Parte II CUSTOS E RENTABILIDADE
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- Cássio Mendonça Lage
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1 Parte II CUSTOS E RENTABILIDADE
2 6 CUSTOS PARA ANÁLISE DE RENTABILIDADE 6.1 A base conceitual para a gestão do lucro Os principais pesquisadores e estudiosos do campo da contabilidade de custos e contabilidade gerencial demonstram, que o processo de análise e decisão envolvendo rentabilidade de produtos e de negócios, deve estar fundamentado em informações baseadas no método de custeio variável e na utilização do conceito de margem de contribuição, levando-se em consideração a existência de fatores restritivos de produção. Nos Estados Unidos, há muito longo tempo Horngren (1972) efetuou uma sólida argumentação a favor da vantagem do custeio variável e do conceito de margem de contribuição em relação ao custeio por absorção. Noreen, Smith e Mackey (1995), abordam o impacto da teoria das restrições de Goldratt na contabilidade gerencial, enfatizando a utilização do conceito de throughput, conceito este equivalente ao de margem de contribuição. Fora da área contábil, na obra de Goldratt (1992) é possível observar a crítica efetuada de maneira extremamente lógica aos métodos de custeio de produtos com a alocação de custos fixos aos produtos. No Brasil, Martins (2003) enfatiza que a base conceitual da contabilidade de custos voltada à tomada de decisões de rentabilidade é formada pelos conceitos de custeio variável, margem de contribuição de produtos, margem de contribuição de linhas e divisões e margem de contribuição por fator limitativo de produção. Iudícibus (1989) destaca a utilização do conceito de margem de contribuição na análise de relações entre o custo o volume e o lucro com multi-produtos. Catelli (1995) incorporou toda base conceitual do custeio variável e margem de contribuição no sistema de informação de gestão econômica Gecon. 6.2 Modelo operacional e econômico Uma empresa, conforme se apresenta na figura 6.1, pode ser visualizada como um grande processo físico-operacional que consome recursos gerando produtos e serviços. Esse modelo operacional é transformado em um modelo econômico através da mensuração econômica dos recursos e dos produtos. Os recursos podem ser classificados em duas categorias: recursos variáveis e recursos fixos. Os recursos variáveis são aqueles que podem ser correlacionados com a unidade do produto fabricado. Esses recursos possuem uma característica fundamental, qual seja: aumentam ou diminuem em função do aumento ou diminuição do volume físico de produção/vendas do produto a que se relaciona. Os recursos variáveis são objetivamente identificados com a unidade de produto e se expressam natural e automaticamente através de valores unitários ou de percentuais em relação ao preço do produto.
3 Os recursos fixos estão associados diretamente com a capacidade instalada da empresa, ou seja, com a sua estrutura e não podem ser a associados, com a unidade de produto. Esses recursos possuem as seguintes características básicas: aumentam ou diminuem em intervalos de volumes de produção; podem ser identificados com diferentes objetos, exceto a unidade de produto; e se expressam natural e automaticamente através de valores totais relacionados ao período de tempo. Deve ser observado que a ocorrência dessa natureza de recurso depende fundamentalmente de decisões do passado. Podemos visualizar graficamente o modelo econômico da empresa da seguinte forma: Figura 6.1 Modelo Econômico da Empresa Custo Total Recursos Variáveis Receita Total Produtos Recursos Fixos Capacidade Instalada Lucro Total O lucro corresponde à diferença entre a receita total e o custo total. Uma consideração muito importante é que não existe lucro por produto, simplesmente porque não existe custo fixo por produto. No nível do produto existe a margem de contribuição. O lucro da empresa é expresso em valores totais referente a um período de tempo. O montante de lucro está intimamente associado à capacidade instalada da empresa, ou seja, quanto maior o volume de ativos operacionais disponíveis, derivado da estrutura instalada, maior deve ser o lucro. 6.3 Explicando a equação do lucro da empresa Existe uma única equação do lucro empresarial e toda análise ou planejamento da rentabilidade dos produtos analíticos e da empresa como um todo se faz através dela. Essa equação materializa o modelo de decisão de rentabilidade dos negócios. Na sua forma mais sintética a equação demonstra que o lucro total corresponde à receita total menos o custo total.
4 lt = rt ct O custo total, por sua vez, é desdobrado em custo variável total e custo fixo total. lt = rt cvt - cft A receita total corresponde ao somatório de preços unitários multiplicado pelas quantidades de vendas dos produtos e o custo variável total corresponde ao somatório dos custos variáveis unitários multiplicados pelos volumes. lt = ( q i.pu i - q i.cvu i )- cft O custo fixo total é passado para o outro lado. O lado esquerdo (lt + cft) refere-se aos elementos da estrutura fixa de um negócio. O lado direito corresponde aos elementos dos produtos. lt + cft = ( q i.pu i - q i.cvu i ) A quantidade é colocada em evidência. lt + cft = q i.( pu i - cvu i ) Preço menos o custo variável corresponde à margem de contribuição unitária. lt + cft = q i. mcu i E finalmente é visto que margem de contribuição unitária multiplicada pela quantidade corresponde à margem de contribuição total. lt + cft = mct onde: lt = lucro total rt= receita total ct = custo total cvt = custo variável total cft = custo fixo total qi. = quantidades do produto i
5 pui = preço unitário do produto i cvui = custo variável unitário do produto i mcui = margem de contribuição unitária do produto i mct = margem de contribuição total Exemplo: Considerando-se uma empresa com o montante de despesas fixas de $ 700 por período e com apenas dois produtos: Produto X Preço de venda de $ 5/un. Custo variável de $ 2,5/un. Volume de vendas de 200 unidades. Produto Y Preço de venda de $ 12/un. Custo variável de $ 8/un. Volume de vendas 80 unidades Aplicando a equação do lucro: lt + cft = q i.( pu i - cvu i ) ou q i.( pu i - cvu i ) - cft = lt 200un. ($ 5 - $ 2,5) + 80un. ($ 12 - $ 8) = $ 120 Essa equação do lucro orienta o desenvolvimento dos conteúdos dos capítulos seguintes desta obra. Empresa Delta A empresa Delta está operando com um volume de unidades/mês e tendo um lucro de $ 5.000,00/mês. Sabe-se que os custos e despesas fixos correspondem a $ ,00/mês. Sabe-se também que os custos e despesas variáveis correspondem a 35% da receita. Qual é o preço de venda unitário praticado pela empresa? Resolução: Na aplicação da equação do lucro, neste caso, é preciso observar que não é dado um custo variável do produto na forma unitária. Os custos e despesas variáveis são expressos em forma de percentual da receita. Assim: RT CVT CFT = LT (10.000un. pv) (0,35 x un. pv) $ = $ un. pv 3.500un. pv = $30.000
6 6.500un. pv = $ $ pv = un pv = $4,6/un 6.4 A importância do custeio dos produtos Métodos de custeio representam diferentes formas de apropriação de custos aos objetos de interesse de mensuração. Decorrem de uma necessidade de se identificar os custos de produção e de prestação de serviços de cada produto e serviço ou grupo de produtos e de serviços, de cada atividade, departamento, unidade de negócio, setor ou qualquer outra entidade econômica que consome recursos e gera resultado econômicofinanceiro. É fundamental a apropriação de custos para as diferentes entidades econômicas quando se trata de gestão da rentabilidade. Como um gestor pode saber a rentabilidade de um produto, serviço, atividade ou de toda uma organização sem que tenham sido identificados os recursos consumidos e, portanto, os custos incorridos por cada uma dessas entidades econômicas? Diferentes métodos de apropriação de custos podem ser encontrados na literatura especializada, cada qual ressaltando as vantagens e as contribuições que oferecem aos gestores no sentido de melhor representar os custos efetivamente consumidos pelas entidades econômicas e, conseqüentemente, de melhor refletir a rentabilidade dessas entidades. Não é de se estranhar que os gestores recém-iniciados se vejam confusos quando se deparam com esses diferentes métodos de custeio, cada qual sendo considerado o melhor para a apropriação de custos e a gestão da rentabilidade, surgindo naturalmente a seguinte pergunta: qual método de custeio adotar? Este capítulo tem por objetivo demonstrar o impacto que os principais métodos de custeio podem causar na rentabilidade dos produtos e, portanto, da organização. Consideramos, de forma simplificada, que existem dois métodos de custeio básicos: custeio por absorção e custeio variável. Os demais métodos podem ser considerados variações de um ou de outro. 6.5 Variabilidade dos custos: custos fixos e custos variáveis Para finalidades gerenciais, é fundamental o entendimento do comportamento dos custos em relação ao comportamento do volume de produção e venda. O modelo econômico da empresa e a correspondente equação do lucro da empresa evidenciam os dois elementos fundamentais que compõem o custo total: custos fixos e custos variáveis. Em síntese a equação do custo corresponde a: y = a + b.x
7 y = custo total a = custo fixo total b = custo variável unitário x = volume de produção (e vendas) O comportamento dos elementos de custo é apresentado na figura 6.2. Custo variável São classificados como custos variáveis o valor dos recursos consumidos que guardam estreita correlação como o volume de produção e vendas. Quando o volume de produção e vendas aumenta o custo aumenta; quando o volume de produção e venda diminui o custo também diminui. Existem custos variáveis correlacionados com o volume de produção e custos variáveis correlacionados com o volume de vendas. Os custos variáveis de venda são todos aqueles que guardam uma estreita relação como o volume de vendas. Partindo-se do faturamento bruto, isto é, incluindo-se os impostos sobre vendas, o conjunto de despesas variáveis de venda é formado pelos impostos sobre vendas (IPI, ICMS, PIS e COFINS), comissões pagas a vendedores, fretes sobre vendas, e embalagens de entregas. A tecnologia moderna de produção empregadas na nos processos de produção de bens e serviços, tais como, o alto grau de automação dos processos, emprego de robots, controles eletrônicos e outros, têm impactado a estrutura de custos das empresas, tornando-a composta com o predomínio de custos fixos. Nas indústrias de forma geral, os custos variáveis relevantes são a matéria-prima e alguns insumos variáveis, tais como o consumo de energia elétrica (não a demanda), ferramentas de curta duração e materiais auxiliares. Fundamentalmente o grande e quase único custo variável é o consumo de matéria-prima. Os custos variáveis possuem algumas características específicas: Variam em função do volume de produção e vendas; São identificados objetivamente com a unidade de produto; São expressos em valores unitários; Dependem das decisões atuais. Custo fixo São classificados como custos fixos o valor dos recursos consumidos que não guardam estreita correlação como o volume de produção e vendas. Quando o volume de produção e vendas aumenta - dentro de um determinado intervalo - o custo fixo permanece de certa forma indiferente. Os custos fixos são diretamente correlacionados com algum elemento da estrutura, por exemplo, edifícios, máquinas, contratos de prestação de serviço, espaço físico ou pessoas. Um custo fixo mais geral é a depreciação do prédio da fábrica (ou aluguel). Esse montante de custo fixo depende do volume e outras características da unidade prédio da estrutura. O montante de custo fixo relativo a aluguel de equipamentos está correlacionado com o volume equipamentos arrendados e o custo de mão de obra depende do volume de pessoas. Consideramos que o custo de mão de obra direta é um custo fixo. As principais características dos custos fixos são: São indiferentes às oscilações do volume de produção e vendas; São identificados objetivamente com a estrutura da empresa; São expressos em valores totais por período de tempo;
8 Dependem das decisões do passado. Figura 6.2 Custo Total $ $ $ $ $ $ Custo Variável $ $ $ $ Custo Fixo $ Unidades 6.6 Considerações sobre o custo de mão-de-obra direta Para o entendimento do custo de mão-de-obra é inicialmente necessário discutir o conceito unidade de trabalho, ou seja, a forma pela qual o trabalho e a capacidade produtiva são medidas. O conceito de unidade de trabalho depende das características dos processos de produção. Um dos processos de produção mais antigos é aquele onde o homem elabora o produto manualmente. Ainda hoje, mesmo em determinadas empresas com tecnologia moderna,
9 esse sistema é empregado. A unidade de trabalho nesse caso é definida como hora-homem. A capacidade do centro de produção que utiliza esse sistema é medida em termos de horashomem disponíveis. No processo evolutivo de tecnologia, os equipamentos manuais começaram a fazer parte dos processos de produção. A característica de um equipamento manual é que se o operador para o trabalho o equipamento também para de funcionar. O equipamento é dirigido pelo esforço do operador. Nesse caso hora-homem também é a unidade de medida da capacidade instalada no setor produtivo. Podemos considerar que nesses dois tipos de ambiente de produção pode-se falar ainda de mão-de-obra direta, ou seja, o esforço do homem se correlaciona de alguma forma com o que é produzido. Na seqüência da evolução tecnológica veio a automação industrial. Nesse caso o processo de produção industrial é composto por equipamentos automáticos. A característica de um equipamento automático é que ele de certa forma trabalha com independência do funcionário. O funcionário deixa de ser um operador para ser um administrador de equipamentos. Um mesmo funcionário pode operar simultaneamente vários equipamentos, como por exemplo, máquinas injetoras de plásticos. Em outras situações vários funcionários são demandados para operar um único grande equipamento, como no caso de fábrica de papel. Nesse caso desaparece o conceito de hora-homem e a unidade de produção é horamáquina. Temos ainda o caso de produção em larga escala de um único produto, como por exemplo, fábricas de celulose, fábricas de óleo refinado, produção de açúcar, produção de álcool, entre outras. Nesse caso não se aplica o conceito de horas como unidade de trabalho. A unidade de trabalho é o volume de produção. Finalmente temos os sistemas de produção mais recentes estruturados por células de produção. Existem sistemas estruturados em células de produção dedicadas a um único produto e na maior parte dos casos, células de produção dedicadas a um conjunto de produtos. Nos casos mais raros de sistemas de produção em células dedicadas a um único produto, a unidade de trabalho é volume de produção. Nos casos de células dedicadas a diversos produtos, a unidade de trabalho é hora de célula. Consideramos o custo de mão-de-obra fabril um custo fixo por dois motivos: O primeiro é que na grande maioria das empresas não é o esforço direto da mão-de-obra que produz o produto e sim o esforço direto de máquinas e equipamentos. Assim, nas empresas com automação industrial, não existe mais a mão-de-obra que fabrica o produto. A mão-deobra direta tornou-se especializada em manusear equipamentos. Mesmo nos casos em que a unidade de trabalho é hora-homem, a legislação social brasileira transformou o custo de mão-de-obra direta em custo fixo. As empresas têm pagar obrigatoriamente um volume mínimo de 220 horas mensais, independentemente o uso que fez dessas horas. A mão-deobra direta é confundida com custo variável por dois motivos: o primeiro motivo diz respeito aos usos e costumes (arquétipos da contabilidade de custos) e o segundo é porque o custo de mão-de-obra é correlacionado e derivado com o módulo pessoa. Esse módulo dentro da estrutura de custos fixos da empresa é o mais fácil de administrar (eliminar) no curto prazo. Quando a empresa precisa reduzir custo fixo, fica óbvio que reduzir prédios e equipamentos é muito mais difícil do que reduzir de pessoas. A comprovação de que o custo de mão-de-obra direta é um custo fixo é dada nos momentos difíceis de uma empresa. Quando o volume de produção e vendas cai sistematicamente, a direção da empresa implementa ação para a redução do custo de mão-de-obra, demitindo pessoas. Se a mão-deobra fosse um custo variável não seria necessário implementar essa ação. O custo de mãode-obra seria naturalmente reduzido, porque o custo variável depende do volume de produção e vendas. Todo o custo que demanda uma ação gerencial para que seja reduzido, é um custo fixo. 6.7 Identificação dos custos com objetos de custeio: custos diretos e custos indiretos
10 Os custos de maneira geral podem ser identificados com diferentes objetos de interesse de gestão. Um dos principais objetos de gestão é a unidade de produto, porém existem outros, tais como família de produtos, atividade, cliente, região geográfica, vendedor, equipamento e planta fabril. Os custos diretos são aqueles que podem ser identificados objetivamente com um objeto de interesse, sem a necessidade de uso de critérios de alocação. Os custos indiretos, por sua vez, são aqueles que não podem ser objetivamente identificados com determinado objeto. Se por algum motivo é necessário efetuar a identificação do custo indireto com um determinado objeto, haverá a necessidade de usar critério subjetivo para atribuição de parcela do custo ao objeto. No que diz respeito à unidade de produto, é fácil observar que os custos diretos são exatamente os custos variáveis dos produtos. Quando examinamos a família do produto como o objeto de custeio é possível observar que além dos custos diretos de produtos podem ser objetivamente identificados outros custos, normalmente de natureza fixa. Por exemplo, o custo do gerente que administra as vendas somente de uma determinada família de produtos, pode ser objetivamente identificado como um custo direto dessa família de produtos. Porém, deve ser observado que o custo desse gerente seria indireto a cada unidade de produto. 6.8 Os métodos de custeio sob o prisma gerencial No capítulo 3 foram abordados os procedimentos relativos aos métodos de custeio mais utilizados, ou seja, o custeio por absorção e o custeio variável. Neste tópico são efetuadas considerações relativas ao emprego desses métodos para a gestão de negócios. Custeio por Absorção O custeio por absorção está relacionado com a visão financeira da contabilidade, cuja ênfase é a avaliação dos estoques e o atendimento a normas e princípios contábeis. Embora o seu foco seja os aspectos normativos, as pesquisa indicam uma forte adoção do método de custeio por absorção para finalidades gerenciais nas empresas. Conforme já explicado anteriormente, o primeiro passo na operacionalização do método de custeio por absorção é a separação entre custos de produção e despesas do período. Os custos de produção são atribuídos aos produtos e as despesas são levadas diretamente para resultado. Poderíamos perguntar: Por que razão os custos de produção são atribuídos aos produtos e as despesas não são? Na verdade o processo de separação de custos de produção e de despesas, bem como os respectivos tratamentos contábeis, faz parte do repertório cultural da área contábil. Tem a ver com usos e costumes consolidados através de regulamentos voltados para disciplinar os aspectos da contabilidade societária e fiscal. Os custos de produção são alocados aos produtos. Tendo em vista que os custos fixos de produção não são objetivamente identificados com as unidades de produtos fabricados, existe a necessidade de efetuar rateios dos custos fixos de produção aos produtos. O processo de rateio de custos fixos aos produtos faz com que custos de estrutura sejam alocados às unidades individuais de produto. Essa alocação de custos fixos aos produtos provoca dois tipos de distorções. A primeira distorção é no nível da rentabilidade analítica dos produtos. Tendo em vista que nas empresas de maneira geral, o montante de custos fixos é bastante relevante, o custo dos produtos tende a ficar ainda mais distorcido. Essa distorção coloca em risco a otimização de resultados nos processos de decisão que envolvam o mix de produtos da empresa. A segunda distorção é no nível do resultado global da empresa em função da estocagem de custos fixos.
11 Como conseqüência da utilização do custeio por absorção, fundamentalmente em função da alocação dos custos fixos aos produtos, observa-se que o custo unitário do produto fica impactado por dois fatores: (i) pelo critério de rateio utilizado para alocação de custos fixos aos produtos e (ii) pelo volume de produção do período. A alocação dos custos fixos aos produtos depende da utilização de critérios subjetivos de rateio. Uma alteração do critério de rateio provoca uma modificação no custo unitário do produto. O custo unitário é uma divisão de um montante de custo por uma quantidade de produto. Tendo em vista que o volume de custo fixo permanece de certa forma constante (numerador) e o volume de produção pode variar (denominador) o custo unitário oscila de período para período em função do volume e mix de produção. Assim, a ociosidade, um problema decorrente de baixo volume de produção e de vendas e, portanto de baixa utilização da capacidade instalada, passa a ser interpretada equivocadamente como sendo um problema de custo unitário de produto (O CPC 16 modificou esse procedimento inibindo a alocação do custo de ociosidade nas unidades de produtos). As duas principais variantes da aplicação do custeio por absorção são o custeio pleno e o custeio por atividades. Diferentemente do custeio por absorção, o custeio pleno distribui tanto os custos quanto as despesas do período aos diferentes produtos, isto é, os procedimentos de rateio são utilizados para distribuir não apenas os custos fixos, mas também as despesas fixas aos produtos. O custeio por atividades, por sua vez, trabalha conceitualmente como um custeio pleno, porém adotando entidades e procedimentos analíticos próprios. Os custos e despesas fixos são identificados inicialmente com as atividades analíticas de interesse de gestão e depois via direcionadores de custos, os custos e despesas são alocados aos produtos ou outros objetos, como por exemplo, clientes. Deve ser observado que a teoria convencional de custos não recomenda o uso do método de custeio por absorção para finalidades gerenciais. O uso desse método de custeio é voltando para atendimento de requisitos normativos. Custeio Variável O método de custeio variável é voltado especificamente para uso gerencial, não sendo aceito para finalidades fiscais e societárias. Toda a lógica de tomada de decisão de rentabilidade apresentada nesta obra é fundamentada nesse método de custeio variável. O método de apropriação de custos denominado de custeio variável é aquele que distribui apenas os custos variáveis de produção às quantidades de produtos produzidos no período. Os custos fixos de produção não fazem parte do custo do produto e são tratados como gastos de período da mesma forma que as despesas administrativas, comerciais e financeiras. A partir da aplicação do método de custeio variável é efetuado o cálculo da margem de contribuição dos produtos. A margem de contribuição corresponde a receitas de vendas menos as despesas variáveis de venda e menos os custos variáveis dos produtos vendidos. O total de margem de contribuição gerada pelos produtos deve ser suficiente para cobrir todas as despesas fixas industriais, administrativas, comerciais e financeiras e proporcionar o lucro esperado da empresa. No modelo de decisão do custeio variável, todos os gastos fixos, sejam de natureza administrativa, comercial, financeira ou industrial são considerados custos fixos de estrutura. A margem de contribuição gerada pelo mix de produtos vendidos deve ser suficiente para cobrir os custos fixos e formar o lucro da empresa. Tendo em vista que os custos fixos não são rateados aos produtos, o custo unitário do produto não sofre o impacto das oscilações de critérios de rateio e das oscilações do volume de produção e vendas. Por outro lado o custo fixo afeta diretamente o lucro do período não impactando o valor dos estoques de produtos. O cálculo da margem de contribuição é feito como segue: Preço de venda
12 (-) Impostos sobre vendas (ICMS, PIS, COFINS) (-) Comissões (-) Custos variáveis de produção (=) Margem de Contribuição Considerando, como exemplo, uma empresa que tenha um produto cujo preço de venda é $ 250,00. A estrutura de impostos e despesas variáveis de vendas é 18% de ICMS, 9,25% de PIS e COFINS e 5% de comissões aos vendedores. O custo variável do produto é formado pelo custo de matéria-prima $ 62,50 e pelo custo de embalagem $ 17,50. Para apurar a margem de contribuição, temos: Preço de venda 250,00 (-) ICMS 45,00 (-) PIS / COFINS 23,12 (-) Comissões 12,50 (-) Custo de Matéria-Prima 62,50 (-) Custo de Embalagem 17,50 (=) Margem de Contribuição 89,38 Margem de Contribuição % 35,75% A margem de contribuição é um indicador fundamental da rentabilidade dos produtos. A questão que se coloca é: Qual é a forma de expressão da margem de contribuição que melhor reflete a rentabilidade de um produto? Em termos de valor unitário, na forma percentual da receita ou em termos de valor total? Vejamos o quadro a seguir. Quadro 6.1: Diferentes expressões da margem de contribuição Produtos A B C Preço de Venda Custos e Despesas Variáveis Margem de Contribuição Unitária Margem de Contribuição Percentual 50% 30% 30% Volume 70u 50u 100u Margem de contribuição total Conforme pode ser observado no quadro 6.1, não é a margem de contribuição unitária nem a margem de contribuição percentual que reflete da melhor forma a rentabilidade dos produtos. O produto A possui a maior margem de contribuição percentual e o produto B a maior margem de contribuição unitária. No entanto, o produto C gera a maior margem de contribuição total, sendo o produto que mais contribui para o pagamento dos custos fixos e formação do lucro da empresa. O produto C é o produto mais rentável da empresa.
13 6.9 O impacto dos métodos de custeio na lucratividade dos produtos Neste tópico, o objetivo é compreender os possíveis impactos na rentabilidade dos produtos e do negócio em decorrência da escolha de diferentes métodos de custeio, basicamente, do custeio por absorção e do custeio variável. Para tanto, considere-se a seguinte situação inicial, onde existem três produtos com volumes, preços e custo variável demonstrado no quadro a seguir. A empresa tem o montante de $ 750 de custo fixo por mês. Quadro 6.2: Informações dos produtos (custos fixos = $ 750/mês) Produtos A B C Quantidade Preço de Venda Custo Variável Da mesma maneira que muitas empresas, a empresa neste exemplo utiliza o método de custeio por absorção para efeito de análise de rentabilidade. O critério de rateio dos custos fixos ($750) aos produtos é baseado no volume de produção, uma vez que os produtos são muito semelhantes. O quadro abaixo demonstra a rentabilidade produtos. Quadro 6.3: Rentabilidade dos produtos situação inicial Produtos A B C Quantidade Preço de Venda Custo Variável Custo Fixo Resultado Um gestor (desavisado) ao analisar a rentabilidade dos produtos, observará que o Produto B é o mais rentável, o Produto A apresenta um resultado mínimo e que o Produto C está gerando prejuízo. Assim, a partir dessa informação, o gestor será induzido a deixar de fabricar o Produto C. A partir da decisão de tirar o produto C de linha teríamos a seguinte situação de rentabilidade dos produtos: Quadro 6.4: Rentabilidade dos produtos situação posterior ao corte do produto C
14 Produtos A B C Quantidade Preço de Venda Custo Variável Custo Fixo 7,5 7,5 0 Resultado -1, O gestor que, antes havia optado por tirar da linha de produção o Produto C por esse produto apresentar uma rentabilidade negativa, agora se vê diante de um novo dilema. O Produto B permanece gerando rentabilidade positiva, embora menor do que na situação inicial, enquanto que o Produto A, cuja rentabilidade na situação inicial era mínima, passa a apresentar um resultado negativo. Será então que somente o Produto B é rentável para a organização? O Produto A também deverá ser cortado já que agora apresenta rentabilidade negativa? E por que motivo o Produto A agora apresenta rentabilidade negativa e o Produto B teve sua rentabilidade reduzida se já não se fabrica mais o Produto C que era quem tinha rentabilidade negativa na situação inicial? Observe como ficaria a situação de rentabilidade dos Produtos B caso o gestor também optasse por excluir o Produto A do processo de produção. Quadro 6.5: Rentabilidade dos produtos situação posterior ao corte do produto A Produtos A B C Quantidade Preço de Venda Custo Variável Custo Fixo Resultado O gestor agora se vê em uma situação difícil. Será então que nenhum dos produtos é rentável? Mesmo o Produto B que na situação inicial era o mais rentável, permanecendo assim depois da exclusão do Produto C, agora apresenta uma rentabilidade nula! O que fazer? Essa pergunta fatalmente irá passar pela cabeça de um gestor pouco acostumado com os conceitos aqui tratados. É nesse ponto que os métodos de custeio podem contribuir para a análise da rentabilidade dos produtos, em especial, o custeio variável. O exemplo ilustra o poder de gerar confusão que possui o método de custeio por absorção. A seguir apresenta-se a margem de contribuição de cada um dos três produtos. Quadro 6.6: Rentabilidade dos produtos custeio variável Produtos A B C Quantidade
15 MOVIMENTO DADOS Preço de Venda Custo Variável Margem de Contribuição Unitária Margem de Contribuição Total Analisando-se a margem de contribuição dos três produtos, verifica-se que todos os produtos possuem uma rentabilidade positiva, sendo realmente o Produto A o de melhor rentabilidade, enquanto o Produto C apresenta a menor rentabilidade. No geral a empresa está operando com lucro de $ 450, gerando um montante de margem de contribuição de $1200 e pagando o custo fixo de $750. O produto C produz 12,5% do total de margem de contribuição e não pode ser tirado de linha O impacto dos métodos de custeio no lucro global do negócio Vamos analisar agora o impacto que a utilização dos métodos de custeio pode provocar sobre a rentabilidade global de um negócio. O impacto provocado pelo método de custeio por absorção, conforme mencionado no Capítulo 1, foi percebido por Harris em 1937, quando teve que explicar para a direção da empresa onde era o controller, qual era o motivo que fazia a empresa ter lucros insignificantes quando as vendas tinham sido maiores que as expectativas. O exemplo a seguir, preparado pelo Prof. Catelli, apresenta o processo de apuração dos custos de quatro períodos, inicialmente através do custeio por absorção e em seguida pelo custeio variável. Deve ser observado que durante os quatro períodos o preço de venda do produto ($ 18), custo variável do produto ($ 6), as despesas fixas de produção ($ ) e as despesas administrativas ($ 5.000), não se alteram. Apenas os volumes físicos de produção e vendas se alteram nos períodos. Quadro 6.7: Rentabilidade do negócio medida pelo custeio por absorção ABSORÇÃO MÊS 1 MÊS 2 MÊS 3 MÊS 4 QTD. VALOR QTD. VALOR QTD. VALOR QTD. VALOR Preço de venda 18,00 18,00 18,00 18,00 Custo variável 6,00 6,00 6,00 6,00 produto Despesas de produção Despesas administrativas Volume de produção Volume de vendas Estoque Inicial Produção-período: Custo variável Despesa de produção Soma Custo Médio Unitário , ,61 Vendas Estoque Final Soma
16 DAD LUCRO Receita de Vendas C. Produtos Vendidos Margem Bruta Desp. administrativas Resultados FONTE: GECON/FIPECAFI/USP A mecânica do custeio por absorção segue as seguintes etapas: 1) separam-se os custos de produção e despesas; 2) apura-se o montante de custo variável da produção, multiplicando-se o volume de produção do período pelo custo variável unitário do produto; 3) apura-se o custo total da produção do mês, somando-se o montante de custo variável com as despesas fixas de produção; 4) apura-se o custo unitário, dividindo o montante de custo pelo montante de quantidades. O volume de produto acabado e o respectivo custo de produção incorporam a movimentação dos estoques de produtos. É calculado o custo unitário médio dos estoques e o custo dos produtos vendidos. Analisando-se o desempenho da empresa nos quatro meses temos a seguinte situação. No primeiro mês o resultado foi nulo. A empresa começou com estoque inicial e terminou com estoque final igual a zero e o lucro foi zero, ou seja, este é exatamente o denominado ponto de equilíbrio da empresa. No segundo mês a empresa teve lucro de $ Vamos parar para pensar: no mês anterior a empresa vendeu unidades e teve lucro zero e no segundo mês vendeu apenas unidades e teve lucro de $ Parece estranho! No terceiro mês a empresa vendeu unidades e teve um prejuízo de $ e no quarto mês, quando a empresa superou suas metas de vendas, teve um prejuízo de $ Como explicar para o pessoal de vendas que no mês em que a área bateu recordes de vendas a empresa apresentou o maior prejuízo dos últimos meses. Como explicar para a diretoria da empresa que a empresa, quando vende unidades tem lucro igual a zero, vendendo unidades tem lucro de $ , quando ela vende tem prejuízo de $ e finalmente vendendo unidades tem prejuízo de $ Não existe influência de oscilações de preços e de custos porque eles permanecem constantes. Deve ser observado ainda que no segundo mês, quando a empresa apresentou um lucro de $ , a área financeira da empresa está com muitas dificuldades, porque está faltando dinheiro no caixa. Qual a explicação para que a empresa tenha lucro e não tenha gerado recursos financeiros na mesma proporção? Tendo-se como premissa que não houve investimentos que demandassem recursos adicionais, a resposta é muito simples: O lucro medido pelo custeio por absorção está incorreto. No quarto mês a empresa apresenta seu maior prejuízo ($ ), porém a área financeira nunca esteve tão bem. Com certeza esse prejuízo não é verdadeiro A explicação para que o resultado apurado pelo método de custeio por absorção seja incorreto deve-se ao fato do método estocar despesas fixas de produção. Quando se produz mais do que se vende, as despesas fixas de produção são guardadas no estoque não influenciando o resultado do mês. No mês em que o volume de vendas é maior que o volume de produção, as despesas fixas que estão estocadas, desaguam do estoque para o resultado do mês. Assim a tendência desse método é apresentar sempre resultados menores nos períodos nos quais os volumes de vendas são maiores que os volumes de produção. Vamos analisar agora esse mesmo exemplo com a aplicação do método do custeio variável. Quadro 6.8: Rentabilidade do negócio medida pelo custeio variável DIRETO MÊS 1 MÊS 2 MÊS 3 MÊS 4 QTD. VALOR QTD. VALOR QTD. VALOR QTD. VALOR Custo variável produto 6,00 6,00 6,00 6,00 Despesas de produção OS Preço venda 18,00 18,00 18,00 18,00
17 LUCRO MOVIMENTO Despesas administrativas Volume de produção Volume de vendas Estoque Inicial Produção-período: Custo variável Despesa de produção Soma Custo Médio Unitário , ,00 Vendas Estoque Final Soma Receita de Vendas C. Produtos Vendidos Margem Bruta Desp. departamentais Resultados FONTE: GECON/FIPECAFI/USP A mecânica do método de custeio variável é extremamente simples. O custo do produto é apenas o custo variável e as despesas fixas de produção não são alocadas aos produtos. As despesas fixas de produção juntamente com as despesas administrativas são levadas para a apuração do resultado do mês. Percebe-se que quando se utiliza o custeio variável o custo unitário permanece o mesmo, independentemente do volume de unidades produzidas, já que não são alocadas aos produtos as despesas fixas de produção. Outro ponto interessante é que agora o lucro acompanha o volume de unidades vendidas, quanto maior for esse volume, maior será o lucro. Isso ocorre porque as despesas fixas não sendo estocadas, não distorcem o resultado. No primeiro mês a empresa vendeu unidades tem lucro igual a zero e alcançou o seu ponto de equilíbrio. No segundo mês a empresa apresentou um prejuízo, porque vendeu um volume de unidades, abaixo, portanto, do seu ponto de equilíbrio. No terceiro mês a empresa continuou a apresentar prejuízo, porque operou abaixo do seu ponto de equilíbrio e no quarto mês ela apresenta o seu melhor resultado. É importante observar que no mês em que a empresa gerou o melhor lucro, é o mês em que ela apresenta a melhor situação financeira. Ou seja, se deu lucro, deve haver dinheiro no caixa.
3 MÉTODOS DE CUSTEIO
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