A Universidade e o Futuro Projetos e especulações (acerca principalmente do conceito de extensão universitária)
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- Marcela Caldeira Valgueiro
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1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO A Universidade e o Futuro Projetos e especulações (acerca principalmente do conceito de extensão universitária) Emannuel Gonçalves Gomes N USP
2 INTRODUÇÃO Para que tracemos especulações e projetos para os trajetos e o lugar que a Universidade, não só como espaço físico mas também como conceito, ocupará no futuro, é necessário, inicialmente, entender o que é este construto social chamado Universidade. O estudo da Universidade, em especial a linha de análise freireana, mas também outras acepções, como a de Marilena Chauí, costumam considerar a Universidade como um construto que se sustenta sobre um tripé bastante definido: a Pesquisa, o Ensino e a Extensão. Tal tripartição é duplamente válida ao se pensar uma universidade pública, já que as universidades privadas frequentemente sub-valorizam este último elemento. Ainda que seja bastante claro que a Universidade se sustenta sobre este tripé, não existe uma definição tão clara de o que significariam cada um destes fatores, como funcionam, como devem ser aprimorados e aperfeiçoados. A incógnita é especialmente intrincada quando se questiona a natureza do que se chama extensão, um debate muito vivo em Universidades como a própria USP. A despeito disso, é próximo do senso comum argumentar que deve existir um ponto de equilíbrio entre estes três fatores. Uma Universidade que focasse apenas no ensino se reduziria à formação técnica, à reprodutibilidade acrítica, muito mais próxima da formação de profissionais que da produção de conhecimento. Por outro lado, sem o aspecto do ensino a universidade não reproduz seu próprio sistema. Por sua vez, uma universidade que priorize a pesquisa, produzirá conhecimento, mas além de não ter uma base de sustentação para sua manutenção, ficará seu papel reduzido ao de uma indústria do conhecimento, sendo este conhecimento transformado em mercadoria, em produto, e desprovido de um sentido alheio ao comércio. De forma semelhante, não
3 dar a devida importância à pesquisa estagnaria a universidade, impedindo a concretização de sua função produtora de conhecimento. Dado que a extensão é o elemento de mais complicada definição, seus efeitos também são os mais variáveis, adotarei aqui um ponto de vista freireano, para o qual a falta do aspecto de extensão distancia a universalidade de seu contexto social, transforma a universidade numa espécie de microcosmo, uma realidade paralela. Ao projetar um aperfeiçoamento da Universidade, de sua relevância social e sua integração no contexto de que faz parte, acredito que o ponto que se deve seguir é exatamente o de uma valorização da extensão, que atualmente é apenas imperfeitamente aceita pelas universidades.
4 PROSPECTOS A função da Universidade é um construto social, ela não pode ser pensada separada do contexto social no qual está inserida. Para comprovar tal argumento, basta observarmos o momento de surgimento da Universidade, no final da idade média, de forma praticamente concomitante para com o renascimento cultural europeu. Muito da disciplina universitária, como citado por Foucault, era oriunda, naquele momento, das ordens monásticas, fatos que contribuiu para uma reclusão por parte do ambiente universitário em relação à sociedade que o comportava. Tendência essa que só viria a se intensificar na era clássica, especialmente com a preponderância do positivismo na área das ciências humanas. A Universidade passou então a ser o local onde se resguardava o devido distanciamento científico para que isso possibilitasse uma análise imparcial da sociedade, seguindo os preceitos teóricos do positivismo. Apesar de esta visão ser considerada hoje como ultrapassada, ainda existem muito mais do que apenas resquícios de tal posicionamento no que se refere à forma da Universidade de interagir com a sociedade. No século XX, com o desenvolvimento da antropologia e de outras áreas que se debruçaram sobre o estudo da cultura de forma mais engajada socialmente a exemplo dos Estudos Culturais se ensaiou uma fuga desse falso distanciamento positivista. É impossível, no entanto, dizer que ocorreu uma aproximação entre estes polos. Por sua condição historicamente separada, a Universidade encontra muitos obstáculos à sua reinserção social. As tentativas de aproximar-se do estudo dos conhecimentos e da cultura popular, por exemplo, é muitas vezes vista como oportunismo, apropriação de uma área de resistência social por parte de uma instituição tradicionalmente relacionada ao sistema ao qual tais manifestações resistem. Isso se dá, provavelmente, porque a
5 aproximação intentada se dá pelo âmbito da pesquisa, tradicionalmente mais afeito a racionalizações que a diálogos. É para suprir esta dificuldade de inserção social que vem o conceito de extensão. Tal conceito, no entanto, dificilmente poderia ser visto como um fator unificado, cada sociedade exige desta extensão um determinado comportamento. Por isso seria errôneo pensar que a simples transposição de um modelo de extensão que funcione numa sociedade constituída de forma diversa funcionaria no Brasil, por exemplo. Pode-se encarar essa questão como uma política pública, que não pode simplesmente ser transposta de um país para outro, sem adaptações, como já foi constatado pelos estudos na área de Ciências Políticas. Também não se pode ver a extensão como um aparelhamento mercadológico. Em universidades como a USP, por exemplo, existe um debate muito grande sobre as empresas juniores e se estariam elas relacionadas ao conceito de extensão. Não se pode negar que tais empresas fazer uma ligação entre a Universidade e a sociedade; no entanto, tal ligação se dá, majoritariamente, num único aspecto, o que liga a produção de conhecimento ao mercado. Ao pensar a ideia de Universidade Pública, no entanto, podemos perceber que tal ligação não deveria ser aquela priorizada, na verdade muito pelo contrário, a própria privatização do conhecimento vai contra a natureza de tal instituição, ou ao menos contra a natureza à qual ele se pretende, e que estou aqui considerando como a que deve ser idealmente buscada. As Universidades de modo geral, e a USP em particular, têm sistemas de incentivo a projetos de extensão, que incluem uma miríade de atividades possíveis. No entanto, existe uma escassez de projetos próprios, que viabilizem, por exemplo, o usufruto do espaço da Universidade por parte da sociedade. Acredito que medidas nesse sentido são essenciais para um aperfeiçoamento do modelo universitário.
6 CONCLUSÃO Embora tenha dado destaque neste trabalho ao aspecto da extensão, que me parece ser o de maior urgência e necessidade dentro dos projetos contemporâneos de Universidade, dada sua atual debilidade; os projetos de aperfeiçoamento universitário não devem se restringir a esse ponto. Os investimentos no sentido de se evitar uma fuga de cérebros de pesquisadores são pouquíssimos, e uma grande parte daqueles que tem a oportunidade de pós-graduar-se no exterior não retorna ao Brasil para trazer até aqui debates que sejam relevantes globalmente. De forma semelhante, hoje um numero relativamente pequeno de pesquisadores se sente atraído pela ideia de pesquisar no Brasil, seja por condições monetárias desfavoráveis ou por um arraigado provincianismo acadêmico; fenômeno que em décadas anteriores não se parecia registrar (em especial no início do século vinte, mas também nos anos 90 e início dos anos 2000) 1. Mesmo a área de ensino é hoje bastante precária, com uma evidente priorização dos ensinos técnicos, que se restringem majoritariamente à reprodução acrítica de conhecimento, e não à sua produção. 1 Referência a uma base de dados não-consistente/comprovada.
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