Dialogando com os meus vilões. O Poder do Psicodrama na rematrização de crenças no processo de Coaching

Transcrição

1 Dialogando com os meus vilões O Poder do Psicodrama na rematrização de crenças no processo de Coaching AndressaMiiashiro Marcela Lempé Este trabalho retrata um dos encontros do programa de coaching em grupo, codirigido pela Andressa Miiashiro e Marcela Lempé, que tinha como objetivo estimular as pessoas à revisão e recriação de seus papéis profissionais, convidando-as a mergulhar nos sabotadores que as impediam de alcançar o que queriam.

2 INTRODUÇÃO Este trabalho é um recorte do programa de coaching em grupo realizado com a codireção da Andressa Miiashiro e Marcela Lempé que tinha como objetivo estimular as pessoas à revisão e recriação de seus papéis profissionais, para que pudessem ser protagonista e autoras da própria vida e carreira. O grupo era composto de 7 pessoas entre anos, que trabalhavam em empresas de diversos segmentos e tamanhos, e estavam em busca de revisitar suas carreiras, entrar em contato com seus talentos e serem mais realizadas. No processo de coaching, trabalhamos o atingimento de objetivos através do autoconhecimento. Nós, como diretoras e facilitadoras deste processo, apoiamos os integrantes do grupo a entrarem em contato com a sua história, forças e talentos, o que impulsiona para chegar onde desejam, bem como, o que vem os impedindo. Como recorte do programa de coaching, que é composto de 5 encontros de 4horas, apresentaremos um dos encontros, que é o Encontro dos Vilões, que tem o objetivo de ajudar os participantes a entrarem em contato com as suas crenças limitantes e cristalizadas construídas ao longo da vida, os sabotadores, ou seja, aquilo que nos impede de darmos respostas diferentes diante de uma mesma situação ou até mesmo de uma situação nova, ou seja, de alcançarmos nossa espontaneidade e chegarmos onde queremos.

3 DESENVOLVIMENTO DO TEMA Como tudo começou? Conforme a metodologia psicodramática, iniciamos com um aquecimento inespecífico, que é o café da manhã, o momento descontraído de trazer as novidades que aconteceram do último encontro até esse. Logo após o café, começamos o aquecimento específico, no qual trouxemos como objeto intermediário as figuras do screen beans 1. Colocamos as figuras no chão e pedimos que cada um escolhesse duas figuras, uma para representar uma conquista e a outra para representar uma dificuldade que encontrou nesse processo de desenvolvimento desde que começou o trabalho de coaching. O propósito do aquecimento era retomar o que tinha sido trabalhado no encontro anterior (as conquistas) e principalmente dar início ao tema das dificuldades, para levantar aquilo que estava impedindo os coachees de alcançar o que queriam. Trabalhamos nos encontros passados nosso lado luz, nossos heróis internos, e hoje será o dia de conhecer nossos vilões internos, aqueles que nos impedem de agir, de conquistar o que queremos, que são nossos sabotadores. Após cada um escolher sua imagem e compartilhar no grupo o que elas representavam, demos sequência a esse aquecimento pedindo que todos se levantassem e caminhassem pela sala, olhando para os seus passos, refletindo sobre os passos que já tinham dado até aqui, as realizações e conquistas, e também os obstáculos que tinham encontrado pela frente. Nesse caminhar, através do psicodrama interno, para começarem a acessar as vozes internas que os acompanham e provocam essas dificuldades, trazíamos perguntas para reflexão: Como é encontrar esses obstáculos? Que obstáculos são esses? São internos ou externos? É alguém que te impede, ou é algo dentro de você que tem te impedido? Quais são as suas amarras? O que te segura? O que te prende? Que voz interna é essa que te impede de conquistar seus desejos?. Após trazer essas perguntas pausadamente, pedimos que eles falassem como estavam se sentindo em uma palavra em voz alta e, em seguida, pedimos que expressassem esse sentimento com o corpo, como uma escultura, iniciando a 1º dramatização. Com as esculturas montadas, começamos a interagir com elas, fazendo solilóquios para que cada um pudesse falar o que estava sentindo e pensando naquela imagem. 1 Screen beans são figuras caracterizadas geralmente utilizadas em apresentações de Power point.

4 Em seguida, perguntamos quem gostaria de ver a sua imagem de fora, como um espelho da escultura para ampliar o olhar. Todos aceitaram a proposta e uma das diretoras entrou no papel de ego para fazer esse espelho de cada escultura. Após o espelho de cada escultura, demos início a um novo aquecimento para prosseguirmos para uma 2ª dramatização e demos a consigna que as esculturas tinham ganhado vida, e como esculturas vivas, pedimos que começassem a caminhar pela sala e refletissem sobre as seguintes questões: Em que situação você está aparecendo na vida do fulano? Qual o seu papel aí? Qual o tamanho ocupa na vida do fulano? Que espaço é esse que você ocupa? Qual é o seu nome?. Pedimos que os vilões (as esculturas vivas) assumissem uma nova posição que se sentissem mais confortáveis como vilões. As pessoas mudaram suas posições conforme o perfil mais claro de cada vilão. Por exemplo, o Vilão Paralisia deitou no chão, o Vilão Sr. Sabota levantou o peito e a mão, o Vilão Tonto ficou largado na cadeira..., etc. Continuamos conversando e interagindo com esses vilões e demos início à roda de bate papo dos vilões, pedindo que eles conversassem sobre as perguntas que tínhamos acabado de trazer para eles. Após esta cena, pedimos que os vilões se despedissem e propusemos um compartilhar em grupo a respeito da experiência, que pudessem falar como estavam se sentindo e o que aprendeu sobre seus vilões internos, seus sabotadores e crenças. O feedback que as pessoas trouxeram foi da percepção de terem tirado o vilão de trás da cortina, que encarar ele cara a cara e conversar com ele foi muito bom para trazer para consciência, para trazer visibilidade e assim poder ter a possibilidade de agir de forma diferente, de dar uma nova resposta. Para simbolizar essa nova resposta, partimos para a 3ª dramatização, na qual formamos um círculo pequeno com as cadeiras e pedimos que todos entrassem dentro dele para simbolizar a prisão interna formada pelos vilões. Dentro do círculo, pedimos para que eles refletissem sobre qual escolha gostariam de fazer agora com seus vilões internos já que tinham conhecido eles de perto e trazido para a consciência. E trouxemos a seguinte consiga: Agora que vocês conheceram de perto os vilões internos de vocês, as suas crenças limitantes e seus grandes sabotadores internos, o que vocês gostariam de fazer com eles? O que você gostaria de falar com ele? Que voz poderia ser usada para confrontá-lo e até entrar em um acordo com ele? O que você quer manter dele e o que você

5 quer deixar ir? Em qual lugar você quer colocá-lo? Qual espaço ele deve ocupar dentro de você?. Quem já ia se sentindo estimulado e com clareza do que fazer e falar com seu vilão, era convidado a sair do círculo, fazer uma nova escultura com o corpo e falar com esse vilão, o que queria e não queria mais dele e como ele deveria atuar na sua vida. Todos fizeram o movimento, a nova escultura, e falaram com o seu sabotador, conseguindo dar uma nova resposta a uma crença que estava cristalizada. Depois que todos saíram do círculo, pedimos que escrevessem no diário de bordo individual uma nova mensagem que ficava para eles agora, uma voz que fazia mais sentido para o momento atual e que iria impulsionar a romper determinadas barreiras. As pessoas saíram do encontro mexidas, mas também empoderadas por conseguirem olhar para as suas sombras, colocando luz nelas e vendo que cada um tem o poder de escolha do que quer fazer com isso e da possibilidade de ter novas ações diante de antigos cenários. CONCLUSÃO Percebemos o poder do Psicodrama em diversas sessões do programa de coaching, mas especialmente nesta, vimos a riqueza da metodologia em atuar com tanta profundidade em conteúdos velados e conservados, como crenças. As crenças constroem-se como falas interiorizadas que podem estar em um nível consciente ou inconsciente, podem ser positivas e otimistas, no final tudo dá certo, sou sempre o melhor, ou podem ser negativas, não sou capaz, faço tudo errado. As crenças podem ser construídas durante a vida, mas em sua grande maioria tiveram o seu berço na infância, norteando e moldando o comportamento do indivíduo muitas vezes sem que ele possua consciência, limitando desta forma o protagonismo frente a sua atuação do mundo. Este conceito, muito presente no coaching, correlaciona-se facilmente com a teoria de Matriz de Identidade, pois é através desta placenta social, que a criança vai dando forma à construção de sua identicidade, processo na verdade, iniciado desde a sua concepção. Portanto, no Encontro dos Vilões, tivemos fortemente o Encontro do Coaching e Psicodrama. O que ficou para nós como psicodramatistas? Não temos condição de mudar a cena do passado, mas podemos dar novos significados, rematrizar. Quando vemos as respostas dadas e conservadas de diversos ângulos, podemos resiginificá-la, dando um novo sentido conforme ao cenário atual e assim abrir novas possibilidades de atuação.

6 Quando trazemos para o palco, trazemos consciência, e quando nos tornamos conscientes de nós mesmos, podemos ser protagonistas do que escolhemos daqui em diante. Podemos ser espontâneos e criativos para ir em busca de novas resposta saudáveis.

7 REFERÊNCIAS CAMARGO, Lucila. Orientação Profissional: uma experiência psicodramática. São Paulo: Ágora, CUKIER, Rosa. Psicodrama Bipessoal: Sua técnica, seu terapeuta e seu paciente. São Paulo: Ágora, DATNER, Yvette. Jogos para educação empresarial: jogos, jogos dramáticos, role-playing, jogos de empresa. São Paulo: Ágora, DRUMMOND, Joceli; SOUZA, Andréa Claudia. Sociodrama nas organizações. São Paulo: Ágora, DRUMMOND, Joceli; BOUCINHAS, Maria de Fátima; BIDART-NOVAES, Marcos. Coaching com Psicodrama: Potencializando indivíduos e organizações. Rio de Janeiro: Wak, GONÇALVES, Camila Salles; WOLFF, Wilson; ALMEIDA, Wilson Castello. Lições de psicodrama: introdução ao pensamento de J.L.Moreno. São Paulo: Ágora, MARQUES, José Roberto. Como surgiu e qual o objetivo do coaching? Disponível em: Acesso em 03 fev MONTEIRO, Regina F. (org). Técnicas fundamentais do psicodrama. São Paulo: Ágora, MORENO, Jacob Levy. Psicodrama. 13ª ed. São Paulo: Cultrix, RAMALHO, Cybele M. R. Psicodrama e Dinâmica de Grupo. Aracaju, 2010 ROJAS-BERMÚDEZ, Jaime G. Introdução ao Psicodrama, Mestre Jou, São Paulo, SCHIMIDT, Maria Luiza Gava. A utilização do objeto intermediário no psicodrama organizacional: modelos e resultados. Revista electrônica internacional de la unión latinoamericana de entidades de psicologia. Nov. 2006, nº 8. Disponível em: Acesso em 26/01/2015. YOZO, R.Y.K. 100 Jogos para grupos: Uma abordagem psicodramática para empresas, escolas e clínicas. São Paulo: Ágora, 1996.