Wirtsniug..14. ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gab. Des. Leôncio Teixeira Câmara

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1 ,,. t +; Wirtsniug..14 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gab. Des. Leôncio Teixeira Câmara ACÓRDÃO APELAÇÃO CRIMINAL N /001 2a Vara Criminal da Comarca da Capital RELATOR: Desembargador Leôncio Teixeira Câmara APELANTE: Francisco Jezuel Castro ADVOGADOS: Carlos Emílio Farias da Franca (OAB/PB 9.759), Eduardo Monteiro Dantas (OAB/PB ) e outros APELADA: A Justiça Pública APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. ESTELIONATO. FRAUDE NO PAGAMENTO POR MEIO DE CHEQUE. APELAÇÃO DEFENSIVA. ATIPICIDADE NA EMISSÃO DE CHEQUE PRÉ-DATADO. AUSÊNCIA DE DOLO. ACOLHIMENTO. ABSOLVIÇÃO. PROVIMENTO DO APELO. 1. É mansa e pacífica a jurisprudência quanto à atipicidade da emissão de cheque pré-datado, posto que este não possui a característica essencial de ser uma ordem de pagamento à vista, desnaturando-se, assim, da condição de cheque, visto a cártula, no caso, transmuda-se em mera promessa de pagamento. 2. A ausência de dolo específico no crime de estelionato toma inviável a condenação nos termos do artigo 171, caput, do Código Penal. criminal, acima identificados, VISTOS, relatados e discutidos estes autos de apelação ACORDA a Egrégia Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, à unanimidade, em dar provimento ao recurso, em harmonia com o parecer oral complementar da Procuradoria-Geral de Justiça. RELATÓRIO Francisco Jezuel Castro foi denunciado como incurso nas penas do art. 171, 20, VI, c/c o art. 71, ambos do CP, por haver, na qualidade de Presidente do Nacional Atlético Clube, da cidade de Cabedelo/PB, emitido vários cheques para pagamento de salários de jogadores e fornecedores sem suficiente provisão de fundos (fls. 2-5). A denúncia foi recebida no dia (fls. 131), seguindo-se regular instrução, com interrogatório (fls ), defesa prév" (fls. 137), oitiva de testemunhas (fls e ) e alegações finais das partess MP e fls Defesa). ",

2 Apelação Criminal n /001 2 Concluída a instrução, em sentença de fls , a MM. juíza julgou procedente a pretensão punitiva do Estado e condenou o réu nas penas do art. 171, 2 0, VI, c/c o art. 71, ambos do CP, fixando-lhe a pena base em 2 (dois) anos de reclusão. Diante da ocorrência de uma causa atenuante, prevista no art. 65, III, "d", do CP, reduziu a reprimenda em 6 (seis) meses, tornando-a em 1 (um) ano e 6 (seis) meses de reclusão. Verificando, ainda, a existência de uma causa de aumento de pena, prevista no art. 71 do CP, aumentou em 1/6 (um sexto), ou seja, em 3 (três) meses, totalizando 1 (um) ano e 9 (nove) meses de reclusão. Condenou o acusado, ainda, ao pagamento de 20 (vinte) dias-multa, na razão de 1/30 do salário mínimo vigente ao tempo dos fatos. Por fim, em atendimento ao que preceitua o art. 44 do CP, substituiu a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos na modalidade prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas (fls ) e, ainda, ao pagamento de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais), para as seguintes vítimas: Ednaldo Soares de Souza, Gildélio Martins de Araújo, Elias Rodrigues da Silva, Nialysson Luiz Batista, José Carlos V. Nunes, Rinaldo Francisco da Silva e Vandim Ferreira de Almeida. Inconformado, o réu apelou a esta Instância Superior pleiteando por sua absolvição, diante da fragilidade probatória e que a sentença seja declarada nula por falta de individualização das vítimas na dosimetria da pena (fls ; ). 284). Contra-razões pela manutenção da sentença (fls A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, opinou pelo desprovimento do recurso (fls ). É o relatório. VOTO O Direito Penal possui a capacidade de restringir a liberdade, bem jurídico dos mais importantes. Daí a necessidade de se interpretar a lei sob uma ótica restritiva. 01, No caso in examen o réu foi condenado por crime previsto no art. 171, 2 0,, VI, do CP. Os depoimentos das vítimas LUCIANO ROMERO DA SILVA (fls ) e GILDERIO MARTINS ARAÚJO (fls ) são contundentes quanto à certeza que o desconto dos cheques recebidos seria para 30 (trinta) dias. A jurisprudência pátria é mansa e pacífica quanto à atipicidade da emissão de cheque pré-datado, posto este não possuir a característica essencial de ser uma ordem de pagamento à vista, desnaturando-se, assim, da condição de cheque, visto a cártula, nesse caso, transmuda-se em mera promessa de pagamento. A partir do momento em que o cheque se reveste dessa modalidade de promessa de pagamento, a conduta contemplada pelo art. 171, 2 0, VI, do CP, não se ajusta ao mesmo, porquanto, estará ausente o elemento "cheque" para a sua configuração. Assim é, também, o entendimento que evalece no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, além de ou os Tribunais estaduais.

3 Apelação Criminal n /001 3 "A vítima, aceitando o cheque pré- datado para descontá-lo no banco sacado dezessete dias depois de sua emissão, concorreu para que o cheque fosse desfigurado de ordem de pagamento à vista para promessa de pagamento a prazo e, assim, o fato perdeu a tipicidade do crime previsto no art. 171, parágrafo 2, VI do Código Penal." (STF - RHC Rel. Min. Soares Munhoz) "Agravo regimental em recurso especial criminal. Emissão de cheque pré-data. Débito não pago. Estelionato. Descabimento. C.ártula que configura garantia de dívida, e não ordem de pagamento à vista, fato atípico. Repercussão apenas na esfera cível. Agravo que se nega." (STJ - HC /SP Rel. Min. Jane Silva, Desembargadora convocada do TJMG). "Penal. Habeas corpus. Estelionato. Trancamento do Inquérito Policial. Atipicidade da conduta. Cheque dado em garantia de dívida, pré-datado. Devolvido sem fundos. Precedentes. 1. A emissão de cheques como garantia de dívida (prédatados), e não como ordem de pagamento à vista, não constitui crime de estelionato, na modalidade prevista no art. 171, 20, inciso VI, do Código Penal. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. 2. Recurso provido." (STJ - RHC 13793/SP - Rel. Min. Laurita Vaz). "Apelação Crime. Estelionato. Cheque Pré-datado. Conduta Atípica. Absolvição. O cheque pré-datado perde a sua qualidade de ordem de pagamento à vista, assumindo a função de mera representação quirografária de uma promessa de pagamento. Fato que não se subsume no tipo penal previsto no art. 171, caput, do C.P.B., inclusive à ausência de dolo. Absolvição com força no art. 386, inc. III, do C.P.B. APELO PROVIDO." (TJRS ACrim. N Rel. Min. Aymoré Roques Pottes de Mello). A acolhida ao argumento apresentado pelos insignes defensores do réu quanto à atipicidade penal tornaria, de per si, desnecessária a análise dos demais motivos apresentados. Não obstante, com o intuito de melhor esclarecer quanto à necessidade em se dar provimento ao recurso ora em julgamento, passo a analisar outro aspecto apresentado pela defesa, quanto à ausência de dolo. Caracteriza o crime de estelionato, a emissão de cheque, cujo emitente tinha ciência de que o título não seria pago, induzindo as vítimas em erro, violando a sua boa-fé e fazendo com que aceitassem, como pagamento, os cheques apresentados. Não é o que se depreende da atenta leitura dos autos. t' O réu seu interrogatório (fls ), afirma que, ao emitir os cheques que deram origem à denúncia, contava que, à época prevista para o desconto, o clube que presidia já houvesse recebido o dinheiro resultante da venda de um atleta ao União São João Esporte Clube, equipe do interior paulista, venda, posteriormente, desfeita, segundo o distrato de fls A Juíza primeva, em sua r. Sen ça, refutou essa argumentação, afirmando que o distrato havia sido assinado em 25 de m io de 2006 e os cheques foram emitidos em data posterior. Se considerarmos, contudo, q e os cheques pré-,

4 Apelação Criminal n /001 4 datados tinham como data de emissão mais recente, 16 de junho de 2006, levando-se em conta os depoimentos das vítimas supra mencionadas, que davam conta do prazo de trinta dias para desconto, estes teriam sido, efetivamente, assinados em 16 de maio de 2006, portanto, dez dias antes da assinatura do já referido distrato. Para configurar o crime de estelionato tem que restar comprovado o dolo do agente em seu agir - elemento subjetivo inerente ao tipo penal. A caracterização do dolo tem que ser efetiva, sem dar lugar a dúvidas. Não parece ser este o caso. Respaldamos nosso entendimento na jurisprudência: "Apelação Crime. Estelionato. Ausência de dolo específico. Inviável condenação nos termos do artigo 171, caput, do Código Penal, quando a sustação de cheque pós-datado se. deve a distrato, inexistindo dolo dos réus de induzir em erro a vítima. À unanimidade, negaram provimento ao apelo." (TJRS Acrim. N Rel. Des. Roque Miguel Fank j ). "Apelação Crime. Estelionato. Cheque utilizado para pagamento de honorários advocatícios sustado. Ausência de - prova quanto à preexistência do dolo exigível à caracterização da figura típica. Absolvição que se impõe. Não emanando da prova produzida nos autos a certeza quanto à existência do dolo exigido pelo tipo penal à sua caracterização, não é possível a prolação de édito condenatório. Apelo defensivo provido." (TJRS Acrim. N Rel. Min. Fabianne Breton Baisch). Diante de todo o exposto, dou provimento ao recurso, em harmonia com o parecer oral complementar da douta Procuradoria-Geral de Justiça. É o meu voto. Presidiu ao julgamento o Desembargador Nilo Luis Ramalho Vieira, dele participando, além de mim, Relator, o Desembargador Joás de Brito Pereira Filho e o Doutor José Guedes Cavalcanti Neto (Juiz de Direito convocado para substituir o Desembargador Amóbio Alves Teodósio). Presente à sessão de julgamento o Excelentíssimo Senhor Doutor Álvaro Cristino Pinto Gadelha Campos, Procurador de Justiça., Sala de Sessões "Des. Manoel Taigy de Queiroz Melo Filho" da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa, aos 7 (sete) dias do mês de julho do ano de João Pessei, 21 de julho de ineeeh, - eã "eixeira Câma - Relator

5 TRIBUNAL DE J1181AÇA Coordep adoria Jeadela MOIrode) err.../r -5 f 410