou 'que gostava tanto de banana que era igual macaco para comer banana'. Disse, ainda, que não houve nenhuma discussão, nem chegou a olhar seu rosto (fls. 41). A testemunha Marcos Antônio da Silva Zilli, a única testemunha que presenciou os fatos afirmou em juízo que as conhecia (Geni e Neila), pois estava no caixa atendendo a ré, quando Geni se aproximou com 3 a 4 quilos de banana. Em seguida, a ré disse para Geni "na sua casa tem algum macaco por acaso para você levar esse tanto de banana? " Disse, ainda, que houve discussão, mas não sabe o teor. Todavia, afirmou que "Pelo tom de voz de Dona Neila, não pode concluir que ela quis humilhar a querelante " (fls. 42). Por sua vez, as outras testemunhas que foram ouvidas, embora não tenham presenciado os fatos, afirmaram que a ora

4 apelante nunca demonstrou preconceito racial, até porque já freqüentou há muito tempo a casa de uma família de negros. Ademais, a testemunha Fernando Furtado disse freqüentar a casa da ré e presenciou pessoas negras, amigas dela (fls. 44/46). No presente caso não ficou demonstrado que a querelada em seu comentário queria discriminar a querelante. Até porque, pelo testemunho de Marcos, chega-se à conclusão de que a expressão dita pela ré não teve a intenção de ofender a querelante. O ilustre processualista Cezar Roberto Bitencourt, ao analisar a Lei 9.459, de 13 de maio de 1997 (injúria preconceituosa), ensina com sabedoria: "... Para a configuração da injúria por preconceito, é fundamental, além do dolo representado pela vontade livre e consciente de injuriar, a presença do elemento subjetivo especial do tipo, constituído pelo especial fim de discriminar o ofendido por razão de raça, cor etnia, religião ou origem. A simples referência aos 'dados discriminatórios' contidos no dispositivo legal é insuficiente para caracterizar o 'crime de racismo', que, é bom que se diga, é inafiançável é imprescritível (art. 5 o, XLII, da CF). Enfim, recomenda-se muita cautela para evitar excessos e coibir as transgressões legais efetivas, sem contribuir para o aumento das injustiças. E, para concluir, indispensável que o agente tenha consciência de que ofende a honra alheia em razão da raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência" (Tratado de Direito Penal, 5 o ed., 2006, ed. Saraiva, págs. 406/407). Assim, a prova dos autos não é suficiente para atribuir à querelada o crime descrito na queixa-crime. 3

5 Ante o exposto, dou provimento à apelação interposta pela ré Nelia Terezinha Simões Antônio, para absolvê-la com base no artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal. PEDRO Luiz Aguirre MENIN Relator 4