Nº COMARCA DE ALEGRETE MUNICIPIO DE ALEGRETE
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- João Henrique Álvaro Faro
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1 APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PARA CUSTEIO DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA (CIP). COBRANÇA. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EC Nº 39/02. PRECEDENTE DO STF. A partir da Emenda Constitucional nº 39/02, restaram autorizados os Municípios e o Distrito Federal a instituírem a Contribuição para Custeio da Iluminação Pública (CIP), de modo que não há falar em inconstitucionalidade da Lei Municipal impugnada, uma vez que promulgada em consonância com a referida emenda. APELAÇÃO DESPROVIDA, POR MAIORIA. APELAÇÃO CÍVEL PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE ALEGRETE ALSEO ROQUE ROSSO MUNICIPIO DE ALEGRETE APELANTE APELADO A CÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, por maioria, desprover, vencido o Relator, que proveu. Redator o Revisor. Custas na forma da lei. Participou do julgamento, além dos signatários, o eminente Senhor DES. IRINEU MARIANI (PRESIDENTE). Porto Alegre, 21 de novembro de DES. CARLOS ROBERTO LOFEGO CANÍBAL, 1
2 Relator. DES. LUIZ FELIPE SILVEIRA DIFINI, Revisor e Redator. R E L ATÓRIO DES. CARLOS ROBERTO LOFEGO CANÍBAL (RELATOR) Trata-se de apelação interposta por ALSEO ROQUE ROSSO em face da sentença que, nos autos da ação ordinária ajuizada por ele contra o MUNICÍPIO DE ALEGRETE, julgou improcedentes os pedidos de ilegalidade da cobrança da Contribuição de Iluminação Pública. Inconformado, apela o autor. Sustenta a inconstitucionalidade da cobrança. Afirma que a cobrança seria legal caso fosse adotado um valor fixo, e não proporcional ao consumo de energia, pois, neste caso, é uma taxa travestida de contribuição. Pede o provimento. Responde a municipalidade. Destaca inexistir qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade na cobrança. Salienta que o Supremo Tribunal Federal possui posição firmada sobre o tema. Pede a manutenção. É o relatório. V O TOS DES. CARLOS ROBERTO LOFEGO CANÍBAL (RELATOR) Conheço do recurso por próprio, tempestivo e interposto por parte legítima. Quanto à cobrança da contribuição, eminentes colegas, de início destaco que o caso em voga difere do paradigma estabelecido no RE De fato, a situação em tela difere daquela julgada pelo Supremo Tribunal Federal. No caso do julgamento levado a efeito pela Corte 2
3 Suprema, foi declarada constitucional a legislação do Município de São José SC, cuja CIP foi instituída tendo como base de cálculo o custo mensal do serviço da iluminação, rateado entre os contribuintes de acordo com os níveis individuais de consumo (art. 2º da Lei do Município de São José). A lei do Município de São José, pois, combina o custeio e o rateio (que se estabelece pelo consumo individual). A lei do município catarinense não cobra exclusivamente sobre o consumo individual, e isto foi reconhecido expressamente pelo eminente relator do RE , conforme parte final do seu voto (pág 1433/1434 DJU): Por fim, cumpre repelir o último argumento do recorrente, segundo o qual a base de cálculo da COSIP se confunde com a do ICMS. Tal hipótese, permissa vênia, não ocorre no caso, porque a contribuição em tela (do Município de São José-SC 1 ) não incide propriamente sobre o consumo de energia elétrica, mas corresponde ao rateio do custo do serviço municipal de iluminação pública entre contribuintes selecionados segundo critérios objetivos, pelo legislador local, com amparo na faculdade que lhe conferiu a EC 39/2002. Como se observa, o Supremo Tribunal Federal afastou o argumento da impossibilidade de cobrança sobre o consumo individual (uso de base de cálculo idêntica à do ICMS) porque tal incidência não ocorria na Lei do Município de São José-SC! Então, o RE declarou constitucional a exigência da CIP com base de cálculo que considera o custeio e o consumo (e não exclusivamente o consumo)! 1 Referência por mim levada a efeito (não consta no acórdão) 3
4 No caso ora em julgamento, porém, a lei do Município em questão elege unicamente o consumo individual como base de cálculo, causando, indubitavelmente, uma bitributação sobre o consumo de energia (CIP + ICMS), como confessou a própria municipalidade (fls. 25 dos autos). E, para tanto, não se pode invocar como argumento favorável ao Município a decisão do Supremo Tribunal Federal, porque, repito, a Corte, ao se deparar com tal questão, afastou-a pois naquele caso a lei do município catarinense parametrizou a base de cálculo sobre o custeio (e não unicamente sobre o consumo individual). Ora, para admitirmos a cobrança da CIP, no mínimo a base de cálculo deve se refletir em grandeza que mensure o custeio da iluminação pública (como é na legislação de São José-SC). Nesse aspecto a exação padece, inequivocamente, de ilegalidade, por ferir a razoabilidade entre seu critério material (custeio da iluminação pública) e a base de cálculo (consumo individual). Sobre a relação entre o critério material e a base de cálculo, a doutrina é uníssona em admitir a relação entre ambas. Daí por que não se pode admitir a base de cálculo de um determinado tributo completamente destoada do critério material de sua regra matriz de incidência. Nesse sentido Paulo de Barros Carvalho se manifesta: Demasiadas razões existem, portanto, para que o pesquisador, cintado de cautelas diante dos freqüentes defeitos da redação legal, procure comparar a medida estipulada como base de cálculo com a indicação do critério material, explícito na regra de incidência. A grandeza haverá de ser mensuradora adequada da materialidade do evento, constituindo-se, obrigatoriamente, de uma 4
5 característica peculiar ao fato jurídico tributário. (in Curso de Direito Tributário. 15ª ed., 2003, p. 331). Alfredo Augusto Becker, por sua vez, salientou: O espectro atômico da hipótese de incidência da regra de tributação revela que em sua composição existe um núcleo e um, ou mais, elementos adjetivos. O núcleo é a base de cálculo e confere o gênero jurídico do tributo. (in Teoria Geral do Direito Tributário. 1963, p. 338) Logo, pecou a legislação municipal ao instituir a lei em questão que autoriza tributação sobre o consumo de energia elétrica unicamente e não sobre o custeio da iluminação pública. Ora, o custeio (critério material) em nada tem a ver com o consumo (base de cálculo). E pior, revela que, na verdade, das lições extraídas da doutrina, está-se cobrando um tributo sobre o consumo de energia elétrica (pois esta é a base de cálculo). Tem-se, então, de acordo com a base de cálculo, um tributo não definido, cobrado sobre o consumo de energia elétrica, mas não a contribuição para o custeio da iluminação pública prevista na Constituição. Assim, não cabe aos Municípios pretender cobrar tributo sobre o consumo individual de energia elétrica, pois ausente autorização constitucional para tanto. Quanto aos demais argumentos contrários à cobrança da CIP (inconstitucionalidade da emenda 39/02, impossibilidade de cobrança de 5
6 taxa com o nome de contribuição), adequo-me à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de permitir a cobrança. Tampouco seria o caso de afastar a contribuição pela ausência de iluminação defronte à residência do contribuinte, tendo em vista que esta espécie tributária não implica numa referibilidade direta ou imediata ao contribuinte, mas sim de forma mediata ou indireta. Certamente o contribuinte usufrui das ruas iluminadas ao sair de casa à noite, ainda que no seu logradouro não haja iluminação. Todavia, quanto a base de cálculo, pelas considerações alhures, não há como admitir a cobrança nos moldes em que levada a efeito pela municipalidade. Tampouco inexiste como afirmar que o Supremo julgou definitivamente a questão (tal argumento foi expressamente afastado no acórdão da Suprema Corte porque não se aplicava àquele caso da lei de São José-SC). reformando a sentença. Feitas tais considerações, por tais fundamentos, estou ISSO POSTO, dou provimento, para julgar procedentes os pedidos da inicial, invertendo-se os ônus sucumbenciais. É o voto. DES. LUIZ FELIPE SILVEIRA DIFINI (REVISOR E REDATOR) Peço vênia para divergir do ilustre Relator. Cinge-se a pretensão da parte autora em ver reconhecida a ilegalidade da cobrança da contribuição para iluminação pública, alegando trata-se de taxa de iluminação pública. Ocorre que a Lei Municipal n. 3326/2002 instituiu a contribuição para custeio da iluminação pública, com base no art. 149-A da CF/88. 6
7 Destaco, inicialmente, que o Supremo Tribunal Federal firmou jurisprudência no sentido de que o serviço de iluminação pública não poderia ser remunerado mediante taxa, tanto que editou a Súmula nº 670. A par da impossibilidade da cobrança de iluminação pública se dar por intermédio de taxa, o legislador constitucional derivado tratou de dar solução ao impasse gerado, através da promulgação da EC nº 39/02, que incluiu ao texto constitucional o art.149-a, possibilitando aos Municípios e ao Distrito Federal a instituição da Contribuição para Custeio da Iluminação Pública (CIP). Sobre a matéria, manifestou-se, recentemente, o Tribunal Pleno do Supremo Tribunal Federal, em acórdão assim ementado: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. RE INTERPOSTO CONTRA DECISÃO PROFERIDA EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ESTADUAL. CONTRIBUIÇÃO PARA O CUSTEIO DO SERVIÇO DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA - COSIP. ART. 149-A DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. LEI COMPLEMENTAR 7/2002, DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ, SANTA CATARINA. COBRANÇA REALIZADA NA FATURA DE ENERGIA ELÉTRICA. UNIVEO DE CONTRIBUINTES QUE NÃO COINCIDE COM O DE BENEFICIÁRIOS DO SERVIÇO. BASE DE CÁLCULO QUE LEVA EM CONSIDERAÇÃO O CUSTO DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA E O CONSUMO DE ENERGIA. PROGRESSIVIDADE DA ALÍQUOTA QUE EXPRESSA O RATEIO DAS DESPESAS INCORRIDAS PELO MUNICÍPIO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA. INOCORRÊNCIA. EXAÇÃO QUE RESPEITA OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. RECUO EXTRAORDINÁRIO IMPROVIDO. I - Lei que restringe os contribuintes da COSIP aos consumidores de energia elétrica do município não ofende o princípio da isonomia, ante a impossibilidade de se identificar e tributar todos os beneficiários do serviço de iluminação pública. II - A progressividade da alíquota, que resulta do rateio do custo da iluminação pública entre os consumidores de energia elétrica, não afronta o princípio da capacidade contributiva. 7
8 III - Tributo de caráter sui generis, que não se confunde com um imposto, porque sua receita se destina a finalidade específica, nem com uma taxa, por não exigir a contraprestação individualizada de um serviço ao contribuinte. IV - Exação que, ademais, se amolda aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. V - Recurso extraordinário conhecido e improvido. (RE , Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 25/03/2009, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-094 DIVULG PUBLIC EMENT VOL PP RDDT n. 167, 2009, p ) Tem-se, pois, pela constitucionalidade da contribuição para custeio do serviço de iluminação pública, podendo ela assim ser cobrada pelos Municípios, porque para a contribuição não se exige a divisilibilidade do serviço, como para a taxa, mas apenas que a contribuição seja destinada para um fim específico. No caso, o fim específico da iluminação pública é expressamente previsto na Constituição por força de emenda constitucional. Nesse sentido, trago à colação, pela clareza do entendimento externado, excerto do voto divergente do Des. Irineu Mariani, proferido na Apelação Cível nº : (...) É referido que a CIP nada mais é do que digamos o disfarce da mesma taxa de iluminação pública, e, portanto, taxa é. Sabidamente, o STF editou a Súm. 670 com a seguinte dicção: O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa. O motivo é conhecido: serviço uti universi (pró-sociedade), e não uti singuli (prócidadão); logo, sendo indivisível, fica inviável o princípio da proporção no preço, pelo uso efetivo ou potencial. Primeiro, exatamente para contornar essa dificuldade é que existe a figura híbrida ou mista da contribuição social, dentro dela as gerais, previstas no art. 149, e, agora, a especial, prevista no art. 149-A, 8
9 não-sujeita ao princípio do preço proporcional ou características típicas da taxa. Segundo, se em conteúdo, taxa é, nem por isso deixa de ser válida, pois está prevista na Constituição, estando excepcionado, relativamente a ele, o princípio da divisibilidade. O direito de o intérprete criticar a sua instituição não lhe dá o direito de lhe negar validade, visto estar prevista na Constituição. (...) Nessa perspectiva, perfilho do entendimento segundo o qual, a partir da Emenda Constitucional nº 39, promulgada em 19/12/2002, restaram autorizados os Municípios e o Distrito Federal a instituírem a contribuição em comento, de modo que não há falar em inconstitucionalidade da Lei Municipal, ora impugnada, uma vez que promulgada em consonância com a referida emenda. E a jurisprudência desta Corte não destoa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. ILUMINAÇÃO PÚBLICA. DECLARAÇÃO DE INEXIGIBILIDADE DA COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO. SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. Como a contribuição não é imposto, não se exige que a lei complementar defina sua hipótese de incidência, a base imponível e os contribuintes. Precedentes do STF. Inexistência de flagrante ilegalidade na CIP, instituída por lei municipal, com base no art. 149-A da Constituição Federal, para autorizar a suspensão da cobrança. (Agravo de Instrumento Nº , Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 26/02/2007) AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRIBUIÇÃO PARA O CUSTEIO DO SERVIÇO MUNICIPAL DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. ILEGALIDADE DA COBRANÇA. INEXISTÊNCIA. Conforme entendimento sufragado pelo Supremo Tribunal Federal, as contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse de categorias profissionais, embora sujeitas à lei complementar, não necessitam ser instituídas por lei 9
10 complementar. A contribuição, que não é imposto, não exige que a lei complementar defina sua hipótese de incidência, a base imponível e os contribuintes. Precedentes do STF. Inexistência de flagrante ilegalidade na CIP instituída por lei municipal, com base no art. 149-A da Constituição Federal, para autorizar o depósito dos valores exigidos pelo ente tributante. Agravo provido. (Agravo de Instrumento Nº , Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do, Relator: Marco Aurélio Heinz, Julgado em 30/11/2005) Por fim, sinalo que não há falar na incidência do disposto no art. 211 do Regimento Interno desta Corte, no presente caso. Assim dispõe o referido artigo, verbis: Art A decisão declaratória ou denegatória da inconstitucionalidade, se proferida por maioria de dois terços, constituirá, para o futuro, decisão de aplicação obrigatória em casos análogos, salvo se algum órgão fracionário, por motivo relevante, entender necessário provocar novo pronunciamento do Órgão Especial sobre a matéria. Ora, o Incidente de Inconstitucionalidade nº , julgado em , pelo Órgão Especial deste Tribunal, restringiu-se a reconhecer a inconstitucionalidade da Lei Municipal nº 1.942/02 de Canela, sem qualquer efeito vinculante a atingir outras leis. Pelo exposto, DESPROVEJO A APELAÇÃO. DES. IRINEU MARIANI (PRESIDENTE) Com a devida vênia, voto com o Des. Difini. 10
11 DES. IRINEU MARIANI - Presidente - Apelação Cível nº , Comarca de Alegrete: "POR MAIORIA, DESPROVERAM, VENCIDO O RELATOR, QUE PROVEU. REDATOR O REVISOR." Julgador(a) de 1º Grau: DIEGO DIEL BARTH 11
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