A Pedagogia dos Multiletramentos e suas contribuições para a EaD: possibilidades de uma abordagem com o uso de tecnologias digitais

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1 A Pedagogia dos Multiletramentos e suas contribuições para a EaD: possibilidades de uma abordagem com o uso de tecnologias digitais The Multilevel Pedagogy and its contributions to EaD: possibilities of an approach with the use of digital technologies Eduardo Fofonca 1, Adriana Ferreira Gama 2 e Aline Renée Benigno dos Santos 3 1 Instituto Federal do Paraná Pró-Reitoria de Extensão, Pesquisa e Inovação eduardo.fofonca@ifpr.edu.br 2 Instituto Federal do Paraná Campus Curitiba adriana.gama@ifpr.edu.br 3 Instituto Federal do Paraná Campus Curitiba aline.renee@ifpr.edu.br Eixo Temático 2 - Educação a Distância: teorias, modelos e métodos em EaD Resumo: Ao relacionar a modalidade de Educação a Distância à concepção contemporânea da Pedagogia dos Multiletramentos, encontramos uma abordagem que implica em processos educacionais que compreendem os novos desafios lançados a partir da explosão da textualidade multissemiótica, com múltiplos letramentos e contextos multifacetados de usos das tecnologias digitais e novas ambiências virtuais. O presente artigo, nesse contexto, objetiva traçar um caminho de possibilidades no qual verifica que as atividades com práticas textuais escritas, sonoras, visuais ou audiovisuais se interligam e se inter-relacionam na sociedade e nos meios de comunicação, primordialmente por diferentes sistemas de signos, aos quais recriam significações e produções de sentidos e, por consequência, trazem aspectos relevantes para a Educação a Distância. Tal perspectiva será apresentada por meio de um estudo exploratório acerca das implicações dessas possibilidades na Educação a Distância. Palavras chave: Pedagogia dos Multiletramentos. Educação a Distância. Tecnologias. Linguagens. Ambiências Virtuais de Aprendizagem. Abstract: By relating the Distance Education modality to the contemporary conception of "Pedagogy of Multiletraces", we find an approach that implies in educational processes that comprise the new challenges launched from the explosion of multisemiotic textuality, with multiple literacies and multifaceted contexts of uses of technologies Digital and new virtual environments. The present article, in this context, aims to trace a path of possibilities in which it verifies that activities with written, sound, visual or audiovisual textual practices are interconnected and interrelated in society and in the media, primarily by different sign systems, To which they recreate meanings and productions of meanings and, consequently, bring aspects relevant to Distance Education. This perspective will be presented through an exploratory study about the implications of these possibilities in Distance Education. Keywords: Pedagogy of Multiletramentos. Distance Education. Technologies. Languages. Virtual Learning Environments.

2 1 Considerações iniciais Diante das perspectivas de um constante movimento e dos novos paradigmas educacionais que rompem com os modelos sequenciais, hierárquicos, lineares e fechados de aprendizagem, possibilitam a abertura para uma educação contemporânea subsidiada pela cultura digita, na qual considera os multiletramentos, os hibridismos, as experiências estéticas e uma análise crítica das práticas educacionais atuais (FOFONCA, 2017, p.21). A Pedagogia dos Multiletramentos traduz-se contemporâneamente como um campo interdiscursivo e interdisciplinar que compreende os principais desafios lançados a partir da explosão da textualidade multissemiótica, com múltiplos e novos letramentos e contextos multifacetados de usos das tecnologias digitais. Torna-se importante destacar que a terminologia primeiramente foi utilizada em 1996 pelo Grupo de Nova Londres (GNL), tendo construído tal concepção a partir de uma reunião na cidade de Nova Londres e, por isso, o grupo teve essa denominação. A base teórica da Pedagogia dos Multiletramentos possui como proposição científica uma educação linguística contemporânea, com o pensamento voltado à apropriação de fatores de diversidade local e conectividade global cada vez mais críticos. De acordo com Rojo (2012), o GNL é pioneiro nesse campo de pesquisa em que o conflito cultural se apresenta por meio da multiplicidade de linguagens, mídias e semioses dos processos de significação e uma pluralidade de produção de sentidos construídos na recepção de mensagens e nos múltiplos processos de interlocução. A partir de tal concepção, a Educação a Distância, como uma modalidade de ensino, delineia múltiplos e segmentados campos de estudos e análises, como aqui por exemplo que possui maior enfoque nas quitesões referentes às linguagens. Segundo Kenski (2013) na EaD existem funções segmentadas e isoladas, dividindo-se no plano pedagógico entre os que pesquisam, selecionam e apresentam conteúdos; no plano de planejamento e estratégias, para as atividades e estratégias, e, ainda, aqueles que acompanham os alunos ou apenas monitoram as atividades presenciais. Acrescenta-se às funções elencadas por Kenski (2013), entre as atividades dos atores envolvidos no processo, as atividades de gestão e da criação de novas concepções de ambientes ou ambiências virtuais de aprendizagem. Sob esta perspectiva é que a abordagem dos multiletramentos torna-se imprescindível, para que esta discussão propicie não um olhar redundante, isto é, de pesquisas que já contemplam a

3 análise desse recorte; mas busca-se, sobretudo, contribuir com uma análise que problematize algumas implicações da Pedagogia dos Multiletramentos como possibilidades de compreender, avaliar e criar novas estratégias da dinâmica de interatividade, tempo e espaço de aprendizagem virtual. O campo de estudos da Educação a Distância torna-se cada vez mais on-line e revela que há a necessidade de apatação das dimensões teóricas e práticas para que, além dos espaços possíveis como os AVA, as ambiências possam ser verdadeira pontes no processo de mediação pedagógica e tecnológica, sendo, eminentemente, concatenada com a necessidade de repensar tais ambiências também por meio da cultura digital vigente. Compreende-se, nesse contexto, que a Pedagogia dos Multiletramentos traça um caminho de possibilidades em que as atividades com práticas textuais escritas, sonoras, visuais ou audiovisuais se interligam e se inter-relacionam na sociedade e nos meios de comunicação, primordialmente por diferentes sistemas de signos, aos quais recriam significações e produções de sentidos e, por consequência, trazem aspectos inovadores e relevantes para a Educação a Distância. 2 Pedagogia dos Multiletramentos: considerações de estudos brasileiros Para contextualizar a teoria base desse artigo, torna-se relevante destacar que no Brasil, a pesquisadora Roxane Rojo, do Programa do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, dedica-se às dimensões brasileiras dos multiletramentos, ampliando questões inicialmente discutidas pelo Grupo de Nova Londres (1996). De acordo com Rojo (2013), existe atualmente um quadro de possibilidades de multiletramentos no trabalho escolar: Multiletramentos Possibilidades com o uso de tecnologias digitais Multiletramentos impressos jornal, revista, charges. Tiras, HQ, peças publicitárias etc; Multiletramentos da hipermídia baseada mini e hipercontos, poemas visuais ou digitais, blogs em escrita wiki, fanfics, ferramentas de escrita colaborativa etc; Multiletramentos da hipermídia baseada podcasts, rádios(blogs), (fan)clips etc; em áudio Multiletramentos da hipermídia baseada animações, games, artes digitais etc; em design

4 Multiletramentos da hipermídia baseada videologs, remixes e mashups, (fan)clips; em vídeo Multiletramentos das redes sociais Facebook, Google+, Twitter, Tumblr etc; Multiletramentos dos ambientes ambientes virtuais de aprendizagem, portais educacionais educacionais Quadro 1 Paráfrase dos Multiletramentos Fonte: Rojo (2013). Para Rojo (2013), este quadro de possibilidades recobre quase todos os campos desta abordagem das linguagens, quando se está tratando em termos dos principais elementos tecnológicos em jogo atualmente. De acordo com a análise da autora há uma predominância em pesquisas atuais com o enfoque mais específico em hipermídias, isto é, em pesquisas que analisam os contextos da virtualidade e das mídias digitais. No entanto, é sabido que o trabalho escolar com os multiletramentos impressos ainda é uma prioridade metodológica na Educação Básica e Superior. Pode-se considerar que o quadro de possibilidades apresentados por Rojo (2013), em grande parte, devem ser utilizados como ambiências virtuais de aprendizagem, porém numa análise ainda inicial há a percepção que essa dievrsificação metodológica não ocorre nas práticas formativas nas modalidades presencial e a distância. Em se tratando de EaD é necessário salientar, portanto, que seria de suma importância considerar que tais possibilidades do trabalho escolar fossem integradas à modalidade, principalmente para haver a articulação de novos letramentos e linguagens nos processos de ensino e aprendizagem. Para tanto seria necessária a ampliação da utilização de mais suportes e novos elementos tecnológicos, nos quais deixassem claros seus principais objetivos de ensino, isto é, numa articulação entre o planejamento educacional, os objetos didáticos e os usos das tecnologias. Na ótica de Rojo (2013), Multiletramentos são as práticas de trato com os textos multimodais ou multissemióticos contemporâneos majoritariamente digitais, mas também impressos, que incluem procedimentos (como gestos para ler, por exemplo) e capacidades de leitura e produção que vão muito além da compreensão e produção de textos escritos, pois incorporam a leitura e (re) produção de imagens e fotos, diagramas, gráficos e infográficos, vídeos, áudio etc (ROJO, 2013, p.21).

5 A partir da concepção da autora, entende-se que a prática tratada nos multiletramentos requer capacidades de leitura e escrita mais complexas que a decodificação/codificação, principalmente pela complexidade multimodal e multissemiótica das linguagens contemporâneas e líquidas. Ainda assim, Rojo (2013), destaca que o digital e a internet misturam as culturas o tempo todo. E como exemplo reflete sobre uma sala de aula atual, com um alunado que adere a percepções culturais muito diversas: um gosta de ler e o outro, de ouvir música; outro prefere cinema, dessa maneira, as percepções de cultura são multifacetadas, isto é, apresentam muitas facetas, muitas vezes, com alunos inseridos no mesmo círculo e rede social. De acordo com Fofonca (2015), nessa busca da consolidação da concepção de Multiletramentos são instituídas novas potencialidades para as práticas de letramentos atuais as quais partem da simples potencialidade de leitura e imersão em múltiplas textualidades para uma potencialidade de que todo interlocutor torna-se um potencial construtor-colaborador de criações conjugadas nesta era das estéticas tecnológicas (FOFONCA, 2015, p.58 ). Ainda na ótica de Fofonca (2015) torna-se importante compreender que vivemos em uma era onde todos são ouvintes, produtores e receptores de mensagens a um só tempo, por conseguinte a utilização do termo interlocutor. Assim, torna-se necessário compreender que existe uma passagem temporal e teórica entre as concepções alfabetização, letramentos, inclusive o digital, para então integrarmos uma nova prática educativa baseada nos multiletramentos. Portanto, entre as correntes dos estudos da Linguística e da própria linguagem, torna-se pertinente considerar que na trajetória dos fenômenos alfabetização, letramento e multiletramentos ainda estão em discussão na academia e, diante disso, há uma repercussão direta na produção cultural e nos processos educacionais. É justamente neste âmbito de discussão na literatura desta abordagem é encontrado tal fenômeno com algumas ampliações conforme a necessidade de apropriação das tecnologias digitais de informação e comunicação, tão necessários para uma compreensão da concepção contemporânea de Educação a Distância. 3 Educação a Distância

6 No que se refere à legislação da Educação a Distância o decreto 5.622/2005 determina que a modalidade deve ir além da disponibilidade de conteúdos mediados pelas tecnologias, mas a reconhece como uma modalidade que deve propiciar uma mediação pedagógica nos processos de ensino e de aprendizagem, utilizando as tecnologias digitais da informação e da comunicação, com tempos e lugares diversos, desenvolvendo atividades educativas. Para os docentes de EaD, levando em consideração o que ainda o decreto preconiza, a Educação a Distância deve reconhecer uma arquitetura pedagógica na sua construção sobre metodologia, gestão e avaliação. Desse modo, deve-se considerar, contudo, os novos paradigmas de aprendizagem dem ambiências virtuais de aprendizagem, estabelecendo com clareza principalmente quando se constata que a maioria dos modelos educacionais não trazem resultados qualitativos ou ainda trazem resultados muito discretos pela tendência da cópia dos modelos tradicionais de ensino para as telas do computador ou da televisão. Deve-se haver um pensamento pedagógico e tecnológico próprio para a modalidade de EaD, distanciando-se de procedimentos de ensino que são inerentemente constituintes de atividades presencial do ensino. Desse modo, os processos de mediação ativa e as variações na utilização de linguagens, oportunizando uma fuga das característica do modelo presencial de ensino. Portanto, os próprios ambientes virtuais e as mídias devem ser reativas, contráriando as organizações didáticometodológicas que oportunizem ao aprender um processo pleno de interação entre objeto do conhecimento e aprendiz. Desta forma, pode-se dizer que na educação ocorreu uma mudança paradigmática de fora para dentro causada pela integração das tecnologias da informação e da comunicação. Para Behar (2009) a discussão específica em torno dos modelos em EaD serve para gerar reflexão sobre as praticas pedagógicas e descortinar novos mundos, orientando educadores para um caminho de mais qualidade e criatividade. Behar conceitua o modelo pedagógico de EaD como um sistema de premissas teóricas que representa, explica e orienta a forma como se aborda o currículo e que se concretiza nas praticas pedagógicas e nas interações professor/aluno/objeto de estudo (2009, p.24). Nessa perspectiva, o que chamamos de modelo não se confundiria nem o que determinaria ser um paradigma, nem uma teoria de aprendizagem, pois pode inclusive estar de acordo com mais de uma teoria. Considerações finais

7 Ao relacionar a modalidade de Educação a Distância à concepção contemporânea da Pedagogia dos Multiletramentos, acabamos por nos deparar com uma abordagem que implica em novos processos educacionais que compreendem os desafios contemporâneos lançados a partir da explosão da dos múltiplos letramentos e dos contextos multifacetados de usos das tecnologias digitais. O presente artigo, nesse contexto, traçou um caminho de possibilidades, no qual verifica que as atividades com práticas textuais escritas, sonoras, visuais ou audiovisuais se interligam e se interrelacionam na sociedade e nos meios de comunicação, e, portanto, podem cotnribuir de maneira significativa com diferentes sistemas de signos, aos quais recriam significações e produções de sentidos. Considera-se, contudo, tais possiblidades propiciam aspectos metodológicos relevantes para a Educação a Distância e perpassam o pensamento pedagógico e a concepção comunicacional, sobretudo pela percepção de que a Pedagogia dos Multiletramentos oportuniza repensar criticamente as ambiências virtuais de aprendizagem e sua função pedagógica na EaD. A concepção de Multiletramento, assim, compreende uma transformação que incorpora novos objetos de aprendizagem para que a aprendizagem possa ser realizada num espaço de troca e mediação de conhecimento, tendo como pressuposto um processo educacional que vislumbre novas possibilidades de diálogos na EaD, aos quais enriquecem todo o trabalho pedagógico. Para além disso, a Pedagogia dos Multiletramentos contribui para potencializar e dinamizar novos processos de ensino com múltiplas linguagens ou linguagens em hibridismo, cada vez mais estéticas e sensíveis às novas propostas enunciativas presentes na modalidade EaD. A convergência dos campos educação, comunicação e tecnologia para o entendimento do trabalho pedagógico em ambiente virtual de aprendizagem, encontra contribuição nas discussões sobre multiletramento, especialmente por apresentar resultados que corroboram com uma efetiva apropriação crítica da tecnologia e de diferentes linguagens em benefício de uma educação de qualidade em EaD. Referências AREU, G. I. P.; FOFONCA, E. (Org.) Integração de Tecnologias e da Cultura Digital na Educação: múltiplos olhares. Curitiba, CRV, BEHAR, P. A. (Org.) Modelos Pedagógicos em Educação a Distância. Porto Alegre: Artmed, 2009.

8 BRASIL. Decreto 5622, de 19 de dezembro de Regulamenta o art. 80 da Lei n , de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em Acesso em: 20 fevereiro de FOFONCA, E. Entre as Práticas de (Multi)letramentos e os Processos de Aprendizagem Ubíqua da Cultura Digital: as percepções estéticas dos educadores das linguagens. Tese de Doutorado em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Dos (Multi)Letramentos à Aprendizagem Ubíqua: percepções estéticas de educadores das linguagens no contexto da cultura digital. In: XII Congresso Nacional de Educação Educere-PUC-PR, 2015, Curitiba: PUC-PR, A Cultura Digital e seus Multiletramentos: repercussões na educação contemporânea. Curitiba, PR: Editora Prismas, KENSKI, V. M. Educação e Tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas, SP: Papirus, 2012a.. Tecnologias e tempo docente. Campinas, SP: Papirus, ROJO, R. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola Editorial, Pedagogia dos Multiletramentos: diversidade cultural e de linguagens na escola. In: Rojo, R. e MOURA, E. (Org.) Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012a.. (Org.) Escola Conectada: os multiletramentos e as TIC. 1 ed. São Paulo: Parábola, SANTAELLA, L. Comunicação ubíqua. Repercussões na cultura e na educação. São Paulo: Paulus, 2013a. THE NEW LONDON GROUP. A pedagogy of multiliteracies: designing social futures. The Harvard educational review, v. 1, n. 66, 1996.