RESUMO ANÁLISE DA ESTABILIDADE DO BETA EM TRÊS EMPRESAS BRASILEIRAS APÓS O PLANO REAL ( ) Alessandra Montini Ventura 1.
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- Andreia Gentil Sá
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1 V S E M E A D P E S Q U I S A Q U A N T I T A T I V A F I N A N Ç A S ANÁLISE DA ESTABILIDADE DO BETA EM TRÊS EMPRESAS BRASILEIRAS APÓS O PLANO REAL ( ) Alessandra Montini Ventura 1 Denis Forte 2 Rubens Famá 3 RESUMO O objetivo deste trabalho é verificar se o comportamento das ações de três empresas de diferentes setores, com alto índice de negociabilidade no mercado brasileiro no período de , segue o modelo de precificação de ativos financeiros (CAPM). O período corresponde ao pós-real, caracterizado por relativa estabilidade monetária. O desempenho das ações é comparado ao desempenho de uma proxy da carteira de mercado no Brasil, o Ibovespa, neste mesmo período. Usamos o modelo do CAPM (Capital Asset pricing Model) de Sharpe (1964) para identificar o nível de risco sistêmico de cada ação, chamado de beta, e comparamos os resultados dos sub-períodos (anuais) com o resultado do período completo. Encontramos evidências de que o beta se mantêm estável nos períodos e nos sub-períodos, com apenas três exceções (1995 para o Itaubanco PN; 1995 e 2000 para a Petrobrás PN), provavelmente devido a alterações de categorias de risco das empresas analisadas. 1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - alessandra.ventura@bol.com.br 2 Mestre pela FGV/SP e aluno Especial do Doutorado em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - denisfortebr@yahoo.com.br 3 Professor Doutor do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - rfama@usp.br Junho de 2001
2 INTRODUÇÃO A preocupação da área de Finanças em analisar a relação entre o risco e o retorno na era moderna remonta a Markowitz (1952), em sua análise de carteiras. A contribuição de Sharpe (1964) e Treynor (1961) ao formularem o modelo de precificação de ativos financeiros (CAPM) foi seguida por diversos autores (Lintner (1965), Mossin (1966) e Black (1972)) na contínua busca de aprimoramento de análise. Enquanto os formuladores do modelo CAPM o defendiam, outros o criticaram (Fama & French (1992); Chan & Laconishock (1993), Haugen (1995)). Entretanto, mais importante que as contradições entre os autores vêm sendo as contribuições metodológicas e inquisitivas. Os avanços tecnológicos e científico permitiram que se atingisse um novo patamar de compreensão dos ativos e de seus mercados. Embora os modelos de precificação de ativos financeiros tenham obtido limitado poder explicativo, as análises dos trabalhos realizados permitiram um aperfeiçoamento dos mercados acionários e de seus agentes, aproximando a teoria à prática. Buscando verificar se o modelo possui algum poder de análise no mercado brasileiro, resolvemos verificar se o comportamento de alguns ativos no tempo obedece o preceito do modelo. Após revisão de alguns trabalhos realizados no Brasil (Cecco (1989); Mellone (1999) e Leoncine (1999)), verificamos que diversos testes haviam sido feitos sem que se encontrassem evidências comprovando ou descartando a aplicabilidade do modelo no mercado brasileiro. Internacionalmente, apenas o estudo de Blume (1968) onde ele verifica uma estabilidade de betas para diversas empresas, em particular a May Department Stores, no período de janeiro de 1927 a dezembro de 1960, demonstrou forte poder preditivo. Em outro trabalho, ele selecionou betas de períodos de 7 anos como preditores dos sete anos seguintes (Blume (1971)). Sua conclusão é de que o modelo prediz os betas futuros em direção à sua média, com um pequeno viés. Já Francis (1979) após analisar 750 empresas por 60 meses, verificando os betas, o coeficiente de correlação e o desvio-padrão em subgrupos concluiu que os desvios-padrão são relativamente estáveis no tempo, mas os coeficientes de variação e os betas não. Entretanto, o comentário do autor sugere que estas medidas de risco exibem estabilidade intertemporal suficiente para serem estudadas, o que nos levou a verificar o comportamento do beta de três ações de empresas brasileiras, representativas e de setores diferentes, no período pós plano Real, ou seja, de 1995 a EMBASAMENTO TEÓRICO Em 1952, a análise de seleção de portfólio de Markowtiz estabelecendo os princípios de maximização de resultados a partir da diversificação de ativos alterou a análise de risco. Em 1964, Sharpe utilizou os preceitos de Markowitz para elaborar o modelo CAPM (Capital Asset Pricing Model ou Modelo de Precificação de Ativos Financeiros). Este modelo relaciona o retorno esperado de um ativo e seu risco. Para que esta relação fosse possível, Sharpe utilizou os conceitos de Markowitz de média, variância e desvio-padrão, buscando um conjunto eficiente de portfólios, cuja relação risco-retorno fosse superior às outras carteiras. A análise foi feita a partir de um processo de dominância, onde carteiras de ativos com a mesma classe de risco seriam classificadas pelo seu retorno, se mantendo apenas a de melhor retorno. Da mesma forma, carteiras de ativos com mesma faixa de retorno foram classificadas pelo seu nível de risco, mantendo-se assim a de melhor retorno. Criou-se assim um conjunto de portfólios que apresentavam a melhor relação entre o risco e o retorno, chamado de conjunto eficiente de carteiras, de formato côncavo. A possibilidade de se acrescentar percentuais de ativos de rendimento fixo e cujo risco seria nulo, aproximados na realidade aos títulos governamentais norte-americanos, levou a relação a ser uma reta, chamada de Linha de Mercado de Títulos (Security Market Line) cuja constante é o ativo livre de risco, e cuja inclinação foi chamada de beta. O retorno esperado do i-ésimo ativo pode ser escrito como: E ( r i ) r F + [ E( r M ) r F ] β i =, ( r, r ) Cov i M β i = 2 σ M (1) em que 2
3 E(r i ) é o retorno esperado do ativo i; r i é o retorno do ativo i; r f é o retorno do ativo livre de risco; r M é o retorno de mercado; βé a inclinação da reta, também chamado de risco sistêmico; 2 σ M é a variância do mercado. A expressão (1) pode ser reescrita como: E ( r i ) r F = [ E( r M ) r F ] i β. (2) Existem três formas de testes empíricos para verificar a estabilidade do beta: (i) a forma de testes intersecionais (cross-section) da média mensal do prêmio pelo risco (Blume e Friend (1973)), (ii) a forma de retorno do risco mensal realizado (Fama e MacBeth (1973)) e (iii) a forma de regressões de séries temporais (Black, Jensen e Scholes (1972) e Gibbons (1982)). Uma vez que os testes da primeira forma são realizados a partir de expectativas, e portanto, impossíveis de serem observadas e a terceira envolveria uma série maior de informações que não possuímos, optamos pela segunda forma de teste, utilizando os retornos realizados baseando-nos na hipótese que representam seu retorno esperado. Em outras palavras, quando os investidores possuem expectativas de retornos homogêneos e constantes no tempo, então suas expectativas coincidem com o retorno realizado (Elton e Gruber (1998)). A idéia, entretanto, não é a de testar a validade do modelo CAPM, o que necessitaria a formação de carteiras diferentes e períodos diversos. Nosso objetivo é analisar, a partir da expressão (2), se o indicador de risco sistêmico β se mantém, ao nível de 95 % de confiança, no mesmo intervalo para determinados títulos no período METODOLOGIA O período escolhido inicia-se com o plano de estabilidade monetária do governo com a implantação do plano Real (1995) e segue até o ano de 2000, apresentando 60 meses com observações diárias, o que é estatisticamente relevante. As variações foram calculadas através dos dias com fechamento do período de 2 de janeiro de 1995 a 28 de dezembro de As empresas são representativas do mercado brasileiro em setores de atuação bem diferentes (Financeiro, Petroquímico e Siderúrgico) durante estes cinco anos. Desta forma, a escolha recaiu nas três empresas seguintes: Itaubanco PN, Petrobrás PN e Belgo Mineira PN. Evita-se, com isto, a influência de fatores com pouca liquidez resultando em um preço artificial daquele dia. Utilização do Ibovespa como proxy de mercado: O Ibovespa é um índice do mercado brasileiro de ações, baseado na negociabilidade dos papéis, sendo portanto representativo do comportamento geral do mercado acionário (Leite e Sanvicente (1995)). Como característica básica, ele é revisto a cada quatro meses (janeiro, maio e setembro) no seu primeiro dia útil, sendo recalculado com a participação do valor médio registrado no período das negociações. Os eventos servem como base de ajustes permitindo a continuidade e comparabilidade do índice no tempo. As eventuais alterações de moedas e de mudanças de base também são realizadas com o objetivo de se manter um indicador comparável. A variação do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) diário foi usada como proxy do ativo livre de risco r f do modelo CAPM. O estudo realizado por Leoncine (1999) revela que a variação das taxas de CDI no período possui média próxima de zero revelando ser um indicador sem viés (com exceção entre março e maio de 1995, na crise Mexicana, onde ficou abaixo do previsto). Alguns fatores macroeconômicos foram relevantes no período: Crise do México iniciada em dezembro de 1994, que elevou o risco das aplicações financeiras na América Latina até abril de 1995, a inflação de 24%, o regime de bandas cambiais até a crise da Ásia (de agosto a outubro de 1997) e da Rússia (agosto e setembro de 1998). 3
4 Alguns trabalhos sobre o comportamento do beta no Brasil foram desenvolvidos por: Cecco (1989) que estudou portfólios compostos de 1, 2, 3, 6, 9, 14, 18 e 21 ações no período de 01/01/1972 a 01/01/1980. O resultado de sua tese é de que em grandes portfólios o beta era estável. Não havia evidências para ações individuais de betas constantes no período. A estabilidade do beta aumentava com o crescimento do período analisado. Por fim, os erros aleatórios decresciam com o crescimento dos portfólios. Sugeria-se então que o beta de portfólio de muitas ações é um bom representante do risco futuro; no trabalho de Mellone (1999) os testes estatísticos mostraram que não existe uma relação linear entre o beta e os retornos das ações do Ibovespa para o período e para as ações estudadas (233), contrariando os resultados esperados pelo modelo CAPM. Entretanto, estes resultados não descartaram a hipótese de que para períodos maiores poderiam ter resultados diferentes (entre janeiro de 1994 e agosto de 1998); no trabalho de Leoncine (1999), a forte correlação da Petrobrás (89,2%) em conjunto com a Telebrás (92,4%) se explicaria pelos seus pesos significativos no índice Bovespa. Por sua vez, as ações das outras empresas apresentam forte correlação com estas duas, individualmente. Após uma primeira regressão, a autora conclui que embora o mercado não seja a única fonte de valor, ele tem grande influência na precificação de ativos. A autora conclui que outros fatores derivados da integração de mercados (bolsa Argentina e Americana) exercem influência na formação de preços, além do mercado (risco sistêmico). ANÁLISE E COMENTÁRIO DOS RESULTADOS Análise do Itaubanco PN Notamos pela Tabela 1 e pelo Gráfico 1 que, no período de 1995 a 2000, o risco sistêmico mais baixo é o de A partir de 1996 até 2000, o beta passa para um patamar maior de risco. No período de 1995 a 2000 o beta estimado pelo modelo CAPM é 0,594. Posssíveis causas para o aumento do risco poderiam ser aquisição do Banerj, o que explicaria 1997, aquisição do Bemge, o que explicaria 1998 e aquisição do Banestado, o que explicaria Tabela 1 Intervalo com 95 % de confiança para o beta do Itaubanco PN Período Beta Intervalo com 95 % de confiança ,424 [0,352 ;0,496] ,606 [0,442 ;0,769] ,686 [0,584 ;0,788] ,693 [0,617 ;0,769] ,56 [0,464 ;0,656] ,705 [0,565 ;0,844] 1995 a ,594 [0,555 ;0,633] Gráfico 1 - Intervalo com 95 % de confiança para o beta do Itaubanco PN 4
5 a ,2 0,4 0,6 0,8 1 Beta Análise da Petrobrás PN Notamos pela Tabela 2 e pelo Gráfico 2 que, no período de 1995 a 2000, com exceção de 1996, o risco sistêmico da empresa diminui a cada ano, passando de 1,085 para 0,668. Esta variação pode evidenciar que o risco sistêmico da empresa não se manteve constante no período. Notamos, também, que em 2000 a empresa obteve o menor risco sistêmico. Posssíveis causas, para a diminuição do risco em 2000, poderiam ser lançamento de ações da empresa na bolsa de valores de Nova York, gasto de 5 bilhões com o saldo do fundo de previdência privada, mudança na presidência, aumento do preço internacional do petróleo e o maior lucro obtido por uma empresa brasileira (próximo a 10 bilhões de reais). No período de 1995 a 2000, o beta estimado pelo modelo CAPM é 0,991. Tabela 2 Intervalo com 95 % de confiança para o Beta da Petrobrás PN Período Beta Intervalo com 95 % de confiança ,085 [1,026 ;1,144] ,935 [0,814 ;1,056] ,055 [0,980 ;1,129] ,035 [0,966 ;1,104] ,901 [0,813 ;0,980] ,668 [0,545 ;0,790] 1995 a ,991 [0,958 ;1,024] Gráfico 2 Intervalo com 95 % de confiança para o beta da Petrobrás PN 5
6 a ,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 Beta Análise da Belgo Mineira PN Notamos, pela Tabela 3 e pelo Gráfico 3, que no período de 1995 a 2000, o risco sistêmico da empresa se manteve entre 0,4 e 0,3, evidenciando que o risco da empresa não sofreu alteração significativa no período. O beta da empresa estimado pelo modelo CAPM no período estudado, foi 0,387. Tabela 3 Intervalo com 95 % de confiança para o Beta da Belgo Mineira PN Período Beta Intervalo com 95 % de confiança ,440 [0,348 ;0,531] ,460 [0,227 ;0,693] ,332 [0,197 ;0,467] ,332 [0,209 ;0,455] ,398 [0,268 ;0,520] ,433 [0,230 ;0,635] 1995 a ,387 [0,332 ;0,441] Gráfico 3 Intervalo com 95 % de confiança para o Beta da Belgo Mineira PN 6
7 a ,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 Beta CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise dos dados revela que a variação dos preços das ações obedecem uma análise de risco de acordo com o modelo CAPM. Os valores encontrados para os betas anuais, com exceção de 1995 para o Itaubanco PN e de 1995 e 2000 para a Petrobrás PN, são uma excelente representação do que ocorreu no período de 5 anos, o que configura, para este período e para esta amostra bastante limitada de apenas três títulos, um beta estável. As exceções podem ter ocorrido devido a um aumento de volatilidade (crise do México, início de ano com plano Real ambos em 1995) e também devido a fatos que alteraram o perfil do risco das ações do Itaúbanco PN (aquisição do Banestado, troca de ações com a AOL Latino Americana), e da Petrobrás PN (lançamento de ações da empresa na bolsa de valores de Nova York, gasto de 5 bilhões com o saldo do fundo de previdência privada, mudança na, aumento do preço internacional do petróleo e maior lucro obtido por uma empresa brasileira. (próximo a 10 bilhões de reais). Dados os resultados, alguns novos trabalhos podem ser representativos para verificar a extensão da estabilidade do beta no mercado como um todo, além de verificar o comportamento de carteiras diversificadas, em tamanhos diferentes e períodos variáveis. Um teste de hipótese estatístico, para verificar se os betas são estáveis no período de cinco anos, poderá ajudar na confirmação da estabilidade do beta. O próprio acompanhamento da variação das ações das três empresas analisadas dará uma idéia se está ou não havendo uma alteração na classe de risco das empresas Petrobrás PN e Itaubanco PN, e se a Belgo Mineira PN manterá o mesmo risco já estudado. 7
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