VI. Estado e seus Tipos

Transcrição

1 VI. Estado e seus Tipos 1. Introdução Organização e estrutura dos Estado: (a) forma de governo: modo pelo qual o poder se organiza e é distribuído entre governantes e governados, modulando o nível de intervenção da comunidade no governo (República ou Monarquia); República: periodicidade dos mandados; responsabilidade de seus governantes; conceito de coisa pública e eletividade de seus governantes. Monarquia: trato vitalício e hereditário na indicação de seus dirigentes. 1

2 (b) sistema de governo: indica o conteúdo da divisão orgânica do poder; a relação entre o Executivo e o Legislativo (presidencialismo ou parlamentarismo); (c) forma de Estado: definida a partir de critério territorial, tomando como referência a existência e o conteúdo do regime de descentralização político-administrativa de cada Estado (Estado unitário ou Federação). 2. Estado Unitário Classifica-se o Estado Unitário em 3 espécies: (a) Estado unitário puro; (b) Estado unitário descentralizado administrativamente; (c) Estado unitário descentralizado administrativa e politicamente. 2

3 Estado unitário puro: absoluta centralização do exercício do Poder, que é exercido pelo órgão central, atuando em todas as áreas. Exemplo: com o Tratado de Latrão (1929): Vaticano Estado unitário descentralizado administrativamente: concentra a tomada de decisões políticas no Governo Nacional, mas descentraliza a sua execução, criando órgãos para que, em nome do Governo Central, possam executar, administrar, as decisões políticas tomadas. Exemplo: Brasil (Constituição de 1824 c/c Ato Adicional de Províncias sem autonomia) Estado unitário descentralizado administrativa e politicamente: é a forma de Estado mais comum (especialmente na Europa). Há a descentralização administrativa e política, pois a execução de decisões tomadas pelo Governo Central, cabe aos órgãos que possuem certa autonomia política para decidir no caso concreto a melhor forma de executar essas determinações. 3

4 2.1. Estados Regionais Desdobramento do Estado Unitário: entes regionais possuem competência legislativa ordinária, mas sem poder constituinte. Podem legislar, mas não elaborar uma Constituição própria. A competência para estabelecer regiões é do poder central. Exemplo: Itália Estado Autonômico Semelhante ao Estado Regional, mas a competência para estabelecer regiões compete aos órgãos regionais, sujeita à aprovação do Governo Central. Exemplo: Espanha Estado Composto Confederação: união de entes soberanos por meio de tratado internacional, sem prejuízo à soberania. O ente poderá se desligar a qualquer momento. Motivos: econômicos, segurança interna e defesa externa. 4

5 Federação: coexistência de um poder soberano com diversas forças políticas autônomas, unidas por uma Constituição. Poder soberano: poder supremo na ordem interna e externa. Poder autônomo: pautado pelos limites do poder soberano (auto-organização, autogoverno, autoadministração e autolegislação). 3. FEDERAÇÃO (Forma Federativa de Estado) Origem: EUA (1787). Proclamação da independência das 13 colônias britânicas da América (1776): Estados soberanos. Com a assinatura do tratado conhecido como Artigos de Confederação, foi deliberada a formação da Confederação dos Estados Americanos com o objetivo de cooperação mútua contra as constantes ameaças da Inglaterra. 5

6 Esse tratado permitia a denúncia a qualquer tempo (o direito de retirada, de separação, de secessão), o que gerou constantes ameaças em razão o cenário bélico daquela época. Em razão disso, em 1787) os Estados Confederados reuniramse na Filadélfia (ausente apenas Rhode Island). E nessa reunião montaram os pilares para a Federação norte-americana. A partir de então era vedado o direito de secessão. Assim, cada Estado cedeu parte de sua soberania para um órgão central, responsável pela centralização e unificação, formando os Estados Unidos da América, passando, nesse momento, a serem autônomos entre si, dentro do pacto federativo Os Escritos Federalistas (Federalist Papers) 85 artigos publicados no The Independent Journal em New York entre outubro de 1787 e agosto de Objetivo: Defesa da ratificação da Constituição dos EUA e moldar futuras interpretações. 6

7 Resultou na obra O Federalista de 1788, de Alexandre Hamilton, James Madison e John Jay Espécies de Federalismo Federalismo dualista, ou cooperativo, ou de integração Em relação ao modo de separação de atribuições (competências) entre os entes federativos, identifica-se o federalismo dual, o federalismo cooperativo e o federalismo de integração. Federalismo dual (clássico): há a separação de competências entre os entes da federação, sendo proibida a cooperação ou interpenetração entre os mesmos. Exemplo: Estados Unidos em sua origem. 7

8 Federalismo cooperativo: surge no século XX (Estado do Bem Estar Social) e nesse modelo as competências são exercidas em comum/concorrente, com a aproximação entre os entes federativos, que devem atuar em conjunto. Exemplo: Brasil. Federalismo de integração: há a predominância da União em relação às demais unidades, aproximando-se do Estado unitário Federalismo Simétrico e Assimétrico Essa classificação tem origem em diversos fatores, como em relação à cultura, ao desenvolvimento, ao idioma, etc. Federalismo simétrico: homogeneidade de cultura, desenvolvimento e idioma. Exemplo: EUA. 8

9 Federalismo assimétrico: origina-se da diversidade de idioma e cultura. Exemplo: quatro diferentes grupos étnicos da Suíça (cantões); Canadá (bilíngue e multicultural) Federalismo de Equilíbrio Essa espécie traz a ideia de que os entes federados devem manter a harmonia, reforçando-se as instituições, através, por exemplo, da formação de regiões de desenvolvimento e regiões metropolitanas entre Municípios Federalismo orgânico O Estado é um organismo que busca a sustentação do todo em detrimento da parte. Os Estados-membros aparecem como reflexo do poder central. Quando a Constituição disciplina de forma pormenorizada as atribuições dos órgãos autônomos, deixa pouca espaço para o exercício livre do poder político. 9

10 3.4. Classificação do Federalismo Quanto à formação Classificação que leva em conta a formação histórica, a origem do federalismo em determinado Estado, podendo ser por agregação ou por desagregação. Federalismo por agregação: Estados independentes ou soberanos abrem mão de parcela de sua soberania para agregar-se e formarem um novo Estado Federativo, com a indissolubilidade do vínculo federativo. Por essa razão, que a doutrina menciona que a Federação dos EUA se deu através de movimento centrípeto (de fora para dentro), pois os Estados soberanos cederam parte de sua soberania, em movimento de aglutinação. Exemplos: Estados Unidos, Alemanha e Suíça. 10

11 Federalismo por desagregação (segregação): a federação surge de um Estado unitário que se descentraliza, formando Estados-membros autônomos para a maior eficiência estatal. No Brasil, a formação da Federação se deu pelo movimento centrífugo, isto é, de dentro para fora (Estado unitário centralizado descentraliza-se), com a proclamação da República em Quanto ao Tipo Federalismo Clássico (dois níveis): federalismo formado pela ordem soberana e duas ordens autônomas. Exemplos: EUA e Canadá. 11

12 Federalismo Multifacetado ou de 3º Grau: No Brasil temos 3 ordens União - ordem central; Estados - ordens regionais e; Municípios - ordens locais. A partir de 1988 o DF não tem natureza de Estado, nem de Município. Dessa forma o poder de auto-organização dos Municípios deverá observar dois graus (a Constituição Federal e a Constituição do respectivo Estado). 4. Características da Federação Pontos comuns dos Estados Federados: (a) Descentralização política: a Constituição estabelece núcleos de poder político e atribui autonomia aos entes federados; (b) Repartição de competência: assegura a autonomia entre dos entes da federação, o que garante o equilíbrio da federação; (c) Constituição rígida como base jurídica: a Constituição rígida para garantir a distribuição de competências entre os entes autônomos; 12

13 (d) Inexistência do direito de secessão: estabelecido o pacto federativo, não se admite o direito de secessão. Exemplo: art. 34, I, da CF que prevê o princípio da indissolubilidade do vínculo federativo, que é cláusula pétrea (art. 60, 4.º, I, CF limite material do poder de emenda). (e) Soberania do Estado federal: quando do ingresso na Federação, os Estados cedem parcela de sua soberania e permanecem como entes autônomos em relação aos demais. A soberania é característica do todo (país), por exemplo, a soberania é fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1.º, I, CF/88). (f) Intervenção: instrumento para que em situações de crise institucional seja assegurado o equilíbrio federativo e a manutenção da Federação. (g) Auto-organização dos Estadosmembros: os Estados-membros são organizados de acordo com as respectivas Constituições Estaduais (art. 25 da CF/88); 13

14 (h) Órgão representativo dos Estados-membros: art. 46, CF - Senado Federal. (i) Guardião da Constituição: STF. (j) Repartição de receitas: garante o equilíbrio entre os entes da federação (arts. 157 a 159, CF). 14