PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 15ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Sorocaba, em que é apelante JOSÉ DOMINGOS LATORRE, é apelado PREFEITURA MUNICIPAL DE ARAÇOIABA DA SERRA. ACORDAM, em 15ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SILVA RUSSO (Presidente sem voto), RODRIGUES DE AGUIAR E EUTÁLIO PORTO. São Paulo, 10 de maio de REZENDE SILVEIRA RELATOR Assinatura Eletrônica

2 APELAÇÃO N : APELANTE: JOSÉ DOMINGOS LATORRE APELADA: PREFEITURA MUNICIPAL DE ARAÇOIABA DA SERRA COMARCA: SOROCABA VOTO Nº EMENTA APELAÇÃO - REVISIONAL DE LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO IPTU - Município de Araçoiaba da Serra - Exercício 2015 Alíquota majorada de 1,2% para 1,6%, por força de Lei Complementar Municipal nº 243/2015 válido para o mesmo exercício fiscal Impossibilidade, ante a violação ao princípio da anterioridade Inteligência do art. 150, III, alínea b da Constituição Federal Sentença que julgou improcedente o pedido reformada Recurso provido. Vistos. Trata-se de tempestivo recurso de apelação interposto por JOSÉ DOMINGOS LATORRE, por meio do qual objetiva a reforma da sentença de fls. 199/201, que julgou improcedente o pedido de revisão do lançamento de IPTU do exercício de 2015, impondo-lhe o pagamento da sucumbência, fixada a verba honorária em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa (R$ 6.968,04 para setembro de 2015). Em suas razões, insiste na alegação de que houve indevida majoração da alíquota do IPTU do exercício de 2015 de 1,20% para 1,60%, ocorrida por meio de Lei Municipal editada em março de 2015, com um aumento de 42,85% sobre o valor do IPTU do exercício anterior, em ofensa aos princípios da anterioridade e legalidade. Entende como correto o valor integral do IPTU equivale ao valor do Apelação nº

3 ano de 2014 na quantia de R$4.878,00 aplicado o índice do INPC, de 7,13%, seria o valor correto para o ano de 2015 no valor de R$ 5.225,80, daí porque pugna pela inversão do julgado, com a procedência do pedido, para determinar a revisão da alíquota do lançamento tributário do IPTU do exercício de 2015 do imóvel da Alameda dos Lírios, nº 53 - Setor 3, Lago Azul, para aplicar a alíquota de 1,20%. Contrarrazões a fls. 217/222. É o relatório. O recurso merece provimento. Não agiu com o costumeiro acerto o magistrado prolator da sentença que houve por bem julgar improcedente o pedido formulado pelo autor, ora apelante, de revisão do lançamento do IPTU do exercício de Houve majoração da alíquota de 1,2% para 1,6% em razão da Lei Complementar Municipal nº 243/2015, ou seja, para o mesmo exercício fiscal, o que é vedado por expressa regra constitucional (art. 150, III, alínea b da Constituição Federal). O fato do IPTU não se sujeitar a anterioridade nonagesimal implica em conclusão diversa daquela adotada na sentença, qual seja, a de que o IPTU se submete à regra geral de anterioridade. Por isso, o IPTU para o exercício de 2015 não poderia adotar nem a alíquota de 1,6% e nem aumento superior ao da inflação. Não vinga o argumento de que a alíquota de 1,6% decorreu de revisão da alíquota de 2% fixada na Lei Complementar 236/2014 que não repercute e não altera em nada o princípio constitucional da anterioridade para fins de cobrança majorada de tributo. Nesse sentido, o julgamento da apelação nº da lavra do eminente Desembargador RAUL DE FELICE, desta 15ª Câmara de Direito Público, de que envolve a mesma matéria e município, merecendo parcial transcrição que se adota Apelação nº

4 como razão de decidir: (...) v erifica-se que até o exercício de 2014, o apelado teve o IPTU de s eu imóvel c alculado c om base na alíquota de 1,20%, de acordo c om a LCM 112/2005, enquanto no exercício de 2015 o imposto foi lançado s ob a alíquota de 1,60%, a teor da LCM 243/2015 de março de 2015 c om v encimento previsto para o dia 22/4/2015. O ra, evidente a c obrança de tributo c om base em alíquota fixada por lei editada no mesmo exercício fiscal, o que c ontraria frontalmente a garantia c onsagrada no princípio da anterioridade inserta no art. 150, III, b, da Constituição Federal (...) Sobredito princípio também é c onsignado no art. 104 do Código Tributário Nacional, s egundo o qual, Entram em v igor no primeiro dia do exercício s eguinte àquele em que ocorra a s ua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos s obre o patrimônio ou a renda: I - que instituem ou majoram tais impostos; II - que definem novas hipóteses de incidência; III - que extinguem ou reduzem isenções, s alvo s e a lei dispuser de maneira mais favorável ao c ontribuinte, e observado o disposto no Art Logo, a majoração da alíquota do IPTU submete-se ao princípio da anterioridade tributária, e s omente s erá possível s ua c obrança no exercício financeiro s eguinte ao da lei que o instituiu ou aumentou. Irrelevante o fato de que houvera majoração do tributo pela Lei Complementar 236/2014 editada em 23/12/2014 que fixara a alíquota em 2%. Ao revisar a majoração de alíquota e fixá-la em 1,6% a Lei Complementar 243 de 19/03/2015 manteve, ainda que em menor grau, o agravamento do patamar anterior de 1,2% e portanto apenas poderia s er aplicada no exercício s eguinte e não em 2015, quando foi promulgada. (...) Nesse mesmo sentido, o julgamento da apelação nº , com voto do eminente Desembargador Eurípedes Faim, desta 15ª Câmara de Direito Público, de 10 de agosto de 2017, envolvendo a mesma matéria, na qual cita outros precedentes e cuja ementa se transcreve como razão de decidir: APELAÇÃO - AÇÃO O RDINÁRIA - IPTU - EXERCÍCIO DE MUNICÍPIO DE ARAÇOIABA DA SERRA. Sentença que julgou procedente a ação. Recurso do Município. ANTERIORIDADE NONAGESIMAL - O prazo de 90 (noventa) dias expresso no artigo 150, inciso III, alínea c da Constituição Federal é critério Apelação nº

5 temporal para que o tributo instituído ou majorado por lei possa ser cobrado - Precedente do STF (ADI /AP) e doutrina sobre o tema - Durante esse período, a eficácia da lei que tenha instituído ou majorado o tributo é parcial, ante a impossibilidade de cobrança do tributo. LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO - LEGISLAÇÃO APLICÁVEL - Nos termos do artigo 144, caput, do Código Tributário Nacional, o lançamento rege-se pela lei vigente à data da ocorrência do fato gerador - No caso dos autos, a Lei Complementar Municipal nº 236/2014, publicada em 23/12/2014, majorou a alíquota do IPTU de 1,2% para 2% - Em 19/03/2015 foi publicada a Lei Complementar Municipal nº 243/2015, que reduziu a alíquota para 1,6% - IPTU do exercício de 2015 cobrado em abril daquele ano, aplicando-se a alíquota de 1,6% - Impossibilidade - Fato gerador ocorrido em 01/01/2015, quando estava em vigor a Lei Complementar Municipal nº 236/2014, que fixara a alíquota em 2% - Anulação do lançamento mantida - Sentença parcialmente reformada, para que o lançamento seja feito nos termos da Lei Complementar Municipal nº 236/2014, vigente à época da ocorrência do fato gerador. (...) Sentença reformada em parte - Recurso parcialmente provido. Como salientado nos votos acima transcritos, o fato é que a alíquota do IPTU para o exercício de 2014 era de 1,2%, enquanto que a alíquota para o IPTU do exercício de 2015 foi de 1,6%, majorado no mesmo ano, o que não se pode admitir, a justificar o acolhimento da pretensão revisional, com a adoção da alíquota de 1,2% e a variação da inflação medida pelo INPC, tal como postulado pelo autor, ora apelante, com inversão do ônus da sucumbência e mais honorários recursais fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa (R$ 6.968,04 para setembro de 2015) em favor do patrono do autor, nos termos do disposto no art. 85, 11 do CPC. Diante do exposto, meu voto dá provimento ao recurso para julgar procedente o pedido formulado na presente ação revisional, com o fim de fixar a alíquota de 1,2% do lançamento tributário do IPTU do exercício de 2015 do imóvel mencionado na inicial, observando-se, ainda, a variação anual da inflação medido pelo INPC, com inversão Apelação nº

6 do ônus da sucumbência e mais honorários recursais, como acima fixado. REZENDE SILVEIRA Relator Apelação nº