Análise dos preços de etanol no segmento produtor da região Centro- Sul no ano-safra 2010/11
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- Cíntia Lemos Castilho
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1 Análise dos preços de etanol no segmento produtor da região Centro- Sul no ano-safra 2010/11 Oferta e demanda são essencialmente os determinantes do comportamento dos preços do etanol. As diferenças dos preços observadas em períodos de tempo consecutivos estão associadas, do lado da oferta, ao montante de cana-de-açúcar disponível para processamento e à alocação dessa matéria-prima entre os produtos alternativos do setor sucroenergético. Do lado da demanda, variáveis como renda, frota de veículos e preço da gasolina (combustível substituto do etanol hidratado e complementar do anidro) têm influência naqueles preços. No ano-safra 2010/11, observou-se um comportamento ascendente acentuado dos preços dos etanóis anidro e hidratado no segmento produtor dos principais estados da região Centro-Sul (Figuras 1 e 2). Busca-se, neste texto, fazer uma análise das causas dessa evolução. Os níveis semelhantes de preços dos etanóis anidro e hidratado nos estados do Centro-Sul são atribuídos à existência de intenso fluxo de comércio entre os mesmos. Pode-se considerar que os estados do Centro-Sul são integrados espacialmente, pertencendo a um mesmo mercado, o que faz com que os preços líquidos recebidos pelos produtores (descontados os diferenciais de tributos e de custos associados à logística) tendam a se igualar. Tal fato fica evidenciado ao se analisar as Figuras 1 e 2. No ano-safra 2010/11, observou-se um aumento expressivo da frota de veículos e comerciais leves, o que gerou maior demanda por combustíveis. Segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), o número de veículos e comerciais leves, excluindo os movidos a diesel, vendidos em 2010, foi aproximadamente 9% superior ao total de Soma-se a essa maior demanda por combustível, o crescimento do uso de etanol na indústria, especialmente na alcoolquímica (fabricação de eteno, polietilenos, etc.), com a inserção no mercado de empresas de grande porte.
2 Figura 1. Preços reais médios mensais de etanol anidro nos principais estados produtores do Centro-Sul Fonte: Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Nota: Preços líquidos (descontado R$ 48,00 por metro cúbico referente ao PIS/COFINS). Preço na condição PVU Posto Veículo Usina. Valores de março de 2011, deflacionados pelo IGP-M. Figura 2. Preços reais médios mensais de etanol hidratado nos principais estados produtores do Centro-Sul Fonte: Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Nota: Preços líquidos (descontado R$ 48,00 por metro cúbico referente ao PIS/COFINS e 12% de ICMS, exceto no caso de Goiás, com alíquota de ICMS de 20% até fevereiro de 2011 e de
3 22% em março de 2011). Preço na condição PVU (Posto Veículo Usina). Valores de março de 2011, deflacionado pelo IGP-M. Para que o preço não registrasse aumento, a quantidade produzida e ofertada de etanol deveria ter crescido na mesma medida que a quantidade demandada, fato que não ocorreu, por razões que serão discutidas a seguir: 1) Queda na taxa de crescimento da produção de cana-de-açúcar De 2000 a 2008, a produção de cana-de-açúcar aumentou aproximadamente 10% ao ano. A partir de 2008, vários fatores influenciaram a queda nessa taxa de crescimento, que passou a 3% ao ano. Entre os fatores responsáveis por essa menor taxa de crescimento da produção de cana e da oferta de etanol podem-se apontar os seguintes: i) A crise de financeira de 2008, que atingiu prioritariamente as empresas que haviam realizado altos investimentos. Em muito casos, as novas fábricas, voltadas principalmente à produção de etanol, tiveram seus projetos suspensos por falta de liquidez. Essas empresas, assim como a maior parte das usinas do Brasil, tiveram ainda pouco acesso às linhas de crédito para estoques de etanol, tendo que suprir as necessidades de caixa através da venda do produto a preços baixos no período de safra. ii) Os preços pouco remuneradores para o etanol nas safras 2007/08 e 2008/09, que desmotivaram investimentos na área agrícola e industrial. Como pode ser visto nas Figuras 3 e 4, os preços nesses anos foram os mais baixos da década. Embora os dados refiram-se ao estado de São Paulo, situação semelhante ocorreu nos demais estados da região Centro-Sul. Além da redução das margens relacionada aos preços baixos, os empresários se sentem inseguros em relação à política de definição do preço da gasolina,
4 substituta do etanol hidratado, que vem se mantendo artificialmente estável. Isso vem fazendo com que o combustível renovável perca a competitividade em relação ao fóssil, especialmente em estados com elevada alíquota de ICMS. Esses fatos, associados à queda de liquidez mencionada anteriormente, motivaram um atraso no término de novas fábricas de etanol em construção e no abandono de projetos que deveriam ser executados. iii) O clima na região Centro-Sul afetou a produção de cana por dois anos-safra consecutivos, 2009/10 e 2010/11, devido ao excesso de chuva em um período e seca no outro. A produção de cana efetiva nesses anos-safra ficou abaixo da estimada no início do ano-safra. Em 2009/10, previa-se uma produção de 550 milhões de toneladas e a efetiva foi de 541,94 milhões. Neste ano-safra, a quantidade de ATR (Açúcar Total Recuperável) efetiva foi de apenas 130,25 kg/tonelada, quando o previsto no início da safra era de que ela atingiria 140,08 kg/tonelada (UNICA). Em 2010/11, previa-se uma produção de 595,89 milhões de toneladas e a efetiva foi de 556,74 milhões.
5 Figura 3. Etanol hidratado preços médios recebidos pelos produtores do estado de São Paulo Fonte: Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Nota: Valores de março de 2011 deflacionados pelo IGPM. Figura 4. Etanol anidro preços médios recebidos pelos produtores do estado de São Paulo Fonte: Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Nota: Valores de março de 2011 deflacionados pelo IGPM. 2) Alteração no mix de produção Como pode ser observado na Figura 5, a proporção de cana destinada à fabricação de etanol na região Centro-Sul aumentou de 50%, percentual que prevaleceu desde o ano-safra 2000/01 até 2006/07, para aproximadamente 60% no ano 2008/09. Em 2009/2010 e 2010/11, houve uma pequena redução na destinação de cana para a fabricação de etanol, mas a maior parte da matéria-prima continuou sendo utilizada para a produção do combustível (55,3% em 2010/11). Embora se reconheça que o preço do açúcar tenha influência nos dos etanóis, uma vez que esses produtos competem pela matéria-prima (a cana-de-açúcar) e que a produção de um ou outro produto deveria ser orientada pelos seus preços relativos, fatores de ordem técnica e institucional, mas principalmente os primeiros, dificultam a
6 mudança no mix de produção durante o ano-safra, fazendo com que os preços equivalentes de açúcar e etanol sofram descolamentos em períodos específicos. Em 2010/11, como a capacidade instalada para a produção de açúcar na região Centro-Sul foi utilizada quase que na sua totalidade, embora a remuneração desse produto chegasse a ser 135% superior do que a do etanol hidratado e 115% superior do que a do anidro, a maior parte da matéria-prima foi empregada na produção do combustível. Com isso, a superioridade da rentabilidade do preço do açúcar em relação à do etanol hidratado e anidro que cairia caso a proporção de açúcar aumentasse significativamente permaneceu em praticamente todo o ano-safra 2010/11. Figura 5. Uso da cana na produção de açúcar e de etanol na região Centro-Sul, em percentagem *Estimativa da Unica. Fonte: Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar). Elaboração Cepea. Conclui-se, dessa forma, que a influência do preço do açúcar na definição do nível do preço de etanol anidro e hidratado no ano-safra 2010/11, pelas condições específicas desse ano-safra, não foi de grande magnitude. Comportamento sazonal e rentabilidade
7 No ano-safra 2010/11, o comportamento sazonal do preço do etanol, tanto anidro quanto hidratado, tornou-se mais acentuado do que se observa em média. Como ilustração, apresenta-se, na Figura 6, o padrão médio de variação estacional do preço do etanol hidratado no segmento produtor do estado de São Paulo. A elevação mais acentuada dos preços dos etanóis nos últimos meses do anosafra 2010/11 não se traduziu em aumento significativo da rentabilidade dos produtores desse combustível. No estado de São Paulo, por exemplo, o preço médio da safra 2010/11, tanto para anidro quanto para hidratado, tem uma posição mediana quando se considera os preços dos últimos 11 anos-safra. Ou seja, em 5 períodos dos últimos 11 anos-safra, o preço médio ficou acima do observado em 2010/11 (Figuras 3 e 4) 1. Figura 6. Índice sazonal do preço do etanol hidratado no segmento produtor do estado de São Paulo Fonte: Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP Nota: Estimado com dados de abril de 1999 a março de As linhas que envolvem a central representam a dispersão dos dados em cada mês, considerando os diferentes anos-safras da amostra. A maior dispersão ocorre em março, quando se dá o ajuste entre a produção e o consumo do ano-safra, podendo o preço cair, se houver excedente, ou subir, no caso de escassez. Para atender equilibradamente a demanda, é necessário que haja novamente um ciclo de crescimento nos moldes do que ocorreu em meados dos anos 2000, com investimentos em novas plantas voltadas à produção de etanol. Também são necessários
8 investimentos em pesquisas que propiciem aumento da produtividade agrícola e industrial. Para que tais objetivos sejam atendidos, faz-se necessária uma política transparente em relação à definição de preço da gasolina, uma política efetiva para estoques, evitando variações acentuadas de preços no período da safra, e medidas que corrijam situações tributárias estaduais que prejudicam a competitividade do etanol frente à gasolina. 1. Se fossem estimadas médias ponderadas ao invés dessas médias aritméticas simples, os preços médios de 2010/11 teriam até pior desempenho no período considerado (últimos 11 anos-safra), uma vez que preços altos são sinalizadores de escassez, esperando-se que em patamares de preços elevados as quantidades comercializadas sejam menores.
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