A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE PSICOMOTRICIDADE E SEUS REFLEXOS NO COTIDIANO DE PRÉ-ESCOLAS. José Tiago Cardoso 1

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1 1 A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE PSICOMOTRICIDADE E SEUS REFLEXOS NO COTIDIANO DE PRÉ-ESCOLAS. José Tiago Cardoso 1 Esta pesquisa, de Iniciação Científica, foi realizada durante o curso de graduação em Psicologia na Unesp Assis/SP, no período entre agosto/2003 e dezembro/2004, sendo financiada com bolsa PIBIC/CNPq sob orientação do Prof. Dr. Carlos da Fonseca Brandão. Por meio deste trabalho, buscamos investigar como a produção científica sobre psicomotricidade/movimento se reflete nas práticas pedagógicas de professores de educação infantil, que trabalham com crianças de 4 a 6 anos, em instituições públicas e privadas de Assis/SP. Para tanto, foram levantados e analisados artigos publicados pela Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE), no período entre 1990 e o ano de 2003, a fim de verificar a adoção ou não de conceitos e práticas detectadas em tal produção por parte desses professores. Desse modo, este trabalho foi desenvolvido a partir da relação da produção acadêmica, no campo da Educação Física, acerca de temas relacionados à educação infantil como: legislação, desenvolvimento e as práticas dos professores. Nesta perspectiva, o trabalho estruturou-se em dois momentos: o primeiro de caráter teórico, mediante uma pesquisa bibliográfica sobre os temas: psicomotricidade/movimento e educação infantil, que foram fundamentais para a construção dos eixos temáticos baseados no referencial teórico e, em seguida, foi realizado o levantamento e análise dos artigos da RBCE baseado na pesquisa bibliográfica; o segundo momento teve um caráter mais prático, no qual, foram realizadas observações participativas das atividades realizadas com as crianças, e que serviram de fonte para a construção das entrevistas semi-estruturadas com os professores. Assim, as leituras, análises e reflexões levantadas acerca de algumas considerações sobre a educação infantil foram fundamentadas na perspectiva histórico-cultural. É nela que encontramos algumas respostas para as concepções de infância, educação infantil, movimento e etc.. Pois, a partir desses conceitos temáticos, acreditamos no desenvolvimento integral das crianças, ou seja, de corpo inteiro e em movimento. Desse modo, a educação infantil é um período importante que pode possibilitar uma educação emancipatória, assim como, potencializar a construção dos processo de desenvolvimento e as relações da crianças com o mundo. Porém, as observações das atividades com as crianças evidenciaram uma falta de articulação entre a teoria e a prática, visto que, nas entrevistas, os professores apresentaram domínio teórico acerca das questões de educação infantil diferente da prática. Ao final do estudo, percebemos que a produção científica que versa sobre os temas psicomotricidade/movimento e educação infantil, não chegam ao cotidiano de pré-escolas, evidenciando, uma certa inacessibilidade/alcance das produções acadêmicas. 1 Psicólogo, formado pela UNESP Assis no ano de 2004, e Mestrando em Educação pela FE-UNICAMP. jtiagoc@yahoo.com.br ou j041296@dac.unicamp.br

2 2 A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE PSICOMOTRICIDADE E SEUS REFLEXOS NO COTIDIANO DE PRÉ-ESCOLAS A presente pesquisa é resultado de um processo de investigação focado nas questões de psicomotricidade/movimento, tendo como cenário a educação infantil, neste caso, mais especificamente, as relações dos professores de educação infantil e suas crianças de cinco anos (pré-escolar). Por meio deste trabalho, buscamos investigar como a produção científica sobre psicomotricidade se reflete nas práticas pedagógicas da pré-escola, a partir dos artigos sobre o tema psicomotricidade, publicados pela Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE), da década de 1990 até o ano de 2003, verificando a adoção ou não de conceitos e práticas detectadas em tal produção, por parte dos professores de educação infantil. A escolha da Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE) como objeto de estudo, se deu por fatores que, a nosso ver, são fundamentais para a fidedignidade da pesquisa, uma vez que se trata de uma revista autônoma, sem fins lucrativos e está em atividade desde 1979, evidenciando assim um compromisso com a produção científica do conhecimento (Cf. BRANDÃO, 1994, p. 12). Desse modo, pareceu-nos relevante conhecer como a produção científica neste campo do conhecimento vem se refletindo nas práticas de professores de pré-escolas, no atendimento a crianças de quatro a seis anos, uma vez que a produção científica (artigos) referentes à Educação Infantil, segundo Maria Aparecida Mello (2001), vem ganhando espaço nas discussões de educadores e pesquisadores. A própria denominação educação infantil é recente em nosso país, foi instaurada nas disposições da Constituição de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, caracterizando as instituições educacionais para a faixa etária de 0 a 6 anos (MELLO, 2001, p. 59, grifos do autor)

3 3 Nesta perspectiva, o trabalho se estruturou mediante uma pesquisa bibliográfica que deu origem a metodologia que foi utilizada e os instrumentos de coleta, análise dos dados e o referencial teórico, assim, a pesquisa contribuiu ainda para a eleição dos temas que foram discutidos nos resultados. Estes temas foram divididos e estudados da seguinte forma: Histórico da educação infantil no Brasil, a construção e as lutas que garantiram legalmente os direitos da criança; Crítica ao Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI) pela forma com que o componente Movimento foi trabalhado; Histórico da Psicomotricidade e análise dos artigos da Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE); Caracterização dos ambientes escolares; Alguns apontamentos das observações realizadas; Análise das entrevistas que confirmaram algumas impressões e nos mostraram outras. Nestas discussões, verificamos que, desde as concepções de assistencialismo, passando pela escolarização, até chegar no que denominamos hoje de educação infantil cidadã (grifo meu). Pois esse processo evolutivo no qual as instituições de educação infantil foram sujeito, mostra de certa forma o reflexo de um país em constante mudança e desafios. Nesse sentido, o papel da sociedade civil, foi de fundamental importância nesse processo de mudança. Essas lutas estão refletidas nas legislações que regem o país, pois como já vimos, a legalidade à educação infantil se deu a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, acompanhado pelo ECA de 1990, do Direitos Fundamentais da Criança, documentos publicados pelo MEC/Coedi em 1995, em seguida vem a LDB Lei de Até então, as concepções de criança e educação infantil estavam consolidadas, e se não, ao menos, representava anos de lutas, discussões e reflexões acerca dessa temática. A publicação do RCNEI (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil) em 1998 pelo MEC teve o objetivo de dar continuidade ao sistema de política do governo brasileiro em traçar os parâmetros curriculares nacionais para todos os níveis de ensino no

4 4 país. Mas com essa proposta, esse material, acabou quebrando muito as discussões e lutas que haviam sido construídas ao longo de anos. Pois a sua forma objetiva de tratar determinados temas acabou muitas vezes reduzindo o que seria uma construção e parte do desenvolvimento infantil, à simples atividade de ocupação de tempo. Dizemos isso, baseados na abertura que este documento dá para que profissionais da área infantil o tenham como manual e não como possibilidade e material de reflexão. Ao chegamos na questão da Psicomotricidade, construímos algumas considerações, que na verdade tem muito a ver com o que a Educação Física chama de Movimento, assim como o RCNEI. Temos como conceito que as ações motoras que se expressavam a partir do movimento do corpo, se dão a partir das relações desse corpo com o ambiente, e este por sua vez produz uma relação subjetiva, ou melhor, o ato de movimentar está interligado com as atividades psíquicas da criança que são construídas a partir desse encontro de corpo-afetação. Para efetivar nosso trabalho investigativo, usamos a RBCE (Revista Brasileira de Ciências do Esporte) como material que poderia evidenciar a produção acadêmico/científica acerca dos temas: educação infantil e movimento, desse modo, o estudo acabou encontrando pouquíssimos periódicos que relacionavam as duas áreas do conhecimento, mostrando-nos assim, que embora o Movimento seja considerado um paradigma dentro da Educação Física, este está sendo muito pouco aplicado as crianças pequenas (de zero a seis anos). Com os artigos que trabalhamos foi possível resgatar e refletir sobre algumas concepções que nos nortearam ao longo dessa pesquisa. Desse modo, fizemos alguns recortes que achamos coerentes tanto com a nossa proposta, quanto com o referencial teórico. Do mesmo modo, percebemos a partir das observações e entrevistas, que esta produção científica não está chegando no cotidiano das pré-escolas. E mais, que é necessário fazer alguns acompanhamentos das práticas pedagógicas, pois infelizmente, nossas observações mostraram que o olhar e o trabalho do educador infantil ainda é confundido com

5 5 um papel maternal, perpetuando uma concepção ultrapassada de cuidado. E quanto ao educar, a pedagogia tradicional aparece nas entre linhas das práticas cotidianas, mostrando assim uma dificuldade da relação teoria-prática por parte dos professores de educação infantil. É sabido, que este trabalho é de grande importância para a reflexão e mudança do uso do Movimento enquanto mecanismo de desenvolvimento físico, psicológico e social, de crianças que são atendidas por instituições de educação infantil. Mas para que essa mudança seja utilizada de forma direta e que não fique presa dentro de uma revista, parada é necessário, que após o segundo momento dessa pesquisa investigativa, os pesquisadores vão a campo e compartilhem de seus conhecimentos e dados pesquisados com aqueles que são os responsáveis diretos pela mudança de paradigma, os professores em especial os de educação infantil (zero a seis anos). Assim, estamos realizando reuniões semanais com os professores, apresentando-lhes alguns dados da pesquisa, discutindo e refletindo acerca de suas práticas com as crianças pequenas. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: ALVES-MAZZOTTI, A. J. & GEWANDSZNADJER, F. O Método nas Ciências Naturais e Sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira, BRANDÃO, C. F. Batendo bola, batendo cabeça: os problemas da pesquisa em educação física no Brasil, Ibitinga, SP: Humanidades, BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Por uma política de formação do profissional de Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF/DPE/COEDI, COSTE, J-C. A psicomotricidade. trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, FONSECA, I. F., MUNIZ, N. L. O Brincar na Educação Física Escolar:em busca da valorização de diferentes perspectivas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 21 (2/3), Jan./Maio, LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor do nascimento até seis anos. trad. Ana Guardiola Brizolara. 5º ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.

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