_ Tia, a morena criou. (criança)
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- Bento Aranha Franco
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1 TRABALHANDO COM ANIMAIS DA FAZENDA: uma experiência realizada com crianças de 3 anos. Eixo 4: Práticas pedagógicas, culturas infantis e produção cultural para criança pequenas. Terezinha Pereira de Melo Freitas. Resumo O presente projeto foi realizado na creche Antônio Manfrin, no município de Santa Cruz do Rio Pardo, com as crianças de 3 anos. Surgiu a partir do interesse das crianças em conhecer os animais. Tal interesse se manifestou nos momentos da roda da conversa, que acontece, diariamente com a turma. Durante as conversas elas relatavam suas experiências junto aos animais, principalmente, uma das crianças, pelo fato de residir na zona rural. A partir do desejo das crianças em conhecer os animais, demos inicio ao projeto, realizando com elas várias atividades, com o objetivo se ampliar seus conhecimentos, referentes, ao assunto. No decorrer do projeto foram realizadas várias atividades com as crianças como, conversa oral, por meio da qual era transmitindo a elas conhecimentos que respondessem suas curiosidades sobre os animais, apreciação de obras de arte, contação de histórias e cuidados com um aquário de peixes que foi levado para a classe. O projeto teve resultados satisfatório, pois as crianças além de se mostrarem interessadas pelo assunto abordado ampliou seus conhecimentos sobre os mesmos. O presente artigo aborda o projeto sobre animais da fazenda que foi realizado com as crianças de 3 anos na creche Antônio Manfrin, no município de Santa Cruz do Rio Pardo, SP. O interesse em realizarmos o projeto iniciou-se, a partir das falas das crianças durante a atividade de roda da conversa. Notamos que em muitos dos relatos elas nos contavam sobre suas experiências com animais, principalmente, com aqueles encontrados nos seus passeios pelos sítios próximos à cidade. A cada relato realizado, no qual, havia algum animal envolvido, observávamos uma grande agitação na turma, pois o assunto despertava a vontade em outras crianças, de também contar suas experiências e falar sobre os animais que conheciam e que já haviam visto algum dia. O assunto referente aos animais estava sempre presente nas nossas conversas, pois na turma há uma criança que reside na zona rural e outras três que têm os avós também morando no sítio, portanto, estão sempre nos relatando suas vivências com os animais. No meio a tantas histórias interessantes, uma criança disse para a turma:
2 experiência: _ Tia, a morena criou. (criança) início ao projeto. _ Quem é morena? (educadora) _ É uma vaca lá do sítio. E a filhinha é igualzinho a ela. (criança). Em seguida, outra criança interessada no assunto, também quis falar sobre sua _ Lá no sítio da vó Vera tem bastante vaca, boi e galinha. Assim, diante do grande interesse da turma em falar sobre os animais, demos O trabalho teve como objetivo ampliar os conhecimentos das crianças sobre os animais, tornando-as capazes de identificá-los pelo nome e diferenciá-los pelas características de cada um: se são grandes ou pequenos, o que eles comem, qual sua cor, se tem pena ou pelos e qual o som que emitem. O projeto teve como embasamento teórico a teoria histórico-cultural, que nos diz que as crianças não nascem humanas, mas se apropriam das qualidades humanas no convívio com as pessoas e a cultura. Segundo Leontiev (1978, p. 267): [...] as aptidões e caracteres especificamente humanos não se transmitem de modo algum por hereditariedade biológica, mas adquirem-se no decurso da vida por um processo de apropriação da cultura criada pelas gerações precedentes. Para a teoria histórico-cultural, o fato de colocarmos a criança em contato com as pessoas e a cultura, não garante que elas se apropriarão das qualidades humanas pois, nessa relação, é essencial a presença do mediador. Será ele que irá ensinar às crianças a maneira correta de utilizar os objetos. Segundo Mello (2004, p. 138): Ao aprender a utilizar os objetos da cultura que encontra na sociedade e no momento histórico em que vive, cada novo ser humano reproduz para si aquelas capacidades, habilidades e aptidões que estão cristalizadas naqueles objetos da cultura a que tem acesso. Portanto, na creche, é fundamental disponibilizarmos para as crianças toda a cultura, da qual temos contato, para que possam enriquecer suas experiências, expressar-se nas várias linguagens (oral, escrita, musical, corporal, poética) e se apropriarem das máximas qualidades humanas.
3 Nesse contexto, a creche deve se tornar um espaço de vida, onde a criança tenha a sua disposição muitos objetos, brinquedos, livros e materiais para explorar livremente. Para Mello, 2007, p. 85: A creche e escola da infância podem e devem ser o melhor lugar para a educação das crianças pequenininhas-crianças até os 6 anos, pois aí se pode intencionalmente organizar as condições adequadas de vida e educação para garantir a máxima apropriação das qualidades humanas que são externas ao sujeito no nascimento e precisam ser apropriadas pelas novas gerações por meio de sua atividade nas situações vividas coletivamente. Na perspectiva de ampliar os conhecimentos das crianças, a partir de assuntos do seu interesse, que pensamos no projeto com os animais, o qual, iniciamos com o que as crianças já conheciam e planejamos ações que promovessem mais aprendizado e, consequentemente, desenvolvimento. De acordo com a teoria histórico-cultural, é a aprendizagem que gera o desenvolvimento, portanto, quanto mais experiências interessantes e significativas proporcionarmos às crianças, mais estaremos contribuindo para seu desenvolvimento. Segundo Vygotsky (2001, p.115): A aprendizagem não é, em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem a aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam essas características humanas não-naturais, mas formadas historicamente. Para que o educador desenvolva um projeto que seja interessante para a turma precisa ter uma postura de escuta dos anseios e necessidades das crianças. Ele precisa se colocar como uma pessoa interessada e pronta para ouvir as crianças em todas as situações. Caso contrário, pode propor trabalhos que não sejam interessantes para o grupo. Conforme Formosinho, 2007, p. 28:
4 A escuta, tal como a observação, deve ser um processo contínuo no cotidiano educativo, um processo de procura de conhecimento sobre as crianças (aprendentes), seus interesses, suas motivações, suas relações, seus saberes, suas intenções, seus desejos, seus modos de vida, realizados no contexto da comunidade educacional, que procura uma ética de reciprocidade. Assim, a escuta e a observação deve ser um porto seguro para contextualizar a ação educativa. Outro ponto importante é fazer com que a criança participe das atividades propostas pelo educador, enquanto sujeito ativo do seu processo de aprendizagem e desenvolvimento. Durante o desenvolvimento do projeto, o momento da roda da conversa foi fundamental pois, por meio das falas das crianças, avaliavamos o que elas já haviam aprendido com o projeto e quais as dúvidas e curiosidades ainda estavam presentes. Numa das conversas, a Laura, que mora na chácara, disse-nos que gostaria que as codornas lá da chácara, botassem bastante ovos para repartir com os amigos da creche. Disse ainda, que vai todos os dias no viveiro conversar com elas para que botem muitos ovos logo. Outra atividade que instigava o grupo a falar sobre os animais era o momento das histórias, principalmente quando a história contada era sobre animais. Certo dia, contamos às crianças uma história sobre a porca Penélope e, logo em seguida, o aluno Matheus disse: a minha porca, que mora lá no sítio da avó Vera tá grávida. Então, perguntamos a ele qual era o nome dela e ele respondeu que era Fofinha. Aproveitando as obras de arte, presentes nos espaços da creche, e considerando, segundo Mello e Faria (2010), a importância de ampliarmos o contato das crianças com a cultura elaborada, levamos para a sala algumas obras que continham imagens de animais. Entre elas estavam a obra do Touro e do Pescador, da pintora Tarcila do Amaral. Ao realizar com as crianças a apreciação das obras, chamamos a sua atenção para as imagens contidas nelas. E nesse momento, as crianças novamente, se empolgaram com as imagens dos animais. Um dos alunos, ao ver numa das obras, a figura do touro, logo disse: um ``boi ou um touro? e em seguida, começou a contar que seu pai é peão de rodeio e que laça
5 touros e cuida dos animais que estão no pasto. Então, pesquisamos com eles sobre os touros e bois. Essa conversa despertou o interesse em outras crianças, que também diziam: Eu vou com meu avô Valdir aparta os bezerros do sítio. A avó carrega o balde de leite, mata galinha e corta ela para limpar. Dando continuidade ao projeto levamos também para a sala um aquário com alguns peixinhos. Foi um sucesso porque pudemos observar e conversar sobre os peixes, suas cores e características. Em seguida, realizamos com eles a brincadeira da pescaria, e as crianças se divertiram muito. Outro conteúdo, pelo qual o grupo mostrou interesse, foi sobre os cavalos e touros, após uma das crianças nos relatarem que seu pai gosta de montar no rodeio. Então a professora perguntou se ele montava em cavalos e a criança respondeu: Não, é no touro. Nesse momento, várias crianças da turma se interessaram pelo assunto o que nos levou a investigar sobre as características do touro e do cavalo. Foi um assunto que também envolveu todo o grupo. Num passeio que realizamos com a turma pelo bairro, passamos por uma loja agropecuária onde tinha um cavalo enfeitando a entrada. As crianças ficaram tão entusiasmadas que acabaram montando no cavalo de mentira como se estivessem em um rodeio. Enfim, embora o projeto ainda esteja em andamento já podemos identificar alguns resultados. As crianças nos demonstram em seus relatos os conhecimentos que foram adquirindo sobre os animais durante a realização do projeto. São capazes de, além de identificar os animais, apontar algumas das suas características. BIBLIOGRAFIA FORMOSINHO, J. O. Pedagogia (s) da infância: reconstruindo uma práxis de participação. In: FORMOSINHO, J. O.; KISHIMOTO, T. M.; PINAZZA, M. A. (Org.). Pedagogia(s) da infância: dialogando com o passado: construindo o futuro. Porto Alegre: Artmed, cap. 1, p
6 LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Tradução Manuel Dias Duarte. 3 ed. Lisboa: Horizonte Universitário, p MELLO, S. A. A escola de Vigotski. In: CARRARA, Kester (org). Introdução à Psicologia da Educação: seis abordagens. São Paulo: Editora Avercamp, P Infância e humanização: algumas considerações nas perspectiva históricocultural. Revista Perspectiva do Centro de Ciências da Educação, Florianópolis, v.25, n.1, p.85, jan/jul MELLO, S. A.; FARIAS, M. A. A escola como lugar da cultura mais elaborada. Educação, Santa Maria, v. 35, n. 1, p , jan./abr Disponível em: VIGOTSKII, L. S.; LEONTIEV, A. N. ; LURIA, A. R. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Tradução Maria Penha Villalobos, 7. ed. São Paulo: Ícone, 2001.
Segundo Mello e Faria (2010), precisamos permitir que as crianças tenham acesso à cultura elaborada, o que significa oferecer o que temos de melhor e
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