MULHER E MÃE, UMA VISÃO DA MATERNIDADE POR DOCENTES/MÃE DA UNIR João Franklin da Silva Mendonça Orientadora: Kátia Fernanda Alves Moreira
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- Maria das Dores Sacramento Casado
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1 MULHER E MÃE, UMA VISÃO DA MATERNIDADE POR DOCENTES/MÃE DA UNIR João Franklin da Silva Mendonça Orientadora: Kátia Fernanda Alves Moreira RESUMO: O propósito desta pesquisa foi estudar as concepções sobre a maternidade para confrontar com os discursos das mães/docentes do NUSAU/UNIR com o modelo idealizado da maternidade, que está assentado no paradigma biológico, que se cristalizou no discurso de Rousseau a mais de duzentos anos, e ganhou fôlego com Freud, no inicio do século XX, atribuindo a maternidade como evento inerente a natureza feminina. Para tanto, utilizou-se uma abordagem qualitativa, através de entrevistas e análise do conteúdo das falas segundo Bardin (1979). Foi observado que a maternidade ainda é vista como um destino natural para as mulheres, porém, esta constitui um fardo social para a maioria das docentes por não haver um compartilhamento da maternagem com a figura paterna, e ainda, em apenas dois discursos aparece a maternidade como possibilidade de escolha para mulher, refletindo assim, sob o ser mãe a ótica de gênero e direitos reprodutivos. PALAVRAS-CHAVE: maternidade, gênero e paradigma biológico. 1. Introdução Na sociedade atual ainda existe uma forte expectativa dirigida à mulher para que seja mãe e, em contraponto, segundo Staveskas (1999), a mulher parece necessitar ser mãe, para se sentir mais mulher, soma-se a isso, a idéia de que a mulher será verdadeiramente feliz, sendo uma boa mãe. A boa mãe seria segundo Badinter (2003), aquela que se preocupa diuturnamente com o seu filho, amamentado-o sempre que a criança desejar, significando assim, uma prova de amor pelo filho. Atrelado ao conceito de boa mãe, encontram-se as concepções biológicas, que atribui a maternidade e a maternagem como responsabilidades e eventos inerentes à condição feminina,
2 (...) tais como: gerar, parir e amamentar (Moreira, 2003 p. 39), e a necessidade destes para uma realização enquanto mulher. A maternidade, consolida-se no discurso de Rousseau, como um sacerdócio, uma experiência feliz que implica também necessariamente dores e sofrimentos. A natureza feminina é alienada pelo e para o homem (Badinter, 1985). Alcançando seu ápice no início do século XX graças à teoria psicanalítica de Freud, transformando assim o conceito de responsabilidade materna no de culpa materna. No final deste mesmo século, assistimos uma maior participação da mulher na vida pública, o que promoveu e promove, importantes redefinições práticas e ideológicas na vida das pessoas sobretudo, na vida da mulher. No final da década de 1970, ocorre uma virada na discussão das relações entre os sexos, emergindo o conceito de gênero que (...) se refiere a la definición sócio-cultural de lo masculino y lo femenino en cada sociedad (Franke et al, 1995, p.58. A discussão acerca de gênero, é aprofundada na década de 90, sob a perspectiva dos direitos reprodutivos que (...) se refieren a la sexualidad y fertilidad, pero también al poder de decisión de la mujer, sobre sus propios cuerpos y sus vidas, las habilita para vivir una ciudadanía más plena y (...) que les permita niveles superiores de realización humana (Franque et al, 1995, p.56). Com a introdução desses novos conceitos, faz-se necessário uma desconstrução e reconstrução do que é ser mulher e mãe na sociedade atual. Conseqüentemente, há de se (re)pensar a visão da maternidade e a inserção da mulher nessa sociedade, não mais como sujeito acorrentado e condenado a atuar em seu espaço privado (historicamente feminino), mais sim, libertando as amarras, e participando ativamente na esfera pública, como sujeito transformador dessa realidade. Partindo desses conceitos iniciais, esta pesquisa pretendeu identificar junto as docentes/mães dos departamentos vinculados ao Núcleo de Saúde, as concepções acerca da maternidade, confrontando o discurso desses sujeitos com o modelo idealizado de maternidade, o qual está assentado no paradigma biológico. 2. Metodologia 2
3 3 Este estudo foi realizado junto as docentes vinculadas ao Núcleo de Saúde da Fundação Universidade Federal de Rondônia. A opção de realizar tal investigação com as docentes do referido Núcleo baseia-se no fato das docentes destes departamentos atuarem como formadoras de opinião, representarem um extrato da sociedade que obteve acesso a um nível de escolarização maior, e um nível socioeconômico diferenciado da maioria das mulheres brasileiras. A amostra foi do tipo intencional, utilizando-se como critério para participação neste estudo que as docentes/mães do NUSAU deveriam ter tido pelo menos um filho, independente do tipo de parto, idade, de serem casadas, solteiras ou em união estável. A coleta de dados foi realizada mediante entrevista, utilizando um gravador e um roteiro semi-estruturado. Foram realizados um total de 11 entrevistas, com duração variando entre cinco e 21 minutos, atendendo as normas reguladoras de pesquisa envolvendo seres humanos, contidas na Resolução CNS nº 196/96. Após a coleta de dados, foram transcritas todas as entrevistas, retiradas as idéias centrais, agrupando-as em categorias temáticas, realizando desta forma a análise do conteúdo segundo Bardin (1979). 3. Resultados Apreendendo o teor das falas das entrevistas observou-se que a maternidade é vista como um destino natural das mulheres, uma forma de se aproximar da sua essência inata, ser mãe, que por vezes o discurso lança à mão analogia natural como uma árvore que dá fruto. Assim é uma mulher, que pra atingir sua plenitude precisa do seu fruto, senão corre o risco de ser incompleta, desnaturada. No momento que você é mãe, você passa a ser totalmente responsável pelo seu fruto, seu filho (Entrev. 7). É uma plenitude, é um complemento da mulher (Entrev. 11). A mulher perde então, a visibilidade de si mesma, não consegue se enxergar, à não ser pelo constructo do prisma segundo a maternidade. Para Stasevskas (1999), tanto o desejo de ser mãe, como a maneira de ser mãe sofre ainda grande influência dessas antigas ressonâncias consolidadas nas obras Rousseanas.
4 Pode-se observar também que a experiência maravilhosa da maternidade é interpelada como uma experiência extremamente difícil, limitante na vida da mulher. Ser mãe é uma experiência única. Extremamente difícil (Entrev. 8). A vivência da maternidade como uma imposição à mulher e do papel de mãe como de um sacrifício coloca a mulher em posição altamente desconfortável, pois se de um lado, a sociedade a obriga viver a função materna como algo positivo, feliz, prazeroso, porém para aquela que não se reconhece em tal situação, a maternidade significa conflitos, levando-a a frustração e culpa. A imensa e solitária responsabilidade da função materna que recai sobre a mulher vêm colaborar com o silencioso fardo social que ela tem que carregar com profunda virtude, e passividade, qualidades indicustíveis da boa mãe, podendo ser observado a não presença da figura paterna no compartilhamento da maternagem. A participação masculina ainda é muito pequena! (...) o papel social da maternidade é sempre da mãe (Entrev. 8). A maternidade como uma possibilidade para a mulher e não como fruto de uma pressão social silenciosa, reflete o empowerment do controle sobre sua sexualidade e reprodução à discussão dos direitos reprodutivos surgiu apenas na fala de duas docentes. Olha, ser mãe (...) é antes de tudo uma opção (Entrev. 8). A busca da realização pessoal para além da maternidade, avançando para os demais campos como o profissional, e uma visibilidade maior enquanto sujeito social, expõe um amadurecimento da reflexão do eu mulher e do seu papel enquanto cidadã. Pode-se observar também neste estudo, que a participação dessas mulheres no mercado de trabalho faz com que elas tenham menos disponibilidade de tempo para estar junto às filhos, contudo essas mulheres relatam que a questão do tempo não é crucial na relação mãe/filho, mas sim a intensidade e qualidade do momento para estarem juntos. 4. Conclusão 4
5 A partir dos resultados desta pesquisa, observou-se que o ser mãe para as docentes é percebido como um destino natural da mulher, ou seja, existe a presença obrigatória no desejo de ser mãe, bem como a maneira de viver essa maternidade com atributos de ser uma boa mãe, o que revela a construção de uma identidade feminina fortemente ligada à maternidade, uma complementando a outra, sendo que a última mais que a primeira. Foi notado também que não houve uma mudança no status quo de pensar maternidade e ser mulher segundo as docentes. Vale lembrar que os sujeitos desta pesquisa representam uma pequena parcela da população brasileira que obteve um nível de graduação superior à média nacional, além de uma condição sócia econômica diferenciada. E ainda, a discussão sobre gênero e direitos reprodutivos não é uma realidade no extrato social menos favorecidos e ainda o está longe de ser, o que nos preocupa muito, já que também não é uma realidade no meio acadêmico, salvo algumas exceções. Esses resultados nos instigam a pensar na necessidade de ser realizados debates que contemple os temas gênero e direitos reprodutivos de forma intensa, não só com os docentes mas com a comunidade acadêmica de maneira geral, para que se possa então, começar a desconstruir o modelo hegemônico e lança um novo olhar na forma de se pensar mulher e maternidade. 5 Bibliografia BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, MOREIRA, Katia F.A. Aleitamento materno á luz dos direitos reprodutivos da mulher: afinal do que se trata? Ribeirão Preto, Tese (doutorado) Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP.
6 STASEVSKAS, Kimy Otsuka. Ser mãe: narrativas de hoje. São Paulo, Dissertação (Mestrado) Faculdade de Saúde Pública/USP. 6
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