ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COMO TEMA DE UMA PROPOSTA DE METODOLOGIA ATIVA ENSINO/APRENDIZAGEM CENTRO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
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1 1 ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COMO TEMA DE UMA PROPOSTA DE METODOLOGIA ATIVA ENSINO/APRENDIZAGEM CENTRO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS FEIJÃO, Mariana D. 1 PEREIRA, Silvia E. A. 2 Eixo Temático: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO BÁSICA RESUMO O objetivo do trabalho foi valorizar o tema Alimentação e Nutrição, de forma transversal e interdisciplinar no conteúdo de disciplinas de um centro de educação de jovens e adultos. Utilizou-se o grupo focal para acessar conhecimentos prévios, planejamento participativo de uma aula da disciplina de física com a inclusão do tema e, portfólio reflexivo para a avaliação. A condução de todo o processo foi pautado nos princípios da Educação Popular e Metodologia participativa e dialógica. O diário de campo também foi usado para auxiliar na análise de todo o processo. Os portfólios apontaram que o processo foi interessante e despertou a curiosidade sobre o tema alimentação e nutrição no cotidiano do estudante. Esperamos que outros docentes possam inserir o tema alimentação e nutrição em suas disciplinas. O planejamento e execução baseados em metodologia ativa e interdisciplinaridade foram fundamentais para a avaliação positiva por parte dos integrantes do processo realizado. Palavras-Chave: Alimentação e Nutrição, Interdisciplinaridade, PNAE. 1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos observamos inversão nas práticas alimentares da população com maior consumo de alimentos ultraprocessados e redução da ingestão de alimentos in natura e minimamente processados, tendo como consequência o excesso de ingestão de calorias, sal, 1 Universidade Federal Fluminense. Graduanda. marianadefante@hotmail.com. 2 Universidade Federal Fluminense. Doutora em Ciências. seapereira@gmail.com.
2 2 açúcares simples, com redução da ingestão de micronutrientes e fibras. Em adultos, essa mudança contribuiu para transição epidemiológica onde aumentou-se a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis como obesidade, diabetes e hipertensão, segundo Moratoya (2013, p.72) e Tardido e Falcão (2006, p.117). O Brasil possui um arcabouço legislativo voltado para a promoção da alimentação saudável. Dentre as políticas temos a Política Nacional de Alimentação e Nutrição, o Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional e O Sistema Único de Saúde (SUS), dentre outras. Segundo Schmitz et al. (2008, p ) e Santos e Bógus (2007, p ) a agenda política, considera a escola como um espaço privilegiado para o desenvolvimento de promoção da saúde e da alimentação saudável, para isso, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) tem como princípio ações de Educação alimentar e Nutricional de forma ampla e transversal a todos os seus contemplados. No entanto, os estudantes do ensino de jovens e adultos (EJA), em razão da dinâmica, normalmente não participam/são inseridos nestas atividades. Para Gouveia e Silva (2015, p ) uma das grandes dificuldades na EJA é referente a particularidade dos indivíduos, por serem de idades, origens, histórias, realidades e expectativas diferentes, o que forma um grupo heterogêneo com necessidades diferenciadas. A carga horária reduzida na EJA é outro problema, visto que se faz necessário fragmentar e selecionar o conteúdo, o que impede aos alunos uma visão mais ampla do conhecimento. Assim, foi objetivo deste trabalho valorizar o tema Alimentação e Nutrição, de forma transversal e interdisciplinar no conteúdo de disciplinas de um centro de educação de jovens e adultos 2 DESENVOLVIMENTO Trata-se experiência onde buscou-se utilizando os princípios do Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional discutir o tema Alimentação e Nutrição utilizando praticas educativas críticas e reflexivas. Todos os educandos e docentes participantes do projeto foram informados sobre o objetivo do projeto, sua metodologia e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal Fluminense, sob o número A equipe coordenadora do projeto foi composta por uma nutricionista, dois professores de diferentes áreas de conhecimento e uma bolsista de iniciação cientifica. O projeto foi desenvolvido em um centro estadual de ensino para jovens e adultos. Este centro
3 3 funciona em regime semi-presencial e durante o ano letivo, desenvolve projetos educativos nas diversas disciplinas. A aproximação da realidade do educando foi feita através das metodologias de grupo foca e roda de conversa. Segundo Minayo (2000) o grupo focal é uma forma de entrevistas com grupos, baseada na comunicação e na interação dos membros, para obter os dados necessários à pesquisa. O projeto foi dividido em três fases. A primeira fase constitui o primeiro contato com os alunos e professores do CEJA com a equipe do projeto, sendo realizado em três encontros. A segunda fase constitui a escolha do tema a ser discutido em uma aula. Esta aula então, foi a terceira fase. A segunda e terceira fase foram compostas por dois encontros cada, sendo dois encontros para o professor de geografia e dois encontros para o professor de física em cada fase. O roteiro do grupo focal continha questões relacionadas ao tema Alimentação e Nutrição e a sua inserção nos conteúdos disciplinares e ao cotidiano. Também foi abordado questões referentes as escolhas de práticas educativas e também de métodos individuais de aprendizagem. Realizou-se dois grupos focais com os educandos. No primeiro grupo focal, os alunos relataram que conseguiam observar a relação com o dia a dia, principalmente com biologia, física e química. Relataram que o tema só aparece em química, história, biologia e geografia. E afirmaram gostar quando o professor passa filmes faz debates em sala, pois assim eles aprendem mais sobre o tema da aula. No segundo grupo focal com os educandos, estes não viram relação entre o conteúdo e o cotidiano e relataram preferir a aula expositiva como técnica educativa. Um grupo focal foi composto por docentes do CEJA, pela coordenadora e Orientadora pedagógica. Alguns relataram que existe sim uma relação do conteúdo das disciplinas com o cotidiano. Quanto ao tema alimentação e nutrição aparecer no conteúdo das disciplinas, citaram que aparece somente em biologia, geografia e educação física, e nas demais não aparece nada relacionado. Uma discussão que tomou grande parte do grupo focal foi sobre o material didático. Todos os professores concordaram que o material didático oferecido para os alunos não é de boa qualidade, superficial, não tendo a chance de relacionar com o cotidiano dos alunos. Eles expressaram que os alunos reclamam do conteúdo que é extenso, difícil entendimento e as
4 4 imagens não correspondem ao texto. Além do conteúdo, as folhas do material refletem a luz, o que é complicado para os alunos que possuem baixa visão. A segunda fase da pesquisa foi realizada com alunos que não haviam participado dos grupos focais. Foram realizados dois encontros, conduzidos pela equipe do projeto. Em cada grupo foi feita a apresentação do projeto. Como forma de iniciação ao tema e aproximação com os educandos, foi questionado o conhecimento sobre o tema, qual conteúdo que gostariam de conhecer e qual o método eles gostariam que esse conteúdo fosse apresentado. Cada aluno escreveu o tema que gostaria de saber e o porquê, em seguida eles apresentaram aos demais alunos e após a apresentação foi realizada a votação para a escolha de um único tema. Para esta fase a metodologia utilizada foi a roda de conversa. Segundo Moura e Lima (2014, p ) e Melo e Cruz (2014, p.31-39) a roda de conversa é um método que possibilita aprofundar o debate com a participação democrática dos envolvidos. É um rico instrumento que permite a partilha dos conhecimentos, experiências de cada pessoa sobre o assunto. O grupo fica disposto em círculos, onde há um moderador para conduzir a conversa e facilitar a participação de todos, gerando dados para discussão. Ao final da Roda de conversa pode definir ações a partir dos dados, das ideias geradas no grupo. A roda de conversa foi utilizada para melhor envolvimento do grupo, para que os participantes ficassem à vontade para conversar sobre o tema, sem definir o que é certo e errado. No primeiro encontro, alguns alunos demostraram saber o que alimentação e nutrição enquanto a maioria não quis se expressar. Os temas propostos foram bem variados, e após votação, foi unânime a escolha do tema qual a diferença entre comer ou se alimentar. Sendo assim, o tema por eles definido foi Comer ou se alimentar?. Quanto a técnica educativa, os alunos relataram preferir a aula expositiva e os recursos educativos escolhido foram cartazes e cartilhas. No segundo encontro, poucos alunos relataram saber sobre o tema alimentação e nutrição. Após debate e votação o tema escolhido pela turma foi Diabetes. A técnica educativa escolhida também foi a aula expositiva utilizando slides. Ao finalizar a segunda fase, foi realizado um encontro entre a equipe do projeto, para elaborar como os temas seriam aplicados. Primeiro a equipe montou o plano de aula, e em seguida os professores elaboraram a aula conforme a técnica escolhida pelos alunos.
5 5 Por fim, a terceira fase foi a realização das aulas sobre os temas escolhidos por cada turma. No dia das aulas, poucos alunos estavam presentes, sendo assim, foi necessário solicitar a participação de outros alunos que estavam disponíveis no dia. Na primeira aula, cujo título foi Entendendo a glicose no organismo, consegui-se desenvolver a relação dos princípios de física com o mecanismo homeostático da regulação dos níveis glicêmicos do organismo. A aula foi finalizada com um recurso visual de um vídeo explicando a determinação da calorimetria no alimento. Na aula A saúde começa pela boca, discutiu-se alguns dos conceitos presentes no Guia Alimentar para a população brasileira. O recurso pedagógico que mais chamou a atenção dos alunos, foi o documentário Muito Além do Peso. A avaliação do processo foi realizada por meio do portfólio reflexivo. Segundo Friedrich et al. (2010, p.1-8) e Alvarenga e Araujo (2006, p ) o portfólio é um instrumento utilizado para o desenvolvimento do pensamento reflexivo, trata-se de uma autorreflexão acerca do aprendizado e feedback do aprendizado do aluno. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer do projeto podemos observar que a grande dificuldade de tratar o tema Alimentação e Nutrição no âmbito escolar EJA, está relacionada ao modo de ensino semipresencial. Uma dificuldade durante a execução do projeto, foi uma greve deflagrada que reduziu o número de estudantes presentes nas fases 2 e 3. Nas disciplinas do ensino médio o tema alimentação e nutrição é abordado no conteúdo de Biologia e Geografia, e no Ensino Fundamental em Ciências..A disciplina de Educação Física foi citada por alguns alunos, porém a mesma muitas vezes é voltada apenas para os esportes. Um importante resultado se destaque: os alunos relataram preferir a aula expositiva como técnica de ensino. Considerou-se que esta resposta deva-se por se ter alunos que durante o ensino regular aprendiam com esta técnica. Precisa-se desenvolver nestes alunos a necessidade de crítica e reflexão sobre as questões impostas no cotidiano profissional, pessoal e acadêmico. Após a realização de todos os encontros pode-se concluir que o tema alimentação e nutrição, em geral não é abordado no conteúdo das disciplinas das escolas, apenas nas disciplinas de biologia e química de forma pontual, como citaram os alunos. Uma questão importante observada no grupo focal dos docentes é com relação ao material didático recebido
6 6 por este centro de EJA e disponibilizado aos alunos, considerado fraco, tanto no conteúdo, quanto na forma e qualidade do material impresso. Em razão destes resultados, optou-se por analisar o projeto político pedagógico da unidade de EJA e não foi encontrado nenhum ponto relacionado com o tema alimentação e nutrição. Ao longo do projeto é citado apenas que a alimentação escolar é fornecida é uma pequena refeição composta de alimentos processados e ultraprocessados, justificada pela unidade não possuir uma cozinha. Este aspecto é contrário ao preconizado pelo PNAE, onde o tema alimentação e nutrição deverá ser transversal no conteúdo curricular das disciplinas e constar do Projeto Político Pedagógico e, a oferta de refeições deve preconizar alimentos que contemplem a diversidade cultural alimentar regional, serem in natura, promotores da alimentação saudável e da educação alimentar e nutricional. Ao longo dos encontros, pode-se perceber que as pessoas se preocupam com a saúde, porém ainda não têm acesso as informações necessárias para uma alimentação saudável. Ainda temos um longo caminho a seguir, paradigmas para isso é necessário acesso as informações corretas, onde a escola é um dos ambientes propício para isto. 4 REFERÊNCIAS 1. MORATOYA, Elsie Estela et al. Mudanças no padrão de consumo alimentar no Brasil e no mundo. Goisas: Revista da Politica Agrícola TARDIDO, Ana Paula; FALCÃO, Mário Cícero. O impacto da modernização na transição nutricional e obesidade. São Paulo: Rev. Bras Nutr. Clín SCHMITZ, Bethsáida de Abreu Soares et al. A escola promovendo hábitos alimentares saudáveis: uma proposta metodológica de capacitação para educadores e donos de cantina escolar. Rio de Janeiro: Cad. Saúde Pública, SANTOS, Kátia Ferreira dos; BÓGUS, Cláudia Maria. A percepção de educadores sobre a escola promotora de saúde: um estudo de caso. São Paulo: Revista Brasileira Crescimento Desenvolvimento Humano, GOUVEIA, Daniele da Silva Maia; SILVA, Alcina Maria Testa Braz da. A formação educacional na EJA: dilemas e representações sociais. Belo Horizonte: Rev. Ens. Pesqui. Educ. Ciênc, 2015.
7 7 6. MINAYO, Maria Cecilia de Souza. O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Revista e aprimorada, MOURA, Adriana Ferro; LIMA, Maria Glória. A reinvenção da roda: roda de conversa: um instrumento metodológico possível. João Pessoa: Revista Temas em Educação, MELO, Marcia Cristina Henares de; CRUZ, Gilmar de Carvalho. Roda de conversa: uma proposta metodológica para a construção de um espaço de dialogo no ensino médio. Ponta Grossa: Revista Imagens da Educação, Melo e Cruz (2014, p.31-39) 9. Nutri News - Nutrir Brasil, Youtube, Muito Além do Peso resumo. Disponível em Acesso em: 30 de março de FRIEDRICH, Denise Barbosa de Castro et al. O portfólio como avaliação: análise de sua utilização na graduação de enfermagem. Juiz de Fora: Rev. Latino-am. Enfermagem, ALVARENGA, Georfravia Montoza; ARAUJO, Zilda Rossi. Portfolio conceitos básicos e indicações para utilização. Londrina: Estudos em Avaliação Educacional, 2006.
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